Prólogo

‘’Esta floresta, agora tão pacifica, deve ter estremecido outrora com os gritos da morte’’, pensei. E a imagem era tão convincente que até hoje penso ouvir os gritos.

Robert L. Stevenson, A ilha dos tesouros.

Eu lembro que, quando eu era bem pequena e tinha um pesadelo, minha mãe vinha ao meu quarto e se ajoelhava na altura de minha cabeça, e começava a sussurrar uma de suas várias histórias.

A minha preferida era a da princesa. Mas não era uma simples princesa que havia sido salva pelo Principe Encantado, e sim a princesa que havia enfrentado dragões, trolls, ogros, e tantos outros monstros que eu até perdia a conta. Ela participava de aventuras e mais aventuras, salvava todos do grande perigo e no final, sempre acabava sendo adorava pelo publico, não pelo titulo real, mas sim pela sua bravura.

Minha mãe disse que o propósito, ou até mesmo a moral dessa história, era mostrar que nem todas as princesas precisavam ser delicadas e indefesas, que elas poderiam ser corajosas, que enfrentam o perigo extremo e que no final de tudo acabam sendo aquela que salva a todos e ao reino.

Aquilo não me acalmava, me motivava a enfrentar todos os medos e os perigos do meu sonho, esquecer o quanto delicada eu poderia ser e virar uma guerreira, virar uma heroína. Deitar novamente minha cabeça no travesseiro, fechar meus olhos e esperar ansiosamente para que aquele sonho voltasse para que eu enfrentasse todos os demônios dentro dele com vigor, e vencer cada um deles, um por vez.

Agora, eu tenho que enfrentar o mundo real, enfrentar os demônios eu me perseguem e que andam pela terra e entre os mundos dia por dia. Tive que esquecer tudo o que poderia ser considerado uma fraqueza para mim, para que não houvesse uma forma de me derrotarem. Tive que guardar qualquer memória, qualquer vestígio de uma vida passada boa e feliz em um secreto e inquebrável cofre. Aquilo deixava um vazio em meu peito, e em minha mente. Trazia uma certa solidão e pesar com tudo aquilo fora de mim, mas era preciso, já que, agora, tudo o que tenho que fazer é me preparar para a guerra.

Uma guerra que já pode ser vista no horizonte, vindo com toda a sua força e destruição. É uma guerra que pode decidir o futuro de todos. Porém, além desta guerra, tenho que proteger algo que pode destruir e acabar com tudo, que pode, e é, a esperança de que tudo acabe. Uma simples e indefesa criança.

Mas tenho a sensação de que há algo mais, algo que vai abalar todo o muro que eu tanto demorei para construir em volta de mim, e que vai testar tudo o que eu já vi.

Tenho medo disto, de que me impeça de fazer aquilo de que preciso, de que o mundo inteiro precise. Mas eu tenho que ser mais do que a princesa sem medos, tenho que virar o monstro sem sentimentos ou fraquezas, e que irá vencer todo e qualquer que tente acabar com tudo.

E, bom, nesta minha história, não são os monstros que são os inimigos aqui, e sim os mocinhos, ou até mesmo aqueles chamados de Anjos.