Dois dias se passaram desde o Jornal Oficial e Caleb me ignorou totalmente em ambos. Eu queria socar a cara dele e dizer algo tipo "Amigo, a gente se agarra loucamente na torre, você aparece no meio da noite no meu quarto só pra olhar para a minha cara e me ignora assim? Isso tá errado, hein". Infelizmente eu não podia fazer isso porque ele estava sempre com alguma garota e eu sabia que não deveria fazer nada, eu era sua amiga e se ele quisesse minha companhia daria um jeito de fazê-lo. Ele que venha me procurar, ficava repetindo toda vez que eu sentia vontade de falar com ele, o que acontecia aproximadamente doze vezes por hora.

— Como vão as coisas com o príncipe? — perguntou Diana com um ar solidário. Eu não tinha dito nada, mas elas haviam percebido que ser ignorada por aquele ser loiro estava me irritando.

— Ele está me ignorando, então eu vou continuar ignorando ele.

— Talvez o príncipe Caleb esteja esperando que você tome a iniciativa — opinou Marcie, sentada em um canto do quarto com um vestido no colo.

— Vai continuar esperando até morrer.

— Senhorita…

— Gosto dele, mas já que ele quer ficar com as outras eu não posso fazer nada além de lamentar por ele estar perdendo a minha fabulosa companhia — cruzei os braços e empinei o nariz numa imitação de Kayla em seu momento mais esnobe.

As duas riram.

— Mas ele gosta da senhorita! Todo mundo pode ver a forma como ele a olha.

— Sim, ignorar é uma ótima forma de demonstrar que gosta de alguém.

Gabe apareceu no quarto com um envelope e um monte de tecido que imaginei ser outro vestido. Minhas criadas amavam costurar-me vestidos fabulosos.

— Senhorita, Maryse me pediu para entregar essa carta para a senhorita. Aparentemente as Selecionadas receberam cartas de casa hoje.

Praticamente voei até onde ela estava para pegar o envelope.

Querida Lexi,

Como estão as coisas por aí? As garotas são legais? O príncipe está tratando você bem? Sentimos muito a sua falta, mas estamos torcendo por você. Patrick pediu para dizer que você estava linda no Jornal, na sexta, e eu concordo: você estava mais linda do que nunca e olha que sempre foi maravilhosa.

Cara, eu não sou bom escrevendo cartas, essa é a primeira que eu tento e isso está ridículo.

Gostaria de saber se você sente minha falta como eu sinto a sua, porque eu estou quase enlouquecendo sem você. Conte-me cada detalhe insignificante da sua vida no palácio para que eu sinta que você ainda está aqui.

Essa carta é idiota, mas eu também sou, então está tudo normal.

James Steelway.

P.S: O Natal está chegando, Patrick quer saber se você vai estar aqui conosco. Eu gostaria disso, mas acho que você prefere ficar aí, não é?

Dei um tapa na minha testa. Como pude esquecer o Natal? Patrick ficaria muito decepcionado porque eu não poderia estar com ele. Mordi a parte interna da bochecha. Faltava quase um mês pro Natal chegar realmente, até lá eu poderia perfeitamente já ter sido chutada e considerando a situação atual, era o que provavelmente aconteceria.

Li novamente a carta de Jay, só para saborear esse contato com minha antiga vida de novo, apreciando as palavras e as letras individualmente. Sempre achei injusto que a letra dele fosse tão bonita enquanto a minha não era. Reli a carta umas cinco vezes antes de responder como ele pediu, descrevendo cada detalhe do que havia acontecido até ali — deixei de lado sobre eu e Caleb nos beijando numa torre, certas coisas não devem ser mencionadas para seu melhor amigo pelo qual você nutre sentimentos confusos.

Eu já estava voltando com minha resposta em mãos para Maryse enviá-la quando trombei com uma criança.

— Alteza.— Disse para o garotinho à minha frente, fazendo uma reverência.

Por alguma razão eu não conseguia pensar no príncipe George da mesma forma como pensava em Caleb, como alguém da realeza. Era apenas uma criança para mim. Uma criança muito fofa.

—Oi — falou escondendo alguma coisa atrás de si com ar assustado. — Você é uma das garotas da Seleção?

— Sou — confirmei. — Meu nome é Alexia, Lexi para os amigos.

— Meu nome é George, Georgie para os amigos — Seus grandes olhos azuis brilharam. — Você quer ser minha amiga, Lexi?

