Amizade...? escrita por Milky


Capítulo 1
Alegrias, confissões, decepções, finais...


Notas iniciais do capítulo

Oii... Eu criei essa one-shot inspirada em um sonho que eu tive... Espero que gostem!



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Certo dia, uma garota estava sendo perseguida por dois rapazes que invadiram sua residência. A garota se deparou com um deles. Ao vê-lo, lembrou-se daquele rosto conhecido. Ele era o amigo de infância dela e encontrá-lo não a trouxe recordações muito felizes, só um pano negro repleto de solidão e desespero, que ela tentava tirar de sua mente a tempos, à espera do retorno deles.

A garota tentou esconder a sua surpresa, afinal, anos já haviam se passado. Poderia ser que ele não lembrasse. Mas ele lembrou. Ela percebeu isso quando ele disse: "Devolva a Rika, nós sabemos que foi você." Aquele nome a trouxe mais recordações, recordações más. Então, para se defender, ela o atacou e correu para a biblioteca. A garota sentia que estava prestes a enlouquecer com as lembranças traumáticas que lhe vinham à mente, poderia ser que para um adulto, suas lembranças fossem algo fútil, porém há coisas que mexem conosco, e com ela, foi algo ruim. Ela precisava desabafar com alguém. Mas como e com quem? Uma pessoa sem amigos e sem familiares como ela, não tinha ninguém a quem contar. Então ela pegou um gravador que estava em uma das mesas empoeiradas da biblioteca. "Boa ideia!", ela pensou. A garota andou para a parte mais adentro da biblioteca, espantou a poeira de uma das cadeiras e sentou-se. Ela hesitou um pouco, mas o que ela sentia tinha que ser ouvido, mesmo que a quem ela contaria fosse um objeto. Pois era assim. Era assim que ela evitava enlouquecer.

Os garotos se esconderam atrás das estantes de livros, cada um com uma pistola em mãos. Aquela era a hora certa de matá-la, mas eles não o fizeram. Ficaram surpresos quando ela começou a contar tudo, até porque aquilo que ela falava dizia a respeito deles também, e de outra pessoa. A Rika. Então eles ficaram esperando que ela terminasse a história, ou melhor, o desabafo. Com atenção minuciosa a cada palavra dita.

A garota apertou no botão de gravar e pôs-se a falar:

"'Rika.' Quando eu ouvi aquele nome me recordei novamente de minha infância. Aquilo era algo que eu queria esquecer a todo custo. Marcas que me torturavam, palavras que me massacravam... E acho que, já que estou perto do fim, devo deixar aqui o meu legado, ou melhor, a minha triste história."

"Há vários anos atrás, eu tinha dois amigos. Eles eram como irmãos. Conhecíamo-nos desde bebês. Saíamos todo dia pela manhã para brincar na floresta e só voltávamos à noite. Eu era uma completa desastrada, sempre tropeçando e caindo nos lugares mais improváveis, mas era isso que nos mantinha unidos."

"Certo dia, quando brincávamos de pique, eu tropecei em algo. Era um alicate e uma navalha e, perto disso, havia uma menina de nossa idade caída com alguns machucados. Quando a vimos, Zesh foi o primeiro a socorrê-la. A menina disse que não tinha família ou amigos, então decidimos que ela seria a nossa amiga. Eu falei com o meu pai e arranjei uma casinha para ela morar. Ela era meiga e falava num tom doce. Mas eu não gostava muito dela. Seu nome era Rika."

"Quando fomos brincar de pique-esconde, eu subi em uma árvore para me esconder e Rika veio comigo. Ela abriu a bolsinha que sempre estava com ela e retirou um objeto pontiagudo de lá, era uma navalha, parecida com a que achamos no dia que a encontramos. Ela se cortou e depois me empurrou da arvore, jogando a navalha em minha direção enquanto eu caía. Quando meu corpo tocou o chão, ela se jogou também, caindo não muito longe de mim, com o braço cortado manchado com seu próprio sangue. Zesh e Luka vieram ver o que estava acontecendo e antes de eu conseguir falar algo, Rika falou: 'A Yui me cortou, eu a empurrei, mas ela me puxou junto com ela.' Os dois me olharam diferente pela primeira vez. Eles estavam com raiva, não querendo acreditar nas palavras dela, mas acreditando. Chegou a minha vez de explicar, mas eles não deram ouvidos, estavam ocupados de mais me culpando. Lágrimas escorreram de meus olhos enquanto Rika dizia que a culpa não era minha."

