Primeiro ano escrita por Lyttaly


Capítulo 14
A praça


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas o/
Dessa vez não demorei neh ^^
Amei escrever esse capítulo e espero que gostem. Boa leitura!



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Eu estava ansioso, com medo. Tinha feito algo impensado, mais uma vez, e como ela reagiria me apavorava. Queria que ela me correspondesse e decidi que, se não fosse o caso a conquistaria. Não sabia como, mas o faria.

Estava tão perdido em meus pensamentos que, quando percebi, já estava na frende da casa dela. Foi quando meu coração acelerou e eu perdi o ar. Desejei não ter saído tão cedo. Não sei quanto tempo fiquei parado ali até que a senhora Linz me chamou. Caminhei até a porta com dificuldade, me lembrando de que fiz esse mesmo caminho para beijá-la.

– Entre, Diego – a senhora Linz me convidou sorrindo.

– Bom dia – tentei sorrir também.

– A Karol está no quarto dela. Eu vou avisar que você está aqui. Mas antes, posso te fazer uma pergunta?

– Claro.

– Me responda sinceramente, ok? – assenti – Aconteceu alguma coisa ontem?

– N-não. Por quê?

– Porque você foi embora mais cedo ontem e hoje a Karol levantou falando que estava faminta, mas não comeu direito e voltou para o quarto. Ela também estava com uma olheira enorme, como se não tivesse dormido nada à noite. Além disso, ela estava totalmente alheia ao que eu falava, mas quando eu disse que você viria mais cedo hoje, ela engasgou com um pedaço de pão. Deduzi que algo aconteceu e que você tem a ver com isso.

“Legal. Agora sei de quem a Karolina herdou sua capacidade de dedução” – Não foi nada. Ela deve estar preocupada com a escola, só isso – tentei disfarçar.

– Deve ser isso. Eu vou avisar que você chegou. Fica à vontade.

– Obrigado – ela subiu e voltou alguns minutos depois de uniforme e bolsa.

– Eu vou sair mais cedo aproveitando que você já está aqui. Tenho algumas coisas pra fazer. A Karol disse que já vai descer ok? – ela andou em direção à porta e eu a acompanhei – Mais uma vez obrigada por tudo Diego – ela sorriu.

– Não foi nada – sorri. Ela abriu a porta, parou, se virou para mim e disse:

– Vocês dois mentem muito mal – sorriu e saiu.

Achei graça da situação. Fui para a sala de estar esperar. Esperei o que me pareceu uma eternidade. Minha ansiedade estava cada vez maior o que me fez ficar andando de um lado para o outro. Percebia o quanto eu estava ridículo agindo assim, daí sentava no sofá só para segundos depois levantar e conferir se ela estava descendo. Cheguei a pensar que ela não queria me ver, que não ia mais descer. Fiquei feliz de estar enganado quando ouvi seus passos na escada. Sentei no sofá para não parecer tão ansioso, mas do sofá eu não podia ver as escadas o que me deixou mais ansioso. O barulho dos passos parou por alguns segundos. Talvez ela estivesse cogitando voltar para o quarto e não me ver. Voltei a ouvir seus passos.

“Quantos malditos degraus tem essa escada?” – pensava sentindo as mãos suar quando finalmente ela apareceu no meu campo de visão. Ela usava um vestido azul marinho de saia rodada e tecido leve. Tinha um arco alaranjado no cabelo, deixando seu rosto à mostra. Procurei em seu olhar algum sinal de raiva, mas não achei. Nos olhamos por um tempo, até que ela desviou o olhar, vermelha.

– O-oi – eu disse.

– Oi – ela olhava para o chão.

– Você está bem?

– Sim.

– Dormiu bem?

– Sim.

– Ainda tem sua memória?

– Sim.

– Monossilábica? – sorri.

– Sim – ela sorriu.

– Você só vai falar sim?

– Hã... sim.

– Quer começar as atividades?

– Sim.

– Gostou do beijo? – “Droga! Perguntei sem pensar!” Meu coração acelerou e parei de respirar por um instante. Ela hesitou. Mordeu o lábio inferior e seu rosto ficou mais vermelho que antes. Me olhou por um instante e desviou o olhar. Pensei em mudar de assunto, mas não falei nada. Eu queria saber a resposta.

– Eu... nunca... havia beijado – desconversou. Ela mordia tão forte o lábio inferior que eu achei que iria se ferir.

– Mas... gostou? – insisti.

– S-sim – sorri.

– Legal – foi o que consegui dizer. Ela estava tão vermelha que poderia passar mal e tenho certeza que eu também estava. Um silêncio constrangedor surgiu, até que me dei conta do quão engraçado deveria ser essa cena se não tivesse acontecido comigo. É o tipo de coisa que quando você lê em um livro ou vê em um filme, fica com um sorriso bobo no rosto, que só percebe que está ali quando a cena acaba. Mas é muito estranho viver isso na própria pele. Parece surreal.

– Vou... pegar meus cadernos – ela quebrou o silêncio voltando para o quarto correndo.

Percebi que minha garganta estava seca, então peguei minha garrafa de água dentro da mochila, tomei um pouco, peguei as folhas com as atividades que os professores tinham passado para ela e coloquei em cima da mesinha de centro. Sentei no sofá e relaxei. Estava muito tenso até agora. Algum tempo depois escutei seus passos hesitantes na escada. Ela chegou de cabeça baixa, colocou os cadernos em cima da mesinha e sentou-se ao meu lado, deixando um espaço considerável entre nós. Devia estar com medo que eu a tocasse. Me limitei a explicar mecanicamente a matéria. Duas horas depois tínhamos terminado e eu estava faminto.

