O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 59
O Adeus da Pirilampa


Notas iniciais do capítulo

*ULTIMO CAPÍTULO*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/512527/chapter/59

Acho que adormeci e eles me trocaram de corpo enquanto eu dormia. Isso não sou eu. Eu estou sentindo meus cabelos batendo na cintura de novo! Isso é algum tipo de macumba? Ellie, volte pro seu terreiro! Já o vestido, eu não me incomodo que seja chique, mas aquilo já é demais! A saia é de tule, curta na frente e um pouco mais longa atrás, dizem que isso dá ênfase às pernas, mas eu lá tenho pernas bonitas pra se dar ênfase!

Respire. Eu pareço mais uma... vencedora de miss universo. Claro, com vários centímetros de altura a menos do que uma modelo realmente teria, mas estou vestida como uma. Ah, também não tenho as curvas provavelmente necessárias, mas isso é detalhe.

O que realmente importa é que eu estou vagando pela grande casa do Dennis, e tudo o que eu encontrei foi aquele mordomo chique que eu queria ser se eu fosse homem.

– Uau! – ouço alguém dizer. Olho para frente e vejo Elizabeth. Eu nunca tive uma conversa real com ela, mas foi bom ouvir um “uau” da minha pseudo... sogra? – Gente, você está divina!

Sorrio. Finalmente achei alguém que também use divino nas frases. Mãe, você não está sozinha.

– Obrigada – sorrio. Mas não foi pra ser elogiada que eu vim aqui. Quero saber como e por quê Dennis fez aquela cena toda ontem, como conseguiu me enganar e se o beijo com o Gabriel fazia parte do plano todo.

– Aquele idiota ainda não desceu? – Hanna resmunga. – Será que eu tenho que fazer tudo?

Então ela puxa minha mão, sobe as escadas correndo, abre a porta do quarto de Dennis e me joga lá, como se eu fosse um saco de comida crua.

Sim... e aí? Estou no quarto do Dennis e posso ouvir o barulho do chuveiro? POR QUE ESTOU NERVOSA? Ah, é! Ele pode se sentir a vontade por estar sozinho e sair do banho completamente pelado. Não quero ver nada de que me arrependa, então apenas sento na cama, de costas pro banheiro, alisando, com as mão, meu cabelo postiço.

Daí a porta abre. Eu não vou me atrever a virar! Ouço o barulho da porta voltando a se fechar. E um baque.

Quê? Dennis caiu? Bom, apesar de tudo, foi engraçado.

Finjo que nem ouvi nada, que estou no meu mundinho colorido cheio de borboletas como sempre, até ouvir a porta abrir de novo.

– O que faz aqui? – ouço a sua voz. Eu preciso me virar!

– Você prometeu me contar do surto de ontem, do seu plano e tudo mais – tapo os olhos com a mão e me viro devagar.

– Está tapando os olhos? – não, estou cheirando os dedos.

– Não quero ver nada que eu não deva – digo, mas abro involuntariamente uma brecha entre os dedos.

Ele está com uma camiseta preta, sem mangas. Isso me faz querer morder. Um pedaço de marshmallow. É isso, quero morder um pedaço de marshmallow, não posso pensar impurezas!

– Que macumba você fez? – ele pega uma mecha do meu cabelo postiço e cheira. Eu hein, é doido.

– Foi a Ellie quem... não ficou legal? – subiu o pânico. E se ele gostasse do meu cabelo curto?

– Tanto faz, é só cabelo, não é? – ele pega uma camisa de botões, mas arregala os olhos. – É se alguém que já morreu?

– Hein? – Faço uma careta e aliso com as mãos. – Espero que não.

Então o silêncio reina. Ele veste a camisa e ajeita os cabelos. E eu olho a parede. Que parede bonita. Linda. Sem nenhuma falha. Perfeita. Eu casaria com essa parede.

