Meu quarto estava todo escuro e abafado, com um cheiro rançoso, como esteve nos últimos quatro dias. Minha cama estava desarrumada, e suja de suor, tinta, sangue e lágrimas. Eu ainda estava usando o vestido de noiva sujo de tinta vermelha, mas a peruca preta estava jogada em algum lugar do chão. As mangas do vestido estavam vermelhas, mas não de tinta, e sim do meu próprio sangue. Infelizmente eu havia me cortado, jogando fora os últimos 11 meses que passei sem cortes.

Nos últimos quatro dias tudo o que fiz foi me afogar nas minhas próprias lágrimas, na minha própria ruína. Eu estava assim nem tanto por causa de Percy, mas sim pela situação em si. Quando eu comecei a namorar, eu achei que por fim as coisas dariam certo para mim, como nunca deram antes. O tempo que passei com Percy me fez imaginar que por fim eu seria feliz, me fez criar uma ilusão de que talvez a vida pudesse ser boa comigo. Mas foi tudo uma ilusão. Todos os “eu te amo” eram falsos, todos os presentes foram feitos para me comprar. Tudo que eu havia vivido nos últimos 3 meses, tudo que eu havia considerado perfeito, foi fingimento. Meu namoro com Percy foi tão falso como um filme, porém sem script.

Além disso, ser traída foi tão humilhante. Eu nunca havia sido tão humilhada em toda a minha vida. Ele dizia que me amava, mas ele queria ela, e não eu.

O pior foram os olhares que foram lançados a mim naquela festa. Todos já sabiam que Percy havia me traído, e cada lance de olhar dizia algo diferente. Effy me lançou um olhar cruel, como se dissesse: “você não é mulher para ele”. Luke me olhou com desprezo, e Cassie murmurou um “bem feito”, quando passei por ela. Alguns riram da minha cara, e outros me olhavam com piedade, e eu não sabia o que era pior.

Percy saiu correndo atrás de mim, gritando, enquanto eu ia embora da festa chorando.

Bianca também corria atrás dele, mas ela parou assim que saímos na rua. Tudo isso parecia uma cena de drama de uma novela mexicana, e eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo comigo.

Percy dizia as coisas mais sem sentido, e eu não estava ouvindo nada, o desespero era tanto que parecia que eu estava debaixo d’água, e todos os sons chegavam abafados até mim.

Tudo o que eu ouvia era trechos de “desculpas”, “eu não queria fazer isso”, “não é como você pensa” e os malditos “eu te amo”. Meu corpo tremia com o choro, e meu rosto estava completamente molhado de lágrimas. Eu soluçava, e chorava alto. Eu andava rápido para longe de Percy, e ele me seguia. Por fim ele segurou meu braço, me forçando a olhar para ele. Seu rosto estava impecável, como sempre, contrastando com a destruição que estava estampada na minha face. Seus olhos verdes me transmitiam desconfiança e falsidade, e não tinha uma gota de lágrima em neles.

– Annabeth, espera. Eu tenho que te explicar.

– EU NÃO QUERO OUVIR SUAS EXPLICAÇÕES! – eu gritei, chorando ainda mais – Percy, por favor, desapareça. Tudo que eu preciso agora é paz, vai embora, vai embora. Desapareça para sempre, não me siga, EU NÃO QUERO SABER DE VOCÊ! – gritei mais uma vez, as lágrimas saindo me mim como água em uma fonte.

Me soltei de Percy e comecei a correr, e dessa vez ele não me seguiu.

Continuei correndo por uns quinze minutos, e por fim desabei na calçada. Eu nunca havia me sentido tão destruída, tão acabada. Meu coração estava em pedaços, e minha alma também.

Continuei sentada na rua imunda, chorando. Pessoas passavam, carros passavam, e ninguém me notava. Para eles não importava a minha dor.

Finalmente consegui me levantar, e continuei andando até a minha casa. Quando cheguei, minha mãe estava no sofá, assistindo um filme e comendo salgadinhos. Quando ela me viu, sua expressão mudou completamente, ela ficou completamente espantada.