Abri ainda mais o sorriso.

— Adoraria.

Ele riu e passou os bracinho ao meu redor em um abraço. Isso me fez pensar no quão sozinho ele deveria se sentir ali. Tudo estava girando ao redor da Seleção e, consequentemente, de Caleb.

— Então, o que você estava fazendo, novo amigo?

Ele tirou um livrinho de dentro da camiseta.

— História em quadrinhos

— Oh, eu adoro hq's. Qual é essa?

— É do Homem Inseto.

Dei uma olhada na capa.

— Eu já li essa, é divertida.

— Sério?

Eu ri da surpresa dele.

— Sim, meu irmãozinho adora as aventuras do Homem Inseto.

— Você tem um irmão? Quantos anos ele tem?

— Vai fazer seis em fevereiro — afirmei tentada a desviar o olhar. Eu evitava ao máximo pensar em Patrick e na minha antiga vida durante o tempo que estava no castelo e isso me lembrou da carta em minha mão com a resposta que eu daria à minha família.

— Eu também! — Gritou encantado.

— Eu sei. Me recordo de estar com Patrick no colo quando anunciaram que você nasceu. — Baguncei o seu cabelo loiro no mesmo tom do irmão mais velho. — Você me faz lembrar muito dele. Você também gosta de doces?

— Sim!

— Qualquer dia desses eu faço um bolo pra você, mas agora eu tenho que voltar para o Salão das Mulheres e entregar essa carta para Maryse — gemi me espreguiçando.

— Tá bom! — Ele disse feliz da vida.

Ai meu Deus, se eu sair vou levar esse menino na mochila!

Quando voltei ao salão, todas as garotas já estavam lá.

— Mais uma vez atrasada. O que você tem contra chegar na hora? — Kayla falou com aquela voz doce enjoada.

— Absolutamente nada — respondi ainda mais docemente.

Entreguei a carta à Maryse enquanto Kayla olhava para mim com a expressão que eu tinha imitado minutos antes, nariz empinado e braços cruzados.

— E aí — Pietra me cumprimentou sentando a meu lado junto com Beatrice que abriu um sorriso tímido e pegou um livro. — Como estão as coisas?

Dei de ombros.

— Tudo na mesma. Como foi o seu encontro com Caleb ontem? — ao que parecia, todo mundo estava tendo seu encontro com o príncipe, e algumas estavam tendo o segundo.

Pietra deu risadinhas.

— Foi incrível, amiga. Ele me levou naquele cinema enorme do palácio e nós assistimos a um filme de terror. Então, claro, eu aproveitei para esconder a cabeça no ombro dele — ela se abanou teatralmente. — E que ombro...

Tive que concordar, ele era musculoso e dava para sentir mesmo com o paletó grosso cobrindo.

Eu achava que os músculos ajudavam a compôr o quadro de perfeição que as meninas atribuíam a ele.

— Aparentemente as aulas de muay thai servem para alguma coisa.

— Ele também malha muito, por isso seu corpo é todo bem definido — comentou Beatrice por cima do livro que estava lendo.

— E desde quando você já viu o corpo dele para saber se é definido? — brincou Pietra.

— Desde que Caleb me levou na academia particular dele no sábado.

Pietra fez um gesto de "pára tudo".

— E você não nos falou sobre isso porquê...

Beatrice apenas deu de ombros e voltou a seu livro.

Pietra sacudiu a cabeça para mim.

— Dá para acreditar que ela tem uma bomba dessas e age como se não fosse nada de mais?

Eu abri um sorriso fraco. Eu também tinha uma coisa sobre Caleb que não queria compartilhar e nem espalhar para as outras meninas e conhecendo Pietra a história de Beatrice seria de conhecimento geral antes do almoço.

A porta do Salão das Mulheres foi aberta com um estrondo.

— Ele me beijou! — berrou Emily.

Imediatamente ela foi cercada por garotas estrilando e querendo saber cada detalhe. Ri com desdém quando ela jogou o cabelo de palha de milho para trás e começou sua história, feliz pela atenção que estava recebendo. Lembrei o quê ela disse sobre investir pesado em Caleb e tive quase certeza que foi ela que o beijou, provavelmente se esfregando nele. Não gostei desse pensamento.

Então um sorrisinho se abriu no meu rosto: eu fui a primeira a beijar Caleb. Ela que durma com meus germes.