Oujisama no Kiss HIATUS escrita por Tsutsu


Capítulo 7
Kyuubi no Kitsune.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que não posto desde o dia do sexo do ano passado, por isso digo: feliz natal, ano novo, valentine e páscoa pra vocês! E aqui está um novo capítulo, faltando apenas 3 para acabar a fic, espero que gostem.

Nathaniel POV.



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Existia uma diferença enorme entre mim e minha irmã caçula, Ambre. Ela, para começar, era duzentos anos mais nova do que eu e também era mais irresponsável, imprudente e rebelde do que eu quando tinha a idade dela. Cheguei à conclusão de que teria que cuidar dela de todas as formas possíveis e para isso era necessário procurar por um templo, onde ambos pudéssemos ser adorados e assim chegarmos a nossa onisciência.

Foi assim que o conheci. Numa noite em que a neve se misturava com o cheiro de sangue. Ele só tinha dezesseis anos na época, ainda na sua fase de crescimento e não tinha alcançado a idade eterna. Até onde eu sabia era proibido conhecer pessoalmente o filho caçula do Rei e, acima de tudo, achei estranho o fato de estarmos numa batalha e lá estava a criança, escondendo-se no meu templo.

As pequenas batalhas e rebeliões que aconteciam eram por causa das leis decretadas pelo Rei, um deus que habita a terra e não pode mais retornar aos Céus como sua amada esposa. Estas leis, particularmente, não me agradam, porém, este era o menor de meus problemas. Agora precisava arranjar uma forma de que Ambre não visse o pequeno Oujisama. E para minha sorte, ela não estava no templo e a criança se encolhia num canto em um dos cômodos fechados, onde geralmente eu ficava para escutar as preces dos crentes.

Ele tremia, talvez, também estivesse assustado e com medo. Era possível escutar os gritos, que apesar de estarem meio longes do templo, ainda assim eram assustadores, ainda mais o cheiro de sangue que novamente se misturava com a neve.

Decidi sair de cima do telhado, onde era possível vê-lo pelas brechas que tinha nele, e andei para dentro do templo em silêncio até chegar ao cômodo do Oujisama, preferi ficar na forma de uma kitsune de tamanho médio e me aproximei dele devagar, mas ele me recebeu com um sorriso sincero e até feliz.

— Um Kyuubi no Kitsune. Por enquanto só têm suas seis caudas, certo? — disse docemente.

Aquela voz tinha me amansado, estava um pouco irritado antes por ele entrar sem minha permissão, mesmo sendo o príncipe da nação. De alguma forma, eu poderia confiar nele e era isso que pretendi fazer no momento.

Assenti com um leve balançar da minha cabeça e permaneci sentado um pouco afastado dele, apenas o observando.

Kitsune-san, consegue sentir minha presença divina, não é mesmo?

Assenti novamente, enquanto ele esboçou um sorriso triste.

— Eu queria escapar daquele Hotel, mas não importa como, alguém sempre vai saber onde eu estou. — falava mais para si e eu apenas o escutava atentamente. — Me sinto tão sozinho lá. — dei-lhe um pouco mais de minha atenção, afinal, escutar os problemas dos outros era algo rotineiro para mim. — Ninguém pode ver-me com exceção da minha babá, mas ela também está indo embora. Minha haha está precisando dela. E meu irmão não pode me ver também e eu queria visitá-lo, soube que a esposa dele está grávida, acho que vou ser oji. — a cada palavra ele se abraçava cada vez mais e com a pouca luz que tinha ali, apenas conseguia enxergar seus cabelos brancos com pontas negras.

Um momento de silêncio fez-se presente, nem era mais possível escutar os gritos da pequena batalha, com certeza, tudo já estava sob controle e os rebeldes já foram mortos, porém, o cheiro de sangue misturado com a neve permanecia. E foi assim até ele me pedir algo.

Nee... Você vai se tornar um deus completo em breve, certo?

Assenti, mas logo comecei a sentir um frio me percorrendo a espinha, ainda mais quando ele se levantou e foi quando percebi sua altura.

— Então... Por que você não se torna meu nakama até lá?

