Sobrevivência do mais forte. escrita por Léo Veronezi


Capítulo 12
Capítulo 12 - A profecia.




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Fomos à enfermaria e encontramos um corredor com diversas portas, cada time tinha seu próprio quarto e haviam placas para simbolizar o quarto dos mesmos. Avistamos a plaqueta de número 1 que ficava no final do corredor, abri a porta de madeira e entramos no pequeno aposento, era simples e continha o necessário. Havia cinco macas, um banheiro com chuveiros, um guarda-roupa, dois sátiros e uma ninfa. No canto esquerdo deitado em uma das macas, estava Nick dormindo e do outro lado, estava Helon sentado recebendo um curativo da bela ninfa na sobrancelha, um dos sátiros era Chris e então assim que me viu, veio em minha direção com uma agenda, usava uma camisa verde do acampamento para os sátiros e a onipresente flauta presa em sua cintura.

–Léo? Ele está bem, a joelhada trincou uma costela, mas com um pouco de ambrosia e com o tratamento certo, não será grande problema. – Uma onda de alivio invadiu meu corpo, eu tinha vontade de matar aquele filho de Ares e com tudo isso acontecendo, quem me garante que ele não seria mais um espião? Essa desconfiança não vai fazer bem para ninguém, muito menos em tempos como esse. Agradeci Chris com um leve movimento com a cabeça e fui em direção de Nick, Du disse que iria falar com Helon e Frances foi com ele, quando cheguei ao lado de Nick ele abriu os olhos aos poucos e sussurrou.

–Desculpa... por ser tão fraco. – As palavras me atingiram com tamanha força, ele não se preocupava em quase ter sido assassinado ou coisa do tipo, ele se preocupava em me decepcionar. Ele tossiu levemente e coloquei minha mão em sua cabeça.

–Cale a boca Nick, você lutou extremamente bem, ele é mais velho e você aparou vários golpes. Não se culpe tanto baixinho, apesar de ter perdido, me deixou orgulhoso te ver lutando daquela maneira. – Ele sorriu levemente, mas ainda mantinha a expressão derrotada no rosto, decidi perguntar algo que me incomodava durante a luta. – Nick... você percebeu algo estranho antes de ele investir contra você com aquela adaga? Algum tipo de hesitação ou até transe? – Nick pareceu refletir sobre a pergunta e respondeu.

–Na realidade... ele olhou para cima antes de tentar tal coisa e por um milésimo de segundo tomou uma expressão um amedrontada, depois pareceu se recuperar e voltou com o sorriso cruel no rosto. – Ele me olhou. –Por que Léo? Você suspeita de alguma coisa? – Eu não podia dar certeza de nada, então fiz que não com a cabeça.

–Não...Provavelmente ele deve ter deixado o calor do momento doma-lo. – Menti. – Já volto, tudo bem? – Ele assentiu e sai do aposento sozinho, ‘’ Não venham atrás.’’ Disse mentalmente para Du, era impossível explicar, mas eu sabia que ele tinha ouvido e concordado. Saí do Hall da enfermaria e contornei a Arena, como eu esperava havia uma árvore grande o bastante para assistir as lutas na Arena, subi na mesma e então pude ver rastros de que alguém ou algo estava ali, observando a luta e se projetava apenas um espaço que só o guerreiro de Ares poderia ver em sua posição o que quer que estivesse ali. Talvez alguém ameaçasse o garoto? Eu não tinha como acusar o guerreiro de tal coisa, ou mesmo falar com Percy ou Annabeth sobre isso, nenhum dos dois sabia sobre Marti nem nada, só eu e Du podíamos lidar com aquilo no momento. Na Arena, estavam Mike Blackheart armado de correntes negras, lutando com Grover que se saia extremamente bem com seu porrete e um escudo feito de madeira encantada. Desci do ponto de estratégia e observei o local, não havia pista alguma, o que estava ali havia sido muito cauteloso. Retornei frustrado para a Arena e fui para a enfermaria novamente, só que dessa vez entrei no quarto do time 3, lá dentro não vi sinal do filho de Ares, o quarto estava vazio, com exceção de Laura desmaiada em um lado do quarto e Jully do outro, assim que fechei a porta do quarto, os olhos verdes despertaram e me estudaram.

–Ei... você está bem? Espero que esteja, não queria ser direto mas me desculpe, como você conhece Miguel? – A garota me olhou com certa hesitação, os olhos esverdeados, agora seguravam lágrimas. O rosto branco foi ficando vermelho aos poucos e então ela disse, de forma cuidadosa, como se cada palavra fosse valiosa.

