Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 42
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nada a dizer. Só peço desculpas caso se decepcionem.



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– Muito bem, vamos ao plano.

Kyle, um homem esguio e de cabelos brancos, mas feição jovial, uma moça com tatuagens até o pescoço e um garoto baixo, mas forte, distribuíam armas a todos enquanto Will falava sobre o plano.

– Vou separar todos nós em cinco grupos: A, B, C, D e E. Cada grupo ocupará uma direção e área do castelo. Cada líder do grupo terá um walkie-talkie para comunicação e, com eles, nos identificaremos e conseguiremos invadir o sistema. – Trocou a bengala de mão. – Muitos de vocês aqui já viram a morte ou o abandono com os próprios olhos, e penso que todos que estão aqui serão capazes de ter sangue nas mãos. Todavia, convido os que não conseguem a se retirar. – Esperou alguns minutos em silêncio; todos permaneceram. – Ótimo.

“O grupo A, composto por mim e meus colegas antigos e mais algumas pessoas, entrará pelos fundos do castelo, onde ficam os serviçais e criados do castelo. O grupo B irá pelo subterrâneo, chegando até onde os guardas dormem. O grupo C se infiltrará pelo lado leste, escalando os muros e neutralizando a área para o grupo D entrar. Por fim, o grupo E entrará pelo portão das visitas e deixará seguro para nós a entrada nas salas principais”.

Pegou uma planta enorme e, com a ajuda de Kyle, estendeu-a para mostrar as áreas do castelo. Havia cerca de vinte salas, todas com portas sinalizadas por “trancadas por códigos” ou “vigiadas”. William continuou:

– São nessas portas – Indicou duas do canto inferior esquerdo e uma superior. –, Que os grupos A e B entrarão. – Apontou para uma sala maior, no centro. – Essa aqui será a porta do E. – Sinalizou para uma sala retangular no canto inferior direito. – E essa aqui é a porta do C e D.

“Cada um de vocês tem facas, tranquilizantes, venenos paralisantes e mortíferos, pistolas e pelo menos cada um do grupo tem uma arma de fogo mais letal. Lembrem-se de que, para realizar uma revolução, muitas mortes acontecerão, como sempre aconteceram em toda a história. Portanto, não se preocupem de matar algum oponente, isso será o necessário para um objetivo maior. Esperaremos até as lojas se fecharem e dar o toque de recolher”.

Foi então que, empurrando um tijolo do beco, uma baixa e fina porta se abriu.

– Entrem, por favor. – Pediu Kyle.

Um de cada vez, os rebeldes foram entrando, com suas armas e trajes. Charmin começou a reparar em cada um que passava, e via que muitos possuíam cicatrizes, machucados ou até mesmo mutilações. Uma mulher chamou em especial sua atenção, pois possuía olhos heterocromáticos como os dela: um verde e outro castanho. Curiosamente, James entrou com uma moça de quase igual estatura, cabelos ondulados e silhueta bonita ao seu lado, de mãos dadas. Josh estava ao lado do irmão, que estava junto de Collin, e os dois conversavam alegremente, como se não se vissem há vários anos.

– Vamos?

Desvencilhou-se dos pensamentos e prestou atenção em Nick. Em três semanas, era a terceira ou quarta vez que o via sem a peruca ruiva, com os cachos soltos e a roupa simples e amassada, como de costume, e não com aquelas calças apertadas e casacos longos, cachecóis e gorros. Aquilo não era ele. Isso: essas blusas esfarrapadas e a bota de couro desgastado era Nícolas Tourmaline.

Charmin sorriu.

– Sabe, essa gola alta tá me deixando muito irritada. – Comentou enquanto caminhavam para a porta. – Você pode ser mais cuidadoso da próxima vez.

Nick riu abafado e uma lufada de ar saiu de sua boca.

– Fala a garota que deixou marcas de unha nas minhas costas.

Adentraram na sala. Era simples, mas enorme, cheia de camas, armamentos e telas que pareciam mostrar salas do castelo. Parecia um alojamento, mas não tinha o ar tão familiar do lugar.

Os rebeldes conversavam normalmente, como se não estivesse prestes a começar uma guerra civil. Kyle, pela primeira vez em muito tempo, estava se enturmando com alguns jovens e, dentre eles, havia garotas muito bonitas. Will conversava com um jovem de pele morena, com um semblante simpático, e conseguia ser mais alto que o próprio líder. Josh, por outro lado, estava em um canto, devaneando sozinho. Charmin aproximou-se dele.

– Por que essa melancolia? – Indagou, encostando-se à parede também, ao lado do louro. – Parece que acabou de ser rejeitado.

O rapaz riu pelas narinas.

– Já me acostumei.

A garota baixou os olhos para o chão; sentiu-se culpada. Vendo o silêncio, Josh afagou os cabelos da mais baixa. Se ela fizesse aquilo há alguns meses atrás, ele a deixaria sofrer em uma culpa que ela não possuía. Agora, porém, ele enxergava que não era justo com si e com a garota deixar as coisas assim, deixar tudo tão frio e mal resolvido.

