Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 22
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Pois bem, cá estamos novamente. Eu vou fazer um mini textinho nas notas finais, então preparem-se e... Bem, boa leitura :3



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E novamente caiu.

Pelas contas de Jack, aquela era a nona ou décima vez que Charmin caía no chão ao tentar golpeá-lo e ser surpreendida por uma rasteira. Era a nona ou décima vez que o rapaz tentava ajustar as posições desleixadas dela e estava quase desistindo se não soubesse o potencial dela.

– Levante. – Estendeu a mão para Charmin. O rosto dela estava demonstrando cansaço. – Não iremos parar até que você não caia.

Charmin aceitou a mão tremendo.

– Então vamos ficar aqui a noite toda, Jack.

– Não me importo de passar a noite treinando com você. – Respondeu enquanto reajustava os aparelhos. – Só não acho que seja bom para sua reputação que, confessemos, está péssima.

– E eu não me importo com reputação.

Charmin pegou outra faixa para colocar enrolada nos dedos, a antiga havia rasgado de tanto uso. Forçou-as contra os dedos e após senti-los latejando, amarrou atrás da palma da mão e aproximou-se de Jack, que estava suando e com o cabelo comprido todo desarrumado. Parecia frustrado, cansado, irritado e acima de tudo decepcionado.

Eram quase quatro da tarde, Charmin notou ao olhar para o relógio, e ambos estavam ali desde o nascer do sol, acertando sacos de pancada, malhando em bicicletas e esteiras ergométricas e, depois de algumas horas de cansaço, partindo pra luta. Aquela, Charmin concluiu, estava sendo de longe a pior parte do dia.

Haviam tomado uma vitamina de café da manhã e duas maçãs de almoço, não parando para ir ao refeitório comer ou indo aos dormitórios para simplesmente ver alguém. Não cessaram o treinamento até aquele momento de conversa e Charmin não pretendia cessar até que estivesse boa a ponto de conseguir golpear Jack.

Se Will estivesse ali ao invés do garoto, a elogiaria por ser insistente e daria um tapinha fraternal em sua cabeça, dizendo que ela já estava boa e que não precisava mais de treinamento, aquilo era o suficiente. Mas Jack era mais bruto e silencioso que Will; Não fazia piadinhas irritantes e maliciosas, não mostrava sorrisos e, acima de tudo, contato visual. Parecia não querer voltar a perceber que um dia já a conheceu.

– Vou conseguir dessa vez, Jack.

– Eu rezo por isso, garota.

Os dois se posicionaram, flexionaram os joelhos e empunharam as mãos. Olhares afiados eram trocados entre ambos e Jack tentava deixá-la mais racional ao invés de estressada para que ela parasse de reagir com a raiva e frustração e começasse a usar o cérebro pelo qual Nick caiu.

Repentinamente, Charmin desferiu na perna de Jack um chute direto, impulsionando o joelho esquerdo dele para trás e fazendo com que ele vacilasse no passo. Era uma tática de Will fazer aquilo: observar todos os aspectos do inimigo enquanto fingia fracassar. E percebeu que Jack sempre usava o esquerdo na frente para se apoiar e colocava mais força nele.

Então, ao perceber que ele havia realmente ficado fraco, agachou-se e deslizou a perna pela lona, atingindo o membro atacado de Jack e deixando que o garoto caísse de costas, totalmente surpreendido. Imobilizando os braços dele com os seus, Charmin colocou-os acima da cabeça e enrolou as pernas maiores do rapaz nas suas, deixando-o incapaz de movimento.

– E agora?

Jack ainda processava tudo, era tão impensável aquilo que o choque em seu rosto era expresso. E, para ajudar, a única coisa que parecia notar era as pernas de Charmin entre a sua e a cintura dela pressionando seu peito.

Ele parecia desconfortável, na verdade estava visivelmente desconfortável. Mas a alegria de Charmin era tanta que ela não pareceu notar um resquício sequer daquela sensação no garoto. Jack abriu a boca para falar e nada saía, ele somente olhava para os seios de Charmin que estavam literalmente a sua frente. E, o mais estranho, Jack notou, é que estavam maiores.

Meio engasgado, Jack finalmente falou, desviando os olhares.

– Parabéns.

Ela levantou e retirou as faixas das mãos que estavam totalmente roxas e raladas. Jack sentou enquanto arrumava o cabelo cheio de nós e observava Charmin tomar a água como se estivesse num deserto há anos. Charmin virou-se e olhou para ele.

– Não gosta de mim, certo?