Ele estava dizendo bobagens com aquele sorriso igualmente bobo, tão inocente, eu não poderia abandonar meu templo e nem minha irmã para acompanhá-lo. Como resposta apenas lhe dei as costas e fui para o cômodo que era o meu quarto ficando na forma humana. Ele não tinha me seguido e acho que nem se movera do lugar, e de lá lhe disse:

— Eu lamento, mas não posso abandonar o templo. Estou preso a ele agora. Volte mais... — antes que pudesse completar, ele se foi.

Correu a porta de entrada com certa força. Ele não gostou muito do que eu disse.

...

Baka...

...

Eu nem sei o nome dele, o Rei nunca disse...

Só sabia do irmão dele...

...

Por que eu estou andando em direção à porta?

...

Ele não é minha responsabilidade...

...

Ah, está muito frio! Meus pés estão congelando! Acho que seria melhor ficar na forma original, mas não quero assustá-lo...

...

Nani?

...

Como assim não quero assustá-lo?

...

Oujisama! — gritei caminhando em sua direção, quanto menos eu o sentia, mais preocupado eu ficava. — Oujisama!

...

Por que eu estou preocupado? Com certeza há guardas reais procurando por ele... Mas espera! Ninguém nunca o viu e nem pode, então...

Quem o está procurando?

Seria a babá?

...

Oujisama... — disse, quando finalmente o achei também encolhido e encostado em uma árvore de sakura antiga.

Ele estava com os olhos fechados e tremendo de frio, então, acabei o abraçando e foi quando ele abriu seus olhos, assim pude ver a heterocrômica que eles tinham idênticas a de sua mãe, a Rainha.

— Quem é você? — ele perguntou um pouco assustado e acabou me afastando um pouco dele, desfazendo o abraço.

— O senhor não está me reconhecendo? — fiquei com a postura ereta na sua frente e de braços cruzados, esperando que ele percebesse minhas caudas e orelhas de raposa.

— Não. — disse sério.

...

Eu vou bater nesse garoto, está começando a me irritar...!

...

— Sou eu o dono do templo que você estava antes. — falei pacientemente (nem sei de onde tirei essa paciência).

— Impossível, o dono do templo é uma raposa de tamanho pequeno do sexo masculino e você é uma garota. — disse ele cruzando os braços e fazendo uma expressão de desconfiado.

...

FILHO DA PUTA!

...

— Eu não sou uma garota. — disse. — Apesar de o meu cabelo ser comprido, eu não sou uma garota, tenho certeza disso, é só prestar atenção na minha voz.

— Hm, é verdade. — ele dizia levantando-se e me olhando curioso, deu até uma volta ao meu redor e ficou me olhando da cabeça aos pés. — Você é lindo. — Corei; NANI? — Tem as medidas de uma garota bonita, exceto os seios. — ele apontava para o meu peito.

É agora que vou matá-lo.

— Posso tocá-las? — ele de repente estava perto das minhas caudas e com a face corada me fazendo um pedido.

Minha testa deveria ter uma veia gigantesca saltando para fora agora.

— Po-pode. — gaguejei um pouco, estava me controlando ao máximo para não socá-lo.

— Ah, macias! — ele se expressava um tanto surpreso, enquanto acariciava as minhas caudas, eu olhava sob o ombro direito. — Kitsune-san, como se chama? — me perguntou alegre, alegre até demais, em minha opinião, e ainda não tinha parado de acariciar as minhas caudas.

— Nathaniel. — falei seco.

— Nathaniel–san, hajimemashite, boku wa Lysandre Sinclair Ainsworth III desu nee.

— Lys... Lysandre...? — soltei devagar.

Hai. Tenho o nome do meu avô e do meu pai.

— Lysandre–ouji-sama, eu acho melhor voltar para a sua casa. — disse, fazendo-o parar de acariciar minhas caudas e me olhar, depois fitar o chão pensativo.

— Hmmmm....

— O que foi agora? — questionei impaciente, ele colocou a mão em baixo do queixo, olhou ao redor e colocou as mãos na cintura.

— Eu estou perdido. — falou com uma cara de choro e me olhando.

— Como? — não pude acreditar no que eu ouvi.

— Eu não me lembro do caminho, não me lembro de como voltar, eu vou morrer a míngua aqui, e daí você vai querer casar comigo, pois só vamos ter nós dois aqui.

Dramático. Muito dramático.

Ano... Meu templo é logo ali. — apontei na direção do templo que ainda era visível mesmo com as várias árvores lhe escondendo e a densa neve a cobrindo.

