Entre Gregos e Romanos escrita por Mille


Capítulo 8
Cap. 7




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Não consegui dormir direito, apesar do cansaço e do barulho reconfortante do riozinho que passava ali embaixo da minha janela. Minha mente estava extrema e irritantemente acordada, pensando no que a Thay havia dito sobre a profecia das gêmeas. O que aquilo queria dizer?

Na manhã seguinte, levantei, tomei um banho e finalmente troquei a blusa roxa do Acampamento Júpiter pela laranja do Acampamento Meio-Sangue, sentindo uma leve dor no coração ao fazer isso, mas também um certo alívio, por começar a parecer mais com esses gregos.

No refeitório, em uma mesa que não estava ali na noite anterior, estavam sentadas as caçadoras. Era um grupo pequeno, mas intimidante e chamativo, já que eram as únicas de branco por lá, destoando do laranja vestido por todos os campistas, incluindo eu. Sentei-me na mesa com Mary, que estava com o olhar desfocado, triste, bem diferente do tão alegre de ontem. Que raios estava acontecendo?

Após o café-da-manhã todos saíram pras suas atividades do dia e Mary me entregou um papel, dizendo que eu poderia começar meu treinamento hoje mesmo, se estivesse me sentindo confortável com a situação. Por mim estava tudo certo, então peguei o papelzinho, em que estavam escritos uns horários e grupos a que eu fazia parte.

Minha primeira “aula”/treino era na parede de escalada, com alguns filhos e filhas de Afrodite, que não ficaram reclamando de quebrar a unha, simplesmente foram lá e fizeram o que tinha de ser feito, e os poucos filhos de Zeus, dentre eles, uma garota pouquíssimos centímetros maior que eu, com cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor, uma pele clarinha e cara de simpática, mesmo estando meio isolada de todos os outros. Juntei a pouca cara de pau que eu tinha, andei até a menina e fiquei ali, sentada do seu lado na grama fofinha, esperando minha vez. Ela me olhou como se eu fosse doida e desviou o olhar para as árvores, não sem antes ficar corada.

–Oi – decidi tentar puxar assunto após uns demorados 2 min.

–Oi – a garota falou baixinho, só olhando pra mim por uma fração de segundo.

–Eu sou a Mille – ofereci minha mão, mesmo sendo antiquado.

–Lua – por algum motivo aleatório, ela aceitou o aperto de mão, mas logo voltou à posição inicial.

Aquele foi o nosso superpapo. Não a culpo, porque quando eu era bem mais nova, antes de entrar pra legião, eu era exatamente daquele jeito. Mas graças aos deuses eu consegui vencer essa pequena batalha que acontecia dentro de mim e baixei um pouco (bem pouco) a guarda, somente o suficiente para conseguir conversar com as pessoas que puxavam assunto comigo, ou muito raramente, puxar assunto com pessoas que pareciam legais, como a Lua. Chegou sua vez, ela começou a tremer e foi. Quanto mais perto ela chegava da parede de escalada, mais ela tremia, mas mesmo assim começou a escalar. Ela estava a pouco mais de 2m do chão quando percebi que aquilo não ia dar certo. O tremor estava muito forte e era possível ver suor em sua blusa. Nesse momento a filha de Zeus caiu desmaiada no chão. Dois garotos de Afrodite foram ajudá-la e levaram-na para a enfermaria.

Escalei a parede o mais rápido que pude e fui ver como a Lua estava. Os meninos de Afrodite ainda estavam ali e se apresentaram para mim. Um deles, era baixo (para um garoto, não pelos meus parâmetros), magro, cabelos e olhos castanhos escuros e levemente moreno, apresentou-se como Jhon. O outro era mais alto, magro do mesmo jeito, cabelos castanhos médios e olhos verdes, e a estava olhando com uma preocupação digamos que um pouco exagerada, parecia ter algo a mais rolando entre eles, esse era o Alexandre, também conhecido como Lorde.