Jack levantou-se e deixou o cabelo de lado.

– Por que acha isso?

– Porque é óbvio.

Charmin começou a se aproximar enquanto amassava a garrafinha de água. Apesar de não ter interesse no que os outros pensavam dela, Jack a conhecia há muito tempo e parecia vê-la como ela o via: um tiro no escuro. Na verdade, a via mais como uma flecha, pois era mais preciso e surpreendente.

– Não é que eu não goste de você, garota. – Enfim respondeu enquanto colocava as mãos no bolso em nervosismo. – Só... Não quero me lembrar de você.

E o tiro finalmente acertou-a.

– Por quê?

Jack ficou em silêncio enquanto observava a expressão da garota. Não sabia dizer se ela estava com raiva, triste, magoada ou, se bem lá no fundo, estava somente abalada. Sabia que Charmin era do tipo forte e sentimentalmente impenetrável, mas estava numa situação complicada e a qualquer momento poderia desabar e ele não saberia como dar apoio a ela.

– Lembranças são como assombrações embaixo da cama. – Disse ele. – Você tem certeza que elas não estão ali para te perturbar, mas quando se abaixa para checá-las... Todas estão bem ali, prontas para te atacar e fazer com que você tenha mais pesadelos.

Charmin não respondeu e Jack entendeu que ela havia notado o medo em sua voz.

– Não quero ter mais pesadelos.

***

– Então nós precisamos ter acesso ao painel de controle, enganar alguns guardas, ser silêncios pronto: teremos Char de volta.

Nick discutia com Will sobre as possíveis rotas de fuga que poderiam usar para que Charmin fosse liberta. Como já havia fugido, sabia muito bem que caminho seguir e os planos a fazer, além de que tinha noção da distância do alojamento para o exército e como aquilo dificultava tudo.

– Quantos dias são necessários para chegar lá? – Perguntou Will enquanto analisava um mapa preso à tela do computador. – E quantos dias para fugir?

– Se for como eu previ, seis dias no total. Três para a chegada e três para a fuga.

– E se não for?

– Aí eu já não posso garantir que seja menos de dez. – Concluiu enquanto analisava uma linha tracejada que circulava o exército. – Irei contatar Jack através de um contrabandista e ele irá instruir Charmin a como fugir.

– Ainda mantém contato com esse cara?

– Sempre mantive. Eu mandei Jack treinar Charmin no combate corpo a corpo, já que ela era quase péssima.

– Me senti um pouco ofendido pela parte submersa sobre eu ser um mau treinador, mas tudo bem.

Will andou até uma espécie de geladeira velha e dela tirou duas garrafas d’água. Entregou uma a Nick e abriu a outra, dando um gole e colocando o objeto sobre a mesa. Ergueu o olhar para Nícolas e observou enquanto o garoto escrevia no papel como um desesperado para acabar a avaliação.

– E pensar que um dia você disse que não queria mulheres na sua área. – Falou enquanto aproximava-se e contornava a mesa, ficando ao lado de Nick. – O que aconteceu com você?

Nick suspirou, parecia exausto e eufórico ao mesmo tempo.

– Eu, depois de quatro anos, ainda não sei. – Respondeu enquanto amassava a garrafa. Passou as mãos pelos cabelos enrolados e virou-se para olhar a cama de Charmin que agora era sua. – Só sei que, quando me dei conta, sua voz era a única coisa que fazia meu coração funcionar.

– Você ficou muito meloso, Nícolas.

Nick sorriu.

– Vamos voltar a falar sobre como pegar aquela garota.

Levantando, Nícolas pegou alguns papéis e posicionou-os sobre a mesa, de modo a formar um mapa gigante e detalhado com estradas, fronteiras, pedágios, árvores, florestas e localidades boas. Usou cores variadas de canetas para fazer caminhos diferentes e possibilidades, mostrando a Will como deveriam chegar, por onde e em qual horário. Soldados costumam fazer rondas durante a madrugada, mas deixam a segurança menor no período da manhã, que é quando os cadetes acordam para o treinamento. Com isso, seria uma boa chance para Charmin escapar através da floresta da A e, após infiltrar-se no território, chegar até a B e depois o alojamento.

– E vocês irão dormir onde?

– No período da guerra, os NEUA costumava fazer cachoeiras falsas perto de florestas e faziam espécies de cavernas dentro para esconder armas e materiais. – Nick contou enquanto circulava alguns pontos no mapa. – Pela B, há cerca de quatro, contando com essa perto daqui. Eu e ela podemos nos esconder lá dentro de noite para dormir.