Min – Chamou-a. Charmin se lembrou de quando ele a ajudou no alojamento, quando estava deprimida, e o apelido dado a ela saiu de sua boca sem querer. Àquela hora, havia ficado brava e magoada, e só agora percebia o quão carinhoso Josh era por chamá-la assim. – Eu estou bem, sim? Uma decepção amorosa, mesmo que seja a maior e mais terrível de todas, não vai me abalar. Eu só quero que, quando tudo isso acabar, nós voltemos a ser tão próximos quanto na infância. – Sorriu gentil e docemente para ela, especialmente para ela, e levantou o dedo mindinho. – Promete?

Sem pensar duas vezes, Charmin aceitou a promessa. Acenou a cabeça e enlaçou os dedos.

– Prometo.

***

– Grupo A, venha comigo.

Os duzentos e quarenta rebeldes caminhavam entre a floresta ao redor do castelo, um lugar onde antigamente, Will lembrara, chamava-se Central Park. Todos estavam armados, com roupas adequadas e capas escondendo os rostos.

Era uma ocasião alegremente irônica para ele; Há alguns poucos anos atrás, era um simples B que suportava o fato de estar numa eterna miséria. Hoje, era um homem preparado que faria uma revolução mundial. Quando ainda dava aulas de cálculo avançado para Collin, que era uma espécie de irmão caçula dele, nunca pensava que estaria no lugar onde estava naquele momento. Como dizia sua mãe, a vida é uma caixinha de surpresas.

Olhou para trás e pôde ver todas as pessoas que possuíam o mesmo desejo que ele. Fitou o irmão, que, somente agora em seus olhos, parecia um homem de verdade. Fitou Charmin, com Nick, James e Marissa, e enxergou quatro pessoas repletas de um amor mútuo pelo outro e sentiu a desolação que seria caso perdessem alguém naquela noite. Olhou ao seu lado e viu Kyle, que brincava com uma adaga entre os dedos, girando-a. Sentiu falta de Marc a ponto d’os olhos lacrimejarem. Queria que o rapaz estivesse ali e visse, finalmente, o plano deles dando certo.

Direcionou os olhos à frente e enxergou a muralha que cercava o castelo. Sinalizou para os outros grupos as direções e reuniu-se com o grupo A, nos fundos do castelo. Charmin cruzou os braços enquanto assobiava e olhava a altura imensa de concreto.

– Pelo que eu saiba, nós ainda não criamos asas.

Will sorriu de canto. Mal sabiam todos que o plano estava gravado e memorizado em sua mente.

– Bom, sabemos. Mas não temos o equipamento. Então, eu pedi uma pequena ajuda de um antigo amigo.

Como que por mágica, uma pequena porta abriu-se do concreto. Uma passagem secreta. Uma lanterna sinalizava para entrarem e, quando o fizeram, encontraram um soldado.

Charmin nunca conheceu ninguém da A, a não ser os colegas do exército e Isabel, mas aquele senhor parecia-lhe estranhamente familiar. Os olhos castanhos claros brilhantes e o cabelo louro escuro, um tanto esbranquiçado aos lados, e um sorriso familiarmente divertido pousava nos lábios.

Will, a frente de todos, abraçou o soldado. Josh andou rapidamente à frente e colocou a mão no ombro do homem.

– É muito bom te rever, papai. – Revelou o filho mais novo, com o mesmo sorriso do irmão e do senhor.

– Pai? – Perguntaram Nick, James e Charmin ao mesmo tempo.

Will virou-se para eles acenou.

– Quero apresentar-lhes meu pai, Henry Mendson.

Os demais presentes estavam no inusitado momento da vida que, quando se pensa que nada mais pode surpreender, aparece-lhes algo. Agora, Charmin ligava os pontos. Will quase nunca citava os familiares, mas em nenhuma das vezes, deu-lhes como mortos. E, notando agora, os três eram notoriamente parecidos a não ser Will, que deveria se parecer mais com a mãe, porém os gestos masculinos eram iguais.

– Não temos tempo a perder, William. – Henry relatou. – Temos de ir agora, ou falharemos no plano.

– Certo. Trouxe isso para você se disfarçar. – Entregou uma máscara preta, como aquelas de esqui, e junto delas um casaco. – Não queremos ninguém morto aqui, muito menos você.

Começaram então a caminhar por um logo e estreito corredor, que cheirava a mofo. Provavelmente era uma passagem secreta desativada, depois de tantas atualizações no castelo. Charmin começou a sentir a respiração pesar e, repentinamente, sentiu-se presa entre aquelas paredes. Parou de andar.

Nick, que estava ao seu lado e continuou a caminhar, ao perceber que a namorada não estava mais junto de si, virou-se e a viu com as mãos no rosto. Correu até ela e segurou-lhe nos braços.

– Está tudo bem?

Ela negou.

– Não consigo respirar direito. Acho que, pela primeira vez, estou tendo claustrofobia.

Não era a primeira vez, Nick lembrou-se. Quando eram mais jovens, convidou-a para dormir em uma das barracas de seu antigo acampamento na floresta e, quando Charmin entrou em uma e fechou o zíper, começou a passar mal e, em pânico, não conseguia abrir a entrada. Nick teve de rasgar a barraca com uma faca e tirá-la pelo outro lado, depois acalmando-a e levando-a para casa no meio da madrugada.

– Charmin, olha nos meus olhos. – Pediu ele, levantando a cabeça da garota. – Abra os seus e olhe nos meus.

