Jessi

BÉÉÉÉ! BÉÉÉÉ! BÉÉÉÉ! Maldito despertador! Estiquei meu braço e peguei meu celular para desligar o alarme, depois disso me virei para o outro lado e tentei dormir novamente, mas falhei nessa missão. Então como já estava acordada eu levantei.

Me arrumei e sai do quarto, estranhamente a casa estava em completo silencio, abri a porta do quarto da Jaque e vi que estava vazio, fiz o mesmo com os quartos dos três patetas e eles se encontravam no mesmo estado.

— Que espécie de amigos são esses que abandonam a pobre amiga que não sabe cozinhar sozinha? — Perguntei para mim mesma enquanto descia as escadas, ninguém respondeu, felizmente.

Entrei na cozinha e tinha três bilhetes na geladeira, revirei os olhos com isso.

“Jessi, Jaque, Sarah e Thiago minha maninha me convidou para passar o dia com ela, não morram de saudades.

Beijos da Exclusiva mais diva, Seline.”

Dei um sorriso de lado ao ler o bilhete da Seline, ela realmente é um tanto convencida, amassei o papel e fui ler outro que tinha a letra da Sarah.

“Jaque e Jessi, a nossa produtora, Vi, ligou para casa e pediu para eu ir com ela fazer alguns acordos com uns teatros, e como eu tenho um “probleminha” ocular pedi para o Thiago (Lê-se: Escravo) me levar até lá, mais tarde eu volto.

OBS: Jessi não irrite a Jaque, Jaque não tente matar a Jessi e não destruam a casa, por favor.

Beijinhos da Sarah... e do coiso, vulgo Thiago”

Revirei os olhos, mas dei risada, realmente é legal irritar o Thiago, peguei o próximo bilhete já sabendo de quem era.

“Jessi, realmente os três patetas são muito bregas por deixarem bilhetes logo na geladeira, até por que a cozinha é um lugar que você prefere manter distancia não é? Ok parei, você provavelmente já percebeu que eu não estou em casa, não te interessa o motivo. Brincadeirinha de novo! Só tenta não explodir a cozinha tentando fazer alguma coisa.

OBS: Fica em casa para abrir a porta quando chegarmos, vou deixar a chave com você e a Seline levou a reserva.

Bjs da Jaque”

— Há Há! Muito engraçado Jaqueline! — Falei com ironia mesmo que ela não pudesse ouvir.

Voltei para a sala e me joguei no sofá, realmente não tinha nada para fazer, eu devia ter acordado antes da Jaque e saído de casa a tempo. Bufei e peguei o controle para ligar a televisão, não estava passando nada de interessante.

Levantei, fui para meu quarto, abri meu guarda roupa, sem estar realmente procurando algo, abri o quarto dos outros, abri todas as janelas da casa, desci as escadas, fui para a cozinha, abri e fechei todos os armários, abri e fechei a geladeira umas 7 vezes, subi no andar de cima de novo, fechei todas as janelas e as portas dos quartos, desci novamente e quando olhei no relógio tinham se passado apenas meia hora.

Peguei meu celular bufando e liguei para a Seline.

— Alô?

— Oi, Seline.

— O que você quer Jessi? — Perguntou em um tom monótono

— Por que vocês me deixaram sozinha em casa? Você sabe que quando eu estou sozinha no tédio eu fico um pouco hiperativa...

—Jéssica, você não deixou a janela do meu quarto aberta por um tempo de novo não é? Da ultima vez entraram um monte de pernilongos!!

— Err... Não...Claro que não — Menti com um sorriso amarelo

— Bom mesmo, vai encher o saco dos outros. — Dizendo isso desligou na minha cara

Bufei com raiva e liguei para a Jaque.

— Tava demorando... — Disse ela logo que atendeu

— Jaqueline Nascimento! Por que me abandonou aqui em casa?! — Falei nervosa

— Olha, vou ignorar o “Nascimento”, mas eu estava afim de sair, daqui a pouco eu volto, vai arranjar o que fazer.

Adivinha o que ela fez depois de falar isso? Se você pensou, “Foi mal educada e desligou na sua face”, é, você acertou.

Depois disso eu fui ver se tinha alguma coisa para eu comer, BINGO! Não tinha, nada, e meu estoque de miojo tinha acabado!