– Estou com fome... – eu disse e ela olhou para o relógio de parede da sala.

– Já está na hora do almoço – ela disse apontando o relógio.

– Tem razão.

– Vou esquentar a comida então. Você trouxe sua marmita hoje?

– Sim, claro – procurei a marmita na mochila – Não estou achando... Não está aqui... Será que?

– O que?

– Todo dia eu chego à escola e deixo a marmita na geladeira da cozinha. Estou achando que deixei lá – eu estava tão fora de mim hoje que esqueci.

– Não tem problema. Tem comida pronta suficiente para nós dois. Vou esquentar – ela foi para a cozinha e eu a segui me sentando à mesa, de onde podia ve-la andando de um lado para o outro, abrindo a geladeira e os armários.

– Onde estão os pratos – perguntei – Vou preparar a mesa.

– Estão naquele armário e os talheres estão ali – respondeu apontando. Assim que terminei de arrumar a mesa ela trouxe as panelas e nos servimos. Comemos em silêncio. Terminamos de comer, tiramos a mesa e voltamos para a sala.

– “Tão estranho que chega a ser cômico” – citei suas palavras sorrindo.

– Exatamente – ela sorriu também. Ficamos algum tempo vendo televisão. Não tinha nada de interessante passando, mas nos poupava de uma conversa mais profunda.

–Qual foi a última vez que você caminhou? – perguntei quando já estava cansado demais da televisão.

– Não sei. Pra mim parece que não faz muito tempo, mas deve fazer pelo menos um mês, pelas minhas contas.

– Então que tal caminharmos um pouco?

– Hum... ok. Só vou calçar algo confortável e já volto.

– Tá.

Ela voltou algum tempo depois com uma sapatilha dourada e saímos. O dia estava lindo, o céu estava claro quase sem nuvens e a temperatura agradável. Caminhamos um pouco em silêncio, até que eu a vi colocar as costas da mão na testa.

– Tudo bem?

– Acho que minha pressão está um pouco baixa.

– Entendi. Tem uma praça ali. Deve ter um lugar para sentar. Vamos lá?

– Vamos.

Chegamos à praça onde tinha um bando em que ela sentou e fechou os olhos.

– Tudo bem?

– Sim. Acho que ficar tanto tempo dentro de casa não faz bem para o corpo.

– Com certeza não. Descansa um pouco e voltamos para sua casa.

Enquanto esperava ela se recuperar, reparei na praça. Tinha árvores por todo o lugar, brinquedos para as crianças, tudo era gramado. Uma árvore fazia sombra no banco onde estávamos. Era um lugar lindo e estranhamente familiar.

– Linda – eu disse para mim mesmo.

– O quê?

– A praça. É linda – ela olhou em volta.

– É sim. É meu lugar preferido da cidade. Sempre vinha aqui quando precisava caminhar ou... chorar.

– Chorar? Por quê?

– Porque à vezes a vida nos obriga – ela respondeu olhando para o céu.

– O que, aconteceu com você, afinal? – ela hesitou e olhou para os pés – Se não quiser contar...

– Não – ela me cortou – eu conto. É só que é difícil falar. Nunca contei pra ninguém isso.

– Entendo – ela começou a falar encarando o chão.

– Quando eu tinha 6 anos, dois ladrões entraram em nossa casa. Minha mãe diz que eles entraram na casa errada. Eles ficavam pedindo que meu pai entregasse a grana... ficavam repedindo isso. Um dos ladrões apontava a arma para a cabeça da minha mãe e... o outro, para a cabeça do meu pai. Meu pai dizia que não tinha nada – sua voz ficou embargada – Ele me olhava com medo nos olhos, mas disse: “Vai ficar tudo bem”. Assim que ele falou escutei um barulho muito alto... um tiro – ela começou a chorar, mas continuou falando – Os ladrões... fugiram. Me lembro da minha mãe chorando... sobre o corpo do meu pai... dizendo que ele tinha prometido lhe dar um presente... no dia seguinte seria aniversario de casamento deles... eu sequei as lágrimas e disse pra minha mãe: “O papai disse que vai ficar tudo bem”. Mas minha mãe não parou de chorar. Nunca a vi chorar tanto... Desde aquele dia eu faço de tudo para que ela não chore mais – ela secou as lágrimas e olhou para o céu – Depois os paramédicos chegaram e minha casa encheu de pessoas que tentavam confortar minha mãe. Eu estava tão sufocada que saí de casa e corri até essa praça. Fiquei muito tempo aqui, chorando. Até que um menino apareceu – ela sorriu – Ele se aproximou e sentou ao meu lado no banco. Ele perguntou por que eu chorava, mas não respondi. Daí ele falou: “Uma vez meu pai me disse que as nuvens são mágicas!” Eu olhei para ele que apontou para o céu: “Aquela parece um cavalo” - Eu olhei para a nuvem que ele apontava - “Aquela outra parece uma casa. E aquela parece um cachorro fazendo xixi”. Foi a primeira vez que eu sorri naquele dia. Daí eu apontei uma nuvem e disse que ela parecia um sorvete. Sequei as lágrimas e perguntei para o menino: “Quem é você?”. Ele respondeu: “Seu melhor amigo”...

– “Aquele que não quer te ver chorar nunca mais” – completei olhando o céu.


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Notas finais do capítulo

E agora?
Curtam minha pág no face. Vou atualizar vocês por lá! Tem novidades vindo por aí o/
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Se você leu até aqui #obrigada^^



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