Literatura escrita por LiKaHua


Capítulo 6
Capítulo 06 - Férias


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo curtinho porque estou sem inspiração '-' mas prometo compensar no próximo tá?



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O semestre passou mais rápido do que eu imaginava e mesmo eu tendo ficado uma pilha por causa das provas, me saí muito bem. Mas a melhor parte sem dúvida foram as férias. Quando eu terminei o ensino médio, levou um tempo até que eu decidisse que realmente queria tentar o vestibular, nesse meio tempo eu tentei trabalhar como vendedora em uma livraria e a coisa foi um fracasso, eu fiquei um mês e vi que mexer com pessoas não era, definitivamente, a coisa certa para mim. Eu tinha que trabalhar em algo fechado, provavelmente lidando com papéis e computadores e não atendendo pessoas todo o tempo, eu não me dava muito bem com pessoas, mas acho que isso era perceptível a distância pela forma sutil que eu (não) fazia amigos.

Entrei de férias em novembro, o que eu mais curti em fazer faculdade é que tínhamos um mês de férias em julho e saíamos de férias em novembro. Ficar em casa era ótimo, embora a pressão em cima de mim aumentasse, se eu fosse americana provavelmente estaria em um emprego de férias ou em um acampamento de snowboarding, mas como brasileira e ainda por cima interiorana, eu fico em casa lendo e escrevendo um livro que não tenho chance alguma de publicar. Eu sei que a minha mãe ainda sonha com o dia em que eu vou ter coragem para tomar a frente da minha vida, ela sempre quis ser professora e sei que grande parte dela deposita essa esperança em mim, por alguma razão tosca ela acredita piamente que eu tenho “habilidade” para ensinar. Bom, não tenho. Além de ser uma completa negação lidando com pessoas, eu não tenho qualquer competência ou habilidade para ficar a frente de uma sala de aula e ensinar um bando de adolescentes a falar Inglês quando eles só querem conversar sobre a última temporada de True Blood ou Game of Thrones, passar a aula no facebook, e comentar sobre o tipo de roupa que a “professora nova” está usando. Acredite, eu já fui aluna de ensino médio, eu sei como as coisas funcionam daquele lado. Sem contar no fato que de que terminantemente não quero ser professora.

Eu ficava em casa, ouvindo a minha mãe reclamar e exaltar as qualidades sem fim de Amberly. Eu não podia culpa-la, ao contrário de mim Amberly era extrovertida, tinha atitude, já havia namorado pelo menos cinco rapazes, havia ficado no meu lugar quando eu saí do emprego na loja em que havia trabalhado na única vez que tentei um emprego antes de entrar na faculdade, além disso, Amberly era altamente habilidosa, capaz de fazer literalmente qualquer coisa e bons exemplos disso eram suas habilidades de bordado, pintura, música, artesanato em geral, costura e desenho de todos os tipos. Enquanto eu evitava ao máximo me relacionar com quem quer que fosse e passava meu tempo lendo e escrevendo. De alguma forma, por mais que eu admitisse que não era lá o estilo mais saudável de vida, eu gostava, assim como a música, a literatura eram as únicas coisas que me faziam realmente bem, melhor ainda que o tratamento psicológico ao qual eu era obrigada a me submeter. Eu tentava ignorar minha mãe, ignorar o fato de ela me comparar com a Amberly o tempo todo e de narrar tudo que ela pensava e acreditava que eu faria quando terminasse a faculdade.

Enquanto eu aproveitava os momentos de paz dentro do meu quarto e terminava o livro que estava lendo até então, eu ficava me perguntando internamente o que Rafael estaria fazendo, e me surpreendi ao imaginar se ele estava na cama com a esposa Ashley. O pensamento me fez fitar o livro por um momento e fazer uma careta.

– Isso é culpa sua! – Falei colocando-o de lado. – Já é hora de colocar um ponto final nessa história.

O pai de Emma chegou pela tarde, perto das quatro horas. Ela ouviu a voz exaltada dele exigindo ve-la enquanto Leandro e sua esposa tentavam apaziguar e explicar a situação. Algumas horas depois ele entrou no quarto correndo na direção dela:

– Emma!

– Papai! – Ele a abraçou apertado e ela gemeu de dor o que o fez lhe soltar.

– Meu Deus, o que fizeram com você? Já deu queixa à polícia?

– Eu não consegui reconhecer nenhum, pai... – Explicou. – Estava muito escuro e...

Quando ela hesitou, ele lhe lançou um olhar tão doloroso que Emma se arrependeu no mesmo instante. Parado na porta, Leandro observava a cena com uma expressão de agonia, ela não conseguia decifrar o que exatamente ele sentia, mas parecia que seus conflitos internos estavam lhe destruindo. Seu pai tocou-lhe o rosto com seus olhos lacrimejando e aquela cena partiu o coração de Emma, ela nunca havia visto o pai chorar desde a morte da mãe.

