Duas semanas após o acampamento

Depois do acampamento minha vida havia voltado ao normal, de uma forma estranha. Luke ainda estudava aqui, e ficar na mesma sala que ele, convivendo com ele, era uma tortura. Mas ele nem havia me dirigido a palavra, então estava tudo bem. Eu ainda tinha pesadelos toda noite, ainda tinha crises de choro e tomava calmantes, mas eu sabia que o trauma não passaria fácil. Minha mãe vivia perguntando se eu estava bem, mas acho que ela não suspeitava do que tinha acontecido.

Percy e Bianca não estavam mais juntos, mas eu não sabia se era oficial ou apenas temporário. Na verdade eu não ligava mais para isso, eu estava vazia por dentro, atônita, como se não estivesse mais aqui. Luke e Thalia também não estavam mais juntos, desde que ele fez aquilo comigo. Ótimo, eu havia destruído dois relacionamentos em menos de um mês que estava aqui.

Cassie não conversava mais comigo, ela nem sentava mais atrás de mim. Rachel, Silena e Zöe apenas me davam “oi”, e eu nunca mais tinha visto Calipso. Percy também não conversava mais comigo, o máximo que ele dizia era “Oi, tudo bem?”. Resumindo: eu estava sozinha de novo.

A aula de Cálculo acabou e eu guardei minhas coisas. Peguei minha bolsa e fui para o refeitório. Depois de alguns minutos consegui pegar o que eu pegava todo dia: sanduíche natural, suco e um bombom. Peguei meu lanche, minha bolsa e sentei em uma mesa mais afastada. Comecei a comer tranquilamente, quando alguém apareceu em minha frente. Era Percy.

– Posso me sentar? – ele disse, sorrindo.

– Pode – eu disse, dando um sorriso tímido para ele.

Ele não segurava nenhum lanche, nem nada. Só a mochila azul-marinho jogada nas costas. Seu cabelo estava mais curto, e ele estava sem barba, e parecia ter rejuvenescido uns 5 anos. Ele usava uma camisa branca pólo, que ficava colada em seu corpo, ressaltando sua boa forma. Ele também estava com a calça jeans usual e Vans. Seus olhos verdes estavam mais brilhantes, e ele parecia feliz.

– E então, como você está com relação a aquilo? – ele perguntou.

– Mais ou menos. Ainda tenho pesadelos e ainda não me sinto segura, ou bem, mas estou melhorando aos poucos – respondi, sinceramente.

Ele pensou um pouco, olhou para os lados e disse:

– Annabeth eu conheço um ótimo psicólogo. Ele é meu amigo, se você quiser eu te passo o contato dele. Em sigilo ok? Sei que você não quer deixar o assunto se espalhar. Ele é um cara legal, jovem, ele vai conseguir te ajudar.

– Tudo bem, eu aceito – respondi. Eu realmente estava precisando de alguém para conversar, e talvez um psicólogo me fizesse bem.

– Eu vou falar com ele sobre você. Mas por enquanto você acha que um passeio te fará melhor? – ele disse, sorrindo.

Minhas bochechas esquentaram como se eu estivesse com febre, e sei que ficaram mais vermelhas que um tomate.

– Não sei, Percy – eu disse, sorrindo mais envergonhada do que tudo.

– A gente podia sair, para um lugar legal, para você se distrair um pouco. Prometo que não vou deixar nada acontecer com você. Não vou deixar você desmaiar e nem ser estuprada – ele riu alto. Canalha.

– Percy isso não tem graça! – eu disse, mas eu já estava rindo também.

Ele riu mais um pouco e disse:

– Tudo bem, parei com as piadinhas. Mas e então, você aceita?

– Vou pensar. Quando e onde?

– Sexta-feira. Para onde eu não sei, mas pode ser lugares tranquilos, percebi que você não gosta de agitação. Para Starbucks, talvez.

– Tudo bem. Eu vou pensar e amanhã te dou a resposta.

– Espero que você aceite – ele disse e pegou minha mão. Uma descarga elétrica percorreu meu corpo, toda vez que ele me tocava, isso acontecia. Eram como mil agulhas me espetando bem leve, causando uma sensação boa, totalmente nova, totalmente diferente de tudo que eu já havia sentido antes.

Ele pegou sua mochila e largou minha mão, deixando nela uma sensação de dormência. Ele se levantou, sorriu para mim mais uma vez e saiu, deixando para trás seu perfume inebriante, faíscas na minha pele e meu coração totalmente descompassado.