One Day escrita por Lady
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura.
One Day
Pode ser que um dia tudo acabe... Mas construiremos tudo novamente, cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. – Albert Einstein
Sob a relva calma da noite ela caminhou silenciosamente. Ao longe podia ouvir o titubear de algumas aves de rapina levando e trazendo pergaminhos a aldeia a qual pertencia, mas a mulher sequer se deu ao trabalho de ver as aves seguindo seu rumo distante; aquilo não importava para si, nunca importou e nunca importaria, não quando não havia mais para quem enviar algo.
Seus passos cessaram logo quando viu-se em um ponto familiar. Um pequeno sorriso lhe viera aos lábios rosados finos, mas tal sorriso não lhe chegara aos olhos que limitavam-se em transmitir apenas o frio invernal de sempre.
Com um suspiro pôs-se de joelhos, sentiu a pele nua de suas pernas entrar em contato com a neve recém caída, mas não ligava para aquilo, o frio a tempo andava consigo, fosse inverno ou verão.
- Tadaima Naruto-kun, Sasuke-kun... – sussurrou, afastando os galhos teimosos que espalmaram-se sobre as lapides marmóreas. E ela quase pode ouvir no silêncio noturno a voz alegre do Uzumaki lhe gritando um extenso e grandioso “okaeri Sakura-chan”, enquanto ao lado do loiro o moreno rodaria os olhos e lhe sorriria, um mínimo sorriso que apenas os Uchihas tinham a capacidade de dar, murmuraria um “está atrasada irritante”. Ela sabia o que faria, desculpar-se-ia, apesar de que tais palavras mal seriam ouvidas diante da discussão unilateral do loiro com o moreno; e ela riria daquilo enquanto o trio seguiria caminho ao Ichiraku-ramen.
Logo o sorriso se foi, da mesma forma com que as folhas e flores despediam-se das árvores naquela época fria do ano, e como no inverno, a nebulosidade fez-se presente em sua visão fria não tardando para que as lágrimas mornas fizessem sua aparição escorrendo pela pele clara e macia da face entorpecida pelas lembranças.
Passou algum tempo daquela forma, apenas sentada encarando os túmulos tanto familiares; os túmulos dos maiores ninjas de todo o mundo shinobi; os mesmo túmulos onde descansavam seu melhor amigo e seu grande amor de vida; nos túmulos onde jaziam seus maiores erro e pecado, onde sua felicidade e alegria haviam instalado-se; no lugar onde seu coração repousava em duas partes únicas, solidas e solitárias, apenas esperando para o dia em que ela dê adeus a aquele mundo desgraçado.
Suavemente, com a manga de seu curto kimono branco-gelo, a mulher enxugou as cruéis lágrimas que se faziam presentes; sorriu pequeno e de forma triste.
- Eu completei a missão com sucesso. – informou-a, num sussurro quase mudo. – Gaara havia me convidado para ficar em Suna por alguns dias, também... – continuou. – Tsunade-sama concordou com ele reclamando sobre eu nunca tirar algumas férias. – e assim a rosada balançou a cabeça, descontente, diante do que foi dito. – Eles dizem que eu estou me punindo pelo que aconteceu a vocês na luta contra o Madara. – logo um suspiro escapou de seus lábios, de certa forma era isso mesmo, ela se culpava e punia-se pelo que aconteceu; pelo seu erro, por ter sido tola e fraca quando mais necessitavam de sua ajuda. E com suavidade os dedos deslizaram pelo mármore pálido. – Eles acham que eu vou acabar me matando em alguma missão... – logo após tais palavras o silêncio veio fúnebre.
Débil, outro suspiro veio e a mulher não deixou de notar as partículas geladas que se formaram quando seu hálito entrou em contato com a atmosfera invernal. O frio estava tornando-se cada vez maior. Respirou e inspirou, cansada da missão a qual retornara naquele dia mesmo.
Lentamente estendeu o corpo sobre a cobertura branca de neve que se postava frente a lapide de seu amado Uchiha. Não ligava para a neve fria abaixo de si, nem mesmo para as partículas flocadas milimetricamente perfeitas que escorriam das nuvens e instalavam-se sobre si e sobre a área ao redor.
Seria mentira se dissesse que não sentia frio – por que sentia um frio tão assustador e tão insuportável quanto podia por em palavras -, mas não fazia importância para si, afinal, não havia ninguém consigo naquele momento, ninguém a quem ela precisasse dizer que sentia frio, ninguém que iria disponibilizar-se a lhe entregar um casaco quente para se proteger da possível nevasca que se aproximava.