– Quero ir pra casa... – Eu falei.

– Claro... Eu vou te levar pra casa, imediatamente.

Leandro fez menção de intervir, mas ela o impediu com um gesto. Mesmo assim, ele se aproximou contrariado e lhe ajudou a levantar. O pai dela saiu na frente quando viu que Leandro lhe ajudaria, ela colocou o pé no chão, mas sentiu uma fisgada na costela, foi tão doloroso que parou petrificada no lugar.

– Por que está fazendo isso? – Ele perguntou com a voz tensa.

– Quanto mais longe eu ficar de você, melhor. – Admitiu com a voz fraca, a dor não cedia.

– Não precisa arriscar sua saúde desse jeito.

– Quer que eu fique assistindo sua vida amorosa feliz? – Disparou furiosa. – Pra que ficou me seguindo? Você é o que, algum tipo de pervertido doente? Ou simplesmente gosta de magoar os corações que conquista?

– Está sendo injusta. – Ela sentiu a mágoa em sua voz.

– Ah, eu estou sendo injusta? – Perguntou incrédula. – E você? Como se chama a sua atitude? – Falou tentando dar um passo apressada para sair logo dali. – Covarde?

Emma gritou. Seu corpo desfaleceu tamanha foi a dor que ela sentiu, se ela não tinha deslocado nada até então agora estava certa de que tinha. Leandro lhe ergueu nos braços com o maior cuidado possível quando Ashley apareceu na porta do quarto com o rosto dominado pelo pânico e sendo seguida pelo pai de Emma:

– Leandro, o que houve? – Ela perguntou.

– Acho que ela tem de ir ao hospital... – Informou ele.

– Filha?

A voz do pai foi ficando distante, a fisgada nas costelas foi ficando mais intensa, como uma agulha gigante sento enterrada de uma vez em sua pele, doía tanto que ela mal conseguia raciocinar. Seus olhos penderam, ouviu a voz harmoniosa e agradável de Leandro chamando o seu nome como se ele estivesse com seu pai bem longe dela. Perdeu completamente a consciência dos braços fortes em torno do seu corpo e a escuridão tomou conta de seu ser.

– Laura!

A voz da minha mãe vinha da cozinha, eu tentei de todas as maneiras ignorar, mas sabia que se ela chamasse uma quarta vez viria atrás de mim no quarto e eu ia ter que aturar meia hora do velho sermão de “O que você pensa da vida”. Revirei os olhos e sai do quarto e dei passos lentos até a cozinha onde ela lavava a louça.

– O que foi? – Perguntei.

– O que está fazendo?

– Lendo. – Menti. Ela sabe que eu odeio que me atrapalhem quando estou lendo.

– Seque essa louça.

Pensei em protestar, mas não o fiz. Tirei a toalha do espelho do fogão e comecei a secar a louça em silêncio, o clima entre eu e a minha mãe vinha estranho há muito tempo, desde que ela começara a me pressionar com seus planos de futuro que não levavam em conta os meus sonhos e minha opinião. Ela queria me ensinar a ser forte, mas um pouco tarde demais depois de negligenciar minha criação em função de Amberly. Quando finalmente terminei e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa voltei para o meu quarto, ainda a ouvi reclamar sobre alguma coisa, mas não prestei atenção, eu tinha uma história para escrever e não queria ficar perto dela. Recoloquei os fones de ouvido e voltei a digitar ao som da música mais pesada possível, naquele momento eu queria ignorar completamente qualquer pessoa ou coisa fora da porta do meu quarto.

“Eu caminhava de volta para casa, era tarde. A festa da Karen, ou seja lá de quem fosse, havia terminado muito mais tarde do que eu previa, sorte minha não haver bebido, mas por mais que eu houvesse insistido para ir embora ela não deixava. O rosto dela estava embaçado diante de mim. Saí caminhando lentamente olhando as ruas desertas, eu deveria ter chamado um táxi, mas isso nem me ocorreu, minha casa ficava a mais ou menos dois quarteirões depois do centro, não valia tanto a pena.

O beco escuro parecia deserto como a rua, eu não me importei em permanecer na calçada, nunca imaginei que, ao passar por ali, eu seria puxada e toda a minha vida passaria diante de mim. Eram quatro homens eu acho, podia sentir o cheiro do álcool e cigarro à distância, a escuridão só não era total por causa da luz do poste na calçada e das janelas dos prédios ao fundo. Meu corpo tremia involuntariamente, e eu estava estática, sem saber o que dizer.

– O que temos aqui? – Falou um deles, a voz vacilante pelo álcool, e o bafo de cigarro que me fez enjoar tudo que havia comido na festa. – Uma ratinha perdida.

– Vamos brincar um pouco com ela! – Sugeriu outro deles, com a voz mais grave.

– Por favor... – Implorei com a voz trêmula. – Me deixem ir embora...

– Que pressa é essa gatinha? – A primeira voz soou novamente. – A noite acabou de começar....”


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