Chegando a casa do candidato Ernesto, Shin mal notava o que acontecia ao redor dele e as pessoas que cumprimentava. Pensava já na próxima entrevista, que seria no Rio Grande do Sul. De repente sentiu algo sob seus pés e quase caiu. Enquanto os anfitriões se desculpavam, ele notou o garoto. Com olhinhos puxados e muito novo, Shin sentiu que o conhecia de algum lugar. E o menino claramente era um fã, fazendo até gestos iguais ao repórter.

"Bonitinho" – pensou Shin, enquanto aquela sensação de familiaridade o enchia novamente. - "Não tenho tempo pra isso"

Se apressou em perguntar pelo banheiro, talvez jogar água fria no rosto o ajudasse a pensar com clareza. Ao sair do banheiro, ouviu o garoto falar:

— Eu pensei num nome muito melhor: Shin-Soo!

A mulher que estava ao lado do garoto havia acabado de chegar. Shin reparou em seus cabelos castanhos e no momento em que ele sentiu seu perfume ela se virou.

"Lara?!"

O coreano mal podia acreditar. Não podia ser ela. Mas era... e continuava linda, com seu sorriso doce e aqueles olhos tão alegres. Ainda assim parecia tão diferente. Ele queria chegar perto dela e tocá-la como que para ter certeza que ela estava ali. E é claro que estava... no mesmo bairro onde ele a tinha visto pela última vez. Quando tudo dera errado.

Algo acontecia na sala e a família de Ernesto (e aparentemente de Lara) fazia muito barulho, mas ele não conseguia tirar os olhos de seu rosto. "Tanto tempo". Ela também não conseguia desviar o olhar dele. E ele via muita coisa naquele olhar: culpa, arrependimento, saudade... Onde estaria o brilho que ele tanto sentira falta?

— Mãe! O hamster se escondeu embaixo do buraco do sofá.

É claro. Por isso o garotinho mexera tanto com ele. Ele era filho dela. “Dela e do meu irmão gêmeo.”

Sentiu as mãos frias e começou a respirar fundo, tentando tomar controle do próprio corpo. Isso não poderia abalá-lo! Ele era treinado para isso: para não deixar qualquer emoção se sobressair a seu personagem, que era sua profissão. Ele seguiria com a entrevista normalmente. Lidaria com essa situação em outra hora.

A família se organizava e Lara parecia não se recuperar do choque. Ela tentou se aproximar dele, parecia querer conversar. Mas tentava, sem sucesso, fazer isso de uma forma que os familiares não percebessem que eles se conheciam.

Num impulso ele discretamente escreveu seu telefone em um pedaço de papel.

— Ola! Eu sou Shin-Soo — disse ele, enquanto apertava a mão dela pressionando delicadamente o papel em sua mão.

Ele viu algum alívio em seu rosto, mas logo se desvencilhou de seu toque. Ao se afastar, percebeu como seu semblante de desconforto não diminuía. "Talvez ela queira dar alguma explicação." — pensou Shin — "Não que ela mereça, mas... eu preciso falar com ela mais uma vez. Quem sabe finalmente eu não coloco um ponto final nessa história"

Isso não era absolutamente necessário, afinal o que acontecera entre eles fora há muito tempo. Mas o simples fato de poder conversar com ela novamente lhe enchia de esperança. "Por que? Até um filho do Chang ela tem. Preciso mesmo de um ponto final mais claro que esse?"

Mas era difícil ouvir a razão, que parecia estar tão longe dele, agora que Lara estava novamente por perto.