–Ele... Ele era meu namorado. – E então ela soluçou, algumas lágrimas desceram por suas bochechas e ela as enxugou rapidamente. –Me desculpe, não devia estar chorando. Eu só... sinto falta, sabe? – E finalmente liguei os fatos, Miguel já havia dito que namorava uma filha de Deméter alguns meses antes de desaparecer, era ela. Jully, a linda garota de Deméter.

–Pelos deuses Jully... Me desculpe ser tão ignorante, você sabe de algo sobre ele? – Ela engoliu o choro e disse de forma devagar.

–Ele... Quando ele sumiu, eu fiquei desesperada, tentei ganhar uma missão para ir procura-lo, mas nunca permitiram, nunca soube o motivo ao certo e então com os anos passando fui esperando por notícias e nada... Como deixariam um filho de Poseidon simplesmente sumir? Percy também está preocupado, mas ele tem estado com a cabeça cheia demais.... Eu estava desistindo de Miguel até que... – E então uma chama de esperança acendeu-se na conversa. – Até que há três dias recebi uma mensagem de Íris dele enquanto eu estava no lago sozinha. Ele estava ferido, vestia uma armadura de bronze arrebentada e carregava uma espada, eu fiz mil perguntas de como ele estava, por onde esteve, o que estava acontecendo, mas ele não respondeu nenhuma. Só disse ‘’ Eu fui pego por eles como muitos outros, mas escapei... Jully, eu estou cansado e fraco, não sei quanto mais tempo posso aguentar fugindo, sinto não poder responder suas perguntas agora, mas me faça um favor, se há alguém que possa me encontrar e ajudar a todos, é Percy... Tem alguém que poderia me ajudar também, esse alguém é Veronezi. Por favor, avise-os no momento certo.’’, então quando ele finalizou a frase a mensagem foi sumindo, ele sussurrou algo como ‘’ Eu t....’’ e então ele se foi... Eu gritei e chorei muito, mas aqui estou e eu te imploro, resgate ele! –Quando ela finalizou a frase, a garota me abraçou e começou a chorar. Eu a abracei e esperei ela se acalmar, quando ela estava mais calma eu disse.

–Eu prometo acha-lo e traze-lo de volta. – Ela agradeceu e então me virei para deixa-la descansar sozinha, havia sido extremamente chocante. Quando eu saí do quarto, encostei na parede do Hall e me sentei, o que estava acontecendo? O acampamento que só trazia alegria para todos, estava entrando em declínio. Estava se tornando um lugar de mágoas, de luto, pessoas amadas que se foram, traições. Estávamos em tempos de guerra e só poucos podiam ver isso, Percy mantinha sempre a expressão cansada, ele também sabia disso, ele havia vivido uma. Depois de alguns minutos sentado no Hall, refletindo sobre tudo aquilo, me levantei e voltei para o quarto do meu grupo, estavam todos lá, sentados e conversando. Alguns minutos depois, Chris entrou no quarto dizendo.

–Bem, as lutas acabaram e não deve ser surpreendente se eu disser que o time de Percy ganhou. Nick, você vai ter de passar a noite aqui, desculpe. O resto está liberado. Amanhã 10hrs aqui. – Concordei com a cabeça, seguimos com os times para os chalés e eu ainda não havia visto sinal do filho de Ares que tinha lutado com Nick. Foi aí que senti algo, um zunido no meu ouvido, o mundo esfriando, como se algo tivesse saído do mundo dos vivos. Tanto eu quanto Du, conhecíamos aquela sensação e no meio daquela multidão nos entreolhamos confirmando nossas suspeitas, peguei no braço de Percy e o arrastei correndo em direção do bosque. Aquela sensação de calafrio, só significava uma coisa. Foi quando chegamos de onde havíamos sentido o sentimento e então era realmente aquilo. Percy olhou incrédulo, Du manteve seu olhar duro mas abalado, eu... eu não estava tão crente do que olhava.

Taylor Phillip, filho de Ares, membro do 5° chalé e do grupo de busca número 3, estava preso em uma árvore com uma lança atravessada no peito, pingando sangue e com a cabeça baixa, embaixo do mesmo, jazia uma poça vermelha e sua espada fincada no chão. Em cima do semideus morto, estava escrito em sangue ‘’ Μόνο η ισχυρή επιβιώσει’’, porém facilmente desvendado pelos meus olhos ‘’ Só os fortes sobrevivem.’’ Annabeth chegou alguns segundos depois e segurou um grito, logo que retomou a consciência ela barrou a passagem dos demais campistas, Percy ainda com o olhar paralisado apenas gaguejou.

