Um dia escrevi: escrita por Auria


Capítulo 1
Capítulo Único- A vida me confunde ainda mais.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único, talvez.



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Sabe aquela hora em que você chega à um pedaço de papel em branco e simplesmente escreve: “Querido Diário”... A partir desse momento, tua vida tem que estar num pedaço de papel? Te juro que eu tentei, mas não deu muito certo tentar escrever sobre minha vida... Ela é muito sem graça para poder escrever numa coisa como essa. Eu não tenho a vida badalada de Amanda... Enfim, nem sabem quem é a tal Amanda... Na verdade nem eu sei direito, ela é a garota “mais desejada” pelos garotos em minha escola. Tinham que ser mesmo um bando de roceiros para poderem gostar daquela patricinha sem graça.

Acabei que estou me abrindo com um “pedaço de papel eletrônico”.

No fundo no fundo, eu sempre quis saber como é a vida de Amanda... A vida dela não deve ser nada boa, com aquele tanto de garotos em cima dela, pedindo-a tudo quanto é coisa... Quanto à mim? Apenas meu amigo me pede coisas. É de se rir no cantinho qualquer, mas é meu amigo desde... Desde sempre, eu acho. Mas não pense você que é como aquelas historinhas de conto de Fadas que o amiguinho da mocinha acaba ficando com ela no final da história. Não é. Na verdade é sobre um novato qualquer que entra em minha turma, senta ao meu lado, suposto lugar onde João sentava, meu melhor amigo, e derruba todas as minhas coisas no chão.

Bom, deixe eu contar essa história direito... Ficou muito embolado, não é mesmo?

Num dia qualquer do mês de Junho. Amanda, misteriosamente não sei porquê, conversa comigo no intervalo da segunda aula, cujo era de Física.

–Oi, Laura! –disse animada, estranhei, mas não fui nada mal-educada, e apenas sorri. –Posso me sentar ao seu lado?

–Por que não? –digo tirando a minha mochila, que de costume a deixava ali, para separar o lugar de João.

Ela sorriu e sentou-se ao meu lado, com seus cabelos sedosos a balançar. Ok...

–Você é boa em Física, pelo que fiquei sabendo, né? –Sabia que tinha interesse no meio, sabia...

–Sou? –ironizo.

–Dizem que sim. Isso é bom! –bom? Fala sério, quer é se aproveitar da minha mente de gênio. –É que meu... –e lá se foi o bendito intervalo, e João não apareceu.

Amanda sorri, como que se estivesse agradecendo pela atenção, assim que uma amiga dela a puxou pelo braço, demonstrando um “Chega”... Ou sei lá o quê.

Foi aí que me dei conta novamente, que meu melhor amigo, tinha furado comigo no intervalo. Sim, aquele cavalo furou comigo, pela terceira vez essa semana.

Nós costumamos, todos os dias, lanchar no pátio do colégio, já que não estudamos em turmas iguais, depende muito das aulas. Então já considero não nos vermos muito. Daí todos os dias nos juntamos para falar mal das pessoas ao nosso redor, não na maldade literal, mas sabe como é, né? Adolescência é boa e dura pouco. Temos que aproveitar.

Ele traz um sanduíche de peru que a mãe faz, que nossa! Uma delícia! Um dia ainda peço a receita à ela. E eu levo meu humilde pão de salada de atum que meu pai faz... Fazia... Hum... Que seja, ele deixava na geladeira toda noite.

Mas o intervalo acabou, a vida boa acabou, temos que ralar os dedos naqueles benditos cadernos, e deixar nossos dedinhos anelares com calos. Pois é. Já disse que sou uma ótima aluna na escola? Pois é, sou uma ótima aluna, tipo... Quase uma aluna exemplar, tirando o João. Ele é “O” aluno exemplar, e nós ligamos muito para esse negócio de status em notas, mas também só nisso, o resto nem ligamos.

Então, assim que chego na sala de aula, a professora de Artes, a Aurélia, já me chama para o cantinho.

–Laura. Temos um aluno novo na escola, quero que você o ajude em algumas coisas, tá bem? –aluno novo? Ajuda? Estão se aproveitando de mim, estão sim, vou começar a cobrar.

–Aluno novo? Mas eu não vi nenhum, e já estamos na terceira aulas, Senhora Aurélia. –arqueio uma sobrancelha em retruca ao seu pedido.

