Já era noite quando finalmente o navio Vingança dos Sete Mares aproximou-se do porto de Arendelle, uma vez que, mesmo sendo o mais próximo, não era realmente tão perto de onde o navio estivera anteriormente.

O porto estava completamente vazio, bem como os navios ali atracados, e podiam-se ver algumas poucas pessoas que ainda estavam nas ruas dirigindo-se ao castelo, a qual tinha seus portões abertos e estava bastante iluminado.

– Provavelmente uma festa. – Margo supôs, fitando o magnífico castelo de Arendelle.

– Provavelmente. – Foi tudo o que as duas capitãs responderam, olhando para o castelo sem realmente parecerem ver alguma coisa, distraídas.

Os demais tripulantes do navio trocaram olhares confusos e preocupados ao notarem a distância das duas, que pareciam estar em um mundo pertencente apenas a elas enquanto olhavam o Reino de Arendelle sem parecerem prestar atenção em qualquer coisa à sua volta.

– Capitã Elsa? Capitã Elena? – Kristoff chamou, pela primeira vez em bastante tempo chamando as duas pelo nome, o que as fez imediatamente olhá-lo com certa inquietação.

– Sim, Kristoff? – A morena, Elena, arqueou uma sobrancelha, forçando um sorriso de canto enquanto observava o loiro, esperando que ele falasse.

– Algum problema? – Kristoff perguntou, esboçando preocupação enquanto alternava olhares entre as duas pessoas mais temidas do Caribe, mas que na verdade não chegavam nem de longe a ser cruéis como sua reputação denunciava.

– Não, claro que não. – A loira, Elsa, assegurou, embora continuasse a olhar o castelo de Arendelle com uma pontada de tristeza presente no rosto. – Porque haveria?

– Por nada. – O loiro não tardou em encerrar o assunto, percebendo que nenhuma das duas parecia inclinada a lhes contar o que as afligia. – Mas o que faremos agora? – Tentou mostrar-se mais animado, porém sem muito sucesso. – Estamos de volta ao ponto de partida. – Disse, lembrando-se que o navio Vingança dos Sete Mares havia se originado de Arendelle.

– Obviamente. – Elena concordou com um gesto mínimo da cabeça, alternando olhares entre todos os tripulantes do navio a qual era capitã. – Enfim, não precisam sequer perguntar. – Abriu um sorriso apagado, mas ainda assim belo como o de um anjo. – Façam o de sempre. Pilhem, destruam, duelem... – Bufou e parou por um segundo antes de prosseguir. – Façam o que bem entenderem. Resumindo: Divirtam-se, Crianças.

Murmúrios animados percorreram a tripulação e alguns logo se puseram a caminhar para fora do navio, espalhando-se pelo reino para fazer o que lhes parecesse mais divertido, sobrando ali apenas Kristoff, Margo, Elsa e Elena.

– Vão logo ou não sobrará nada para vocês fazerem. – Elsa advertiu com um sorriso tristonho, finalmente olhando para os dois, que continuavam a fitá-las de maneira desconfiada e um tanto quanto preocupada.

– Se eu não as conhecesse, diria que estão com saudades de casa. – Margo respondeu com um sorriso mínimo de compreensão, gesticulando para Arendelle, que naquele momento, estava quase completamente vazia.

Elsa e Elena ficaram absolutamente quietas por um segundo, paralisadas, mas logo depois arquearam, cada uma, uma sobrancelha, olhando para Margo com ironia, como se o que ela havia acabado de dizer não passasse de uma frase sem fundamento.

– Está imaginativa demais para o meu gosto, Margo. – Elena falou em um tom vazio e impessoal, seu sorriso desaparecendo do rosto e deixando apenas a expressão dura e sarcástica.