– Sei.

Nick virou-se para olhar Will e reparou um sorriso malicioso pousando em seus lábios.

– O quê?

– Nada, nada. – Abanou as mãos enquanto tomava outro gole d’água. – Só acho que será divertido pra você.

Nick arqueou as sobrancelhas enquanto colocava as canetas na mesa.

– Resgatar minha namorada de uma prisão infernal e retirar chips de dentro dela?

– Não. Passar três noites longe daqui, sozinho com ela. – Aumentou o sorriso ao ver Nick constrangido e enrubescido. – Seu safado.

– NÃO SOU SAFADO! – Gritou e Josh levantou-se com um olhar estressado por ser acordado. Nick murmurou um pedido de desculpas e sentou-se na cadeira ao ver James olhando-o suspeitosamente. – Nunca fiz nada que ela não quisesse ter feito.

– Sei.

– É verdade.

– Então entregar aquelas flores, buscá-la na casa do James sem permissão e praticamente raptá-la de madrugada foram coisas que ambos quiseram? – Perguntou Will com um olhar interrogativo que deixava Nick desconfortável. Não era fã de perguntas que tinham a ver com Charmin, principalmente quando feitas por mais velhos. – Não acha que sempre foi manipulador com ela?

Nick refletiu o que Will dizia, pois era verdade. Desde o começo, sempre fez com que Charmin entrasse em situações que o favorecessem e literalmente a prensou contra a parede para saber se ela gostava do rapaz. Costumava pensar que ela seria uma garota fácil que só de encher de elogios e presentes seria conquistada, mas ficou muito mais determinado ao perceber que ela gostava de sentimentalismo e veracidade.

Tomou outro gole da água, esperando que Will tirasse o sorriso interrogativo e malicioso do rosto. Quando o outro não o fez, proferiu as mesmas palavras ditas ao irmão mais novo:

– Eu a amo.

***

Enquanto Sam passava os dedos esquerdos pelo cabelo ruivo escuro de Rose, que estava deitada em seu colo, pensava em Charmin e como em poucos meses a garota conquistara o coração da maioria que conhecera. Até mesmo ela criou um espaço pequenino no fundo mais gelado do coração dela para Charmin.

– Acha que ela irá lembrar-se de nós quando fugir daqui?

Rose abriu os olhos calmamente e fitou as íris castanhas claras da namorada.

– Quem? Charmin?

Sam assentiu.

– Charmin não parece ser o tipo de garota que chega a um lugar, faz amizades e esquece. – Rose levantou-se do colo e sentou à frente de Sam. – Mas o destino sempre faz seus truques.

– Bem, o destino não foi muito bom para ela, pelo que eu ouvi.

– No fim, ela foi a garota que fez Nícolas tomar um rumo, não? Via ele na sala de treinamento todo dia, só para ficar mais forte e sair daqui.

Sam ficou em silêncio. Conheceu Nick através de Jack e Dilan, o rapaz costumava sentar com eles no banco do refeitório. Quando o viu pela primeira vez, não conseguiu deixar de imaginar que um magrelo com cara amarrada e personalidade mal humorada seria bom o suficiente para algo naquele lugar. Mas Nícolas a surpreendeu e fez mais do que esperava. Em semanas estava bem mais forte e, apesar do porte físico magro, estava com músculos e mais capacidade.

Então descobriu que tudo aquilo era para ver uma garota.

– Se Charmin for tão determinada quanto Nick, e eu tenho certeza que ela é, vai sair daqui rapidinho e entrar na A novamente. Eu enxergo isso nela.

– Penso nisso também.

Rose saiu da cama e caminhou até o armário, na porta onde ficavam suas coisas. Pegou uma toalha, roupas que usava para dormir e organizou tudo entre os braços. Em seguida, abriu a porta do banheiro e ligou o chuveiro, deixando-o esquentar e fazer vapor. Voltou-se para Sam e, sorrindo, sinalizou o interior do cômodo.

– Vou tomar um banho, ok?

Rapidamente, Sam levantou-se e pegou a toalha que ficava estendida na cabeceira da cama, correndo até o banheiro e fechando a porta atrás de si. Enquanto retirava a blusa, Rose arqueou as sobrancelhas numa pergunta rápida: “O que está fazendo aqui?”.

Sorrindo, Sam retirou as roupas.

– Vou tomar também.

***

Enquanto andava pela estrada de terra que treinava, Jenny sentia o arrependimento latejando em seus dedos.