— Ah, estamos salvos. — disse aliviado e pulou, praticamente, em cima de mim.

Nós dois caímos na neve, ele estava em cima de mim e sentou-se no meu abdome rindo, enquanto sentia o frio nas minhas costas.

— Eu vou te matar. — falei e ele riu mais alto. — É sério. — eu dizia mais sério do que realmente aparentava estar.

Ano nee... Eu não ligo em ser morto por você. — está bem, isto me pegara de surpresa, eu acabei colocando meus cotovelos para trás e me apoiei neles para poder fitá-lo com meus olhos dourados arregalados. — Não ligo de ser morto por um amigo, ainda mais se esse amigo for você, Nathaniel–san. — ele sorriu me olhando.

— Nós já nos conhecemos, por acaso? — ele balançou a cabeça em negativa. — Então, não me considere o seu amigo, eu não posso ser seu amigo.

Nossos mundos são diferentes demais, distantes demais...

— Hm, tem razão. — ele sorriu triste. — Mas tenho certeza que no futuro nós vamos ser amigos, certo?

— O que você está falando? — fiz menção de levantar e ele também se levantou, ainda me olhando.

Naquela época ele tinha a mesma altura que a minha de hoje, assim nos encaramos face a face por alguns minutos. Até que eu terminasse dizendo:

— Nós nunca seremos amigos ou conhecidos, eu nunca serei algo seu. Você não é meu Mestre, não é meu príncipe e jamais vai ser, enquanto estas batalhas sangrentas continuarem. Também, como já disse uma vez, estou preso a esse templo até conquistar a minha onisciência, depois disso posso ir embora para os Céus, se eu quiser. Nunca precisarei de nada que venha de você. Nossos mundos físicos são os mesmos, mas continuaremos distantes, agora volte para sua casa, porque você não é minha responsabilidade, pirralho. — sai em direção ao templo.

Aquela foi a primeira vez que o vi. Em nenhum instante ele disse alguma coisa e estranhamente a cada passo que ele dava mais meu coração se sentia pesado.

Não sei como Lysandre voltou para o Hotel naquele dia, mas voltou e eu achei que nunca mais o veria.

Ingenuidade a minha pensar assim...

~*~

Cada ano que se passava menos pessoas acreditava nas raposas e mais delas morriam. Minha irmã e eu não estávamos livres disso, foi assim que perdemos nossos pais e foi assim que tivemos que abandonar o templo anterior e, agora estamos aqui e cada vez mais sinto que vou morrer.

— Nós deveríamos desistir disso, sabe? Deveríamos procurar outro templo. — falava Ambre olhando desinteressadamente para os poucos bilhetes que foram nos deixados como orações.

A parte dos bilhetes e cartas era responsabilidade dela, mas eu sempre ficava vigiando-a para ver se fazia as coisas de forma correta.

— Não podemos, não temos mais para onde ir, Ambre. — disse olhando para o incenso que queimava a minha frente.

— Ah, estou entediada. Vamos dar uma volta, hein? — ela me abraçou por trás, encostando o queixo no meu ombro.

— Não dá. Não podemos deixar o templo sozinho.

— O templo é tão importante assim? — ela fez bico.

— É.

— Então vou dar uma volta. — dissera me soltando e saindo na forma de uma pequena raposa.

— Não volte tarde! — gritei.

Passaram-se duas horas e ela não havia retornado. Notei que já estava escurecendo e como parecia que nenhum humano mais veria ao templo, deixei as coisas lá e fui à procura dela.

Era tarde e podia-se ver o sol pousando no horizonte. De noite sempre havia mais youkais e menos humanos, porém, ambos coexistiam de forma pacífica (é óbvio que havia aqueles que não eram a favor, mas teriam que engolir o fato de que este mundo é diferente dos outros) e assim permaneceria durante séculos.

Fui até o Maji* primeiro, um restaurante tipicamente japonês, onde o dono era um visitante do nosso templo, isso talvez porque sua esposa seja uma kitsune como eu e, eles tinham um filho juntos, um mestiço, que vivia brincando com seus amigos perto do meu templo.

— Chefe, você viu a Ambre? — perguntei a ele.

