Entre Gregos e Romanos escrita por Mille


Capítulo 4
Cap. 3




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Com a morte de Vini, me senti desamparada, desprotegida e totalmente perdida. Meu senso de direção pifou e eu fiquei sem saber pra onde ir pra seguir a viagem. Foi então que chorei, e chorei alto, porque achei que ninguém iria ouvir, e chorei por uns bons minutos. Me senti aliviada como não me sentia a muito tempo.

Acompanhei meu pégaso e o de Vini até uma outra clareira e descansamos ali por umas horinhas, mas não foi um descanso muito proveitoso, já que não havia ninguém pra viajar nossa soneca. Comemos um pouco e eu decidi ir até a cidade comprar um mapa, que não havia sido necessário até aquele momento porque meu velho amigo o tinha memorizado uns meses atrás. Estava preparando minha mochila quando ouvi um galho se quebrando. Gelei e desembainhei minha espada, preparada para o ataque. Então aparecem três meninos.

O primeiro era alto, magrelo e tinha um sorriso brincalhão; o segundo era bem mais baixo, menos magrelo, embora ainda fosse magro, e parecia ser sério, mas só até você olhar em seus olhos, porque nesse momento você via que ele podia sair correndo pregando peças a qualquer segundo; o terceiro era ainda menor, tinha cabelos e olhos negros, seu olhar era tristonho e ele foi o único a não entrar na clareira, preferiu as sombras. Os três estavam de jeans em tons variados e camisetas laranjas com um centauro onde podia ser lido “Acampamento Meio-Sangue”.

–Olá, moça. Acho que você já pode abaixar isso aí. – disse o mais alto, dando risada e apontando pra minha espada.

–Acho que a gente deveria se apresentar – sussurrou o do meio para o alto, então virado pra mim: -Nós viemos te acompanhar até o CHB, ouvimos dizer que você ia ter que atravessar metade do país sozinha, e isso é bem perigoso...

–E eu não ia deixar uma possível irmã passar por esses perigos sozinha, não mesmo. – o alto disse. – Eu sou Felipe, 17, filho de Dionísio. Esse aqui é Nel... – tossida – Tomi, chame esse moço aqui de Tomi, filho de Hermes – disse apontando pro garoto que sugeriu a apresentação -. E ele ali atrás é o Vinicius, filho de Hades – dessa vez apontou pro garoto das sombras. –. E você?

–Millene, 16 e até ontem de manhã me diziam que eu era filha de Baco... agora eu já não sei. – mexi meus pés, desconfortável.

–Você descansou essa noite? – Felipe perguntou e eu apenas fiz que sim. – Ótimo! Então vamos nessa.

Ao dizer isso, os pégasos levantaram voo e Vinicius desapareceu. Olhei assustada pros rapazes que ficaram.

–Tá tudo bem, Millene. Vini não podia continuar, porque quatro semideuses são perigosos juntos, e os pégasos não podiam passar da fronteira. Você veio sozinha até aqui? CADÊ A RESPONSABILIDADE DESSES ROMANOS? Deixar uma semideusa andando sozinha pelo país. Azideia dos caras. – Tomi fez uma cara de indignado, mas então, após ficar com cara de pensativo por uns bons segundos, ele olha pra mim e diz: - Por que raios você viaja com dois pégasos?

–Tomi, fica quieto, pelos deuses! – Felipe dá um olhar de repreensão pro amigo.

–Ah, droga. – parece que a ficha dele caiu. – Ahn, então, é... vamos?

Entramos na clareira em que eles estavam antes e logo começaram a fazer perguntas, trocadilhos e coisas do gênero. Esses caras eram divertidos e espontâneos, duas qualidades difíceis de encontrar no Júpiter, onde todos parecemos robôs organizados e programados para lutar, não para sentir. Isso é até que bom, já que não precisamos ficar preocupados com surpresas ou algo assim. Tudo padronizado. Agora, esses moços são o oposto disso, cada segundo é uma surpresa, o que me deixou pouco à vontade, e a minha clara timidez também não ajudou muito e ainda levantou suspeita.

–Tem certeza que é, ou melhor, era filha de Baco? Você parece meio tímida e quieta demais. – uma hora Felipe perguntou, me encarando de um modo engraçado.

–Ahn, foi o que minha mãe disse...

–Sua mãe deixou que te tirassem de lá assim, sem mais nem menos? – Tomi perguntou e eu só olhei pra ele, com minha melhor e mais explícita cara de “cala a boca”, funcionou.

–Cara, cê não tá dando uma dentro – Felipe disse, o que fez Tomi dar de ombros e pedir desculpa, mas logo estava fazendo macaquices pelas árvores.

–Então, nós vamos atravessar o resto do país a pé? Sério mesmo? Não parece muito esperto– perguntei, já cansada de tanto andar.

–Não, né, lesada – arregalei meus olhos, não estava acostumada a ouvir esse tipo de coisa dum modo tão casual e amigável, com uma risada acompanhando, mas não uma sarcástica-, a gente vai só até a cidade aqui do lado e vamos pegar algum carro “emprestado” até alguma outra cidade e assim vai. É tão seguro quanto os pégasos. – Tomi disse em cima de uma árvore.

Caminhamos por mais uns 40min até uma pequena cidade, onde Tomi escolheu um carro para, como ele disse, “pegar emprestado”, o que me pareceu seriamente como um roubo, não que eu ligasse muito pra isso, já que minha vida basicamente dependia disso, mas mesmo assim era um tanto quanto desconfortável observar a rapidez com que o garoto fazia isso, o que deu a entender que “empréstimos” como esse eram frequentes. O carro escolhido parecia bem resistente, na verdade era uma Troller T4 preto, um tipo de jipe, pelo o que disseram. Era alto, largo e com certeza não era muito discreto, o que me preocupava um bocado, mas afirmaram que ele era blindado e sei lá mais o que, então tínhamos uma barreirinha a mais nos separando dos monstros.

Entramos no bendito carro e eu já me sentia extremamente confortável na companhia desses que se intitulavam “gregos”, mais confortável do que já havia me sentido em Nova Roma e em minha Coorte.


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