— Ai Meus Deus! Eu vou morrer de fome! Para minha irmã eu deixo meus livros, para meu irmão meu computador, para meus pais todo o resto e para os meu amigos ingratos que me abandonaram eu deixo o eterno remorso! — Declarei me esparramando no chão da cozinha.

— Espera um pouco! — Exclamei me levantando depois de um tempo — Eu não sou obrigada a ficar aqui! Problema é deles se a casa vai estar trancada quando eles chegarem.

Dei de ombros, peguei minha bolsa, a chave e meu casaco para sair de casa, cogitei em pegar meu carro mas decidi ir a pé aonde quer que eu fosse. Fiquei caminhando por um bom tempo, sem pensar em nada especifico, e sem ter algum rumo para seguir.

Até que um carro buzinou, olhei para trás e vi que não era nenhum carro que eu conhecia, então não me importei, provavelmente não era comigo. O carro buzinou novamente e eu ignorei, mas na terceira vez ele já estava praticamente do meu lado, a pessoa abriu a janela e eu logo pude ver que quem dirigia era o Andy, e a Cecilia estava a seu lado.

—Jessi! O que está fazendo? — Perguntou ela

— Andando, vou procurar algum lugar para almoçar já que meus amigos são uns monstros e não se importam comigo.

— Então tá, não quer ir almoçar com a gente? — Perguntou Andy como se o fato de meus amigos serem monstros cruéis fosse normal.

— Não obrigada, não quero atrapalhar...

— Que isso, a gente tá indo almoçar na casa do Lico! — Falou Ceci

— É, acho que ele vai gostar da visita, entra logo! — Disse Andy com um sorriso travesso no rosto que fez com que eu revirasse os olhos.

—Tá bom, tá bom, mas que fique claro que eu só vou porque estou com fome! — Declarei entrando no carro

— Claro... — Afirmou o Barbixa com ironia

— Cala a boca!

O caminho foi tranquilo, ficamos escutando musica no radio e cantando feito uns retardados até que o Andy estacionou em frente a uma casa. Descemos do carro e Ceci tocou a campainha.

— Oi! Que bom que chegaram Andy e Ceci..... e Jessi?? — Exclamou Lico ao abrir a porta e me ver — O que você ta fazendo aqui?

— Bom dia para você também querido! — Falei com ironia e indo abraçar ele

— Jessi, eu sei que você me ama, mas não precisava ligar para o Andy te trazer até mim. — Zombou ele

— Saiba que eu só vim pela comida!

— Mentira, ela estava implorando para te ver Lico — Mentiu Andy

Ceci e Lico riram da careta que eu fiz e eu mostrei a língua para eles.

— Vamos logo almoçar povo!

Fomos para a cozinha do Lico, a casa dele realmente era muito bonita, e organizada.

— Então, quando você e o Lico se casarem, vão morar aqui ou vão comprar uma casa nova? — Perguntou Ceci com um sorriso maldoso.

Esses dois tiraram o dia para zombar de mim não é? Agora sei como a Jaque se sente, acho que vou parar de fazer isso com ela... Mentira, não vou não.

— Ah, sei lá, a gente ainda está pensando né amor? — Anunciou Lico entrando na brincadeira

— HÁ HÁ! EU SABIA! — Acusou Andy zoando também

Nesse momento meu rosto estava pegando fogo de tanta vergonha que eu estava sentindo.

— Vocês são idiotas. — Murmurei ainda envergonhada

— Fica com vergonha não — Disse Lico rindo e vindo me abraçar com força como se isso fosse fazer minha vergonha ir embora.

— OWNT! Ai meu Deus que coisas fofas! — Gritou Ceci apertando as bochechas minhas e do Lico.

Isso só fez com que eu ficasse mais corada ainda

— Ok, agora vamos parar com o bullying e vamos almoçar! —Falou Andy rindo

Nos sentamos a mesa e começamos a comer, não posso negar, o Lico cozinha muito bem.

— Você tem um espetáculo de improviso também né Jessi? — Perguntou Ceci enquanto almoçávamos.

Balancei a cabeça de forma afirmativa e completei:

— Estamos apresentando de 15 em 15 dias.

— Que legal! — Comentou Andy — Vocês tem outro espetáculo?