Chefe era o seu apelido e eu não fazia ideia do por que. Mas ele me dissera não tê-la visto, então, agradeci e me retirei, voltando para a minha busca pela consequente irmã que tenho. Primeiro perguntei a todos os meus conhecidos e logo descobri que ela estava “paquerando” alguém, mais especificamente um Orochi. Caminhei até outro restaurante e lá estava ela rodeada por suas amigas.

— Kurishimi–sama*. — antes de entrar me reverenciei para a deusa da tristeza e seu escandaloso acompanhante (ele era conhecido por ser o próprio escândalo, se você não o conhece, é porque não vive aqui). — Karashi–sama*. — fiquei ereto novamente e os olhei.

Yo. — foi o que a deusa me disse.

— Nath–chan ~ ♥ — Karashi–sama disse animadamente. — Sayonara. — e eles se retiraram.

Adentrei o estabelecimento rapidamente e fui até Ambre sem mais delongas, a segurei forte pelo punho e notei que ela tinha se assustado, pois não tinha notado a minha presença ali, e a arrastei para fora.

Ignorei os protestos que ela fazia e nem olhei para o Orochi que ela admirava.

~*~

Dois anos mais tarde tivemos que abandonar aquele templo e fomos mais para o centro da cidade, mais especificamente na cidadela, onde se dizia que o príncipe vivia em um Hotel chamado Ragnarok. Lembrei-me de quando o conheci e me perguntava se era ainda aquele garotinho. Com certeza não, afinal, estava mais próximo de atingir a maturidade e se tornar o Rei, um deus da Terra e do Amor.

Ambre e eu procurávamos outras kitsunes que pudessem dividir seu templo conosco. Lembro-me de poucos que nossos pais disseram que poderíamos confiar as nossas vidas e sabia que eles eram moradores da cidadela, então, resolvi que para o nosso bem era melhor abandonar o antigo templo e tocarmos nossas vidas na cidadela.

Após algum tempo procurando pelo templo nós finalmente achamos e para a minha surpresa não havia mais kitsunes naquele templo, apesar de ser um templo feito para a nossa raça, porém, lá vivia um casal de humanos chamados Dimitry–san e Mary–san, que cuidavam do templo. Eles nos disseram que por causa da guerra muitos youkais foram convocados pelo Rei e aparentemente nenhum deles havia voltando ainda.

Felizmente, eles nos aceitaram e nos acolheram.

Decidi acreditar nesse casal de humanos, eles pareciam inofensivos e se amam muito, o que achei algo belíssimo e rezei aos deuses para que continuasse assim. E aos poucos nós fomos acostumando com eles e eles conosco. Todavia, estava incomodado. Eles faziam praticamente tudo, o que nos deixava sem nada para fazer e isso começou a ficar entediante para mim e para Ambre foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, mas achei até incrível o fato dela e Mary–san se darem tão bem, mesmo sendo tão distintas.

Por isso, resolvi dar uma volta na cidadela para conhecê-la melhor e quem sabe arranjar algo para fazer. Quem sabe um trabalho de meio período? Eu poderia lecionar para alguém, sou bom em ensinar as pessoas.

— Recompensa de um milhão pela cabeça do Orochi? — ouvi alguns humanos cochichando sobre os cartazes colocados nas paredes da cidadela, onde quem capturasse o Orochi vivo, ganharia o dinheiro para uma vida inteira.

— Que tolice, como se ele fosse fácil de ser pego. — comentei comigo, enquanto voltava para a minha caminhada.

Após mais alguns momentos andando por perto de becos, me assustei ao ter uma mão tapando a minha boca e um braço envolvendo minha cintura, me levando para dentro do beco. E logo vi quem estava me segurando, era um yatagarasu (novo ainda, mais novo do que eu com certeza) que usava um capuz negro cobrindo a sua face. Tentei de todas as maneiras me livrar dele, mas nada parecia adiantar até chegar um outro youkai que não consegui decifrar sua espécie.

— Seja mais gentil com a moça. — disse o outro youkai.

...

VÃO PRO INFERNO! Eu tentava dizer... Por que diabos todo mundo acha que sou uma garota só porque tenho cabelos compridos?!

...

Hai, hai. — disse o yatagarasu.

— Escuta moça, não vamos lhe machucar, mas... — ele se aproximava cada vez mais e tirou o capuz, revelando um homem de cabelos vermelhos um pouco longos e olhos cinza. — Se não devolver a kusanagi agora, considere-se morta! — suas expressões eram convincentes e era possível notar que não estava brincando. — Agora me diga onde está e se gritar morre também!

