Mesmo estando de noite, ainda era possível observar nuvens negras no céu. A qualquer momento iria chover e isso não era um bom sinal. Em algum momento, quando as gotas de chuva tocassem o rosto dela, ela iria despertar e sairia do conforto do abraço dele.

Ele não queria se afastar do corpo dela.

Mas, ao fim de tudo, só o fato de estar ali o fazia bem. Mexeu o corpo para acomodar um pouco mais a loira que dormia entre seus braços e parou diante daquela visão por alguns segundos. O rosto sereno dela, apoiado levemente em seu ombro e suas pequenas mãos em seu peito. Suspirou. Beijou sua testa e voltou a olhar as nuvens.

Ah, as nuvens! Elas que, em sua leveza, delimitam o espaço tão infinito do céu. Admirando a existência das nuvens, acabou por ali se perdendo. Não conseguiria dormir, então, pôs-se a lembrar de tudo que tinha acontecido naquele dia. Conviver com pessoas e esperar que ele fosse capaz de prever comportamentos ou sequer reagir bem ao comportamento das outras pessoas, era um terrível erro a se cometer.

E bem, foi isso que ele fez.

Tinha certeza que de alguma forma magoara Temari com suas palavras e não pudera perceber na hora. “Eu simplesmente vou desistir.” Foi o que ele falou sobre a ideia de se casar.

- Desculpe. – sussurrou a ela, que apenas remexeu entre seus braços levemente movendo até mesmo suas pernas por cima das dele. Shikamaru sorriu.

Foi uma das coisas mais estúpidas que ele tinha feito, parando agora para pensar. Primeiro, é que tudo sempre era tão problemático. Vira seus pais brigarem constantemente ou até mesmo na dificuldade que seu sensei Asuma e Kurenai tinham desde que o bebê nascera. Aquilo não parecia algo bom para si. Mais problemas e pessoas para lhe perturbar. Tudo tão problemático. Sair de sua zona de conforto, ainda mais para um preguiçoso como ele, isso não soava nada bom.

Isso remetia ao segundo ponto. Não deveria ter dito aquilo. Não no dia em que a tinha pedido em casamento. “Casar com alguém parece ser um saco... Eu simplesmente vou desistir.”

Deveria ter sido gênio o suficiente para perceber que por alguns milésimos de segundos o muro que Temari sustentava como ‘durona’ havia sido derrubado em seu olhar mostrando um tipo de fragilidade que nunca vira antes. Ela tinha engolido a própria saliva e tentou sair o mais natural possível quando apenas foi capaz de responder “É...”.

Ele só veio perceber isso agora.

Depois que aquilo acontecera, Temari ficara silenciosa praticamente todo o restante do dia. Shikamaru havia sido convocado até a sala da Hokage e passara horas e horas decodificando códigos – códigos já codificados, mas não da maneira que a Hokage conseguisse entender –, então, ele tivera que recomeçar do zero.

Ele tirou de letra; como já sabia de tudo que havia sido escrito ali, o tempo que se prolongou foi mais pelo fato da quantidade de coisas e da cabeça quente da godaime. Ah, que mulher problemática! Shizune poderia muito bem ser capaz de ter feito aquilo, mas preferiu chamar alguém do grupo de inteligência e por “sorte” dele, Ibiki não estava ali ou nem mesmo seu pai. Aquele velho esperto provavelmente estava dormindo. Era o que ele queria fazer naquela hora. Dormir. Dormir sempre é uma boa ideia para quase todos os problemas.

Quando acabou, o combinado era de encontra-la na churrascaria que seu time sempre ia, porque além das carnes, lá também vendia os doces no palito que Temari adorava. Mas ela preferiu dessa vez que ficar deitados sobre o luar era o suficiente. Ele não discutiu, afinal, era menos trabalhoso.

O restante da noite não tinha nada a mais para lembrar. Suspirou. A chuva estava começando. Pingos caiam diretamente no rosto dela e ele apenas observava como a água suavemente escorria por cada centímetro de pele.

- Só mais cinco minutos. – Temari sussurrou – Calma, Shikamaru. Transamos de novo daqui a pouco, ok? Pare de tocar nos meus peitos! – ouvir aquilo o deixou envergonhado e ele foi o primeiro a sair da posição que estavam.

Ele tentou se recompor disfarçando o rubor do rosto enquanto Temari olhava pros dois lados tentando descobrir aonde estava. A chuva piorava.

- Vamos, está chovendo. – Shikamaru disse oferecendo uma de suas mãos para ajudá-la a ficar de pé.

Deixou-a na casa em que ela ficava quando estava em Konoha e foi direto para sua. Subiu a árvore colocando chakra em seus pés e pulando facilmente a janela que estava apenas encostada. Abriu e caminhou para sua cama. Esquecendo-se de tirar roupa ou sequer fechar a janela. Aquilo era trabalhoso, mas não queria entrar pela porta para encontrar sua mãe nervosa perguntando onde ele estava.

No dia seguinte quando acordara, sentira um vento agradável e sabia que seu corpo estava sobre a grama. O que estranhou, uma vez que a ultima lembrança que tinha era de ter ido para sua cama, não para um campo aberto. Suspirou. Bom, era melhor voltar a dormir de qualquer forma.

- EI SHIKAMARU! – Alguém gritara. Tecnicamente ele estava dormindo, então, continuou imóvel.

Alguns segundos se passaram e ele sorriu mentalmente. Provavelmente a pessoa tinha ido embora ou era isso que pensava. Um minuto depois o moreno já estava sentado e surpreso com a cara ensopada.

- Mas... O quê?

- Shikamaru, sei que você adora dormir, mas logo hoje? – Asuma-sensei dizia nervoso. O que estava acontecendo, afinal? – Ande, levante-se! Kurenai está louca atrás de você! Você ainda nem se vestiu! – Suspirou acendendo mais um cigarro.

