— Você vai ou não vai sair dessa posição de defesa, Castiel–sama? Como se eu fosse devorar a garota. — dizia Dakota bocejando e fitando o ruivo, que parecia pronto para levar um tiro por mim, e ainda não consigo compreender sua atitude.

— Esteja na festa! — esbravejou Castiel colocando o barril de saquê que sobrara no chão e novamente me arrastou pelo punho para fora dali.

Eu estava nervosa com aquele youkai loiro, fiquei até com medo de ele vir para a festa, mas acho que Lysandre sabe o que faz e também eu tinha Castiel para me proteger... Acho.

— Obrigada. — falei sem olhá-lo, apenas segui em frente ao seu lado com nossas mãos entrelaçadas dessa vez.

— Não agradeça, só fiz aquilo porque poderiam ter crianças por perto vendo a perversão dele, não foi por você.

— Você não está sendo sincero agora, está?

— Cala a boca. — ele corou e ficou com sua carranca novamente, apenas ri.

Enquanto andávamos em silêncio pelas ruas da cidadela, pude ver em cima de uma das casas um corvo que aparentava nos observar, não sei bem dizer se ele olhava diretamente para mim e também não sei dizer se era outro youkai, mas ele tinha um colar no pescoço que refletia devido ao sol.

Quando chegamos perto do Hotel, ele sobrevoou o mesmo e desapareceu da minha vista. Talvez seja apenas impressão minha. Acabei deixando de lado e assim que adentramos, Castiel fora avisar Lysandre que já convocara o “animador de festas” e eu fui ver Melody–san que estava na recepção anotando os nomes dos hóspedes que chegavam, esperei um pouco para falar com ela, assim que ficou livre, fui a sua direção e conversei sobre o tipo de presente que gostaria de dar a Nathaniel, só que tinha um detalhe importante que acabei me esquecendo.

— Você tem algum dinheiro? — perguntou Melody–san.

Sorri nervosa.

— Ano... Não. — falei.

Havia me esquecido que todo o dinheiro que ganho vai para o quarto que estou hospedada; resumindo: acabo trabalhando e nem vejo a cor do dinheiro direito, porque Nathaniel sempre me cobra.

— Bem, você ainda pode dar algo a ele. Por que não tenta algum tipo de artesanato? — sugeriu Melody–san.

— Quer dizer, algo feito à mão?

— Hai.

— Mas eu não sou muito boa com isso.

— Não importa como fique, acho que o que vale é a intenção.

Decidi seguir o conselho dela, então, fui ajudar o Charli–san, afinal, ele poderia estar precisando de alguma ajuda, já que estava perto da hora do almoço e realmente ele precisava.

O tempo acabou passando e já estava próximo da hora do jantar, e eu ainda não havia feito nenhum presente para o Nathaniel e também não fazia ideia do que fazer. Acho que Charli–san percebeu minha frustração e se aproximou de mim. Eu estava sentada a mesa, apoiando meu queixo em ambas as mãos, com os cotovelos em cima da mesa e olhando Willi e Wenka fazendo a tarefa de casa que Nathaniel dera — o que era uma raridade isso acontecer, mas acho que eles querem agradar o sensei, pois é aniversário dele, então, abriram uma exceção hoje.

— Algo está lhe incomodando, não está? — perguntou Charli–san sentando-se a mesa ao meu lado, era a primeira vez no dia que ele parou para descansar e olha que todo mundo na cozinha correu hoje, até mesmo Violette–san e Kim–san, que não trabalham na cozinha, ajudaram.

Apenas assenti, vendo sua expressão de cansado.

— É o Nathaniel–sama, certo?

Assenti novamente, dessa vez cruzando os braços e me encostado na cadeira. Também estava cansada, fui arrastada para cima e para baixo hoje.

— Não conseguiu achar um presente?

— Pensei em lhe dar uma tessen, mas acho muito arriscado. — brinquei um pouquinho e ele riu.

— Chiba–dono, por que não tenta cozinhar para ele?

— Hã?

— Sim, cozinhar.

— Você viu que eu sou um desastre na cozinha, não viu?

— É que você não teve um bom professor, mas agora tem. — ele sorriu.

— Mas eu não sei do que ele gosta de comer.

— Mas eu sei.

Verdade. Charli–san sabia dos gostos culinários de todo mundo do Hotel e admito que sua comida seja maravilhosa. Acabei aceitando sua ajuda e começamos a fazer algo simples, que eu não imaginava ser a comida favorita de Nathaniel: bolinhos de arroz.

Enquanto enrolávamos os bolinhos, Charli–san me contava uma história sobre os Tsuki no Usagi, que é o seu tipo de youkai.

— Para os chineses os Coelhos Lunares estão apenas preparando o elixir da longa vida para os imortais, enquanto para os japoneses eles estão apenas fazendo bolinhos de arroz na lua cheia. Também existe uma lenda que um coelho lunar ofereceu sua própria carne para um deva e este acabou esculpindo-o na lua, então, é possível ver o coelho moendo o arroz ou preparando o elixir nos dias de lua cheia.

— Qual dessas histórias é a verdadeira? — perguntei curiosa e estávamos quase terminando os bolinhos.

— Todas elas, desde que você acredite. — respondeu-me.

Sorri e ele me retribuiu, depois suspirou.

— Alguma coisa errada? — perguntei preocupada.

— É que Chiba–dono gosta muito da raposa e do dragão, eu acabo ficando com inveja. — ele sorri um pouco triste.

— Como assim raposa e dragão?

— Você não sabe? — ele questionou surpreso.

— O que eu deveria saber?

— Bom, é que Nathaniel–sama é uma raposa demônio de nove caudas e Castiel–sama é um dragão demônio de oito cabeças. — falou como se fosse à coisa mais natural de se dizer.

Tudo bem, eu sabia que eles eram youkais, mas não pensei que eles seriam de um tipo razoavelmente poderoso.

— Nove caudas e oito cabeças? — soltei.

— Sim. — disse normal. — Mas eles não gostam muito de sua aparência original, por isso ficam na forma humana. E creia em mim, eles são mais assustadores quando estão na forma original.

Ainda não sei por que fico surpresa com essas coisas.

~*~

Enrolei o bento que fiz para Nathaniel cheio de bolinhos de arroz e como fiquei sabendo que ele era uma raposa, após meu expediente, sai escondida e vestida no meu quimono branco com detalhes de flores de cerejeiras, andei até um templo de kitsune, o mesmo que estive com Armin. E lá depositei um bento e fiz uma prece para que ele pudesse receber mais força e, também desejei mais anos de vida.

Novamente vi o corvo, quando abri meus olhos, no teto do templo. Tive certeza que era o mesmo e ele me encarava com a mesma intensidade que eu o encarava. Senti-me sendo arrebatada por seus olhos negros.

Apenas dei as costas e fui para o Hotel. Uma festa estava para começar.