O yatagarasu tirou a mão da minha boca.

— Em primeiro lugar eu não sou uma moça... — ele pareceu surpreso ao ouvir minha voz. — Em segundo lugar não faço ideia do que você esteja falando. E eu não preciso gritar.

— ... É um homem ou travesti? — ele perguntou depois de um momento de silêncio.

— Vou te matar. — não era uma ameaça, eu iria mesmo matá-lo se continuasse a me chamar de garota.

— E agora? — perguntou o yatagarasu.

— Vamos matá-lo. — ele pegou uma adaga e colocou a centímetros do meu pescoço. — Contudo, quero saber se conhece uma raposa fêmea de cabelos loiros, cujo nome é Ambre?

...

O quê?!

— E se eu disser que conheço. O que vai fazer? — questionei desafiando-o.

— Você vai me trazer ela. — senti a lâmina cortando um pouco a pele do meu pescoço. — E caso tente me enganar e fuja, eu vou atrás de você, raposa maldita.

Sua ameaça era verídica, ele realmente iria atrás de mim e com certeza me mataria. Engoli seco. Não estava sentido medo por mim, mas temia que algo pudesse acontecer a minha irmã e também com Dimitry–san e Mary–san.

Hai. — concordei, mas pensaria em algo para me livrar dele sem pôr a vida de alguém em risco.

— Muito bem. Encontramos-nos aqui em meia hora. — ele se afastou de mim e fez um sinal para o outro me soltar.

Dei as costas e voltei para casa na esperança de encontrar minha irmã e fazer muitas perguntas e, dar um grande sermão. E não demorei muito a chegar, mas tudo indicava que eu tinha pouco tempo para entender a situação e planejar algo. Fui direto para dentro do templo, onde Ambre estava.

— Ambre! — chamei autoritário. Ela se arrepiou. — Você roubou a kusanagi?

Etto... — ela suou frio, então, quer dizer que sim, ela roubou.

— Por quê? — perguntei passando os dedos nas temporãs, tentando me acalmar e me livrar da dor de cabeça que estava sentindo.

— Porque nós não tínhamos dinheiro e eu precisava de quimonos novos, você precisa de quimonos novos! — ela quase gritava agora e já estava querendo chorar, pois sabia que eu não aguentaria ver ninguém chorando (isto sempre amolece meu coração).

— Que seja! Roubar é errado! Você sabe muito bem disso, já não é mais tão criancinha assim! — meu tom de voz estava no mesmo nível que o dela, e com certeza quem estava fora podia ouvir nossa pequena “briga”.

Ela abaixou suas caudas e orelhas, também o olhar, ela já estava chorando em silêncio e me perguntou algo sem me olhar:

— Como descobriu? — sua voz chorosa estava machucando o meu coração, mas precisa ser firme com ela, senão isso poderia se repetir e poderia ser até pior.

— O dono da espada está atrás de você, ele está aqui na cidade e me confundiu com você, mas me libertou ao ver que não era você. — contei ocultando algumas partes.

— Castiel–sama está aqui? — sua expressão mudara de chorosa para surpresa e agora me encarava.

— Castiel... –sama? Você o conhece?

— Ele é o Orochi daquela vez.

— De dois anos atrás? — interroguei surpreso.

O mundo é pequeno mesmo. Ambre assentiu.

— Eu não sabia que a espada era tão importante assim.

— Não é estranho que ele tenha demorado em sentir a falta da espada? — eu mais me questionei do que perguntei a Ambre, só que ela deu um sorrisinho nervoso.

— Ele tinha deixado com um ferreiro para afiá-la, um de confiança dele, só que o ferreiro estava viajando e só voltaria depois de dois anos, então, deixou com a esposa dele a espada e eu roubei dela... — ela enrolava as pontas do seu cabelo nos dedos, um claro sinal de nervosismo e culpa. — Eu só queria ter uma parte dele comigo, só que encontrei um colecionador que trabalhava para o Oujisama e ele me ofereceu muito dinheiro, então, vendi a espada e comprei nossos quimonos novos.