E realmente não havia nenhum, pois se houvesse, teriam nos apresentado há tempos, no primeiro turno. Mas não.

–Era pra ele estar aqui faz tempo mesmo. –ela segura meu braço direito, como se eu tivesse alguma coisa a ver com o feitio do tal aluno novo. –Não tem nada a declarar?

–Eu? –sério isso? Nunca nem vi essa pessoa na vida, e já levo a culpa por ele não ter vindo a escola? Já não gosto dele.

–Laura! –ela sem querer chama atenção de algumas pessoas que já estavam dentro da sala de aula. –Oooooh, alunos queridos! Vocês estavam aí o tempo todo? –tentava encenar uma risada muito forçada e grossa, como se fosse o Papai Noel.

Arqueei minhas sobrancelhas e fui pro cantinho da janela, sentar-me. O dia estava meio frio, e a janela estava um tanto que embaçada. Tudo bem, estava frio, bem frio.

A aula de Professora Aurélia passou rápido, e trocamos de sala, agora era hora de Matemática, e eu comecei a cochilar na aula do professor substituto. Tadinhos, a maioria deles não sabem dar aulas, principalmente para adolescentes. É terrível, mas meu sono pediu mais, depois eu estudo, quando chegar em casa, der uns cascudos no João, e comer um bolo de cereja da mãe dele.

Me assusto com o soar do sinal para troca de aulas, e agora era física de novo. E adivinhe quem foi sentar atrás de mim? Amanda. Ainda não consegui entender o que ela queria saber, era pegar cola de alguma prova surpresa que as amiguinhas dela ficaram sabendo? Será?

O professor Sebastian entra na sala, com um sorriso estampado no rosto. Acho até estranho, pois sempre, ou quase sempre, ele está com a cara fechada para todos e tudo. Mas ele entra com um rapaz de jaqueta de couro preta, e calças pretas, estavam coladas demais nele, e parecia que ele tinha mais bunda que eu... Enfim, porque eu estou olhando pra bunda dele?

Amanda atrás de mim, pigarreia. Arqueio a sobrancelha e me viro até ela, como quem não quer nada.

–Como eu estava dizendo antes... –ela foi interrompida pelo professor Sebastian, nos apresentando o bonitão de calças apertadas.

Agora que eu parei para olhar para cima, ele tem os olhos claros, nossa, que olhos... Os cabelos castanhos claros também, a pele bem alva, como que a jaqueta de couro protegesse ele de todos os raios ultra-violetas. Ele possui um pouco de sardas abaixo dos olhos, que charme. A boca é um pouco carnuda no lábio inferior, e... Ele está olhando pra mim... E eu estou olhando pra boca dele, ai meu pai.... Ele deve estar olhando para Amanda, não pode ser. Mas não, tenho certeza que ele está olhando para mim, e eu não consigo mais desviar o olhar do dele. Finalmente Sebastian o corta, dizendo o nome dele, e ele soltando um sorriso largo no rosto, que dentes brancos e que sorriso encantador!

–Alberto, esta é a nossa turma de física, você ficará conosco daqui em diante. Ouviram turma? Ele é o aluno novo, primo de Amanda. –agora minha florzinha murchou de vez mesmo. Primo de Amanda? Sério? Ok, vamos voltar ao mundo real, onde eu sou apenas a nerd melhor amiga do rapaz mais inteligente da escola. Ponto.

Amanda se levanta atrás de mim, e sorri para o suposto primo. Vendo agora, eles até que se parecem, não fossem pelos cabelos super-lisos dela, e os deles serem onduladinhos, e os dela serem loiro-branco, e ele tendo os cabelos mais escuros. Mas os olhos são os mesmos, azuis.

Olhos azuis aqui não são lá uma coisa muito difícil de se acontecer, quem me dera eu ter os olhos claros, parece até praga. Meu pai tem olhos claros, azul-piscina, minha mãe tinha os olhos azul-escuro. Mas eu, tinha que nascer com os olhos quase pretos, tinha que ser diferente de todos. Tinha. Mas ainda assim, sou loira, não o loiro de Amanda, mas o loiro natural, escuro, com algumas luzes desajeitadas sobre.

Volto à minha vidinha, pegando um fone de ouvido no bolso da mochila, quando Amanda me cutuca, ainda de pé, como se estivessem me chamando e ela me avisava sobre.