Tremendo, a garota o fez. Mesmo na escuridão, os olhos acinzentados de Nick brilhavam com um fulgor imenso. Concentrou-se neles enquanto acalmava a respiração. O rapaz pegou-lhe as mãos e começou a guiá-la, andando de costas, até a saída. Sorriu ternamente para ela.

– Não tire os olhos de mim, entendeu?

Charmin acenou enquanto caminhava para fora do lugar.

Minutos depois, saíram do estreito corredor e chegaram a uma sala, agora iluminada. Nick soltou as mãos de sua namorada, que buscou uma delas rapidamente, apertando-a. Will olhou-os, preocupado e sarcástico ao mesmo tempo.

– Tá tudo bem aí? Ou vocês estavam se divertindo?

A garota enrubesceu ao tempo que Nick coçava a nuca. Tentou explicar, mas, com duzentas e quarenta pessoas olhando-o, conseguia pensar em simplesmente sair dali.

– Eu estava passando mal, fiquei empacada no meio da passagem e Nick me ajudou a sair. Foi só isso. Não estávamos fazendo nada indevido.

Will arqueou as sobrancelhas, checando se estava tudo bem. Collin olhou-a com o clássico olhar protetor e extremamente preocupado e, quando estava se preparando para correr até a irmã, Isabel segurou sua mão.

– Deixe que Nícolas cuide dela por enquanto, sim?

Relaxou o corpo e assentiu; Continuaram todos a caminhada. Henry tomou a voz:

– Como sabem, estão todos devidamente armados e protegidos. Espero que o treinamento tenha sido bem aproveitado, pois irão necessitar dele agora.

O soldado rebelde abriu a porta e, antes que pudesse dar um passo, um alarme soou alto.

***

Os rebeldes andavam agora pelos corredores que se dirigiam às moradias e locais de convivência dos soldados. Havia cerca de quatrocentos soldados no castelo, e pelo menos um quarto deles passou para o lado dos revolucionários. Batalharam com cerca de duzentos e os venceram, agora passando pelos dormitórios. Alguns soldados entravam nos quartos para convencer os outros, e muitos, por mais incrível que fosse, juntaram-se a eles.

Charmin estava com uma pistola em cada mão, preparada para qualquer alarme que soasse novamente. Ao seu lado direito, James e Marissa, enquanto andavam, curavam os machucados um do outro. Ao esquerdo, Nick caminhava em passos largos e rápidos, segurando a mão da garota com força, puxando-a para frente. Atrás de si, cerca de quatrocentos revolucionários e ex-soldados preparavam-se para a batalha final.

Entraram, então, na cozinha do castelo, onde as refeições reais eram preparadas e, obviamente, as sobras eram deixadas para os funcionários. Charmin atravessou-a rapidamente, desviando de alguns cozinheiros e, às vezes, trombando em outros. Foi quando alguém segurou seu braço. Revirou os olhos e bufou.

– Nick, nós não temos tempo para...

Ao virar-se, deu de cara com uma senhora. Os olhos azuis em tom celeste, tão intensos e vívidos quanto os seus, mas com uma sombra de cansaço no fundo. Os cabelos, presos em um coque, num tão preto tão escuro que a luz que batia o fazia reluzir azul, como os próprios. Era uma senhora de cerca de cinquenta anos, mesmo que parecesse mais jovem. Charmin voltou aos nove anos de idade, segurando a manga daquela mulher enquanto ela ia embora, deixando-a com um pingente e um irmão mais velho.

Proferiu as palavras num sussurro seco:

Mãe...!

A mulher sorriu enquanto os olhos lacrimejavam. Abraçou-a no mesmo instante, e Charmin correspondeu a ele instantaneamente. Carla acariciava os cabelos da filha enquanto chorava baixo, e a mesma fazia todas as forças para não chorar como sua mãe chorava.

Distanciaram-se depois de alguns segundos, muito significativos, e os amigos da garota a olhavam estranhamente. Nick aproximou-se, pegou a mão da mãe de Charmin e beijou-a.

– É um prazer em conhecer-te, senhora Southwood.

Carla sorriu, nunca havia visto um moço tão bonito e com um ar tão maduro quanto o de Nícolas. A não ser o próprio filho, claro.

– É um prazer também, senhor...?

– Nícolas. Nícolas Tourmaline. – Sorriu elegantemente. – Eu sou um ami...

– Ele é meu namorado, mamãe. – Charmin sorriu para a mãe e para Nick, segurando a mão do rapaz. – E é uma das melhores pessoas que a senhora poderia conhecer.

A cozinheira arregalou os olhos. Mas, antes que pudesse falar, Collin abraçou-a e levantou-a no ar. Rodopiou-a e, depois de longos segundos, a mulher pediu ao filho que a colocasse no chão, com um sorriso tão enorme no rosto que o casal se indagava se não lhe doía as bochechas.

Collin segurou o rosto de sua mãe, acariciando as bochechas e colocando as mechas desarrumadas atrás das orelhas.

– Quanto tempo, mãe. – O homem olhou para trás e chamou Isabel. – Mãe, quero apresentar-te Isabel, minha namorada, amiga e mulher mais incrível do meu mundo. – Chegou perto de Carla. – Atrás de você, claro, mas não deixe que ela saiba.