Como achei que a garota estava em boas mãos, deixei-a lá e caminhei para a minha próxima atividade: um duelo na arena. Nunca havia lutado com eles, então fiquei um pouco preocupada com o modo que esses duelos eram realizados, pois em Roma, esses duelos são muito sangrentos e duram até a morte de um dos duelistas. Lembro de ter assistido a apenas um deles, e foi traumatizando o suficiente. O garoto que morreu aquele dia chamava-se Victor, e o seu assassino não foi tido como assassino, mas sim como um ídolo, todos o chamavam de “grande Edu”. Saí de lá vomitando, de tão chocada eu havia ficado com a situação toda. Meu desespero diminuiu assim que cheguei na entrada da arena e uma garota alta, com cabelos longos e castanhos, olhos um pouco mais claros, deu “oi” abrindo um grande sorriso.

–Sou a Lorena, mas pode me chamar de Lore, sou filha de Deméter e eu que dou uma organizada básica aqui nos duelos. Pode ficar tranquila, eles são bem menos sangrentos... Na verdade, quase não é visto sangue aqui, o que é um pouco triste, porque sangue faz bem pra terra... – fez uma cara de chateação, não consegui dizer nada, ainda estava travada – Ahn, funciona assim: vou sortear os nomes dos pares de duelistas e os vários pares vão lutar simultaneamente, enquanto um “observador” fica ali, observando e não deixando eles se matarem. – abriu outro sorriso grande.

–Hm, ok, acho. Obrigada – retribuí-lhe o sorriso, mas aposto que não foi um dos meus melhores, já que eu estava um pouco enjoada com a cena que havia vindo à minha mente nos minutos anteriores à nossa conversa.

Entrei na arena e sentei em um dos lugares mais baixos, porque seria mais fácil pra sair correndo caso as coisas saíssem do controle de Lorena. Muitos campistas já estavam ali, de variados chalés. Reconheci Tomi com alguns garotos e garotas que pareciam atentados assim como ele, então supus que eram filhos de Hermes; num canto, reconheci Peach e o garoto com quem ela estava de mãos dadas na noite anterior, e algumas meninas bem parecidas com ela: olhos claros e cabelos também, pela falta de empolgação com a situação e os livros em que elas estavam tão focadas, eu diria que eram filhas de Atena, mas o garoto não parecia se encaixar no perfil delas, então não sei de quem ele era filho.

Lore entrou na arena para fazer o sorteio e todos ficaram em profundo silêncio, ansiosos para saber com quem iriam lutar. Mas o silêncio passou de confortável para tenso assim que as caçadoras entraram e sentaram-se na fileira atrás de mim. Lorena suspirou, deu uma rápida olhada na direção das caçadoras (o que infelizmente me incluía) e voltou sua atenção para uma caixa de vidro com papéis brancos dentro.

–Beatriz Batistão, chalé 6 e Anna, chalé 12. Observador: Carolina Sanchez – Peach e uma garota muito baixinha levantaram-se e foram para um canto da arena, seguidas por uma garota da altura de Peach. – Cody, chalé 3 e Jhon, chalé 10. Observador: Marina, chalé 13 – o garoto com quem Peach estava levantou-se e foi junto com Jhon, que havia acabado de chegar para um outro canto da arena, uma menina alta e com cara de poucos amigos foi até lá com eles. E assim foi por alguns minutos. – Millene, sem chalé e Franciele, chalé 8. Observador: Gabrielle, chalé 6.

Fui até um pedaço da arena que estava livre, junto com uma garota baixinha e pulante, achando que aquela seria Franciele, mas estava muito enganada. A garota que veio para duelar comigo era uma caçadora. Minha garganta secou.

–Vocês já sabem as regras: nada de machucar seriamente o coleguinha, mas eu agradeceria se o cortassem um pouquinho, sabe, só para sangrar um cadin... –sua voz foi abaixando – Ignorem o que eu disse, se não a Mary me mata – seu olho cresceu visivelmente – Cada vez que alguém sofrer um arranhãozinho se quer, o observador vai enrolar o local, assim ali não pode mais ser atacado, no final, que estiver com menos áreas cobertas ganhará alguma coisa. Comecem.


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