– Parede de paquerar minha parede e vamos logo – ele me puxa pela mão, parando pra observar meu pulso. Sim, eu estou usando a maldita pulseira com pingente de gatinhos.

Ele sorri. Ai meu santo Júpiter, ele sorriu!

Ok, nem é tão grande coisa assim.

– Aonde vamos, mestre dos mistérios? – digo, quando ele apenas me faz entrar no carro e diz pro motorista (era outro, eu nunca o tinha visto, mas era bem chique também) nos levar pro lugar que ele sugeriu antes.

– Aonde você espera ir às três da tarde de uma terça-feira? – ele pergunta, sem olhar pra mim.

– Normalmente eu iria pra casa, já que é nesse horário que saímos da escola – coço o ombro. Esse vestido está começando a incomodar.

– Chegamos.

Ele sai do carro e óbvio, eu saio também.

– Uma loja de roupas? – e é uma loja de roupas comuns.

– Não é incrível? – ele diz e quando pisco já estou sendo empurrada num provador por uma vendedora que insiste em me oferecer roupas em tons mortos.

Depois de tirar o vestido que pinica e trocar por uma saia de tule marrom opaca e uma blusa de mangas, bem frouxas, listrada de marrom escuro e bege (de cortesia uma bota marrom bem confortável... mas pra quê tanto marrom?) saio do provador me achando a pessoa mais estranha do universo. Até eu ver o Dennis.

Ele está usando um jeans normal, com uma camisa preta com uma jaqueta de tecido marrom e verde por cima. Concluí que ele é a pessoa mais estranha do universo.

– Aonde vamos? – pergunto pela enésima vez, faz tempo que estamos andando, está fazendo frio e eu ainda não sei se vou ser sequestrada ou não.

– Posso dizer uma coisa? – ele segura meus ombros firmemente e eu apenas olho em seus olhos. – Surpresa.

Eu olho. Um parque de diversões.

Incrível, já estive nesse lugar, mas agora tudo parece mais... colorido? Não, essa não é a palavra certa, até porque soaria muito... Gabriel. A palavra mais apropriada seria... assustador. Sim, tudo aqui parece mais assustador, não importa pra que lado olhe, sempre vejo palhaços e velhinhas segurando suas bengalas, prontas pra me bates quando eu passar pelo menos a cinco quilômetros de distância. Sim, isso foi um exagero, mas eu sou dessas.

– Aonde vamos primeiro, isso é tão empolgante! – Dennis parece estar num transe.

– Quero saber como e quando planejou tudo aquilo! – eu o tiro desse transe rapidinho.

– Eu... Bom... Tá bom – ele me puxa e sentamos num banco afastado. – Tudo começou naquele dia em que você me espancou...

– Eu não te espanquei! – grito e ele põe a mão na frente do meu rosto.

– Não me interrompa, pirilampa – ok, o que foi que eu perdi? – Bom, eu estava em casa, torturado e acabado, então tive bastante tempo pra pesquisar sobre sua vida.

– O que você descobriu?

– Nada, então tive que partir pro improviso – ele suspira, pegando um pirulito de dentro do bolso da jaqueta.

– Improviso? – o olho incrédula.

– Sim, falei com Gabriel e ele disse que uma surpresa na praia seria interessantemente romântico, ele deu uns pulos também, mas eu decidi ignorar, falei com as suas amigas doidas e escandalosas... bom, isso inclui a Ellie e a Amandha também, além da Loiza e da... outra ruiva – ele esqueceu o nome da Katlyn? Cara... qual o problema dele? – elas disseram que eu tinha que dar um anel, te pedir em casamento e te levar pra saturno, mas eu não queria ser tão impulsivo – ele ri. Está sendo irônico, não é? Casamento... puxa, isso está além da minha imaginação. – Então falei com a Hanna e, por incrível que pareça, ela ficou feliz em me dar dicas do que te dar.