— Atualmente não, mas eu estava pensando em propor para os outros outro espetáculo de improviso, só que em vez de jogos outro modo de improvisar. — Contei

— Opa! Se precisar de alguma coisa pode contar comigo! — Anunciou Lico

Continuamos conversando sobre espetáculos por um tempo, depois que acabamos com a comida do Lico fomos para a sala.

— Então você começou o teatro com 13 anos? — Perguntou Andy

— Sim! Eu fazia o curso na escola, desde essa época eu já queria fazer Artes Cênicas.

— Sério? Eu também fiz Artes Cênicas na USP! —Exclamou Ceci

E assim o tempo passou mais um pouco.

— Meu Deus! Olha a hora! — Andy disse olhando para o relógio, já eram 15hrs, levando em conta que tínhamos chegado umas 11h45...

— Temos que ir! Jessi, quer que levamos você para sua casa? — Perguntou Ceci puxando o Andy para a porta apressada.

Não tive nem tempo de responder porque Lico me cortou:

— Não, podem ir que eu levo ela depois.

Andy arqueou as sobrancelhas e Ceci riu ainda puxando ele para fora.

— Seu idiota! — Gritei jogando uma almofada no Lico — Eu podia ter aproveitado a carona!

— Ai! Depois eu te levo ué!

— Tudo bem então, se a Jaque brigar comigo porque eu deixei eles para fora de casa por muito tempo eu vou falar que a culpa é sua!

— Como assim? — Perguntou ele confuso

— Era para eu ter ficado em casa, mas eu resolvi sair e trouxe a chave, a reserva está com a Seline e ela não vai chegar tão cedo — Expliquei sorrindo maligna

— Você é mal. — Acusou Lico

Dei de ombros rindo.

— Vamos para a cozinha, vou lavar a louça — Eu falei me levantando

— O que? Não! Você não vai fazer nada, depois eu lavo!

—Por favor! É o mínimo que eu posso fazer... — Eu pedi

— Tudo bem, mas então nós vamos lavar juntos ok? — Perguntou ele suspirando.

— Ta bom então

Fomos para a cozinha e começamos a levar e secar os pratos, parecíamos duas criancinhas espirrando água um no outro.

— Você realmente ficou envergonhada aquela hora? — Perguntou em meio a brincadeira

— Talvez um pouco, por que? — Perguntei secando um copo

— Você fica engraçada quando está com vergonha — Falou Lico rindo

Mostrei a língua para ele que disse:

— Isso porque você é cara de pau, imagina se fosse tímida!

— Na verdade eu sou um tanto tímida sim! – Exclamei sorrindo de lado enquanto ele arqueava a sobrancelha — Ok, talvez nem tanto! Mas eu sou um pouco!

Ele riu e espirrou agua em mim.

— Idiota! — Gritei indo para perto dele planejando revidar.

Meu plano falhou, Lico me segurou antes que eu pudesse jogar água. Ele ficou me encarando, se aproximou e me beijou. Quando nos separamos eu arqueei as sobrancelhas e ele deu uma risada sem graça.

Voltamos a lavar a louça em silencio, não um silencio constrangedor, um silencio legal e confortável, que só foi quebrado quando eu deixei um prato escorregar.

— Ai! Desculpa Lico! Escorregou! — Exclamei

— O que? Jessi! O prato cortou o seu pé e você está preocupada com isso? — Gritou ele olhando para meu pé, só nesse momento eu percebi que um caco de vidro tinha feito um corte nele.

— Jessi, vou te levar para um hospital.

— O QUE? Você está maluco? É só um corte de nada! Isso não é necessário, nem está doendo!

Lico me encarou por alguns segundos

—Ok, talvez esteja doendo um pouquinho, mas não motivo de irmos para o hospital!

— Jessi — Proclamou Lico calmamente — É melhor você ir para ver se não vai inflamar.

— Não!

— Jessi, vamos na farmácia pelo menos! Só para ver se vai ficar tudo bem e fazer um curativo! — Implorou ele

— NÃO! — Gritei cruzando os braços emburrada com a insistência dele

Lico olhou para mim, para o meu pé e no instante seguinte eu estava sendo empurrada (Praticamente carregada) por ele até a saída.