— Isso quer dizer que foi por um triz ele não nos pegou no nosso antigo templo, já que deve ter descoberto há poucos dias sobre o desaparecimento da espada. — lancei meu melhor olhar ameaçador para Ambre que se encolheu toda no canto e voltou a abaixar as caudas e orelhas. — Você quase nos mata.

— O que... Vai acontecer? — ela perguntou-me meio hesitante.

— Vou dizer que você não está mais na cidade e direi que é possível que a espada esteja onde está o Oujisama, vou rezar aos deuses para não ser morto no caminho. — falei sincero.

— Vai assumir no meu lugar? — ela secava as lágrimas.

— Você é minha irmãzinha. — ela me olhou. — É meu dever protegê-la até mesmo quando não merece.

Ela ficou quieta e quando dei as costas, senti seus braços contornarem minha cintura. Ela me abraçou. Fazia tempo que não nos abraçávamos. Admito que nosso relacionamento seja estranho, afinal, não somos tão próximos, porém, em momentos como esse, estranhamente estamos unidos. Não sabia o que passava na cabeça dela, mas o abraço era quente e me inspirou a continuar. Pousei minhas mãos nas suas.

— Eu vou voltar. — declarei e ela me soltou.

Então, caminhei em direção a minha possível morte.

~*~

Lá estava eu no local marcado e eles também. Assim que cheguei recebi o olhar do ruivo, era um olhar de poucos amigos e eu o compreendia, porém, jamais arriscaria a vida da minha irmã e estava pronto para levar a punição que fosse.

— Cadê ela? — ele praticamente rosnou e o outro permaneceu calado.

— Ela foi embora da cidade, mas antes de ir me contou onde está a espada.

O ruivo novamente estava com a lâmina da adaga em meu pescoço e nos encarávamos.

— Onde ela está? — ele claramente estava furioso.

— Se eu te disser... Você vai me matar depois que eu te contar, mas se eu não disser você será obrigado a me poupar, já que não pode andar livremente por aí, Orochi-san.

Ele não ficou surpreso por eu saber sua verdadeira identidade, talvez até esperasse por isso.

— Muito bem. — ele guardou a adaga, agora parecia pronto para negociar. — Raposa, você nos guiará até a espada.

Concordei. Marcamos em nos encontrar novamente, mas em um ponto diferente, mais perto do hotel Ragnarok. É claro que ele não me deixou sair assim simplesmente sem vigilância, o yatagarasu ficou o tempo todo comigo, por isso, não retornei para o templo e decidi perambular a cidade até que fosse de noite e, dessa a hora de irmos nos encontrar.

Naquela época nunca pensei que um simples ato de proteção meu para com minha irmã fosse capaz de me levar onde estou agora. São tantas lembranças e todas elas me levam a primeira vez que vi aquele rosto.

Estávamos no telhado do hotel e todos sabiam que aquele hotel era onde vivia o príncipe, ao menos éramos o que acreditávamos. Nunca fui muito fã da realeza, porque senão fossem essas novas leis do Rei não teríamos tantas guerras e mortes desnecessárias, mas não achava que era culpa do príncipe e quando o orochi resolveu não só roubar a espada, a qual eu indiquei o caminho e disse a possibilidade de estar em um dos quartos perto da parte onde estaria o príncipe, ele quis roubar também o príncipe e o primeiro a desistir depois de ouvir isso foi yatagarasu que simplesmente o abandonou. Depois de vários palavrões e maldições lançadas, resolvi que era minha chance de ir embora e foi o que fiz, afinal, o príncipe não era de minha responsabilidade.

Caminhei pela noite, me afastando cada vez mais do hotel, porém, por algum motivo a conversa que tive com o príncipe na época em que o vi pessoalmente voltou em minha mente e me lembrei sobre ele comentar algo sobre querer ver seu sobrinho, o que era impossível já que a garota humana por quem o antigo príncipe se apaixonou morreu muito antes do atual príncipe nascer...

...

Meus calcanhares giraram involuntariamente e me vi retornando de onde viera, escalei novamente o telhado do hotel e ao ouvir os protestos de alguém, olhei mais a baixo e vi o orochi com o príncipe em seus braços se debatendo.