"Corri de volta para casa e fui de encontro a meu pai, dizendo que meu peito estava doendo. Que a nossa nova amiga havia mentido e me incriminado. Meu pais disse que isso era coisa de criança, passageiro, que eu deveria apenas esperar um pouco e depois esclarecer tudo. Mas nada mudou. Eles não me davam mais ouvidos. Era tudo pra Rika, tudo pela Rika, tudo com a Rika. E eu fui deixada de lado. Quando eu caia ou me machucava ninguém mais ia me ajudar. Eles me isolaram em um mundo solitário. E eu, como criança, não compreendia aquilo. Então fui buscar consolo nos braços da minha mãe. Ela dizia que se eu os explicasse como me sentia, eles compreenderiam, já que éramos amigos íntimos. Nada deu certo, a Rika havia roubado a cena de novo e como sempre eles descontaram tudo em mim. Embora não me batessem, a dor não passava. Aquilo era psicológico. Minha consciência não conseguia aguentar. À noite, quando fui falar com minha mãe, ela estava caída no chão, mergulhada em uma poça de sangue. Eu gritei e gritei. Minha mãe havia morrido."

"Depois de alguns dias, eles foram me chamar para brincar, dizendo que estavam com pena do que aconteceu com a minha mãe. Mas eu neguei. Estava esgotada de mais para ir escutar mais injúrias sobre mim. A Rika fez cara de coitada e ficou se culpando, mas ela estava sorrindo, zombando de mim. Sempre que eles iam me visitar, eu negava. Não queria vê-los. Sempre buscava consolo agora com meu pai, mas como ele não tinha tempo, me apresentou ao filho de um conde. Meu novo amigo agora era o Guto. Guto disse que eu era uma pessoa solitária, e como o seu pai era dono de uma fazenda, ele me presenteou com alguns animais, dentre eles, o que eu mais gostava era o cavalo marrom-avermelhado que eu ganhara."

"Juntos, nós íamos cavalgar pela floresta todos os dias e sempre nos encontrávamos com eles. Isso me doía bastante. Ver que eles estavam mais felizes sem mim. Quando eu neguei ir cavalgar com o Guto, outro desastre aconteceu. Quando ele estava voltando para casa, uma avalanche de pedras vinham na sua direção e o soterrou. Aquilo foi outro choque e, novamente, eu estava sozinha no meu mundo."

"Os negócios do papai estavam indo bem, então, para que eu não ficasse sozinha, ele passava mais tempo em casa, me consolando, enquanto eu lhe contava minhas angústias e lamentava minhas perdas."

"Todo dia, eles iam me visitar. Esfregar na minha cara que eu não era mais precisa, enquanto a Rika dizia que era melhor comigo. Três dias após a morte do Guto, mais tragédias aconteceram. Meu pai havia saído para uma convenção e levado um tiro que o matou instantaneamente. E, novamente eu estava só. Não aguentava mais. Então a Shii, minha empregada particular, ficava me consolando. Era foi a única que me sobrou."

"Eu estava aos poucos enlouquecendo. Ficava me torturando pela morte das pessoas que me eram especiais. Embora negasse, eu queria que meus amigos viessem me ajudar, dizendo que o que eles fizeram era apenas brincadeira e que tudo voltasse a ser como era antes. Mas não. Eles ficavam brincando perto da janela do meu quarto, enquanto eu ficava chorando pela felicidade deles."

"Meu coração doía intensamente. Eu não conseguia parar aquela dor, então me torturava fisicamente. Trancava-me no quarto, na companhia de uma tesoura e me cortava, na expectativa de que a dor física ultrapassasse a psicológica. Até o dia que fui hospitalizada com ferimentos graves. Então a Shii faleceu. E desta vez, era somente eu. Até os animais já haviam partido."

"Já não me importava mais com a morte. Consegui fugir dela inúmeras vezes. Uma voz ficava dizendo que não importava quantas vezes eu me matasse, antes tinha que perdoá-los. Mas perdoá-los de que? Eu já os perdoava, sempre. A culpa não era deles, era da Rika. Quando eles foram me visitar no hospital, eu não consegui dizer uma única palavra,apenas chorei. Desejando nunca ter existido. Rika queria que eu morresse, e eu também queria isso, era a única coisa que tínhamos em comum. Mas não conseguia. Será que meus amigos ficariam tristes com a minha morte? Que tola indagação. Claro que não, a Rika já preenchia o meu lugar."

