InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 14
Solidão e silêncio


Notas iniciais do capítulo

O que dizer desse capítulo? Bem, eu imaginei que ele teria menos diálogos e mais ação, mas eu só escrevo com uns 30% prontos na cabeça, o resto eu crio na hora.
Esperem um pouco mais sobre a história do Hugo nesse capítulo, um pouquinho de romance, e, para aqueles que forem mais atentos e tiverem uma memória boa, algumas explicações sobre o passado da Yasmine.
Então, sem mais delongas...



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Hugo estava sentado na beirada de um silo de grãos gigantesco de topo plano com a condutora de papel, Angela, ao seu lado com a mão inquietantemente próxima da sua. A paisagem a sua frente era vasta, plana, tomada por casas baixas e outros silos como aquele. Era enervante, aquele não era seu habitat.

Ele e a condutora estavam algumas horas a frente de seu pelotão, batendo o terreno.

Não haviam visto necessidade de fazer aquilo até serem emboscados pelos Infames, e mesmo que tudo tenha dado certo, Rickard ficou mais cauteloso. Hugo havia se oferecido, já que tudo o que ele queria era um pouco de espaço dos Rebeldes que o assediavam depois de sua “performance” no dia anterior. Um pouco de paz, solidão e silêncio cairiam bem, mas aí, para sua decepção, Rickard achou melhor que fossem duas pessoas.

Seu ânimo se renovou parcialmente ao ver Angela se voluntariando. Ela parecia despontar daquele grupo por ser menos impulsiva, menos idiota e um pouco mais madura, três pontos muito positivos.

Além disso, ela também era muito agradável ao olhar, com aqueles grandes olhos castanhos.

Hugo surpreendeu-se ao ver que a garota falava bastante, não que o incomodasse, ele sempre foi um bom ouvinte, e Angela era boa em falar.

– Posso te contar uma piada? – Perguntou ela, segurando o riso.

Desviou o olhar do horizonte por um segundo e respondeu. – Pode, claro.

– Ok, é assim: - Ela limpou a garganta. – Era uma vez dois amigos caçadores que estavam andando pela floresta quando viram um alce enorme. – Gesticulou com as mãos para dar uma ideia do tamanho. - Mas sempre que eles se aproximavam, o alce fugia, não importava o que fizessem. Aí um deles teve um plano. – Fez uma pausa.

– E qual foi o plano? – Perguntou sem olhar para ela.

– Eles compraram uma fantasia de alce fêmea para atrair o bicho e atirariam nele quando ele se aproximasse.

Hugo franziu o cenho. – E quem seria idiota pra acreditar que isso funcionaria?

Ela deu uma risada curta. – Normais, ora! – Ele sorriu. – Voltando. A fantasia era pra duas pessoas, um era a parte da frente, e o outro a de trás. Eles estavam na floresta com a fantasia há horas e nada do alce, ai, o cara da parte de trás falou. – Ela engrossou a voz. – “Eu preciso ir ao banheiro cor urgência.” O outro respondeu. “Tudo bem, a fantasia tem um zíper pra isso.”

Contendo uma risada, continuou. – Quando o cara da parte de trás terminou, viu que o zíper estava emperrado e viu também que o alce que eles estavam procurando estava chegando.

– E então, o que aconteceu?

– O cara de trás falou com certo desespero: “Cara, meu zíper está preso e o alce está chegando, o que a gente faz?” E o da frente respondeu. “Olha, eu vou comer um pouquinho de relva aqui, já você, acho melhor se preparar!” - Desatou a rir junto com Hugo.

– Essa foi pesada! – Ele comentou, respirando fundo.

– Geralmente são as boas, oras! – Respondeu na defensiva. – Sorte minha que você não é uma criança impressionável. – Abriu o cantil e deu um gole. – Falando em impressionável, você não explicou pra ninguém como você fez aquilo.

Hugo ergueu a sobrancelha. – Aquilo?