Não havia ninguém. Era apenas ela, a neve e um par de túmulos em meio a tantos outros. Tudo isso misturados a uma noite triste e solitária, uma noite onde anos atrás ela, certamente, passaria toda e completamente junto a seus amigos.
- Eu sinto tanto, tanto pelo que aconteceu... – murmurou buscando reprimir suas lágrimas com todas as forças que lhe eram disponibilizadas após a cansativa missão e viajem de retorno a aldeia. – Eu queria que pudesse ter sido diferente... – declarou baixo entre fungados e lágrimas. – Eu queria tanto, tanto, poder mudar o que aconteceu... – e aos poucos a mulher agarrou os joelhos puxando-os junto ao peito enquanto os fios longos e rosados embolavam-se sob a neve e entre suas vestimentas. Ao fim apenas um corpo dormente semi-adormecido encontrava-se ao chão em posição fetal. – Naruto-kun... Sasuke-kun... – sussurrou entorpecida pelo frio noturno. – Oyasumi...
...
As estações passaram. Mórbidas, lentas, e a rosada mal notou quando o ano já havia terminado seu ciclo e iniciado outro.
Por mais uma vez ela estava lá, parada, ajoelhada frente o par de lapides. No dia anterior jurou que não choraria, como sempre tendi a jurar, e como todas as outras vezes ela enganou-se por não ser forte o suficiente ainda e por estar ali derramando lágrimas cristalinas mornas enquanto a neve fria lhe banhava o corpo.
Há um ano, ela lembrava-se, estava cansada demais quando viera visitar os amigos. Estava ferida e cansada, e acabou adormecendo sob o manto frio que o inverno lhe dispunha. Fora encontrada apenas, horas depois quando uma fina camada de flocos lhe cobria.
Tsunade ficara enfurecida consigo e Sakura podia jurar que sua mestra havia lhe passado um sermão de horas, apesar de que a rosada não prestara tanta atenção nas palavras da loira enquanto fitava o céu acinzentado através da janela de seu quarto de hospital.
Sua pequena soneca havia lhe rendido uma leve hipotermia e uma quase gangrena embólica. Tivera de permanecer internada por um período de tempo incomodo para si, ainda mais devido ao fato de que os poucos que lhe visitavam – mesmo inconscientemente – faziam algo que lhe lembrava o loiro ou o moreno, e isso estava acabando com a garota.
Um ano após todo o ocorrido, lá estava ela novamente frente às lapides de mármore, desta vez com uma cicatriz no ombro como marca da visita de um ano atrás. Repetiu os atos costumes, afastando galhos secos e flores mortas, e acomodou-se sobre o manto gelado de neve no chão.
- Tadaima Naruto-kun, Sasuke-kun. – sorriu-a, triste, com lágrimas finas escorrendo pela face. O que não daria para ouvir um “irritante” ou “okaeri Sakura-chan”. – Sabe, o Jiraya e a Tsunade-sama se casaram semana passada, queria que pudessem ter visto, foi uma cerimônia linda. – confidenciou com um sorriso triste enquanto secava o que restara de seu frágil pranto. – Acho que nunca serei capaz de passar por isso. – murmurou ao fim erguendo o olhar para o céu, buscando a lua que se escondia atrás das densas nuvens cinzentas.
Ficou em silencio, apenas absorvendo o frio e o vazio que lhe rondavam. O tempo passou e a jovem se quer notou quando o dia já estava a amanhecer. As nuvens dissipavam-se aos poucos e logo o céu iluminava-se de laranja devido ao sol. Aquele prometia ser um dia de sol, um dia feliz em meio à neve gélida do inverno.
Piscou, voltando a olhar para ambos os túmulos a sua frente. Esquecera o que estava fazendo anteriormente e acabara apenas divagando nas próprias memórias, adquirira esse habito após a morte dos amigos.
- Ah, eu devo ter esquecido de dizer... – alvoroçou-se em puxar a própria bolsa ninja, pequena onde suas shurikens, kunais, pílulas e alguns pergaminhos ficavam, da mesma retirou uma pequena sacola de pano. Displicentemente colocou uma madeixa rosada de seu longo cabelo atrás da orelha. – Eu fui ao distrito Uchiha esses dias, sei que não tenho o direito e peço desculpas por ter invadido o lugar sem ter lhe falado antes Sasuke-kun, mas... – assim a rosada mordeu fortemente o lábio inferior. – Eu queria algo que me lembrasse de você, dos Uchihas, antes do distrito ser demolido...