James se aproximou e estendeu a mão. Carla aceitou-a.

– Você é...?

– Eu sou James Nortway. Sou um antigo amigo da sua filha.

Charmin estendeu o braço e colocou a mão sobre os cabelos claros de Jay.

– Ele é o meu fiel escudeiro, mamãe!

A mãe dos irmãos Southwood olhou para todas aquelas pessoas que estavam com eles, e impressionou-se, estampando o sentimento nos olhos. Collin puxou Will pelo braço e apresentou-o como seu irmão de coração, amigo e líder dos revolucionários.

– Mãe, nós temos que ir agora, sim? Peça aos outros que se protejam dentro dos dormitórios e que esperem até que um de nós busque vocês.

Carla assentiu. Abraçou os dois filhos rápida, mas carinhosamente, despediu-se dos demais e alarmou os outros cozinheiros a retirarem-se do local e dirigirem-se a outro lugar. Will, mais distante dos outros, começou a comunicar-se com os outros grupos através dos walkie-talkies, sinalizando para Collin que avançasse. Caminharam por um longo e escuro corredor.

– Sua mãe é tão linda quanto você.

Nick sorriu para Charmin, e entrelaçou os dedos da garota com os seus, puxando-a para perto e, repentinamente, selando os lábios dos dois. Charmin foi prensada contra a parede por Nick, colocando a mão livre na nuca do rapaz. Quando começou a sentir o ar esvair-se dos pulmões, beliscou a pele de Nícolas, que separou a boca dos dois. Mesmo no escuro, ela pôde ver um brilho nos olhos dele.

– Isso foi um agradecimento atrasado por ontem.

***

Parados à porta que levava à sala de controle, todos os grupos carregavam suas armas para o ataque. Alguns rezavam para seu deus, pedindo uma bênção para a vitória ou uma morte menos dolorosa, outros, como Charmin simplesmente controlavam a respiração e esperavam pelo pior.

– Estão prontos? – Kyle perguntou aos rebeldes. Houve um coro de “Sim”. – Ótimo, vamos entrar.

Atirou no painel de controle que trancava a porta e chutou-a. Entretanto, para sua surpresa, não havia guardas ou qualquer outro tipo de oponente, somente uma sala vazia, com várias televisões, computadores e cadeiras que pareciam estar desabitadas. Metade dos (agora) quinhentos revolucionários entrou na sala quando uma cadeira virou-se lentamente, revelando um homem. Ao ver o rosto do sujeito, Nick preparou o gatilho da escopeta.

Kyle o olhou curiosamente, porém confiava em Nick e deu sinal para que todos levantassem suas armas.

– Conhece esse homem, Tourmaline?

– Infelizmente – O rapaz começou a caminhar em direção ao senhor, que, como ele sabia, não possuía uma parte da perna direita. –, ele é meu pai.

Lembranças, boas e ruins, inundaram a mente de Nícolas. Os dias em que era uma criança, o pai brincando de cavalo e cowboy com ele, as vezes que o alimentou de madrugada, quando acordava de um pesadelo, os momentos que abraçava a mãe e ele e todos se sentavam juntos perto da lareira no impiedoso inverno da B, o dia em que dilacerou a perna de Jean com uma garrafa de cerveja barata.

Jean levantou-se, agarrando uma muleta e caminhando, em passos pesados, até o filho.

– Eu disse que voltaria, não disse? Pois bem, eu voltei. E agora, vou ser o seu pior e melhor pesadelo.

Repentinamente, a sala foi invadida por centenas de guardas, todos com armas avançadas e equipamentos de proteção que poderiam protegê-los dos mais variados tiros.

– Will, cuide dos guardas, eu cuido dele. – Cuspiu a última palavra, guardou a arma no cinto e sacou um facão.

William sinalizou determinados grupos de guardas para cada grupo de rebelde, e correu até três soldados que se localizavam em sua frente. Puxou a arma, agarrou o pescoço d’um guarda e atirou em seu coração, depois o usando de escudo para outro ataque, puxando uma adaga comprida e com a lâmina dentada, cravando-a na jugular do segundo, depois chutando o terceiro e atirando em sua testa. Sangue espirrou em seu rosto; Will limpou-o e, com um olhar selvagem e cheio de adrenalina, partiu para mais mortes.

Enquanto os rebeldes lutavam, Nick, parado, esperava o pai, que o circulava, atacá-lo. O rosto era o mesmo, os mesmos olhos que os seus, e por mais que egocentricamente amasse os próprios olhos, odiava-os momentaneamente quando se deparava com aquele homem.

– Como você chegou até aqui?

Jean tirou a cabeça da muleta, revelando uma espada. Ergueu-a em posição de ataque para Nícolas.

– Depois que você... Dilacerou o meu fêmur, eu fui preso e, logicamente, fui ao exército. Fiquei alguns meses lá, e iria ficar até me formar, mas demonstrei uma força e inteligência surreal para a minha idade, então fui transferido para cá.