– E daí? Não achei nada que tenha a ver com o suposto contato labial entre você e o loirinho – semicerro os olhos. Tudo bem, eu posso não ser uma pessoa tão intimidadora, mas posso tentar, não posso?

– Isso não foi planejado! – ele grita. – Foi totalmente fora dos planos.

– Sei... continue.

– Bom, e quando eu estava passeando por aí eu vi essa pulseira, lembrei dessa sua cara inchada e resolvi comprar – ele sorri.

– Lembre-se que você também ficou com a cara inchada – aperto sua bochecha com força.

– É, mas a sua é natural – ele aperta ainda com mais força. Pensei que ia abrir um buraco na minha pobre bochecha.

– Não achei nada interessante, até agora – resmungo.

Ele respira fundo. Estou achando tudo muito estranho. Talvez seja por causa do peido efeito bomba que uma velhinha acabou de soltar, mas é algo além disso. Mas mesmo assim, acho que ela sujou a fralda geriátrica.

– Quer andar por aí? – ele convida.

– Pode ser – levanto e o sigo. O clima está bem tenso, mas como sempre pode piorar um pouco ele segura minha mão, entrelaçando nossos dedos.

– Você devia esquecer esses pirulitos – digo, quando o vejo pegando outro.

– Por que? Eles são doces e duros ao mesmo tempo – ele me olha. – São como você.

Eu coro. Não é a coisa mais romântica do mundo, mas quem sou eu pra discutir sobre o que é ou não romântico?

– Me comparou com um pirulito... beleza – começo a rir igual a uma porca.

– Você quer um? – ele ri junto.

– Isso seria canibalismo, não seria? – continuo rindo.

Depois dessa conversa completamente tosca que me fez esquecer o clima tenso, a primeira coisa que eu quis fazer foi andar na montanha-russa, o segredo é não comer nada antes, senão o estrago pode ser bem horrívelzinho. Dennis saiu de lá tonto, com os olhos brilhando, me puxando pra olhar cada coisa que vinha pela frente. Sinto meu celular vibrando a casa cinco segundos, mas não tinha tempo pra olhar, só parávamos pra respirar e já íamos em outros brinquedos. Eu já estava ficando cansada.

– Agora vamos naquilo – ele aponta, terminando o terceiro algodão doce. Dennis não pode entrar em contato com nenhum tipo de açúcar. Jamais.

– Quê? Não! Não vai me fazer ficar trancada em uma cabine e girar até dizer chega! – recuso.

– Vamos! – ele me puxa. É, parece que ele não quer ouvir minha opinião.

– Eu tenho alguma opção? – faço uma careta, pra assustar mesmo.

– Não, não tem – ele faz bico – Vamos, vai, eu te dou um pirulito! – ele tira outro pirulito do bolso e me oferece.

– Não quero seus pirulitos! – viro o rosto.

– Eu não ia te dar mesmo – ele guarda o pirulito de volta, dando de ombros.

– Tá, eu vou, mas tem que me dar um pudim, um bem grandão e com muito caramelo, chantilly e tudo mais – digo, idealizando a porção perfeita de pudim.

– Fechado – ele ri, jogando lentamente a cabeça para trás.

Eu podia gritar e dizer que não, não quero ir na roda gigante. Bom, talvez eu esteja sendo medrosa demais, as cabines são seguras e tudo, mas mesmo assim, é um lugar fechado, que fica pendurado em uma roda... tem coisa mais sinistra? Sei que posso surtar, mas... Bom, eu estou com Dennis, se ele aguenta ficar trancado numa cabine de roda gigante sem surtar eu também consigo. Façam suas apostas. Eu não vou perder!

– Vamos logo – respiro fundo, apertando a mão dele, talvez eu esteja tremendo um pouco, mas... Bom, eu não tenho culpa! Sou uma pessoa covarde, todos sabem.

– Hmm, Mei – ele me chama e eu me viro, encontrando o rosto dele bem perto do meu.

Ele me beija.

Na frente de todo mundo.