Nem escutei, mas Sebastian estava a me chamar lá na frente da turma. Mas porquê, me diga? Não basta eu ver esse lindo daqui? Não? Cadê o João nessa bendita hora, hã?

Eu me levanto, bufando, deixando cair meu fone de ouvido no chão. Droga. Vou até o professor, e fico o esperando fazer alguma coisa, ou falar algo, e ele olha para mim, e depois olha para Alberto. E repete isso umas quatro vezes. Então o garoto estende a mão direita em cumprimento amistoso. Apenas olho para a mão dele, e fico meio confusa, olho para Sebastian, e ele sorri para mim. Ok, acho que é para eu cumprimentá-lo, como se fossemos ser super-íntimos, mas sei que isso não acontecerá, ele vai entrar pro grupinho de amigos de Amanda, e bum, acabou cumprimento amistoso, e tudo mais de sorriso bonito e boca perfeita.

Sorrio e o cumprimento, depois de alguns segundos o deixando com a mão apertando o vento.

–Laura. –digo me apresentando.

–Eu sei. –diz ele um pouco baixo, com uma voz aveludada e grossa, que me fez estremecer a mão, que estava com ele, provavelmente, fiquei vermelha... É...

Como ele sabe meu nome? Alguém o disse, provavelmente algum professor o disse. Ah, é mesmo, não sou a garota linda, sou apenas a mais inteligente. Eles devem ter comentado algo sobre mim para ele, algo como influências aqui dentro. Quem sabe, talvez seja isso mesmo.

Sebastian sorri e ele então percebe que ainda estamos de mãos juntas em cumprimento, nem eu tinha percebido isso, e então eu retiro a minha mão com delicadeza, para não parecer rude de minha parte. Mas ficamos tempo demais de mãos dadas, de fato ficamos.

Olho para minha carteira, logo olho para Alberto, e para Sebastian, como se pedisse para me retirar dali. Mas o recado foi processado certo só por Sebastian, pois o garoto devera ter entendido que era para ele me acompanhar, mas não foi isso que quis dizer não.

E lá se foi sentar ao lado de minha carteira, na carteira de João. E minha mochila caiu, junto com algumas coisas que haviam dentro dela, inclusive meu MP3 super-pobre que eu comprei, com um bico que eu fiz durante alguns dias, numa cafeteria. E adivinhe? Ele o quebrou, palmas para o bonitão!

Suspiro, tentando buscar a calma em minha cabeça, mas não adiantou muito, ele levanta a cabeça para me olhar, já sentado, e faz uma cara de: “Droga, foi sem querer, juro!” Mas é claro que foi sem querer! Mas como eu fico? No prejuízo? Valeu, bonitão, muito obrigada mesmo.

Me abaixo, para pegar minhas coisas do chão, e percebo que Amanda cutuca o primo, para alguma coisa, mas ele já estava me ajudando a pegar algumas partes do falecido MP3 player. Sebatsian pigarreia, e Alberto apenas retruca com um “Só um momento...”. Estamos numa caçada, professor. Vamos ter um enterro, espere, ok?

–Desculpe... Juro que vou pagar para você um novo. –dizia ele, cabisbaixo, procurando os estilhaços. Como eu.

–Tudo bem. –digo seca, eu estava com um pouco de raiva, e ressoava isso em minha voz, mas foi de dinheiro suado, e não foi um pedido do papai, como ele provavelmente vai fazer, vai pedir ao papai para comprar um novo para ele para me dar. Mas não fará o mesmo sentido.

Dessa vez era Amanda quem pigarreava. Percebo que já era hora de subir, e sentar. Já tinha pego tudo que achei, e acho que ele também.

Por sorte não estava naqueles dias do mês, e não tinha nenhum vestígio de minhas “fraldas” no chão.

Então Sebastian começa a dar sua aula.

–Acho que você quem vai me mostrar a escola, essas coisas de representante. –dizia ele se aproximando um pouco de mim, sua jaqueta fazia um pouco de barulho, a cada movimento. Percebia que seu bom odor também se manifestava. Um cheiro suave, porém marcante, de... Não sei distinguir em palavras, mas sei que é bom.

–Eu não sou representante de nada, desculpe. –ressentimento? Acho que sim, acho que sou rancorosa. Quebrou uma parte de meus órgãos, esse provavelmente eram minhas mãos.