– Annabeth, minha filha, o que aconteceu? – ela perguntou assustada, se levantando do sofá e vindo me abraçar.

Eu a abracei com força e fiquei ali alguns instantes, chorando no seu ombro.

– Annie? O que aconteceu com você? – ela precisou perguntar duas vezes para eu responder.

– Mãe...o Percy me traiu – respondi, sentindo o gosto amargo das palavras em minha boca. A verdade era tão ácida e doía tanto que eu queria vomitar. – Por favor, não me pergunte mais nada. Eu preciso ficar sozinha – respondi e subi as escadas, me trancando em meu quarto.

Desde então tenho estado em meu quarto, durante todos esses quatro dias. Eu não saí por nenhum minuto, não comi, não fui a escola, não conversei com minha mãe, não fiz absolutamente nada.

Minha mãe entrava em meu quarto as vezes, tentava falar comigo mas eu não queria, e ela ia embora. Ela me trazia comida, mas eu deixava a comida em cima da mesinha e não comia. Eu não tomei banho, nem sequer escovei os dentes, não fiz nada, e sabia que estava definhando. Tudo o que eu queria era sufocar nas minha própria tristeza, para ver se assim ela acabava.

Meu celular estava com 67 mensagens não lidas, e eram todas de Percy. As chamadas perdidas em 40, e todas dele também. Ele veio aqui 3 vezes, mas minha mãe não o atendeu. Eu só queria que ele sumisse para sempre, e me deixasse aqui, morrendo por causa do que ele fez comigo.

Comecei a ouvir uns gritos lá embaixo. Era a voz da minha mãe, e consegui ouvir um “você destruiu minha filha”. Levantei da cama devagar, afinal eu estava bem fraca.

Abri a porta e fui para a escada. De lá, vi que Percy estava na porta da minha sala, e minha mãe gritava com ele. Resolvi intervir.

– Percy, vá embora. Aqui não tem nada para você – eu disse com a voz rouca, afinal eu não havia falado nesses últimos dias.

– Annie, por favor, precisamos conversar.

– Não, não precisamos. Eu não quero, e não vou conversar com você. E agora eu estou mandando você sumir, e se você não fizer isso eu chamarei a polícia.

– Annabeth, nada disso é necessário. Eu só quero que você me escute.

– Eu não quero te escutar. Já fiz isso vezes demais. E se você veio aqui para saber se estou mal, saiba que estou péssima. Veja você mesmo o meu estado – desci as escadas para que ele pudesse me ver.

– Annabeth, me dói te ver assim, eu também estou sofrendo...- ele começou dizendo, mas eu o interrompi:

– Cala a boca. Agora você vai esperar aqui, sem entrar na minha casa. Volto em um instante.

Subi as escadas do meu quarto rapidamente, e peguei um saco de lixo. Dentro dele joguei a aliança de namoro, e por cima todos os presentes que ele havia me dado. Três livros da Suzanne Collins, um CD do Imagine Dragons, um gato de pelúcia, um apoiador para estante e uma blusa. Por cima de tudo coloquei 300 dólares, para reembolsar tudo que ele gastou comigo nas vezes que saímos.

Desci as escadas e ele ainda estava parado na porta, com minha mãe olhando para ele.

– Aqui está tudo que você me deu. Coloquei dinheiro também, para pagar a gasolina e os ingressos de lugares que você me levou. Agora, Percy, desapareça. Não volte aqui nunca mais, não me ligue, não me procure em um lugar. Finja que nunca me conheceu. Acabou tudo, eu não quero te ver nunca mais. Desapareça.

Vi lágrimas surgindo em seus olhos, mas sabia que eram falsas. Ele pegou o saco de lixo, assentiu de um jeito triste e foi embora.

Enquanto minha mãe fechava a porta, subi rapidamente para o meu quarto, trancando a porta. Me joguei na cama, e comecei a chorar, lágrimas quentes molhando a cama, enquanto meu corpo tremia em soluços. Chorei tanto, que todas as minhas forças se esgotaram, e eu acabei dormindo.