A Fuga escrita por GabiLavigne


Capítulo 4
A chance para um recomeço


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo, espero que gostem e comentem :)



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Eu estava paralisada. Temi que se me movimentasse, um músculo se quer, poderia me perder para sempre. Eu fui tocada por uma humanoide. Eu fui infectada. Estou perdida. Quero gritar, quero desabar em lágrimas. Mas tudo oque faço é ficar parada encarando os olhos cinzas daquela criatura, com uma dor profunda no interior, em imaginar que ficarei com os olhos daquele jeito. Cinza e sem vida.

– Por favor, não se assuste! - ela encara a mão que pôs em meu ombro e arregala os olhos - Sinto muito ter te assustado dessa maneira... eu...


– Eu não quero - interrompo-a com a voz trêmula - Não quero ser como você.

Por um momento ela comprime os lábios e baixa o olhar. E então a descoberta me veio como um tiro bem mirado. Ela é uma humanoide! Como pode falar?


– Calma - ela finalmente disse, erguendo o olhar até mim - Você não será uma infectada. Eu não sou uma infectada. Não mais.


Levanto-me cuidadosamente e a encaro incrédula. É impossível. Porém, por outro lado explicaria a consciência que ainda lhe pertence.


– Eu ainda sou eu. - digo encarando minhas mãos e examinando meu corpo - Então.. que você fez?

– Nada. - sussurra ela, tão baixo que quase não escuto.

Balanço a cabeça lentamente, olhando bem em seus olhos cinzentos. Ela não é infectada? Não pode ser. Olha para ela. Claramente uma infectada. Mas por outro lado...

– Isso é impossível. - murmuro ainda a encarando.

Ela abaixa a cabeça e encara os seus pés. Sua roupa está completamente suja, e são apenas sinais do lindo vestido branco que já fora. Seu cabelo rosa cai livre e rebelde pelas costas, e quando ela ergue a cabeça, vejo em seus olhos a mistura de desespero, mágoa e tristeza. Ao olhar para ela tudo oque vejo é um fragmento vazio do que ela já fora, só que ainda consciente de si.

– Como? - digo ficando nervosa e com as mãos trêmulas - Como você ainda é você?

– Não posso contar. - ela parece insistente.

– Me conte! Por favor! Apenas me conte! - era frustrante como a minha voz soava rouca de desespero, carregada de emoções.

Ela respira fundo e por um instante fecha os olhos.

– Existe uma cura. - ela abre os olhos e fico com medo de encara-los. - Eu era uma simples garota que vivia a beira de um lago, numa aldeia com poucas pessoas. E conseguimos viver em paz por um tempo. Mas não demorou para o vírus começar a infectar as pessoas da aldeia. - ela fecha novamente os olhos e suspira - Infelizmente eu não tive a sorte de escapar. Eu fui infectada - ela abre os olhos e prossegue - Minha avó criava muitos remédios e acho que decidiu criar uma solução para esse vírus. Então fez algo poderoso. Algo que considerava matar o vírus e resgatar as pessoas. E ela tentou comigo. Quando digeri a porção voltei a mim mesma. Pude sentir cada nervo do meu corpo novamente. Mas quando olhei no espelho pude ver que seria desse jeito para sempre, e no fundo ainda podia sentir o vírus se movendo dentro de mim, contido mas vivo. E a minha avó... ela se foi.

Fico sem palavras tentando digerir estas informações. Existe uma cura! Existe uma cura! Mas olha para esta garota, ela nunca mais voltou a ser completamente como antes. Mas se fosse o suficiente para trazer as pessoas de volta a aparência não importa. Melissa! Ela pode voltar... se ainda estiver viva. Preciso voltar. Porém se funcionou por que aquela garota está aqui?

– Então oque faz aqui? - indago desconfiada.