— EU NÃO VOU PARA A FARMACIA! NÃO PRECISA! EU ESTOU BEM! — Eu berrava enquanto Lico abria a porta do carro e fazia eu entrar.

— ELIDIO AUGUSTO SANNA SEU IDIOTA! TE ODEIO! EU NÃO QUERO IR! — Continuei berrando.

Um vizinho de Lico que regava o quintal olhou para mim com espanto, Lico lançou um sorriso amarelo para ele e fez um sinal indicando que eu era louca.

Como já estava dentro do carro do Lico e vi que não ia ter mais jeito eu resolvi agir com imaturidade (Até porque eu já estava agindo muito maduramente até ai), então eu cruzei os braços e fiquei com a cara fechada.

— Jessi, você é meio birrenta às vezes não acha? — Perguntou ele, ignorei e continuei com a cara fechada o fazendo revirar os olhos.

— O que me admira é você fazer mais drama batendo o dedo na quina da cama do que fazendo um corte desse tamanho no pé.

Chegamos em uma farmácia ali perto e eu continuei sem falar com o Lico. O farmacêutico deu uma olhada no corte e disse que não ia inflamar, mas passou uma pomada e enfaixou para parar de sangrar mais rápido.

Lico e eu voltamos para o carro e ele me levou até minha casa, quando estávamos a umas três casas de distancia de lá Lico estacionou o carro e olhou para mim.

—Jessi... Jé... — Olhei de esguelha e vi que ele estava fazendo um bico com uma cara de pidão — Você vai continuar brava comigo?

Olhei para ele e suspirei revirando os olhos.

— Você é um idiota sabia?

— Você já me deu essa informação umas sete vezes só hoje.

Sorri de lado e me aproximei dando um beijo nele. Depois que nos separamos descemos do carro e fomos m direção a minha casa. Quando estávamos perto eu vi três pessoas em frente a porta.

Thiago, socava a porta como se isso fosse faze-la abrir, Jaque berrava para quem quisesse ouvir que ia matar a Jéssica, e Sarah estava de boas sentada no chão e mexendo no celular.

— Lico... — Chamei com medo da Jaque, sério, ela pode ser muito assustadora quando quer.

Continuamos andando até eles, quando Jaque me vi ela me lançou um olhar mortal e eu lancei um sorriso amarelo.

— Oi amigos!! — Exclamei falsamente

— Jéssica. Eu. Vou. Te. Matar. — Falou Jaque pausadamente

Engoli em seco, Jaque avançou para mim e eu corri para trás do Lico.

— SAI DE TRÁS DELE SUA COVARDE! — Berrou ela

Esperai! Covarde não! Eu só sou esperta o bastante para saber quando não devo enfrentar a Jaque.

— Jessi, dá logo a chave. — Disse Sarah com uma voz entediada, joguei a chave para ela.

Thiago abriu a casa e nós entramos com Jaque ainda me lançando um olhar raivoso.

— Por que você não ficou em casa? — Perguntou ela cruzando os braços

— Por que eu não sou escrava de vocês, e não tinha miojo.

— Ah! O Thiago comeu o ultimo! — Acusou Sarah

Olhei brava para ele que se encolheu

— Olha Jaque, se você me perdoar eu te dou uma barra de chocolate.

— Três! — Mandou ela

— Feito!

— Vocês sempre perdoam uns aos outros com tratos desse tipo? — Perguntou Lico

— Quase sempre — Respondeu Sarah dando de ombros

— Então senhorita Jéssica... O que o Elidio está fazendo junto com você?

Contei tudo que tinha acontecido desde que eu li os bilhetes, ocultando apenas os dois beijos. Depois disso começamos a conversar sobre qualquer coisa.

— CHEGUEI FAMILIA! — Berrou Seline entrando e acabando com a “paz” da casa.

— Seline, menos. — Pediu Sarah

— JESSI! O QUE É ISSO NO SEU PÉ?

E lá vai eu contar a história tudo de novo.

— Povo, tenho que ir para casa! Até a próxima! — Lico despediu-se da gente

Depois disso cada um foi para seu quarto se preparar para dormir, afinal, já estava de noite. Deitei na cama suspirando cansada, tinha sido um longo dia. Fechei meus olhos sem saber que iria acordar no meio da noite, com uma criatura chamada Seline berrando comigo e falando que o quarto dela estava infestado de pernilongos.