–Que os deuses cuidem da sua alma. – E então pude ouvir um relâmpago ao fundo, que mais pareceu com um rugido de um deus da guerra enfurecido.

Depois de contatarem Quíron e Senhor D. para informar do corpo, todos os campistas foram enviados para seus chalés, permitindo apenas os conselheiros discutirem sobre o ocorrido, quando cheguei no chalé, Nick estava deitado na cama com uma atadura em volta do torso com uma expressão preocupada no rosto.

–Pelos deuses Léo, o que está acontecendo? – Eu estava ainda abismado com o ocorrido e só disse.

–Nick... tente dormir um pouco, de verdade. – Eu me deitei, sabia que não ia conseguir dormir, mas mesmo assim fechei os olhos e quando menos esperava o cenário ao meu redor já mudava. Eu estava em um campo aberto e podia ver em cima de um morro, uma espécie de fortaleza sendo erguida, várias barracas ao seu redor, com diversas fogueiras e semideuses andando armados e com armaduras completas. Jaziam vários estandartes com símbolos de duas adagas azuis cruzadas e a frase embaixo ‘’ Μόνο η ισχυρή επιβιώσει.’’, haviam grandes gaiolas com lestrigões amarrados, haviam frotas de semideuses enfileiradas, mais ou menos 5 grupos de 30 semideuses e todos estavam parados em frente de um paredão de pedra, fui me aproximando aos poucos e logo pude um pequeno símbolo na pedra, delta o símbolo de Dédalo, os 5 comandantes daqueles grupos estavam em uma reunião e Pettrick estava no meio.

–Então vamos mandar dois grupos na frente, vão invadir diretamente subindo a colina.... – E então fui tele-transportado para outro lugar, era um calabouço, uma prisão, algo do tipo. Haviam diversas barras de ferro e em uma delas eu pude sentir algo, o cheiro do mar vindo de uma delas, avancei até uma sela metalizada e quando olhei para dentro pude ver Miguel Rezende acorrentado, cabisbaixo e vestido de trapos, tentei gritar seu nome mas minha voz não saia. Quando toquei na cela minha mão queimou e então minha visão escureceu. Acordei desesperado buscando ar e então avistei Du sentado na escada na entrada do chalé, levantei me recuperando do terrível sonho e fui até o conselheiro.

–Ei cara? Está tudo bem? – A mente dele estava bagunçada, ele estava desgastado emocionalmente e fisicamente.

–Eu estou acabado carinha... Foi uma lança de bronze que atravessou o coração do garoto, um meio-sangue o matou. Isso está saindo dos trilhos... Eu não sei mais o que pensar. – Eu infelizmente não estava surpreso em saber que fora um semideus que o matou, estava na cara. O acampamento já não era tão seguro.

–Não quero encher mais sua cabeça, mas preciso te contar sobre o que sonhei. – Então contei o sonho para ele com a maior riqueza de detalhes possível. –Será que é verdade? – Ele me olhou mais confuso.

–Devemos falar com o Oráculo, essa missão não vai virar, cara. – E então fomos para a Casa Grande, Quíron estava com um olhar acabado no rosto.

–Edward e Leo? O que fazem aqui tão cedo? – Ele fez o máximo para afastar o mau-humor, mas ainda era presente a irritação com tudo que acontecia.

–Senhor, eu andei sonhando de novo... você precisa ouvir. – Afirmei.

–Fale criança, diga o que sonhou dessa vez. – E então soltei tudo, contei sobre o sonho e sobre Marti, eu não sabia se era o certo, mas pareceu o certo a se fazer no momento, quando terminei o centauro baixou a cabeça e então Quíron disse.

–Sabe que está fazendo uma acusação muito séria sem prova alguma, correto? E se sua acusação for verdade, nossos planos e esquemas de esquadrões são inúteis agora, eles já não estão no Brasil e seríamos feitos de idiotas, talvez fosse esse o plano, tirar a maior parte de conselheiros e força do acampamento para facilitar um ataque direto. Inteligente. – Eu assenti. –E agora, você quer sair em uma missão para achar essa fortaleza e resgatar semideuses que estão presos em meio a um exército de renegados com membros da sua própria raça? –

–Érr... basicamente isso. – Ele nos estudou e então concordou.

