Shin saiu rápido da lanchonete da Parker. Foi direto à seu camarim e fechou a porta. Agora que estava sozinho, queria desabafar. Se olhou no espelho e viu o rosto que lhe era tão seu e ao mesmo tempo, tão parecido com o do irmão. Ele via Chang, e não a si mesmo. Afastou-se da imagem e encostou as costas na parede, enquanto lentamente deslizou até o chão. Fechou os olhos e tentou desanuviar os pensamentos, que se misturavam com a lembrança do perfume de Lara.

Ele passou alguns minutos sentado, olhando para o nada. Tirou o celular do bolso involuntariamente e antes de se dar conta, já visitava o perfil de Tomás. O garoto diariamente postava palavras em coreano, além de desenhos próprios. “Como ele é inteligente!” Mesmo estranhando seu próprio comportamento, Shin se martirizava por imaginar a decepção do menino quando a mãe lhe dissesse que não iriam à Festa da Comunidade Carioca-Coreana. Podia praticamente ouvir as súplicas infantis.

O repórter achava incrível que mesmo depois de apenas um encontro, o garoto havia engatinhado para dentro de seu coração. Ele sempre sentira um carinho maior por seus fãs mais novos, seus mini-fãs. Mas com Tomás era diferente e ele sabia o porquê. Por maior que fosse seu rancor de Chang, Shin sentia um pouco de falta do irmão. Eram gêmeos, e sua ligação fora muito forte no passado. E Tomás tinha um pedaço de Chang, o que saciava um pouco aquela pequena saudade de casa.

Levantou-se decidido e foi ao encontro de Gaspar. Quando o loiro viu Shin, suspirou aliviado:

— Shin, o pessoal tá que nem louco te procurando! Você tem que gravar a cabeça do Parker Talentos!

— Eu sei, eu sei. — disse o coreano pegando o roteiro que Gaspar lhe entregava e dando uma olhada por cima. Quando o produtor se afastava, Shin lhe chamou:

— Gaspar! Aqueles convites que sobraram da festa coreana, você ainda os têm?

— Preciso confirmar, Shin. Eu não os dei para ninguém, mas vou ter que dar uma procurada no meu armário. — disse afastando-se. Então parou e virou-se para encarar o repórter. — Convidados de última hora?

Shin escondeu o rosto atrás do roteiro e gritou um ‘talvez’. Gaspar saiu rindo do estúdio, dizendo que voltava em meia hora. Tempo suficiente para procurar os convites, e para que Shin pudesse fazer a gravação do dia.

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Quarenta e oito minutos depois, exatamente doze minutos depois que Shin já havia gravado todas as tomadas para o programa e tirava a maquiagem em seu camarim, Gaspar bateu à porta. Depois de suspirar aliviado, percebeu que estava quase prendendo a respiração ante a expectativa de o amigo achar ou não os convites. O loiro levantou uma sobrancelha como que pedisse uma explicação ao coreano, mas ele disfarçou:

— É para um mini-fã que conheci em uma das entrevistas do reality. E para a mãe, claro. — adicionou a última frase em um tom comprometedor. Continuou concentrado em tirar a maquiagem tentando ignorar o sorrisinho no rosto do produtor.

— Não vou nem perguntar, Shin. Tão aqui — disse Gaspar, deixando os convites em cima da penteadeira e fechando a porta ao sair.

Shin largou os lenços com que limpava o rosto e pegou os convites com um sorriso no rosto. Olhou para o relógio e calculou que Lara já estaria em casa há algum tempo. Ela havia comentado o endereço da casa da avó, onde estava hospedada, e ele sabia que não era muito longe dos estúdios da Parker.

Um pensamento inseguro cruzou sua mente. Ele não poderia levar os convites até ela, pois a morena talvez visse esse ato como uma investida do coreano. E ele não faria isso por ela, mas sim por Tomás. Mandou uma mensagem para Gaspar dizendo que deixaria os convites em seu armário, e que amanhã alguém viria buscá-los. Era melhor assim.

Com mais lentidão que a mensagem anterior, escreveu o texto: “Lara, passe amanhã aqui na Parker e pegue os convites da festa da Coréia com a produção :)”. Apagou o smile. Apagou então toda a mensagem e a reescreveu: “Pegue convites festa Coréia na produção”. Leu o texto mais duas vezes. Enviou.