Visivelmente nervoso pelo escândalo que o príncipe fazia, ele estava prestes a se transformar em um dragão que era; deixando suas asas visíveis e saltou da sacada. Neste mesmo instante pulei em sua direção, pousando (ou chutando, tanto faz) um pé em sua nuca, digamos que isso basicamente resultou em duas coisas: a) nós três caímos de uma altura considerável e nos machucamos um pouco; b) fiz o orochi beijar o príncipe nos lábios acidentalmente, e digamos que isto o fez ser servo dele (palavras do oujisama).

Após alguns minutos, quando já estávamos de pé e num beco que ficava atrás do hotel, só pude sentir o olhar furioso do orochi em minha direção... Em minha defesa, foi um acidente.

— Se querem saber, não é tão ruim assim. — dizia o príncipe que estava com alguns arranhões e encostado na parede do beco.

Ele falava isso porque não estava sendo quase estrangulado ali.

— Foi... Um acidente... — eu dizia já quase sem ar e realmente tentando me soltar.

— Acidente? Acidente o cacete! — sua raiva chegava ser palpável (não era mais raiva, era ódio mesmo).

— E-eu acho que posso reverter isso, se você deixar a raposa viver. — oujisama tentava apartar nossa “briga” e também tentava me salvar (?).

— Acha?! Eu espero que realmente consiga, pirralho. — ele usara seu melhor tom ameaçador, com certeza, e soltou-me o pescoço.

— Eh?! — o príncipe tremeu um pouco. — Ha-hai. Hm... Qual é o seu nome? — ele olhava o orochi.

— Por que quer saber? — o orochi cruzou os braços.

— É necessário para reverter o contrato. — falou o príncipe de forma inocente e como se estivesse dizendo o óbvio.

— Castiel.

— Castiel–kun para reverter o contrato é necessário que outro fique em seu lugar.

...

Estranhamente ele me lançou um olhar sádico e seu sorriso era igualmente sádico. E sadicamente, não sei como, fui arrastado juntamente com o oujisama e quando percebi os lábios do príncipe estavam sob os meus. Nossas cabeças foram unidas pelas mãos de Castiel que segurava nossos cabelos com força.

...

Assim como Castiel, fiquei em uma forma mais humana. Sem orelhas, sem caudas e sem unhas afiadas. Eu era apenas — aparentemente falando — um humano homem com cabelos compridos e loiros.

— Não era assim... — disse oujisama quando Castiel nos soltou e, olhou para suas mãos e costas, esperando que escamas e asas voltassem, porém, nada.

— ... Eh...? — soltei.

— Como assim “não era assim”? — Castiel segurava oujisama pelo colarinho e o olhava com um instinto assassino.

— Você não poderia forçar a raposa, ele teria que ter se voluntariado e dito o seu nome, então, aceitado trocar de lugar com você.

—... — Castiel soltou-o. — Vou matar... Vocês dois! — ele já tinha empunhado a kusanagi.

— Argh! — o príncipe engoliu seco e se encolheu. — Espera! Se me matar vai ser bem pior, ficará assim para sempre!

O dragão se voltou para mim com a espada em mãos e muito, muito furioso.

— É TUDO SUA CULPA!

O resto do que me lembro daquela noite foi que corri como nunca em todos os meus séculos. O dragão tinha um incrível fôlego e vitalidade. O pobre príncipe que tentou nos acompanhar não aguentou metade do caminho.

E quando nos demos conta, estávamos vivendo no Hotel e exercendo as mesmas funções desde sempre. Eu ensinaria as crianças que ficassem no Hotel — incluindo Lysandre–sama — e Castiel cuidaria da segurança (que admito não era tão bom antes, mas agora com ele, o lugar é quase impenetrável).

Naturalmente não foi fácil no começo, Castiel estava sempre disposto a ameaçar alguém e fazer esta pessoa trocar de lugar com ele no contrato, mas Lysandre–sama disse que com o tempo o contrato ficaria mais fraco e, assim como eu, Castiel não tinha exatamente um lugar para chamar de “lar”. Mas ali, mesmo que seja um Hotel, um lugar aonde pessoas vem e vai, ali poderíamos ao menos chamar de um lugar para ficar, o tanto quanto pudéssemos ficar.

Após a morte de Dimitry–san e Mary–san, Ambre veio morar comigo. Também foi um parto para Castiel aceitar e, aos poucos, ele foi aceitando a presença dela.