– Vivo aqui, escondida, desde o dia que fui curada. As pessoas não enxergavam mas quem eu era por dentro, apenas quem eu aparentava por fora. E quando descobriram oque houve com a minha avó, pensaram que fui eu. Pensaram que eu estava infectada. E que fui eu. - ela parecia desabar em lágrimas a qualquer instante mas mesmo assim se recompôs e continuou - Então eu fugi.

Aceno a cabeça como se pudesse entender como ela está se sentindo. Passei por muitas coisas graças ao vírus porém ela parecia estar se despedaçando aos poucos, afundando e se afogando em seus próprios pensamentos e emoções.

– Qual o seu nome? - pergunto tentando desfazer o nó de tensão que deveria estar se formando no interior de seu peito.

– Callyssa. Calyssa Lev. - responde ela passando as mãos por debaixo dos olhos provavelmente para secar as lágrimas.

– Eu sou Cara. E não vou te fazer nada - esforço me para exibir um sorriso e ela retribui, mesmo que seja pequeno.

– Você sabe onde está a cura? - pergunto com esperança.

Ela comprime os lábios e mantém o olhar preso nos pés.

– Por favor. Preciso disso. - a esperança deu lugar ao desespero.

Ela hesita e então puxo ela pelo braço, guiando-a pela floresta. Ela tenta se soltar da minha mão mas estou muito determinada para desistir agora. Quando vejo fogo ao longe sei que estou quase chegando. Paro atrás de algumas árvores e deixo o meu olhar pairar sobre as pessoas ao redor da fogueira.

Ash está encostado em um árvore com os olhos fixos em algum lugar. Joseph está recebendo sopa na boca, dada por Lizzie. Key está próximo ao fogo, encarando as chamas com tanta convicção que parece querer engoli-las. Ariella está chorando amargamente ao lado de Melissa. Que ainda esta ferida.

– Vê se não toca nela - avisa Ash - Já basta termos de abrigar uma infectada.

– Ela não é apenas uma infectada - berra Ariella irritada - Ela é minha irmã!

– Ela era a sua irmã - conclui Ash e Ariella solta um grito frustrado, sabendo que isso é verdade. Aquela não era mais a sua irmã.

Encaro Callyssa, e percebo a tristeza em seu olhar, ao ver a situação em que nos encontramos.

– Desculpa, eu não posso. - sussurra ela e se solta da minha mão, correndo pela floresta.

Corro atrás com passos apressados e por sorte sou mais rápida que ela.

– Por favor - começo a pedir e lágrimas escorrem de meus olhos, tudo que passei durante os anos passa pela minha cabeça e agora que encontrei uma possível solução não quero larga-la.

Ela suspira. E em meio á luz da lua, reconheço um brilho em seus olhos. O brilho da determinação.

– Tudo bem. Eu tentarei ajudar. - responde ela - mas apenas se vocês me ajudarem.

– Ajudar? - pergunto.

– Quero a minha humanidade de volta. Não quero parecer com uma infectada, nem me sentir como uma infectada e muito menos me esconder como uma infectada. A cura pode ter restaurado uma parte do meu verdadeiro eu. Mas com isso também perdeu-se outra parte importante. E é essa parte que preciso resgatar.

Pisco os olhos, confusa, mas se apenas assim ela me ajudasse então não havia outra alternativa.

– Feito. - digo e estendo a mão para ela, que ela encara com certa desconfiança.

– Você promete? - ela murmura.

– Prometo.

E então caminhamos juntas até perto da fogueira. Eu precisava contar a eles que encontrei um jeito. Encontrei um jeito de regatar as pessoas do vazio que suga suas identidades, de achar a liberdade que fora perdida, de concertar o mal que destruiu quase tudo. Temos uma chance para o recomeço.

Mas para isso, primeiro precisamos acha-lá.


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Notas finais do capítulo

Acabou mais um capítulo, enfim deixem reviews, me elogiando kkk ou simplesmente dando sua opinião sobre a fic.

Beijos!



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