No primeiro momento eu nem ligo. Mas estamos na frente de todo mundo.

– Qual é o seu problema? – digo, sentindo meu rosto queimar. Não o empurrei nem fiz nada, mas mesmo assim, continuo com vergonha. Tem uma velhinha me encarando, tira ela de perto de mim! – Não faça isso no meio do povo. Olha a velhinha me encarando!

– E daí? – ele faz bico. – Não gosta mais de mim? Só quis me usar pra jogar fora depois? – ele diz e eu vejo o cara que está na nossa frente, acompanhando a avó, revirando os olhos.

– G-gosto sim, mas e daí? – digo, batendo o pé. – E você só me chama de “Mei” pra fazer besteiras! Não caio mais nessa.

Ouço um suspiro debochado, ah, como eu detesto esse menino!

– Mei – ele murmura e eu, idiota, me viro outra vez.

Ele faz de novo. Um pouco mais demorado.

– Pare com isso! – não quero que ele pare de verdade, só que não faça isso enquanto uma senhorinha da terceira idade me encara como se eu fosse uma vadia. – Sinto alguém nos espiando.

Ele ri.

– Vamos sair daqui – ele me puxa e saímos da fila da roda gigante. – Vamos arrumar um pudim bem grande pra você.

– Mas a gente nem foi ainda... – digo, mas ele nem dá atenção, ainda bem, porque eu não queria andar naquilo, ele passa seu braço pelo meu ombro. – Vamos comprar alguns pirulitos também – sorrio.

Ele sorri. Quase fechando os olhos.

Eu posso não ser a pessoa mais romântica do mundo (descobri o óbvio), mas só de pensar que tudo começou com aquelas maças eu fico com vontade de comer torta.

Isso nem foi romântico.

É isso... Eu até poderia voltar com a estória da batata ou adia o fim, mas, bem... o que eu posso fazer?

Finalmente pude olhar meu celular, vinte e duas mensagens da Hanna.

Ela voltou pra França.

Bom, como eu já tinha dito... todo mundo se resolveu.

Daqui a pouco até a Taylor perde a vergonha na cara e começa a atacar o Elliot.

Mas e eu? Eu estou como sempre! Ridiculamente cansada mesmo sem fazer nada, estupidamente retardada e hipnotizantemente maluca por pudins. Atualmente namorando meu melhor amigo moreno, Dennis, filhote de urubu, Sakai. Também observo minunciosamente a vida do meu melhor amigo loiro e do meu (futuro) melhor amigo ruivo (Tyler VAI virar meu melhor amigo ruivo por bem ou por mal). Além de estar muito feliz com meu figurino marrom e meus cabelos postiços hoje.

. – Espere, tem uma mosca – ele pega a colher e tira um pedaço do meu pudim. E come.

– Ei! Não tinha mosca!

– Então pegue – ele pega outro pedaço com a colher e me oferece. Sei o que vem em seguida, mas aceito mesmo assim.

– Hmm, Anna, – ele finge surpresa. – Isso foi um beijo indireto? – ele ri.

Levanto minha sobrancelha e solto a risada que eu estava prendendo.

E ele logo me beija diretamente. Posso sentir olhares em mim. Mas o que posso fazer? Eu sou muito irresistível.

É diário, parece que minha vida ficou um pouco menos... monótona. Acho que não vou precisar de você por um bom tempo.

Pode tirar férias no Havaí se quiser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Minhas notas iniciais estão bugadas, isso não é novidade, enfim, eu ia postar só amanhã, mas não resisti, então por favor, fantasmas, leitoras novas, antigas, se manifestem por favor, eu preciso saber se esse capítulo merece ser o último ç-ç acho que não ficou tão digno quanto vcs esperavam, mas eu fiz meu melhor.
O capítulo extra sai na semana que vem e eu prometo que vai ser enorme, engraçado e com muitas emoções (vou me esforçar).
Bjo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Diário Secreto de Anna Mei" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.