Estava fazendo a janta. Com “fazendo a janta”, quero dizer colocando a lasanha dentro do micro-ondas e esperando ela ficar pronta. Quando escuto uma musica...

“Never had much faith in love or miracles
Never wanna put my heart on the line.
But swimming in your world is something spiritual
I'm born again every time you spend the night” Procurei meu celular, mas nada dele.

“Cause your sex takes me to paradise
Yeah your sex takes me to paradise
And it shows, yeah, yeah, yeah
Cause you make feel like, I've been locked out of heaven
For too long, for too long
Yeah you make feel like, I've been locked out of heaven
For too long, for too long” O acho perto da minha bolsa. O atendo, dançando.

–Alô? – Falo.

–Alô, Rachel? – Escuto uma doce voz. Soube quem era na hora.

–Quinny! – Sorrio. – Como está?

–Estou bem e você, morena? – Ela solta um rizinho.

–Péssima sem você aqui... E seus beijos. – Falo imaginando beijar aquela loira...

–Posso dizer o mesmo. – Ela fala. – Aqui, amanha você está livre?

Não estava, tinha outro casamento para organizar. Mas vou deixar isso com Santana novamente... Santana! Eu me esqueci completamente de falar com ela.

–Claro, Quinny, amanha eu passo na sua casa às dez horas da manha para resolver sei lá o que tiver que resolver. – Respiro fundo. – Mas no momento tenho que ir, tenho que ligar para Santana.

–Ah, ok então. – Ela riu. – Até amanha.

–Beijos, loira.

–Beijos, morena. – Ela fala e eu desligo o telefone. Dou um sorriso bobo ao me lembrar dos momentos em que ficamos juntas.

A lasanha fica pronta. A coloco em cima da mesa e espero ela esfriar em quanto ligo para Santana.

–Alô, Santana? – Falo.

–Ei, Berry. – Fala a latina.

–San, eu beijei a Quinn. – Falo sorrindo, imaginando beijar novamente aqueles lábios rosados.

–Você O QUE? – Ela falou. – Arruma o quarto de hospedes, eu e Britt estamos indo para ai.

–Mas San... – Falo tarde de mais, ela desligou o celular.

Suspiro e começo a comer minha lasanha. Como metade e guardo o resto na geladeira. Começo a lavar o prato quando escuto o telefone tocar.

–Alô? – Pergunto.

–Olá, Senhorita Berry, é Will. – Fala Will, meu porteiro.

–Oi Will... – Falo.

–A Senhorita Lopez e sua noiva estão aqui em baixo, posso deixar-las entrarem? – Ele pergunta e eu dou risada, imaginando Santana lá em baixo, esperando minha aprovação para ela subir.

–Pode deixar que elas subam Will. – Digo.

–Ok, boa noite, Senhorita Berry. – Diz ele.

–Boa noite, Will. – Falo e desligo o telefone.

Vou até a fruteira e pego uma maça, caminho até a porta, a abro e fico no corredor, encostada na parede, esperando as duas. Quando vejo, o elevador se abre e sai a latina e a loira.

–Rachel! – Fala Britt me dando um abraço.

–Britt! – Falo rindo.

–E ai, Berry. – Diz Santana, entrando em minha casa. – Que roupa é essa?

Olho para mim. Estava de pés descalços e usando somente uma blusa de moletom gigante. Suspiro. Esqueci completamente de trocar de roupa.

–Sinta-se em casa. – Falo rindo, entrando em casa logo atrás da Brittany e fechando a porta.

Santana se senta no sofá ao lado de Britt. Elas ficaram de mãos dadas, me olhando. Eu dei uma mordida na minha maça.

–O que foi? – Pergunto.

–“O que foi?” – Debocha San. – Hobbit, fala logo o que aconteceu entre você e Quinn.

Conto o que aconteceu, detalhe por detalhe. Pulando alguns detalhes sobre meus beijos com a loira. Terminei de contar e dei mais uma mordida na minha maça.

–Que bom que ela lembrou que te ama, Rach! – Exclama Britt. Sorri para ela. Era tão fofo como ela conseguia manter sua inocência neste mundo cruel... E noiva de Santana.

–Então você esta tendo um caso com ela? – Pergunta Santana.

–Digamos que sim...

–Mas espera, ela tem um filho? – A latina arregala os olhos.

–Tem... Por quê? – Pergunto. Mordo novamente a maça.

–Você quer ser mãe de família? – Ela ri. – Imagina, que programa legal, ir a uma festa infantil...

–Santana... – Fala Britt.

–Tomar aqueles refrigerantes quentes em copinhos de plástico... – Ela ri. – E ter que falar para todos da festa, que sim, vocês são lésbicas.

Olho para ela irritada. Termino de comer a maça e jogo o que sobrou no lixo. Vou até a minha cama e deito, sem nem pensar nas duas que estavam na minha sala. Viro de cabeça para cima e começo a fitar o teto. Quando que eu iria imaginar que isso estaria acontecendo? Eu a reencontrei. E pensar que muitos falaram que ela era uma pedófila, ou simplesmente, que não iríamos ter química ao vivo. Ainda me lembro no dia em que começamos a conversar...

Eu estava nos meus quinze anos. Idade terrível. Tempo de descobertas próprias, tempo de desbravar o mundo. Mas o meu mundo foi desbravado por um autor. Autora, sendo mais específica. Holly Holiday, a autora de “Anos Passados” e “A Menina dos Cabelos de Cobre”. Ela fora a primeira autora a ficar mundialmente famosa com livros lésbicos. Livros fantásticos. Quando você os lê, você se transporta para outra dimensão. Lembro que quando acabei os livros fui correndo na internet em busca de um fã clube. Achei um e logo comecei a fazer parte dele. Foi lá que eu a conheci. Começamos a conversar por lá, depois por e-mail e logo aderimos a mensagens no celular.