“Depois de algumas trapaças, subornos e entre outras coisas, cheguei à posição de controlador da segurança do castelo. E, como eu sei que você puxou a esperteza de mim, já sabe que eu vim vigiando vocês até aqui, até mim. Eu sei que seu grupo irá derrotar com facilidade os guardas, isso é muito previsível. A raiva e o remorso são o maior incentivo para vencer uma batalha, por experiência própria. Mas, somente eu sei a senha que desativa o sistema administrador e possibilita a mudança para o que vocês querem. Então, vamos ver qual de nós dois vence dessa vez, filho”.

Jean correu até Nick com os punhos cerrados, o rosto estampado em ódio puro. Tentou desferir um soco no rosto do filho, mas Nícolas desviou e, com isso, conseguiu socar o estômago do pai. Ambos eram velozes e incríveis demais para ambas as idades, pareciam dois flashes no meio de uma cena em câmera lenta. Dois raios num céu cheio de nuvens calmas. Jean acertou o rosto do rapaz, levando Nick ao chão com o impacto no rosto. Porém, antes que pudesse acertá-lo novamente, Nick levantou-se e chutou o queixo do outro. A luta era incessante, ambos estavam com feridas pelo rosto e corpo, Jean com o nariz quebrado e Nick com um corte enorme na sobrancelha direita. Com certeza, ficaria uma cicatriz. E, apesar de tudo, não desistiria. Machucaria o pai até que ele sentisse o quanto machucou ele e sua mãe, há anos atrás. Havia acumulado tanta mágoa e rancor, que tudo aquilo junto no coração estava sendo praticamente disparando contra o pai, em cada golpe, cada olhar, cada desvio. Foi então que Jean chutou a perna de Nick, no exato lugar em que o filho o havia machucado. Nick sentiu uma queimação intensa e, em questão de segundos, não conseguia mais movê-la. Caiu no chão com um urro de dor. Sentiu algo embaixo de si.

Jean aproximou-se do filho, deitado no chão, com a perna fraturada.

– Penso que nunca disse a você o motivo de tanto... Ódio. Acho que, como estamos aqui, numa cena final, você merece saber.– Agachou-se e tirou um cacho da testa de Nick. – Sabe, sua mãe, quando mais nova, era a mais bonita de todas as garotas da França. Ela era simplesmente estonteante. Os cachos castanhos caíam em cascatas pelas costas e pelos ombros, e os olhos dela eram simplesmente divinos, tão incríveis como os seus, entende? Eu me apaixonei instantaneamente, e, desde aquilo, nunca fui tão feliz. Fomos para os NEUA, e encontramos uma casa para nós, para criar você. Passamos anos sendo a família mais pobre de dinheiro e mais rica de espírito, pois tínhamos amor. Foi quando você tinha 11, lembra-se? Saí de casa e demorei dias a voltar. Tudo aquilo, foi porque eu descobri que você não era meu filho. Nícolas Tourmaline, o filho que eu tanto amei, não era meu. Nunca senti tanto ódio em minha vida, e meu ódio engoliu o que eu sentia por você e sua mãe.

“Quando eu era mais novo, minha mãe sempre me disse que a vingança era algo mau, algo cruel, algo que nunca seria bom para meu coração. – Levantou o queixo do rapaz. – Mas, eu não sei em que fundamento ela disse aquilo, pois esse sentimento é tão bom, entende? Ver algo que por tanto tempo você odiou sendo destruído na frente dos seus olhos. O quão incrível é essa sensação, que eu simplesmente não consigo descrever?”

Nick suspirou. Odiava aquilo, parecer indefeso. Então, como sempre, fez algo de sua mais tradicional característica: Impressionou. Com o sorriso mais sagaz e o mais atrevido de todos, puxou a arma que tanto o incomodava as costas, e colocou-a no meio da testa do pai.

– Digo o mesmo.

E atirou. Sangue manchou-lhe a face e a roupa. O corpo do pai caiu, como um peso para livros: frio, duro, morto.

Deitou a cabeça no chão, enquanto controlava a respiração e tentava não pensar na perna que, sinceramente, estava ligeiramente deslocada. Claro, ele sempre suavizava o que acontecia em relação a si.

Estava de olhos fechados quando alguém o chamou.

– Tudo bem aí, cara?

Era um homem. Ou um rapaz. Não conseguia distinguir no momento. A pele era negra, havia sangue escorrendo de seu braço esquerdo, mas ele parecia ignorar como se fosse um mosquito. Uma sobrancelha arqueada, enquanto o rosto expressava calma completa, e preocupação ao olhar a perna de Nick.

– Você brincou de lego com sua perna? Porque eu acho que encaixou errado.

Nick riu. Era surpreendente. Numa situação daquelas, o homem (ou rapaz) fazia piadas como se estivesse conversando normalmente em um restaurante. Estendeu a mão para o jovem, que a agarrou e o levantou. O pé esquerdo de Nick não conseguia se estabilizar no chão; Obviamente, não é como se pudesse.

– Como é o seu nome, belezura? – Perguntou o seu “salvador”. – Não é todo dia que nós vemos alguém atirando na cabeça de um velho.

– Era meu pai. – Respondeu.

O outro assobiou longamente.

– Ok. Você pode me contar isso depois. Primeiro, nós vamos cuidar da sua perna esquerda que parece direita, senhor...

– Nícolas.