E virando o saco de pano sobre a palma da própria mão um par de cordões caíram sobre a luva que a kunoichi usava. O primeiro era arredondado tendo uma perfeita divisão do branco com o azul e formava um tipo de leque, já o segundo limitava-se a uma forma esférica com um redemoinho formando-se a partir de seu centro.
- Eu posso usá-los? – indagou-a, ao vento. Ficou muda, como se esperasse uma confirmação nas vozes de seus amados amigos, mas ela sabia que as vozes não viriam, ela sabia que o Uzumaki não sorriria e diria que ficaria feliz em vê-la usando o símbolo do clã de sua mãe, nem que o Uchiha resmungaria e reclamaria um “tanto faz” com grunhidos indistinguíveis a seguir. – Obrigado. – e nisso envolveu ambos os colares em seu pescoço.
Remexeu-se novamente, espanando a pouca neve que ainda havia sob as lapides, e sorriu para os túmulos.
- Hoje eu estou partindo em uma nova missão. – informou mexendo nervosamente em suas madeixas longas. – Ela parece bem difícil e perigosa, espero que cuidem de mim. – e logo após tais palavras a mulher ergueu-se, espanando a neve que grudara em seu kimono curto e em suas meias. – Estarei de volta em breve, para vocês. – curvou-se antes de partir.
Ela não olhou para trás, sentia que não precisava o fazer.
E aquela foi a primeira vez que Sakura Haruno seguiu em frente, sem olhar para seus amigos, mal sabia ela que aquela também seria sua ultima vez.
...
Tossiu, afogando-se no próprio sangue. A dor aos poucos desaparecia em meio a dormência e ela apenas fitava o céu límpido sobre si, não se arrependendo do que fizera, ela nunca se arrependeria de sacrificar a si mesma pelo bem de seus companheiros.
Respirou calmamente, piscando algumas vezes enquanto sua visão embaçava. Aos poucos ela despedia-se daquele mundo.
Com esforço conseguiu movimentar seu braço esquerdo e o levar a onde os pendentes residiam ainda em seu pescoço.
- Sasuke-kun... – sussurrou. – Naruto-kun... – e não tardou para que as lágrima fizessem-se presentes e escorressem misturando-se ao sangue que empoçava-se abaixo de si. – Arigatou... – confidenciou ao vento, pois apenas ele estava ali consigo, apenas o vento, o céu e as árvores.
Ela sabia que sua hora chegaria um dia, e Sakura estava mais do que feliz ao entregar-se nos braços da morte, pois apenas nela teria a chance de rever aqueles que mais eram preciosos a si.
E por fim ela sorriu antes de lentamente sentir a alma escorrer para fora de seu corpo, dando adeus a aquele mundo e seguindo para – talvez – o lugar onde seus preciosos amigos se encontram, onde seriam felizes juntos, onde ririam, brincariam e sempre caminhariam de mãos dadas.
...
Ao longe um par de figuras observava o céu, apenas esperando.
- Tadaima! – a voz, tão conhecida, gritou ao longe. E quando viraram-se puderam ver. Fios rosados longos, o sorriso infantil e as roupas da academia, enquanto corria em direção a dupla.
- Okaeri, Sakura-chan! – berrou o rosado com um largo sorriso caloroso.
O moreno ao lado do loiro bufou.
- Demorou, irritante. – resmungou-o, não sem dar um sorriso pequeno de gracejo.
- Gomen, Sasuke-kun, Naruto-kun. – murmurou-a, logo quando estava próxima a eles.
- Vamos, estamos atrasados por que esperamos você. – reclamou o Uchiha, da mesma forma que fazia quando ainda estava na academia.
- Não seja chato Sasuke. – bufou o Uzumaki, e não tardou para que a dupla de ninjas se encarasse prontos para uma luta.
A rosada riu diante daquele e da nostalgia que se fazia presente.
- Vamos! – e assim agarrou a mão de Naruto e Sasuke, antes de começar a caminhar para frente. Para uma vida melhor, para um futuro melhor.
Para onde pudessem ficar eternamente juntos.
Fim.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que todos gostem, acho que nunca cheguei a escrever algo de Naruto. Nem sei por que na verdade.
Enfim, digam o que acharam, por favor.
Jya'ne.
Ps: não cheguei a revisar a história ainda.