Uma nova princesa para uma nova Illéa escrita por Snow Girl


Capítulo 24
Trégua


Notas iniciais do capítulo

Booom dia! Obrigada por todo o ódio direcionado ao Caleb e à Pietra e não a mim.
Quem é mais odiado por você: Pietra ou rei Clarkson?



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Não fui para o jantar naquela noite, em vez disso obriguei minhas criadas inventarem qualquer desculpa pela minha ausência e capotei na cama sentindo uma fúria quase homicida direcionada à duas pessoas que até poucas horas antes eu confiava.

Eu não queria ficar ali me lamentando até porque não era o meu estilo, mas depois das últimas horas eu me dei a esse luxo. Me permiti agir como uma garotinha mimada que foi chutada no baile.

Foi com esse pensamento que eu dormi na noite em que Caleb e Pietra destruíram a pouca força que eu tinha.

Nossas famílias chegaram no dia seguinte, véspera de Natal, e eu estava simplesmente um caco. Fiz uma promessa silenciosa de não deixar ninguém estragar aquele dia, nem mesmo eu.

Não consegui dormir bem pensando em cada decisão estúpida que havia tomado desde que cheguei ali. Ter aceitado dar aulas de beijo para ele, ter contado minha vida e meus medos, achado que ele se importava. Baixar as barreiras que tão cuidadosamente fiz para não me ferir novamente.

Um erro atrás do outro. Exatamente como foi com meu pai.

— Senhorita?

— Diana. — Minha voz parecia meio morta. Assim como eu.

— Está tudo bem?

Não, não está. Aquele cretino mentiroso destruiu a minha alma. Você está cega?

— Um pouco indisposta. Acho que é apenas nervosismo.

Ela concordou.

— Gabe, pegue algo para senhorita tomar. Ela precisa estar muito disposta para receber sua família.

Como um raio preto e branco, Gabe saiu.

Marcie e Diana me ajudaram com o banho, aquilo me ajudou a relaxar, claro, mas eu ainda me sentia a ponto de desmoronar.

Burra, burra, burra.

Como haveria pessoas de todo canto chegando, a recepção foi marcada para o meio dia, então nós teríamos cinco horas entre o café da manhã e eles chegarem.

Cinco horas tendo que me alternar entre olhar para Caleb e para Pietra e evitar a vontade de esganá-los e dar barraco.

Não desci para o café com o vestido que usaria na recepção, esse que eu usava era muito simples, para os padrões das minhas criadas, porém muito lindo e delicado.

O remédio que Gabe arrumou estava começando a fazer efeito, senti-me menos preocupada e provavelmente não iria acabar fazendo nada de errado, embora perder a calma não me parecesse uma má ideia.

Sentei-me como sempre ao lado de Kayla. Pela primeira vez eu não fiquei chateada de sentar longe de Pietra e Beatrice.

Kayla sorriu de forma discreta para mim antes de retomar sua conversa com Emily.

Eu parecia tão mal que até uma pessoa que vivia para me atormentar estava sendo legal comigo? Que maravilha!

No Salão das Mulheres Pietra veio falar comigo.

— Todo esse mau-humor por causa do que você viu ontem? — Havia certa malícia em sua voz. — Não fique brava comigo, o que eu posso fazer? Não era para você ter visto aquilo.

— Não estou brava. Estou nervosa esperando as pessoas que eu amo chegarem.

Pietra sorriu e saiu de perto.

Respirei fundo.

Não vou ficar brava, não vou ficar brava, não vou...

— Vocês brigaram? — Beatrice chegou bem perto de mim para não ter que elevar a voz mais do que um suspiro. Maryse ficaria encantada.

— Não. Eu estou nervosa.

— Por que você viu Pietra e Caleb se beijando?

— Ela te falou sobre isso?

Beatrice fez um gesto com a mão.

— Não parou de se gabar que ele beija bem e blablabla. Como se eu não soubesse disso — sorriu amigavelmente. — Mas você parece desanimada.

Eu tentei sorrir e provavelmente saiu como se eu estivesse com dor de dente.