– Prazer. Sou Arthur, mas todo mundo me chama de Arth por aqui. – Passou o braço de Nick pelo ombro e começou a carregá-lo para fora do local. – Não que combine com o meu físico de deus grego bronzeado, mas, é o que tem pra agora.

Agora que Nick percebia, o local estava bem mais vazio do que antes. Havia muito mais rebeldes que soldados do castelo, mas cada vez chegava mais. Milhares de corpos estavam no chão, alguns amontoados nos cantos da sala. Passou os olhos pela sala até encontrar os cabelos negros de Charmin, balançando enquanto ela dilacerava a garganta de um soldado louro. Arthur olhou na mesma direção e sorriu.

– Namorada?

Nick concordou.

– Bom gosto.

Concordou novamente. Sorriu, a dor pareceu diminuir ao vê-la.

– É. De vez em quando eu acerto.

***

Charmin colocou as mãos nos joelhos. Estava sem ar.

Perdeu a conta de quantos soldados havia cortado a garganta, cravado adagas, atirado, ou qualquer outro meio de matar alguém. Ainda havia muitos guardas, mas ela ignorava o resto, pois agora era o momento mais importante de todos. Procurou Kyle, e acenou para ele. Fez o mesmo com Will. Os três desviaram caminhos e pessoas até chegarem ao canto direito da sala, onde estavam os painéis e controles.

Will assobiou tão alto que Charmin sentiu dor nos ouvidos.

– PROTEÇÃO!

Uma barreira se formou em torno dos três, formada por rebeldes, que, mesmo em movimento, não paravam de assassinar guardas. Eram realmente bem treinados, mas, claro, o sentimentalismo ajudava.

– Muito bem. – Will começou. – Kyle, você sabe o que fazer. Charmin, preciso que transfira todos, todos os dados desse pen-drive para aquele computador. – Apontou para uma máquina tão avançada que Charmin nunca vira. – As aulas de Marc e Kyle serão muito úteis, então, lembre-se delas.

Ambos acenaram, Kyle e Charmin sentaram-se em suas propícias cadeiras e começaram os devidos trabalhos. Com a primeira tela, Will acessou o painel de controle central. Desligou as máquinas que fiscalizavam as fronteiras, desligou as catracas, o sinal de aparelho dos guardas, tudo e a energia do país inteiro. Tudo estava desligado naquele curto momento.

– Will, terminei. – Kyle confirmou.

– Aqui também. – Charmin concordou.

Will tirou a jaqueta que estava usando e limpou o sangue que estava nas bochechas, arrumou o cabelo e a roupa. Respirou fundo, e deu seu melhor sorriso e ajeitou-se em uma posição de superioridade.

– Kyle, meu querido ruivo sardento, ligue a câmera.

O rapaz o fez. Naquele momento, toda a energia dos NEUA voltou, e todos os lugares que possuíssem um visor ou um autofalante estariam vendo e ouvindo o lindo rapaz que era Willian Mendson.

– Bom dia, boa noite e boa tarde a todos. Todos que estão em suas casas, vendo a essa mensagem, prestem muita atenção.

“Sejam vocês da A ou da B, nesse momento, não importa. Todos agora são um só. Todos agora são, realmente, um Novo Estados Unidos da América. Não existe mais a diferença entre as zonas, todas as formas de impossibilitar a passagem de uma zona para a outra está desligada. Nós, agora, seremos o futuro desse país. Um país, aonde a coisa mais importante, será a fraternidade ao próximo e a honestidade com si mesmo. Estaremos fazendo mudanças drásticas por todo o território, e a primeira delas será a retirada desta imunda monarquia e uma límpida república, justa e segura a todos. Aqueles que não concordarem, podem sair do país, nós cobriremos as passagens para fora; Aqueles que ficarem, serão muito bem recebidos, com o máximo de gentileza. Nós não seremos mais escravos da miséria ou do consumismo. Nós não seremos mais corruptos ou criminosos sem esperanças. Nós seremos um país inspirador, que deixará uma marca no Universo. Seus líderes em breve dirão um “Olá” a vocês. Mas, por enquanto, sintam-se, finalmente, livres”.

Dito isso, Kyle desligou a câmera, e fez um sinal afirmativo com o dedão.

Will virou-se e olhou para os guardas, que estavam estupefatos e paralisados. Bateu a bengala no chão. As pessoas o olhavam com admiração. O discurso havia sido curto e rápido, mas não havia o que enrolar, só a dizer. O país estava mudando, as pessoas mudariam junto, para melhor e para algo mais avançado. Todos soltaram suas armas.

Lá fora, ouvia-se o barulho dos funcionários. Porém, mais distante que aquilo, ouvia-se o protesto dos ricos e a felicidade dos pobres. O nascimento de uma esperança para todos. Muitas pessoas saíam às ruas para conversar e espalhar a notícia a quem não tivesse ouvido. O país inteiro estava agitado com o novo destino, a suprema mudança que ocorreria.

Trocou a bengala de mão e, depois de alguns minutos de silêncio, os rebeldes e soldados, a nova população da República dos NEUA começou a gritar em euforia. Muitos abraçavam Will e o enchiam de agradecimentos. Sinalizou para que todos fizessem silêncio e proferiu as últimas palavras daquela época:

– Agradeço a todos. Por agora, sejam felizes com a nova vida de vocês.