O que o seu sensei estava falando? Olhou para baixo e viu que já estava vestido com seu uniforme shinobi; realmente, não fazia ideia do que ele estava falando.

- Vamos por partes, Asuma-sensei. O que está acontecendo? Por que eu ainda tenho que me “arrumar”?

- Sério mesmo que você está perguntando isso, Shikamaru? – suspirou e tragou mais uma vez o seu cigarro – Não pretende se casar vestido assim, pretende?

E sua cabeça começou a girar de repente.

- Como assim? A pedi em casamento ontem.

- Ontem? Faz seis meses que vocês estão noivos. – tragou o cigarro novamente – Francamente, Shikamaru. Você dorme demais.

Por essa ele não esperava. O que estava acontecendo ali?

- Vamos! Está esperando o quê?

Suspirou. Bem, lembrar-se do dia em que ele a pedira em casamento podia ter sido apenas uma lembrança durante o sono. No caminho, encontrou seus conhecidos. Lee estava louco e feliz juntamente com Gai-sensei. Até Neji e Shino estavam ajudando nos preparativos. No casamento o noivo era o último a fazer alguma coisa, não? Por que ele estava ali? Tudo tão problemático!

-SHIKAAAMARU! – ele gelou ao ouvir o próprio nome – Quem você pensa que é para dormir logo no dia do seu casamento?! – gritou uma mãe nervosa – Ai meu deus, o que a Temari vai pensar?! Daqui a pouco ela desiste quando ver que o marido vai chegar mais tarde do que a própria noiva!

- Yare Yare. – suspirou Kakashi. De onde ele tinha surgido? – Trouxe o terno que você pediu.

Dona Yoshino agradeceu e logo em seguida jogou o mesmo na cara do moreno. Por que as pessoas eram tão problemáticas? Ele estava ali, não estava? Agora era só ir com calma. Problemáticos!

Tudo passou muito rápido desde então. Todos estavam loucos correndo de um lado para outro e tinha até Naruto ali para lhe atrapalhar. Quase fora pego no flagra por Lee quando estava seminu sem a camisa ou sequer o blazer. Pra que tanta correria?

E quando finalmente acabavam as coisas e corriam, literalmente, para a igreja a sua mãe tinha completa razão. Temari e todos esperavam a chegada do noivo. Tomara que ela simplesmente não o mate por aquilo. Iria ficar viúva antes mesmo de casar!

Mas Shikamaru não pensou muito naquele momento. Era difícil pensar quando estava em seu próprio casamento vendo uma das mais belas visões que poderia ver algum dia. Engolindo a própria saliva no instante em que a porta foi aberta, esquecera-se de andar. Ou fazer alguma coisa. Pensar era o de menos! Temari estava perfeita!

E por um momento, se brincar, ele poderia ter esquecido o próprio nome. A loira estava com o cabelo solto e caído sobre os ombros nus. O vestido branco tomara que caia tinha um decote em v que ia até a altura do umbigo e tinha alguns detalhes delicados por todo o tecido. Ela segurava lírios brancos na mão e tinha uma maquiagem tão angelical feita em seu rosto que mal podia alguém jurar que ela possuía um temperamento mais duro que uma pedra.

- Vai logo, Shikamaru! – disse sua mãe por trás lhe dando uma tapa na cabeça. Aquilo doeu.

Engoliu mais uma vez. Puxou a gola da camisa tentando deixa-la menos apertada e começou a andar. Todos os olhares diretamente para ele e não tinha a mínima ideia do que fazer. Para seu alivio, sua mãe chegara a seu lado entrelaçando seu braço ao dela e o guiou até ao altar.

Os minutos se passaram rápido novamente e sentia seu coração pulsar cada vez mais forte no peito. Estava de fato nervoso, pela primeira vez.

- Nara Shikamaru aceita Sabaku no Temari como sua legitima esposa até que a morte os separe? – a voz do padre o trouxe à realidade.

- Aceito. – sorriu.

- Sabaku no Temari aceita Nara Shikamaru como seu legitimo marido até que a morte os separe?

- Aceito. – disse uma Temari chorosa.

O padre sorriu e disse:

- Pode beijar a noiva.

Quando Shikamaru virou para o lado para beijar a loira, ouvindo-a sussurrar para ele ‘Eu te amo, meu amor’, sua cabeça começou a girar novamente.

- Espere!

Temari chorosa? Meu amor? Nenhum xingamento ou qualquer explosão por seu atraso? E o mais importante... DESDE QUANDO ELES ERAM UM CASAL ROMÂNTICO? Não que ele estivesse reclamando, mas DESDE QUANDO??

Shikamaru olhou ao seu redor e vira seu sensei e Kurenai. Asuma não estava morto? O que Neji fazia ali?? Sua cabeça ficara mais tonta até que tudo escureceu e sentiu seu corpo cair feito pedra no chão.

Segundos depois sua cabeça começou a latejar, colocou as mãos na cabeça e com medo do que poderia ver, abriu seus olhos. Para seu alivio, via um cenário de campo de guerra e a maioria das pessoas estava dormindo. Ok, isso era ruim.

- Ei! Você está bem? – disse uma loira que reconhecera do seu sonho.

- É você mesma, Temari?

- É claro que sou eu! Levante logo esse traseiro daí e venha me ajudar a acordar os outros!

Shikamaru começou a rir.

- Só podia ser um sonho mesmo. Jamais existiria uma Temari tão fofa e angelical! – falou alto, sem perceber, em meio a gargalhadas.

- Eeeeei! O que você disse, seu preguiçoso maldito?! – e a loira estava ali. Forte e imponente na sua frente pronta para lhe bater.

Opa...