Havia saído do dormitório para deixar Rose e Sam sozinhas, até aí tudo bem. Mas ir até o quarto de Dilan e chamá-lo para sair porque queria conversar, quando ele claramente estava ocupado, foi algo tão imprudente que conseguia ver o olhar preocupado na cara do outro, exatamente como o seu.

Então estavam os dois ali, caminhando a mais de meia hora num silêncio perturbador e medrosamente inquebrável, pois se Jenny começasse com as intenções que tinha, poderia se machucar e não queria isso, estava ali no exército para ser mais forte, e não quebrável por um garoto qualquer.

Porém Dilan não era um garoto qualquer. Estava longe disso. Ele era o garoto que descongelou o coração de Jenny depois de muito tempo posto no freezer. Lembrava exatamente o momento em que viu Dilan pela primeira vez, ele fez a mesma coisa que faz com todos os novatos: “Ops, foi mal”, e naquela época, no começo de tudo, ela não pensava que estaria na posição que agora ocupa.

Via Dilan como um irmão mais velho que a ajudava em momentos difíceis e a animava quando ela menos esperava com abraços repentinos e sorrisos divertido. Então ela descobriu que quando o coração começa a bater descompassado e a vergonha nos gestos é explícita, não se vê mais a pessoa como um irmão. E aquilo a atingiu como um raio no meio da escuridão.

Aí tudo foi crescendo e ao mesmo tempo se tornando estranho. Jenny afastava os abraços quando podia e evitava olhar os sorrisos, e quando Dilan percebeu que havia algo diferente nela, parou com tudo e tornou-se mais um estranho para ela.

– Então.

Pela primeira vez naquele espaço de tempo, Dilan a olhou.

– Então...

– Estava ocupado quando chamei?

Dilan negou.

– Só jogando cartas com um baralho que Jack contrabandeou.

– Ah, tá.

– É.

Jenny parou de caminhar, deixando Dilan andar sozinho. Ao perceber que a garota não estava mais ao seu lado, ele virou-se e a fitou enquanto ela ficava parada, olhando para baixo com os punhos cerrados. Aproximou-se lentamente e curvou para poder olhar em seus olhos, que estavam fechados. Tocou o ombro de Jenny e percebeu que ela tremia.

– Jenny...? – Colocou a mão sobre a testa dela. – Você está...

Eu gosto de você.

Num sobressalto, Dilan recolheu a mão. Não respondeu e, pela primeira vez, ela o olhou.

– Eu gosto de você. Gosto muito. Muito mesmo. Sabe, muito? Então, muito. – As palavras saíam todas enroladas e Jenny não sabia organizá-las na mente, já que a mesma provavelmente estava fritando com o fato d’ela finalmente estar confessando para Dilan. – E eu sei que você deve ter mil garotas ao seu pé e sei que você não deve me enxergar e que tudo isso deve ser louco pra você e se pudesse me rejeitar... – Uma pausa para respirar. – Vai ser ótimo tirar isso do meu coração.

Dilan fechou os olhos, respirou e voltou a fitar Jenny. Os olhos dela lacrimejavam e ela não conseguia mantê-los abertos por muito tempo. E assim ficou por alguns minutos até que um murmúrio cortou o silêncio.

– Não posso rejeitar sua confissão, Jennifer.

Jenny arregalou os olhos e então as lágrimas escorreram.

– Sabe, Dilan, eu não sou masoquista.

Ele sorriu como há muito não sorria.

– Muito menos eu.

E com isso, ele a abraçou. E após isso, um beijo que há muito Dilan quis dar.

E Jenny simplesmente não acreditava no que estava provando. Era tudo tão perfeito e mágico e irreal que ela esperava o momento em que tudo se tornava um borrão e ela acordava suando na cama novamente.

Num deslizar, Jenny saiu dos braços do rapaz. Estava com um sorriso de uma criança que acaba de sair da roda gigante, maravilhada com o que sentiu. E Dilan parecia estar numa euforia que nem mesmo os treinos de luta e tiro pareciam dar.

– Isso não é um sonho, certo? – Perguntou ela enquanto passava a mão nas bochechas. – Já cansei de sonhar.

***

Duas horas. Havia passado duas horas andando, procurando pelo garoto e xingando a si mesma por ser tão boba de ainda estar junto dele. Duas horas alinhando todos os xingamentos que desejava proferir quando o visse. Duas horas tremendo de ansiedade por pensar em achá-lo metido numa encrenca novamente. Duas horas incessantes com um medo batendo em seu coração por achá-lo novamente desmaiado em qualquer lugar.