Charmin soltou o ar que havia prendido durante todo aquele tempo e, enquanto as pessoas comemoravam e se abraçavam graças à vitória, ela procurou por seus amigos. Will estava enlaçado a um sujeito de pele escura, ambos pareciam romanticamente felizes. “Eu sempre soube que ele era gay”, pensou ela enquanto procurava por outros. Kyle, inacreditavelmente, estava beijando uma garota, e ela era surpreendentemente linda. O rapaz olhou-a, e aproximou-se de Charmin.

– Quem é aquela? – Perguntou com um sorriso zombeteiro. – Eu não sabia que você tinha uma namorada, Kyle.

– Ela era uma antiga minha e do Marc. Nós... Nos conhecemos quando éramos crianças, e eu acabei de dizer a ela que sempre a achei linda. Acho que ela gostou. – Respondeu, com as bochechas rubras, estava claramente envergonhado. – Ela também sente falta do meu irmão.

Seu olhar baixou para o chão.

– Queria que ele estivesse aqui para ver tudo isso.

A garota o abraçou sem pensar duas vezes. Todos haviam segurado aquele sentimento de tristeza por tanto tempo, ainda mais Kyle, que nunca havia demonstrado nada para ninguém a não ser uma gota mínima de chateação. Charmin o ouvia fungar suavemente, estava chorando.

– Hey. – Segurou o rosto do rapaz entre as duas mãos. Sorriu gentilmente para ele e enxugou suas lágrimas com as costas das mãos. – Sabe quais foram as últimas palavras dele?

Kyle negou. Os olhos verdes escuros como as folhas de um pinheiro pareciam mais claras agora, como as folhas da primavera.

– “Não desista”. Foi isso que ele sussurrou pra mim antes de morrer. – Soltou-lhe o rosto e apoiou as mãos em seus ombros. – Entende agora o que ele quis dizer? Marc me disse para não pararmos com tudo porque se foi. Acredite em mim, Kyle, ele queria que isso acontecesse mais que todos nós.

Charmin arregalou os olhos, e não era para menos, pois Kyle estava a abraçando com tanta força que ela duvidava não perder o ar. Afagou-lhe os cabelos cor de outono e afastou-se dele para respirar. O rapaz beijou-lhe a bochecha e sorriu alegremente para ela. Era a primeira vez que ele fazia aquilo em muito, muito tempo.

– Agora, vai acabar de beijar aquela garota, sim?

O ruivo afastou-se, e Charmin andou entre a multidão para procurar o namorado. Perguntou à Josh onde o rapaz estava, e o mesmo disse que não o havia visto. Estranhamente, não havia achado James, então procurou por Will. Encontrou-o com o mesmo rapaz ao qual estava abraçado. Ao vê-la, William a abraçou e a rodopiou no ar.

– Gatinha, nós conseguimos!

O homem desceu-a.

– Fazia muito tempo que não me chamava assim, Willy. – Ergueu um canto da boca. – Quem é o seu namorado?

Aconteceu, pois, uma coisa que Charmin nunca havia visto: Will ruborizando. Não suavemente, mas sim violentamente. Depois de alguns segundos paralisado, tentou proferir alguma palavra que Charmin não conseguiu decifrar, portanto, o próprio moço se apresentou.

– Sou Arthur, madame. – Curvou-se, pegou a mão da garota e beijou-a. – Mas pode me chamar de Arth.

– Okay... Alguns de vocês viram um garoto de cabelos cacheados? Olhos diferentes? Um semblante convencido e egocêntrico?

Arth levantou uma sobrancelha.

– Está falando do Nícolas? Eu o deixei na enfermaria há alguns minutos, a perna dele tava assustadoramente estranha.

Charmin sentiu o peito doer. Sem responder, correu até o corredor que levava às outras salas sem olhar para trás.

Will beijou Arthur rapidamente e foi atrás de Charmin. Encontrou-a quase chegando à enfermaria, ela havia realmente ficado rápida com tanto treinamento, mas não conseguiria superá-lo.

– Gatinha. – Chamou-a. Virou-se, os olhos estava marejados. Will abraçou-a. – Vem, vamos ver onde está seu Nicky.

Ambos entraram, o local estava incrivelmente lotado, com vários feridos, alguns seriamente, e outros com somente arranhões. Charmin passou por todas as camas dos locais, depois procurou no chão e não encontrou Nick em qualquer lugar. Mas aquilo não significava que não havia achado outra pessoa.

– ... James!

O rapaz estava deitado em uma cama nos fundos da enfermaria, o lençol estava todo ensanguentado na parte de baixo direita. Algo ali estava errado. Marissa estava ao seu lado, segurando sua mão enquanto ele fazia um esforço para se levantar. Olhou a antiga amiga com uma imensa felicidade, mas a dor superava o outro sentimento.

– Calma, Jay. – Pediu a moça ao seu lado.

Charmin se aproximou, espantada.

– O que aconteceu?

Com tremendo esforço, James sorriu. Pediu que se aproximasse, depois pediu que Marissa retirasse o cobertor que cobria as pernas. Depois que ela retirou, Charmin constatou que era “A perna”. Sentiu o café da manhã chegar à boca e engoliu-o de volta.

Meu Deus... O que fizeram com você?