–Pelos deuses... vocês dois estão se arriscando demais, sabem disso. Léo, você vai organizar um time com mais quatro semideuses. Lamento, mas você não pode levar Du, ele é um conselheiro, precisamos de todo o poder em força que pudermos reunir próximo de nós, ele é essencial no acampamento. – Eu fiquei frustrado, mas era certo, fazia todo o sentido. Du pareceu um pouco decepcionado também. –Bem garoto, vá ver Rachel, ela está no porão, só.... Não ligue para as mudanças lá em cima, ela transformou o porão no próprio quarto. – Então Du se sentou na cadeira ao lado de Quíron que jogava Pinochle.

Subi a escadaria para o porão e bati duas vezes na porta levadiça. Alguns segundos depois ouço Rachel gritando. ‘’ Pode entrar’’, entrei no aposento e não estava como Percy descreverá nas noites de contos ao redor da fogueira. Estava diferente, talvez um pouco mais... sujo. O porão antigamente era lar de uma múmia que abrigava o espírito de Delfos e era aonde ficavam alguns troféus de heróis famosos e coisa do tipo. Antigamente, devia ser sujo de pó, com teias de aranha em todo o lugar e ter um cheiro horrível. Agora que Rachel Elizabeth Dare se tornou a nova receptáculo do espirito de Delfos, não sei o que foi feito com a múmia, há rumores de que colocaram ela no almoço do chalé de Ares, mas não sei se é verdade. Enfim, agora o porão sombrio, havia se tornado um ateliê de arte enorme. As paredes brancas todas pintadas com diversas explosões de tintas, o chão cheio de pingos de tinta seca, diversos quadros, bolas de papel, pinceis e lápis jogados pelo porão inteiro. No meio do aposento, havia uma cama de casal rosa e sentada nela, uma mulher com o cabelo ruivo-crespo que chega até sua cintura, olhos verdes profundos, sardas saltando pela pele pálida do rosto, vestia uma camisa da Monalisa escrito embaixo ‘’ Who R U Mona?’’, jeans azuis rasgados e sapa-tênis.

–Então, o que veio fazer aqui mocinho? Pela expressão creio que não veio falar sobre arte ou música, correto? – Ela falou assim que me estudou, então me deu espaço para falar.

–Érr... Senhorita Dare, vim consultar o Oráculo, Quíron me mandou. – Assim que comentei sobre consultar o Oráculo, ela fez uma cara desanimada e então levantou-se, seguiu até uma cadeira ao lado da cama e parou ali. Quando ela se sentou, disse.

–Vamos herói, faça sua pergunta. – A pergunta era a chave para desencadear a profecia. Me endireitei, então falei de forma alta e clara.

–Ó grande Oráculo, qual o meu futuro? – Por alguns segundos nada aconteceu, então a temperatura do porão pareceu diminuir, a claridade foi se extinguindo e então eu pude ouvir chiados, como se milhares de cobras estivessem subindo por minhas pernas. Rachel fechou os olhos e quando voltou a abrir, não haviam mais belos olhos verdes, mas sim um globo ocular tomado pela cor verde-musgo, ela abriu a boca e de lá dentro começou a sair uma fumaça densa e verde, se arrastando pelo quarto. Então uma voz antiga e poderosa tomou conta do aposento.

‘’ Eu sou o espírito de Delfos, porta-voz das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton. Agora ouça seu destino com atenção, criança do submundo:

A batalha entre iguais irá devastar aquilo que você chama de lar;

Um renegado brilhará;

Entre arbustos no Sul, a seita se formará;

O filho das joias e o rei fantasma irão retornar;

O antigo pilar no Oeste, se reerguerá;

E nos braços da Morte, por fim descansará.’’

As palavras foram pesando cada vez mais, devastar o que eu chamo de lar? O rei fantasma? Pilar no Oeste? E por fim, eu iria morrer? Pelos deuses, como eu odeio essas profecias. A fumaça se extinguiu da mesma forma que apareceu e então quando Rachel voltou a si, ela me olhou com pena, talvez até um pouco de compaixão. Ela já havia dado uma ou outra profecia e sabia o quanto era desgastante para o meio-sangue tal coisa.

–Bem garoto, você já tem o que quer. – Ela foi rude, depois demonstrou um pouco de fraqueza e sussurrou. –Por favor, saia. – Eu me virei e saí o mais rápido que pude antes de poder ver a garota derramar lágrimas por seus motivos próprios. Assim que desci as escadas, me sentei ali e mergulhei meu rosto nos braços.


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