"Anos depois, nada mudou. Eu havia recebido alta e voltado para casa. Mas não tinha ninguém me esperando. Eu estava sozinha. Tentando encontrar a morte. Agora, eu usava como consolo o perdão que eu queria pedir aos meus amigos, a raiva da Rika e o desejo de que os dias voltassem a ser como antes. Eu prometi a mim mesma de que não iria mudar. Iria esperar até o dia que eles voltassem. E iríamos brincar na floresta de novo, como antigamente, sem a Rika."

Após revelar algumas de suas angustias, a garota percebeu que os rapazes estavam a escutando, então resolveu por um fim naquilo tudo. Passou correndo pelos garotos e eles a seguiram para o ultimo andar da casa. Ela se aproximou da grade de proteção e virou-se para os rapazes que a seguiam. Eles apontavam a suas armas para ela e perguntavam sobre a Rika, mas suas mãos tremiam após ouvir aquela história e percebido o quão injusto eles tinham sido e o quanto a Rika havia manipulado suas ações e os seus corações.

Lágrimas caiam dos olhos da garota, ela estava ajoelhada no chão, mirando-os. Ela pediu desculpas, uma, duas, três, várias vezes. E ficou ali chorando como uma criancinha. Zesh e Luka se entreolharam e ficaram se perguntando o que estava acontecendo. A amiga deles não havia mudado nada, só crescido. Aquilo os fazia lembrar-se do quão feliz eles eram.

– Será que poderiam me perdoar? Por eu não ter conseguido ser uma boa amiga?

Eles ficaram sem reação. Por que era ela que estava se desculpando? Foram eles que a incriminaram e a abandonaram quando ela estava passando por inúmeras dificuldades. Eles é quem deveriam estar buscando o perdão dela.

– Você não precisa de perdão. - um deles disse.

– Nós é que devemos pedir desculpas... Por aquilo tudo... - completou o outro.

Ela sacudiu a cabeça negativamente.

– Não... Eu já os perdoei. Eu sempre os perdoei. Vocês são meus amigos, a minha família. O que restou dos tempos antigos. E vocês estão aqui. Comigo. Estamos todos juntos novamente não estamos?

– Sim. Dessa vez será só nos três.

– Não... Dessa vez, será só vocês dois. Eu não posso continuar aqui. Não assim. Não consigo. Já tive o bastante.

Mais lágrimas escorreram pelos seus olhos.

Ela me disse... Que eu já deveria estar morta, que a Rika havia me matado, de um jeito silencioso e cruel. Mas que a minha força de vontade e a minha determinação por vê-los como eram antes... Mantiveram-me aqui. Foi por isso que mesmo eu tentando me matar dia após dia, nada aconteceu. Mas agora eu já posso ir. Fico feliz que tenham me perdoado.

Ela sorriu e jogou-se da grade. No telhado onde ela cairia, havia um metal pontiagudo que, com o impacto, perfurou o seu coração e seu corpo se transformou em um pó dourado brilhante.

– Adeus... Os dias felizes... os tristes... me prometam que vão lembrar de tudo. - disse o pó dourado, que foi levado com o vento.

Os dois rapazes ficaram gritando e choraram pela morte da amiga. Mas nada havia a ser feito. O passado não pode ser mudado, muito menos o presente, a única coisa que mudaria seria o futuro deles. A única coisa que sobrara dela fora a triste história que ela havia gravado. E eles queriam que aquilo se tornasse um "para sempre", assim como ela dizia que era a sua amizade. Então, eles transformaram aquela história em um livro, que fez bastante sucesso, por sinal. Emocionando todos os públicos. E com isso, eles conseguiram "imortalizar" aquela amizade épica.

Uma história verídica cheia de magia e amizade. Assim como ela queria. "E o que aconteceu com a Rika?", perguntam. Imaginem. Pois é assim que conseguimos criar as mais belas histórias. Misture realidade e fantasia e crie mundos só seu. E lembre-se, nunca abandone seus amigos.


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Notas finais do capítulo

Oi! O que acharam? Comentem vai! Sinceramente, acho que não irá fazer muito sucesso, mas foi baseado no meu sonho! Fazer o que né -.-'



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