Jessi

—JÁ FALEI QUE ESTOU BEM! — Berrei nervosa quando a Sarah entrou no meu quarto e perguntou pela milésima vez se eu estava legal.

Não se pode mais ficar trancada o dia todo dentro do quarto agora que já acham que estou doente ou algo do tipo?

— Nossa, também não precisa gritar, só perguntei.

—Aff Sarah, não enche, não estou com paciência. — Falei voltando a deitar na cama e mexer no celular.

— Tá bom então grossa. — Reclamou ela saindo e fechando a porta.

É quarta feira de noite, eu não sai de casa nesses últimos dias, passei o dia todo enfurnada no quarto jogando um joguinho qualquer que eu baixei no celular e pensando em que presente darei para o meu amigo secreto... é, talvez a Sarah esteja com razão, eu não estou nada bem.

Por que será que uma coisa tão simples pode acabar comigo? Acho que estou com raiva mesmo é de mim, por eu estar me sentindo assim, acho idiota ficar trancada no quarto sem falar com ninguém por causa de uma pessoa, estão por que estou fazendo isso? Argh, que raiva! Eu sou uma completa imbecil, por que fico com mais raiva de mim do que dele? Isso não faz sentido!

Levantei da cama e fui para o banheiro, me olhei no espelho e vi que meu cabelo estava em um estado deplorável, tentei dar uma ajeitada nele, mas ao falhar nessa missão decidi tomar logo um banho, quando acabei percebi que ficar em casa o dia e a noite toda não melhoraria nada a minha situação, então resolvi sair um pouco, coloquei uma jardineira com uma blusinha qualquer e arrumei meu cabelo.

Fui para a escada e desci até a sala onde todos estavam com exceção do Thiago, que provavelmente tinha saído com a Larah ou algo do tipo, Sarah estava esparramada em um sofá com um pacote de bolacha olhando para a TV, Seline estava sentada no braço desse mesmo sofá mexendo no celular, Dani estava em casa também, ele e Jaque estavam sendo Dani e Jaque... Você entendeu, eles estavam Danizando e Jaquelinezando (?).

Terminei de descer as escadas e só ai eles notaram a minha presença, passei direto e fui para a porta.

— O que você está fazendo? — Perguntou Seline enquanto eu procurava a chave do meu carro dentro da bolsa.

— Vou sair, quer vir comigo?

— Opa, é pra já! — Respondeu ela que não negava um passeio — Vou só buscar minha bolsa e já volto.

— Jessi... vê se não vai aprontar nada... — Alertou Sarah enquanto Seline subia as escadas.

— Relaxa Sarah, só vou passear um pouco.

Seline voltou e nos despedimos deles, Dani estava me olhando com um olha que eu não consegui decifrar, parecia receio junto com um pedido silencioso ou algo assim.

Seline e eu entramos no meu carro e fomos para qualquer lugar que seja.

— E ai Seline? Pra onde tu quer ir?

— Achei que você já sabia para onde íamos — Falou ela rindo.

Fiz uma careta tentando pensar em algum lugar.

— Já sei, vamos para uma festa de fim de ano que está rolando aqui perto — Exclamou Seline.

Ela me mostrou o caminho e logo chegamos, era uma rua fechada com varias decorações de natal, musicas, e algumas barracas e coisas do tipo.

— Seline, vê se não exagera na bebida — Falei quando ela começou a beber

— Relaxa na bolacha Jessi.

Resolvi nem perguntar o motivo disso, além do mais, eu estava conversando com uma pessoa que compunha musicas sobre duendes.

— Jessi, porque tu não bebe?

— Tenho que dirigir depois Seline...

— Afe, relaxa Jessi, qualquer coisa eu ligo para a Sarah e ela se vira. — Falou ela me oferecendo uma bebida.

Revirei os olhos, acho que essa Seline não toma jeito.

— Por favor... Não me deixe bêbada sozinha... — Pediu ela com cara de pidona.

— Beleza Seline, mas se algo der errado a culpa é tua. — Falei tomando o copo da mão dela enquanto ela fazia uma expressão vitoriosa.

Ficamos bebendo e curtindo a festa, percebi que ia ter que arranjar um jeito de ir para casa depois que perdi a conta das bebidas que tinha tomado.