Cruzou ruas desertas e cheias de gente procurando por um único sinal dos cabelos enrolados de Nícolas e, quando pensou o ver, era somente uma alucinação. Foi até casas de amigos e parceiros dele, perguntando onde ele estava e, por mais incrível que fosse, falaram que Nick não dizia a ninguém aonde ia. Aquilo a corroeu por dentro.

Eram quase quatro da manhã, uma brisa gelada passava pelo pescoço de Charmin e o vestido estava começando a parecer frio demais para o corpo. As sapatilhas estavam gastas e agora que ela caminhava procurando por Nick, o tecido começava a rasgar. James devia estar dormindo a essa hora, mal suspeitando que a garota de dezesseis anos que mora em sua casa estava procurando pelo namorado que não aparecia em nenhum lugar.

Só restava um lugar, e era o pior de todos: o beco.

O beco era uma espécie de ruela aonde os piores criminosos e marginais não pegos pelo exército iam para fumar, beber ou fazer outra coisa legalmente proibida pela monarquia. No segundo mês, Jack levou Charmin lá para que achassem Nick e o viu trocando drogas com um desconhecido de barba longa e cara dura. No mesmo instante, ela fora embora e não falou com ele por algumas semanas.

E agora ela estava caminhando para aquele lugar nojento e horrível somente para procurar um garoto com o qual tinha um encontro, agora desmarcado e atrasado. Agora, enquanto tentava não ficar chateada por ter gastado dinheiro num vestido novo para o passeio e pensava em maneiras de batê-lo e fazê-lo sofrer psicologicamente, Charmin descia as escadas para o lugar e tentava não respirar o ar com cheiro de maconha.

E lá estava ele. Um casaco longo e escuro por baixo de jeans claros e tênis surrados, os cabelos enrolados bagunçados enquanto os olhos eram direcionados por uma parede que estava pichando com palavrões e símbolos da monarquia riscados. Ele parecia estar se divertindo enquanto fumava um cigarro normal.

– Se você não queria me ver, Nícolas, poderia ter mandado um de seus cachorrinhos falarem comigo.

Ao ouvir a tão familiar voz, Nick deixou que a latinha caísse no chão e lentamente virou os calcanhares, com medo da reação de Charmin. Ao ver os cabelos dela preso em um rabo de cavalo trançado e o vestido florido em azul, amarelo e verde, Nick imediatamente arrependeu-se de ter esquecido que ia encontrar a garota.

– Você está linda. – Murmurou enquanto aproximava-se, incerto sobre o que fazer.

Charmin riu em escárnio. Não sabia se ele estava tentando acalmá-la ou consolar a si mesmo.

– Poderia ter dito isso oito horas atrás. – Respirou fundo, andou até onde Nick estava e pegou uma sacola com latas de spray coloridos, sinalizando-as. – É isso que você ficou fazendo ao invés de se preocupar comigo? Acha que eu sou o quê? Um brinquedo pra usar quando fica entediado e deixar no canto quando entretido? – Jogou as latinhas no lixo enquanto ouvia os sussurros das pessoas ao redor. Todas estavam olhando para os dois enquanto brigavam. – Vou embora. E não venha atrás de mim. Nunca mais venha.

Em passos duros, subiu a escada enquanto ouvia seu nome sair da boca de Nícolas e teimava em não voltar para lá, abraçá-lo e dizer que ela o perdoaria. Sempre o perdoava. Mas, ao invés disso, começou a correr em direção à casa de James enquanto enxugava as lágrimas na barra do vestido e tentava não se arrepender de ter falado aquelas coisas para ele.

Já estava chegando a casa quando sentiu braços enlaçando seu corpo e puxando-a para trás num abraço apertado. Tensa, arfou quando uma cabeça encostou sobre seus ombros e lábios beijaram seu pescoço, arrepiando os pelos de sua nuca. Uma respiração descompassada era feita pelo rapaz enquanto os braços apertavam-na ainda mais.

– Nick...

– Me perdoe. – Sussurrou enquanto virava-a para um abraço. – Me perdoe por ser tão imperdoável.


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Notas finais do capítulo

Ok. Vamos começar.
Eu queria avisar que não vou postar durante duas semanas, pois minha época de provas começou e além disso estou tendo coisas pessoais para resolver que me impedem de sentar a bunda na cama, entrar no computador e escrever mais capítulos.
Então, enquanto isso, aproveitem para ler novas fics, mas não se esqueçam de mim ;-; Please ;-;
Obrigada aos que comentam, obrigada aos que leem e obrigada aos que gostam. Vejo vocês no próximo mês