Ela morava em NY e eu em LA. Nos apaixonamos. Nosso amor foi formado a partir do amor ao livro. Quinn é mais velha do que eu. Três anos mais velha. Ela tinha dezoito, era sem duvidas um desafio. Ela já tinha certeza de sua sexualidade, que eu só fui descobrir com os livros de Holly. Na realidade, sempre soube, mas nunca pensei que isso seria real. Desde pequena amo as mulheres. Sempre as admirei e sempre senti algo a mais por elas. Aos treze anos, eu beijei uma garota.

Ela era uma das minhas melhores amigas. Em uma festa do pijama, estávamos tomando milk-shake. Então aconteceu. Nos beijamos. Achei que era algo insignificante. Como estava engana... Dois anos depois, li os livros de Holly. Eu me identifiquei muito com aquelas palavras. Então eu entendi. Infelizmente, a menina que me concedeu o beijo, virou uma maluca de pedra. Não estou brincando, ela tinha psicopatia. Foi presa, após tentar matar um menino. Admito, estava feliz por ter me livrado dela. Mas sem ela, como ia ter certeza do meu amor por mulheres?

Foram necessários muitas saídas e muitos beijos, para entender que os homens não me atraem. Então quando conheci ela, admito que ainda estivesse nessa faze. Mas me apaixonei perdidamente por uma menina que nunca vi ao vivo. Nós trocamos algumas cartas, telefonemas e fotos.

E pensar que hoje a beijei. E gostei. Na verdade, foi melhor do que eu pensei.

–Eu a beijei. – Falo sozinha. – E eu gostei.

Abro os braços, feliz. Encosto nos meus lábios, ainda podia sentir seu beijo. Ainda podia sentir seu cheiro.

–Eu beijei Quinn Fabray! – Falo rindo. – Eu beijei uma garota!

Dou um grito de felicidade.

–Eu beijei Quinn Fabray, que é uma garota! E eu gostei! – Eu gritei feliz.

–Ok, Berry, pare de gritar! – Fala Santana, entrando no quarto. Até me esqueci de que ela estava lá.

–Eu estou feliz, San. – Falo me sentando.

–Pode estar feliz, mas não precisa gritar a musica da Katy Perry para todos ouvirem. – Ela fala.

–Santana, o que acha de cantarmos um pouquinho...? – Pergunto me levantando.

–Rachel, você está louca... – Ela fala andando até a porta.

Vou correndo até a sala e ligo o rádio, conecto meu iPhone a ele. Coloco a musica, instrumental. Ela começa a tocar...

Santana: This was never the way I planned

Santana canta rindo.

Eu: Not my intention

Canto rindo. Não acredito que estou fazendo isso…

S: I got so brave, drink in hand

R: Lost my discretion

S: It's not what

R: I'm used to

S: Just wanna try you on

Ela rebola na frente da Britt, que ria.

R: I'm curious for you

Nós duas: Caught my attention

Nos olhamos.

ND: I kissed a girl and I liked it

S: the taste of her cherry chapstick

ND: I kissed a girl just to try it

R: I hope my boyfriend don't mind it

ND: It felt so wrong
It felt so right
don’t mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it

Dançamos juntas e Britt pulava e abraçava San.

R: No, I don't even know your name

S: It doesn't matter

R: You're my experimental game

S: Just human nature

R: It's not what good girls do

S: Not how they should behave

R: My head gets so confused

ND: Hard to obey

San e Britt dão um selinho e vem em minha direção...

ND: I kissed a girl and I liked it

Começamos a dançar abraçadas.

S: the taste of her cherry chapstick

ND: I kissed a girl just to try it

R: I hope my boyfriend don't mind it

ND: It felt so wrong
It felt so right
don’t mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it

Ficamos tocando nas pernas e braços umas das outras.

ND: Us girls we are so magical
Soft skin, red lips, so kissable
Hard to resist so touchable
Too good to deny it
Ain't no big deal, it's innocent

ND: I kissed a girl and I liked it

S: the taste of her cherry chapstick

ND: I kissed a girl just to try it

R: I hope my boyfriend don't mind it

ND: It felt so wrong
It felt so right
don’t mean I'm in love tonight
I kissed a girl and I liked it
I liked it

Terminamos de cantar, rindo e se sentando no sofá. Começamos a rir. San e Britt dão um selinho. Depois começam a se beijar de língua. Quando noto, as duas estão se agarrando. Fico olhando para o teto. Depois olho para as duas. Britt está pegando o seio de San por baixo da blusa.

–Ei, meninas... – Falo cutucando as suas.

–O que foi? – Pergunta a latina me olhando, indignada.

–Então, vocês estão na minha casa...

–E daí? – Ela pergunta.

–E daí que não quero que vocês façam sexo na minha casa! – Dou risada.

–Mas nós só estávamos...

–Não, vão embora. – Falo abrindo a porta do meu apartamento.

–Mas está tarde. – Fala Britt.

–Eu pago um taxi para vocês... Ou vocês podem dormir aqui, mas nada de sexo. – Falo fechando a porta.

–Ok, nada de sexo. – Fala Brittany.

–Mas, Britt... – Resmunga a latina.

–Nada de “mas”, San... – Fala Britt. Dou risada.

–Ok, acho que posso ficar sem sexo... – San sorri. – Por hoje.

Dou um sorriso e me lembro que amanha encontrarei o motivo pelo qual eu sorrio tanto. Quinn Fabray, esse é o nome dela.