–Me desculpe pelo seu aparelho, desculpe mesmo... –foi sincero, senti que foi. Então me viro para ele, e vejo aqueles olhos azuis a me encarar, e tento resistir o olhar com olhar, mas continuo e consigo falar.

–Não importa o aparelho. –importa sim.- Mas é que isso aí, foi recebido com muito esforço... –foi nada, foi baratinho, umas duas semanas eu consegui comprar ele, mas o suor foi trabalhoso. –Eu trabalhei para pagar.

Amanda pigarreia, atrás de nós dois, e dessa vez ele quem olha.

–Laura, eu estava pedindo informações sobre Física, é para esse rapaz aí do seu lado, ele não é muito bom nessa matéria. –sorriu baixo, e ele revirou os olhos. –Então se puder ajudar, seria uma boa, né?

Ele quebra meu aparelho, e eu ainda tenho que ajudar ele? Não acho isso muito justo não.

–Hum. Temos muitos professores para darem aulas particulares aos sábados. –pronuncio com desinteresse.

Amanda solta um sorriso sem graça, que me deu até dó.

–Mas eles nunca dão atenção, tanto quanto você dá. Sei disso, porque já passei por isso. –diz ela, dando um cutuque no primo.

–Mas eu nunca te ajudei.

–Eu pedi para uma amiga minha vir pedir sua ajuda, para ela poder me passar depois. Eu sou tímida. –sério? Tá né..

Alberto passa a mão sobre o rosto, e já coloca as mãos na mesa em seguida.

–Eu quero a SUA ajuda, Laura. Se não for incômodo. SUA, e de ninguém mais, pode ser? –Oi? Ele está exigindo isso, é? Oi?

Estranho sua reação, soltando um risinho baixo, ignoramos completamente a aula, se deu pra perceber.

–Se você puder me pagar por isso, quem sabe assim eu compro um aparelho novo pra mim.

–Alberto. –diz Amanda.

–Não. Tudo bem, eu pago ela para me ajudar nessa bendita Física, se é tão boa assim, merece o esforço. Com toda certeza. –dizia ele balançando a mão de início, para Amanda.

Talvez ele não seja como eu imaginei? Aquele rapaz podre de rico, como Amanda aparenta ser.

Demos o assunto por encerrado, quando Sebastian nos chamou a atenção e logo me chamou à frente para poder explicar a nova matéria, enquanto ele ia tomar um café. Legal, eu deveria receber por isso também, ele sempre faz isso comigo.

Era a última aula do dia, e saí da sala, com lástima por ter perdido meu MP3 player, e olhava apenas para ele, e tentava concertar partes dele, mas já era.

Estava de cabeça baixa, quando percebo que a multidão de alunos já tinha esvaziado o pátio de saída, e então ali por perto eu ficava na parada para esperar o ônibus para ir para casa, quando ouço uma voz que me era familiar:

–O ônibus já foi embora.

Olho para frente, e lá está aquela figura desenhada, Alberto. Agora de óculos escuros, e com dois capacetes à postos em sua moto preta com prata. Sorrio, apenas por agradecer a preocupação. Sigo em frente.

–Não quer carona? –ele dá um passo à frente.

–Não, obrigada. –continuo andando.

–Não vai doer, vai? –então paro.

–Por quê? É pelo aparelho? Se for, não se preocupe, com o dinheiro que vou ganhar de você, posso comprar outro novinho. –digo olhando fixamente para ele, e ele tira o óculos de sol.

Então de inesperado, ele solta o pauzinho que estava segurando meu cabelo, e o bagunça, e dou um passo atrás, assustada com sua reação, ele chega mais perto de mim, e minha pulsação vai em disparada. Assim que solta meus cabelos, ele passa a mão em meu rosto, e se aproxima mais, com a outra mão, passa em minha cintura, me enlaçando com ele, e então, suspira boca com boca e diz:

–Você é tão teimosa... –e então ele me beija. Meu fôlego foi tomado, minha coragem, e firmeza também, mas não foi uma coisa ruim, a cada segundo, ele apertava com mais firmeza o corpo que não estava mais ao meu domínio. E eu simplesmente gostava.


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Notas finais do capítulo

Esta é a minha primeira One-Shot, e primeira história postada aqui no Nyah. Para saber se devo continuar com esta história, estou a postando aqui.