Anos e anos se passaram e nunca perguntei se oujisama se lembrava daquele dia que nos conhecemos, naquele templo. Também nunca perguntei o porquê daquela “história de sobrinho”. Só sei que esta história me levou até ele e me trouxe até aqui, porque eu havia entendido a história... Ele estava se sentindo sozinho e triste mesmo rodeado por pessoas que cuidavam dele, ele estava como eu: sozinho mesmo perto das pessoas.

~*~

Anos se passaram até que uma estranha humana fosse trazida até nós. O nome dela é Ai Chiba e ao decorrer de uma semana ela conseguiu alcançar todos nós. E graças a ela — mesmo Leigh–sama tendo participação nisso —, Lysandre talvez pudesse ser salvo de um destino estranho dado a ele.

~*~

Depois que fui pego de surpresa pelo yatagarasu, fui levado para o templo de Mary–san e Dimitry–san. Quando acordei estava somente eu e Ambre.

Ela me carregou até aqui sozinha.

— Alguém deixou um bento. — disse minha irmã, estendendo-me o bento enrolado em um lenço rosa. — Tem o cheiro dela.

Arigato... — falei me sentando devagar e pegando o embrulho.

Era de Ai–chan... Acho que me apaixonei um pouco por ela no final.

— Disponha. — disse Ambre mal-humorada e de bochechas infladas, braços cruzados e ajoelhada um pouco perto de mim.

Sorri.

— Agora você está livre do oujisama, é um kami. — ela dizia fazendo bico.

Abri o embrulho e o bento, lá estavam meus deliciosos bolinhos de arroz.

Omedetou, nii-chan. — ela me disse sorrindo.

Fiquei a olhando por um tempo e depois olhei a comida.

— Vou atrás da Ai–chan. — declarei, deixando o bento de lado e me levantando.

— Ok. — ela falou pegando um bolinho e comendo (revirei os olhos nessa hora), enquanto eu saia.

Existia uma diferença enorme entre mim e minha irmã caçula, Ambre. Ela, para começar, era duzentos anos mais nova do que eu e também era mais irresponsável, imprudente e rebelde do que eu quando tinha a idade dela. Cheguei à conclusão de que teria que cuidar dela de todas as formas possíveis e para isso era necessário procurar por um templo, onde ambos pudéssemos ser adorados e assim chegarmos a nossa onisciência... Era assim que eu pensava, contudo, hoje já não preciso mais pensar assim, não porque não há mais contrato entre mim e Lysandre, não porque sou um deus agora... Mas é porque, pela primeira vez, percebi que já tinha um lar e já estava cuidando de Ambre e, para mim só isso é o suficiente.

Nós não precisávamos mais procurar por um lar ou por pessoas que nos aceite, também não precisávamos mais economizar comida ou assistir outras guerras, sermos sacrificados e descartados, perder nossos parentes e pessoas que amamos. A partir de hoje algumas leis mudariam e tenho certeza que o amanhã não teria o cheiro da branca neve misturada com o vermelho sangue.

Para mim é o suficiente.

O relógio da sala deu sua badalada da décima segunda hora.

O suficiente chegara.


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Notas finais do capítulo

Oujisama = Príncipe.
Kyuubi no Kitsune = http://portal-dos-mitos.blogspot.com.br/2013/01/kitsune.html
San = Senhor/Senhora.
Haha = Mamãe.
Oji = Tio.
Nee = Né.
Nakama = Amigo/Companheiro.
Baka = Idiota.
Nani = O quê?
Sakura = Cerejeira.
Hajimemashite = Prazer em conhecê-lo.
Boku wa = Eu sou.
Hai = Sim.
Ano = É.
Youkais = Demônios/Espíritos malignos.
Yo = Oi.
Sayonara = Adeus.
Etto = É...
Bento = Marmita.
Arigato = Obrigado/Obrigada.
Kami = Deus.
Nii-chan = Irmão.
Omedetou = Parabéns.

* Maji, Chefe, Kurishimi e Karashi. Estas personagens são originais, criadas por mim e Shiver (http://fanfiction.com.br/u/360559/), elas são de uma série que pretendemos publicar um dia, então, sem plágios ou minha tachi assombra vocês!

Não sei quando saíra o próximo capítulo, mas vai ter ainda esse ano kkk, prometo, porque um dos meus objetivos é terminar esta shortfic. Mas no próximo capítulo a narração é de Castiel. Até!



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