A voz do rapaz estava fraca, mas ele fazia o máximo para ser claro.

– Um soldado atirou uma arma com veneno em minha perna direita. Infectou todos meus glóbulos, como um câncer e, para não espalhar, o médico a retirou.

Charmin tampou a boca. Estava tão... Horripilante. Havia somente sua coxa, quando chegava no joelho, não havia mais nada, somente um enfaixado ensanguentado que pingava no lençol, deixando claramente que tudo havia sido de última hora.

– Doeu?

Foi a única coisa que conseguiu perguntar. James afirmou.

– Mas, ao menos, eu ainda tenho isso.

Retirou debaixo da camisa um colar feito de linha de costura com uma pedra transparente e redonda como pingente. Era o colar que Charmin havia feito para ele há sete anos atrás. Caminhou até Jay e abraçou sua cabeça, e, como era baixa, ficaram em altura quase igual.

– Bem vindo ao clube dos sem membros. – Will o cumprimentou. Charmin o olhou repreensivamente, mas não aguentou e riu, como os dois outros presentes. – Espero que tenha entendido a ambiguidade.

A garota beijou a bochecha de James e o mesmo sorriu carinhosamente para ela.

– Deveria procurar por Nícolas, ele deve estar precisando de você agora.

Charmin assentiu e saiu da enfermaria. Passou pelo longo corredor, mas de repente parou. Havia uma porta ligeiramente aberta e, quando ela a empurrou, uma escada revelou-se. Instintivamente, Charmin subiu-a espiralmente. Estava ficando com tontura e sem fôlego quando chegou a uma porta. Abriu-a e encontrou Nick encostado à uma mureta de umas das quatro torres de observação do castelo.

Aproximou-se dele e postou-se ao lado do mesmo.

– Lembra-se da primeira vez que me viu depois de perder a memória? – Olhou-a de soslaio e sorriu. – Você me pediu para abrir os olhos, pois queria ver a cor deles.

– E você falou “Se você gostou, eu posso abrir novamente” de um jeito tão convencido...

Nick riu calorosamente. Virou-se de frente para a garota e enlaçou-lhe a cintura.

– Eu nunca fui bom com reencontros, Charmin. Nunca fui bom com nada, aliás.

– Eu não diria isso da noite passada.

Os olhares se encontraram e ambos sorriram. A noite estava estranhamente quieta naquele local, pois a altura das torres era tão brusca que não se ouvia quase nada, somente uma coruja ao fundo e o som das folhas balançando. Charmin nunca parava de se surpreender com o quão lindos eram os olhos de Nick, e o quão esplêndidos eles pareciam com a iluminação da lua.

– Eu concordo com essa parte, mas, sinceramente, eu não sou uma das melhores pessoas.

“Você sabe, todo esse meu jeito é só pra disfarçar a insegurança por dentro. Eu revi meu pai hoje, e apesar de fazer o que eu fiz, não havia sentido medo como senti hoje há muito tempo. Eu nunca soube se fui feliz ou sou, e acho que não quero ficar pensando sobre isso. A vida é cheia de defeitos, e se eu for ligar para cada merda que tem nela, vou acabar enlouquecendo. Mas, de uma coisa eu tenho certeza que é certa na minha vida, Charmin”.

A garota tombou a cabeça para o lado num olhar sugestivo e mordeu o lábio inferior.

– Que você fica horrível com cachecol?

Nick revirou os olhos com um sorriso.

– Isso também. Mas, eu estava falando sobre você. – Pousou uma mão em seu rosto, formando uma concha com ela. O semblante de Charmin ficou desconcertado. – Eu sei que nunca fui uma pessoa certa na minha vida, e que eu já errei tanto que Dante teria que criar um décimo ciclo para mim. Entretanto, eu sempre soube, que enquanto eu tivesse você, tudo estaria bem. Enquanto eu tivesse o seu amor, poderia suportar tudo. Foi por isso que, quando você me pediu para abrir os olhos naquela noite horrível e angustiante, eu o fiz. Porque eu sabia que você poderia enxergar que eu ainda era o Nícolas, o seu Nick, mesmo que não se lembrasse.

Nick a beijou doce, terna, suave, romântica, carinhosa, esplendidamente.

Charmin agora entendia o momento de silêncio total nos filmes e livros de romance. Onde tudo parava, tudo ficava lento, e tudo o que se via, pensava e sentia era aquela pessoa, a pessoa que você finalmente enxergava que iria passar o resto da vida junto. A ciência diz que, quando duas pessoas realmente se amam, seus batimentos cardíacos entravam em sintonia. Ela não sentia o coração de Nick agora, mas sabia que ele estava ritmado com o seu. Naquele momento, tudo à volta poderia enxergá-los como dois. Na verdade, porém, eles eram um só, unidos pelo amor.

“O Amor, que move o Sol e as outras estrelas”.


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Notas finais do capítulo

Eu espero de coração que tenham gostado do último capítulo oficial de Zona B. Vou deixar os agradecimentos para o capítulo extra, que irá se passar quatro anos depois da revolução. Digam o que acharam do final, galera! Foi chato, surpreendente, previsível ou ruim? Digam tudo o que querem.
Espero todos vocês pra saber como vão estar nossos queridos personagens no futuro. Um beijinhu da Bry



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