— Hey Jessi! Aquele ali não é o teu irmão? — Perguntou Seline já bem “Feliz”.

Olhei e vi o rapaz de 27 anos andando pela festa com sua esposa, fomos até eles.

— Léozinho! — Exclamou Seline

— Oi brother! — Falei e percebi que não estava muito melhor que a Seline em relação a bebida.

— Oi Seline, oi Jéssica... vocês estão bêbadas?

— Estamos só nos divertindo! UHUUUL! — Gritou Seline

— Acho melhor levar elas para casa — Falou minha cunhada enquanto eu pegava mais bebidas.

— Jessi, onde tá o seu carro? — Perguntou meu irmão

— Em algum lugar ai! — Falei um pouco cambaleante

— Haha! Jessi tá mais bêbada que eu! — Seline disse se divertindo com o vento

— Tenho um fraco com bebidas.

— Jessi, me dá a chave do seu carro que eu vou levar vocês duas até a sua casa e amanhã você busca seu carro na minha casa ok? — Perguntou meu irmão

— Onde é a sua casa?

— Jéssica... você sabe onde é a minha casa... — Falou ele incrédulo.

— Ah, é mesmo, eu sei. — Falei rindo junto com Seline do vento.

Meu irmão puxou Seline e eu e conseguiu de alguma maneira achar o carro.

— Uipi! — gritou Seline se jogando no banco de trás, sentei no banco ao lado do meu irmão que foi dirigindo.

— Mas o que deu em você Jessi? Tu não é de beber assim, a Seline eu até entendo, mas não você.

— Calunia! — Grunhiu Seline esparramada no banco de trás

Eu estava quase dormindo sentada.

— É tudo culpa daquele idiota! — Falei com a voz arrastada.

Meu irmão me olhou com cara de desentendido.

— VOU MATAR O SANNA! — Berrei pela janela do carro fazendo meu irmão se encolher no banco de vergonha e Seline gritar “SUPER APOIO!”

De alguma maneira chegamos em casa, Sarah atendeu a porta, Léo explicou um monte de baboseiras e usou meu carro para ir embora pra casa.

— JÉSSICA E SELINE! VOCÊS SÃO IDIOTAS? E SE O LÉOZINHO NÃO ESTIVESSE LÁ? COMO VOCÊS IAM VOLTAR? — Sarah começou a berrar, ignorei ela e fui para meu quarto dormir.

Como eu estava morrendo de sono eu praticamente desmaiei quando deitei na cama.

Acordei com uma baita dor de cabeça, vou matar a desgraçada da Seline!

Levantei, me arrumei e desci as escadas, quando entrei na cozinha vi que todos estavam lá, até mesmo quem não mora na casa, ou seja o Dani.

— Bom dia. — Resmunguei

— Bom dia!

Comecei a tomar café da manhã sem prestar atenção em nada do que eles falavam, depois que terminei de comer virei para o Dani.

— O que tu tá fazendo aqui criatura? — Perguntei para ele. — Veio morar aqui agora? Tem que ter casório antes ouviu?

— Nossa, mantenha a calma, eu só vim ver a minha namorada e trazer os ingressos de vocês para o espetáculo de hoje, lembra? — Falou ele abraçando a Jaque de lado.

Torci o nariz, tinha me esquecido disso.

— Eu agradeço Dani, mas não vou não, pode dar o ingresso para outra pessoa — Eu disse me levantando e saindo da cozinha.

Dani trocou um olhar com a Jaque antes de eu sair, ignorei e fui para o meu quarto, sentei na cadeira da minha escrivaninha e comecei a mexer no celular.

Depois de um tempo alguém bateu na porta do meu quarto, eu murmurei um “entre” e continuei olhando para o celular.

— Err... Oi? — Olhei para porta e vi que era o Dani.

—Oi... o quarto da Jaque não é esse... — Falei brincando

— Eu sei disso — Respondeu com um sorriso travesso.

Dei risada.

— O que tu quer?

Ele suspirou e se sentou na minha cama

— Folgado!

— Você que não oferece assento para as visitas...

— Hm, acho que você venceu... pode ficar sentado ai... diga o que quer.

— Jessi... Eu sei que você está com raiva, mas acho que você devia falar com o Lico...

— Dani, se ele te mandou vir aqui para falar isso pode ir vazando!