Margo engoliu em seco. Nunca significava algo bom quando qualquer uma das capitãs falava em um tom tão distante e vazio. Vendo o desconforto dela, Kristoff interveio em prol da amiga e companheira de tripulação:

– Então por que parecem tão desanimadas? – O rapaz questionou de forma desconfiada e inquisitiva, decidido a saber o que se passava na mente da loira e da morena. – Se fosse em qualquer outro lugar, vocês duas estariam lá fora com os outros, congelando ou queimando alguma coisa. – Disse de forma que estava claro que não acreditava que as duas ficariam tão distantes por nada.

Elsa e Elena ficaram caladas por um momento, parecendo não ter qualquer ideia de como rebater o argumento que Kristoff acabara de lhes apresentar, uma vez que lá no fundo, elas sabiam que ele e Margo estavam certos, por mais que não quisessem admitir.

– Margo, você devia aproveitar para visitar seu pai e suas irmãs. – Elsa sugeriu, mudando completamente de assunto com extrema naturalidade. – Aposto que Gru, Edith e Agnes sentem sua falta.

– Não sei se é uma boa ideia. – Margo respondeu, passando a mão pelos cabelos castanhos com visível nervosismo, caindo no truque de Elsa para mudar de assunto. – Só vai servir para que fiquemos ainda piores quando eu for embora novamente, uma vez que só ficaremos esta noite.

– Ninguém está te obrigando a partir conosco. – Elena declarou, desviando o olhar de Margo quando esta a olhou e passando a fitar o castelo de Arendelle mais uma vez. – Pode ficar se quiser. É um fardo muito grande estar separado da família. – Pareceu se lembrar de alguma coisa e balançou a cabeça levemente, como que para se livrar de uma ideia. Então, olhou para Kristoff e Margo pelo canto do olho. – E isso vale para você também, Kristoff.

O loiro e a castanha se entreolharam com confusão antes de voltarem a fitar as capitãs do navio, que mais uma vez pareciam estar com a mente bem distante daquele convés.

– Vocês nunca nos obrigaram a segui-las. – Kristoff falou em um tom que deixava claro sua decisão de continuar sendo um pirata. – Sempre fomos livres para abandonar o navio se quiséssemos e se estamos aqui agora, significa que nenhum de nós quis abandoná-las. – Finalizou com um sorriso simples no rosto.

Elsa e Elena se entreolharam pelo canto do olho, sorrindo de leve e verdadeiramente ao ouvirem as palavras do loiro. A loira assentiu minimamente com a cabeça e a morena fez o mesmo apenas alguns segundos depois.

– Se não forem, logo, vão perder a diversão. – Elsa declarou com seu habitual sorriso de canto angelical, deixando Kristoff e Margo mais tranquilos.

– Vocês vêm? – Margo perguntou, percebendo que as capitãs do navio já pareciam estar de volta ao comportamento que exibiam desde que partiram pelos mares pela primeira vez.

– Acho melhor não. – Elena balançou a cabeça e se encostou ao mastro, exibindo seu velho sorriso de anjo que parecia aterrorizar qualquer marinheiro que o visse, por mais belo que fosse. – Mas vocês não precisam se preocupar. – Advertiu ao ver que os dois se desanimaram ligeiramente. – Ficaremos vigiando o navio e vocês podem demorar o tempo que precisarem. – Fechou os olhos, parecendo processar alguma ideia que lhe viera à mente. – Aproveitem bastante por nós. Causem bastante confusão, sequestrem alguém... – Riu ao abrir os olhos e dar de cara com a expressão surpresa dos dois, visto que todos sabiam que ela e Elsa não gostavam de ter no navio mais pessoas do que era realmente necessário. – Vão.

Os dois tripulantes restantes do navio Vingança dos Sete Mares assentiram minimamente e, ainda demonstrando certa relutância, repetiram o gesto dos outros companheiros e deixaram o navio, por mais que vez ou outra ainda olhassem para trás, como se esperando que as capitãs de repente saíssem começassem a queimar e congelar o reino. Porém, as duas nada fizeram além de entrar na cabine e desaparecer da vista deles.

– Feliz Aniversário, Anna. – As duas capitãs disseram juntas ao olharem uma última vez para o castelo de Arendelle antes de fecharem a porta da cabine.