— Eu já disse, só nervosismo. Faz tempo que não vejo meu irmão.

— Ah! Eu sinto falta da minha família também. É esquisito, não é? Só poder vê-los em eventos. E pensar que a princesa vai ter que lidar com isso para sempre — Ela franziu as sobrancelhas delicadas, imersa em pensamentos.

Ficamos em silêncio por um tempo. Não estava exatamente no clima para conversar.

Maryse mandou que nos aprontássemos para a recepção.

Meu vestido era branco com um decote em V, justo no tronco e com a saia longa evasê. Era um vestido maravilhoso. Dessa vez as meninas fizeram um penteado meio preso com uma pequena coroa prateada no alto e os cachos caindo como uma cascata preta.

Fui para o foyer esperar com as outras. Todas estavam vestidas para impressionar, vi muito dourado, vermelho e azul, até mesmo um degradê do rosa ao vermelho. Estranhamente eu era a única de branco.

Maryse entrou com seu cabelo claro voando atrás de si.

— Eles chegaram.

Ouviu-se a balbúrdia de vozes e passos se aproximando, meu estômago se revirou desconfortavelmente em antecipação.

As pessoas foram entrando de forma tímida enquanto suas respectivas familiares gritavam com a dignidade esquecida.

Varri a porta com o olhar apressadamente procurando meus convidados. Será que eles não viriam?

Já estava quase desanimando quando vi uma coisinha pequena de cabelos pretos naquela loucura. Patrick.

Corri até ele, tropeçando em algumas famílias se abraçando no meio do caminho. Peguei-o no colo, eu provavelmente o estava esmagando com a força do meu abraço mas meu irmão não reclamou.

— Lexi!

— Patrick, senti tanto a sua falta. Tanto!

Devido à emoção meus olhos estavam bem fechados, quando os abri encontrei Jay parado a apenas centímetros de nós, os olhos dourados fixos em mim.

Sem soltar Patrick eu o envolvi com um braço.

— Alexia. Você estão tão linda! — sussurrou.

Afastei-me suavemente e deixei Patrick no chão. Eu estava tão feliz que poderia chorar.

— Tenho tanta coisa para te dizer — murmurei para Jay. — Senti tanto falta dos dois homens da minha vida!

Ele riu.

— Não deixe o príncipe te ouvir dizendo isso — acho que meu rosto se escureceu, porque uma pequena ruga surgiu entre suas sobrancelhas. — O que foi?

Sacudi a cabeça e olhei para Patrick. A mensagem era clara: não vou dizer na frente de uma criança.

Alguma coisa atrás de mim atraiu a atenção de Jay. Virei-me apenas para me deparar com um Georgie em roupas escuras e muito formais com uma gravatinha azul. Ele vinha direto para nossa direção.

— Lexi — sua voz estava bem mais formal do que eu jamais ouvi.— Esse é o seu irmão?

— Hey, Georgie — saudei abraçando-o. — Sim, esse é o Patrick de quem eu te falei tanto.

— Você falou de mim para o príncipe? — os olhos de meu irmão se arregalaram.

— Sim. Ele ama doces e adora o Homem Inseto.

— Caramba! Eu também.

E de repente eles se tornaram os melhores amigos do mundo e desapareceram correndo entre os convidados.

— Crianças — suspirou Jay de forma dramática. — Você vai me dizer qual o problema?

Eu apenas o abracei.

— Tem tanta coisa louca para te dizer que nem sei por onde começar.

Ele riu.

— Ainda bem que temos tempo.

— Você acha que meu pai poderia abandonar uma mulher grávida? — Soltei antes de poder me conter.

— Por quê?

Mordi a parte interior da bochecha.

— Só hipoteticamente, sabe?

— Ele não é exatamente o modelo do bom comportamento, então acho que sim.

Assenti. Jay pensava exatamente como eu e isso reforçava a ideia de que o Henry realmente fosse meu irmão.

Era engraçado que eu acreditasse em Henry, eu não o conhecia e a única coisa que eu tinha era a palavra dele e ainda assim eu já o considerava meu irmão.