— Não! Ele nem sabe que eu estou aqui, Jessi, o Lico está muito mal, ele não consegue se perdoar pelo que fez, na turnê que fizemos esse fim de semana ele não estava o mesmo, mas não é só por causa do trabalho que eu estou falando, o Lico é meu amigo Jessi, eu e o Andy percebemos o quanto ele não está legal, ele não está sendo mais o mesmo Elidio que eu conheço Jessi, ele fez coisa errada, mas eu tenho certeza que não foi de propósito, tudo bem se você não quiser perdoar ele, só peço que você fale com ele, não precisa voltar a ser como antes, só... fala com ele... eu só... Eu só quero meu amigo de volta Jessi. — Olhei no fundo dos olhos do Dani e vi que ele estava me suplicando.

Respirei fundo.

— Dani... Eu... Eu não sei o que fazer, essa é a verdade, acho que no fundo estou com mais raiva de mim mesma do que dele, acho que... acho que eu não cheguei a culpar ele... eu simplesmente não consigo. — Falei afundando meu rosto nas mãos.

— Jessi, eu entendo o que você está passando, acho que o melhor que você pode fazer é falar com ele, só depois disso você pode tomar decisões. — Disse ele dando tapinhas desajeitados nas minhas costas.

— Tudo bem Dan... Eu vou falar com ele, mas depois.

—A Jaque perguntou se você não vai mesmo no espetáculo hoje.

— Não Dani, desculpa, não é fazendo desfeita, mas eu acho melhor não.

— Você não precisa falar com ele hoje Jessi, vamos lá! A Jaque vai, vai ser legal... quer dizer... eu acho, não sei... é improviso sabe? — Falou ele torcendo o nariz.

Dei risada.

— Tudo bem então, eu vou, mas não quero falar com ele hoje.

— Ok capitã, tomarei providencias. — Disse Dani batendo continência e saindo do quarto.

Fiquei mais um tempo no quarto e quando desci vi que o Dani já tinha ido embora.

— O Dani disse que te convenceu a ir no espetáculo hoje. — Comentou Jaque quando eu sentei ao lado dela no sofá.

— É.

E essa foi a nossa conversa emocionante. Ficamos o resto da tarde assistindo televisão e quando estava ficando tarde nós duas fomos nos arrumar para ir pro Tuca.

Como eu ainda não tinha buscado meu carro nós fomos no da Jaque.

— Você vai falar com ele?

— Hoje não.

— Se ele insistir em falar com você pode me avisar, minha mão está enfaixada mas eu ainda consigo socar muitas caras. —Exclamou ela.

Dei risada enquanto ela socava o ar. Chegamos no teatro e logo entramos.

O espetáculo foi muito bom, realmente, Dani estava certo, o Elidio estava de certa forma diferente, não parecia estar dando muito de si no espetáculo, que mesmo assim foi ótimo.

Ficamos esperando o povo tirar foto por que Jaque queria se despedir do Dani.

—Gostou amor? — Perguntou Dani para Jaque quando eles acabaram a seção de fotos.

— Adorei!

Eu estava olhando ao redor do Tuca tentando disfarçar meu desconforto, pois o Elidio estava no canto me olhando desde que eu tinha entrado, isso não era nem um pouco legal, você está ignorando a pessoa e ela fica te encarando. Peguei meu celular para continuar disfarçando e pelo jeito ele percebeu porque olhou para baixo e suspirou cansado.

— Já temo que ir embora Jaque — Falei guardando meu celular, vi que o Elidio voltou a me fitar um pouco mais disfarçadamente.

— Vocês estão de carro ou querem que eu levo? — Dani perguntou para mim e para Jaque.

— Tudo bem Dan, estou com o meu carro. — Respondeu Jaque.

— Acho melhor irmos. — Chamei Jaque olhando para o meu relógio.

— Vamos, Tchau gente!

Jaque e eu saímos do teatro em silencio e entramos no carro.

— Estranho, pensei que ele ia tentar falar com você... — Falou Jaque no meio do caminho.

Dei de ombros e comecei a fitar a janela do carro.

Chegamos em casa e eu fui direto para meu quarto, coloquei meu pijama e fui para a sala de estar pois estava sem sono. Liguei a TV e fiquei assistindo qualquer coisa até pegar no sono.