Eu era muito carente, meu Deus.

Abracei meu melhor amigo outra vez. Depois de tudo que eu tinha passado nos últimos dias aquela presença familiar me acalmava mais do que os remédio que Gabe me arrumou.

Jay puxou minha cabeça para seu peito, como sempre fazia quando sabia que eu estava chateada.

— Senti falta disso — sussurrou no meu ouvido. — Nós dois contra o mundo.

— Eu também. Agora que estou aqui, morrer congelada lá em casa parece a melhor ideia de todas.

Jay me afastou para analisar meu rosto.

— Você está infeliz aqui. Por que não pede para sair?

Nem eu sabia direito o porquê.

— O que está achando disso tudo? — indiquei o palácio.

— Um pouco diferente de casa.

— Só um pouco quase nada, né?

Ele riu.

— Mas e aí? Você já se acostumou à realeza?

Sacudi a cabeça.

— Não acho que um dia eu possa. Vestidos de baile e criadas, horários e etiqueta. Isso não é para mim, é para uma princesa.

— Você já se olhou no espelho hoje?

Revirei os olhos.

— Já.

— Então como pode dizer que não é para você? Você é a mais princesesca de todas as meninas daqui — Ele beijou minha mão. — E a mais linda.

— Você sabe que princesesca não existe, né?

Jay ergueu as sobrancelhas pretas.

— Mesmo? Pois deveria. Ficou uma palavra charmosa.

Nós dois rimos.

— Ah, cala a boca!

— Sério agora: você está deslumbrante, Lexi.

— Foram minhas criadas, aquelas coisinhas irritantes. Eu disse que queria usar só um jeans e camiseta, mas elas não deixaram. Disseram que um corpo como o meu precisa ser valorizado — fiz cara de pesar.

— Lamento dizer, mas elas estavam certas. Você é linda demais para usar jeans.

— Você é um idiota — disse rindo.

Ele me abraçou.

— E você é linda.

Alguém pigarreou atrás de mim.

— Alteza — Jay de um passo para trás e se curvou.

Virei-me apenas para encontrar Caleb sorrindo agradavelmente para nós.

— Senhorita Alexia, lindíssima como sempre.

— Obrigada, Alteza — minha voz estava tão amistosa quanto a dele. Aquele era um jogo para dois.

— Imagino que este não seja o irmão mais novo de quem tão bem tenho ouvido falar.

— Não, príncipe George o levou para algum lugar. Este aqui é Jay Steelway.

Por um segundo a fachada do príncipe anfitrião esmoreceu, pude ver algo por trás daqueles olhos castanhos que me fez estremecer. Jay não notou.

— É um prazer conhecê-lo. A senhorita Alexia falou-me maravilhosamente bem da sua pessoa.

Jay passou um braço em minha cintura.

— Fico feliz em saber.

Caleb olhou para a mão de Jay em minha cintura e desviou o olhar.

— Com licença. Preciso fazer um pronunciamento.

Ele saiu de perto e se aproximou das portas do Grande Salão.

— Bom dia a todos — sua voz parecia mais grave, mais forte retumbando na balbúrdia. — É um prazer tê-los aqui conosco. Sei que assim como eu vocês devem estar morrendo de fome então só tenho uma coisa a dizer agora: bom apetite!

Alguns pais riram enquanto as portas para o Grande Salão eram abertas.

O rei e a rainha estavam ali dentro junto com um batalhão de mordomos.

Todos se sentaram onde bem queria. Os cozinheiros se superaram, os pratos ali estavam um mais maravilhoso que o outro.

Puxei Jay para um canto da mesa gigantesca, o mais longe possível de Caleb e então reparei na ausência de duas crianças.

Revirei os olhos.

— Vou procurar Patrick e Georgie. Eles devem estar com fome — sussurrei.

Jay sorriu.

— A irmã mais velha dentro de você ataca novamente.

Sorri de volta. Ele estava certo.

Eu senti falta da nossa quase telepatia. Jay sabia exatamente o que estava em minha mente só de me olhar.


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