A condutora revirou os olhos. – Aquelas coisas todas lá! – Ao ver que ele não entendeu, tentou explicar. – Quando encontramos os Infames.

– Ah! Aquelas coisas.

– Ééééé, essas mesmo. – Falou como se ele fosse lerdo ou algo do tipo. – Como você fez aquilo tudo?

– Eu conduzo gás. – Explicou. – Posso manipular os gases do ar.

Ela coçou o queixo. - Entendo. Mas assim, os condutores de ar não são meio que condutores de gás? – Ela perguntou.

– Meio que. – Pensou um pouco. – Olha, um condutor de ar faz isso. – Moveu a mão em círculos, fazendo um redemoinho em volta dos dois, a garota sorriu e abriu a mãos e dela surgiram vários pássaros de origami que voaram com o vento.

– Olha como somos sinérgicos! – Sorriu para ele.

Parou de girar a mão e os pássaros caíram de forma triste no abismo para a tristeza de Angela.

Colocou a máscara com o sorriso de caveira. – Um condutor de gás faz isso. – Repetiu o movimento e nada aconteceu por um tempo, Hugo se concentrou e uma linha de luz surgiu, rodando ao redor deles.

– Legal! – Ela aprovou. – E como você faz isso?

– É simples, na teoria. – Parou de girar e começou a desenhar no ar com a luz. – É só isolar um gás específico dos outros, nesse caso o neônio, e energizá-lo. – Explicou concentrado no desenho. – Eu posso manipulá-los contanto que continuem na forma gasosa, quando eu solidifico ou liquefaço algum deles, não consigo mais controlar.

Ela tentava decifrar o desenho que se formava. – Mas como você isola um deles?

– Essa é a parte chata, imagine que você tenha um monte de crianças juntas. – Fez um longo arco. – Cada uma delas faz algo especial quando sozinha ou junta com outra criança específica, mas todas juntas não fazem nada. – Desenhou os detalhes. – Eu escolho uma ou mais dessas crianças e agito suas moléculas, energizando, daí, a química faz todo o trabalho. – Concluiu o desenho. – Não todo o trabalho, um pouco de criatividade às vezes é bom.

O desenho era de uma mulher com um sorriso caloroso e grandes asas surgindo das costas, feito com muitas linhas retas.

Angela ficou boquiaberta. – Um anjo, sério? – Riu.

– É. – Pensou um pouco. – Acho que fiz pensando em você.

Ela sorriu. – Você está me cantando?

Hugo corou imperceptivelmente e acrescentou. – Não. Angela, Angel. Só fiz uma associação. – Desviou o olhar.

Angela deu um sorrisinho e se aproximou dele. – Own, eu te deixei vermelhinho, foi? – Virou o rosto dele, fazendo-o olhar em seus olhos e reparou na máscara. – Qual é a dessa bandana?

Hugo fez menção de tirar, mas decidiu mantê-la ao sentir as faces quentes. – Eu ganhei do meu irmão, não consigo controlar o gás sem ela.

Achou que ela perguntaria o porquê. – Não sabia que você tinha irmãos.

Ele via o anjo ser varrido pelo vento de forma melancólica. “Tudo morre.” Pensou. – O que?

– Irmãos, você têm irmãos? – Repetiu.

– Ah sim, tenho. – Fechou a expressão.

– Quantos? – A forma que ela sempre parecia interessada no que ele falava era muito agradável.

– Três, dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova. – Balançou as pernas e o olhar ficou distante.

– Como eles se chamam?

– Hector, Lee e Yasmine.

A garota assentiu e se aproximou um pouco. – E vocês são próximos?

– Eu e a Yasmine éramos parceiros e o Lee é meu melhor amigo, mas não os vejo desde que essa empreitada começou. – Flexionou os dedos. – Agora o Hector, não o vejo faz muitos anos.

A condutora caiu para trás, deitando no topo do silo. Deu umas palmadinhas no chão de metal ao seu lado. – Vem, deita aqui do meu ladinho e abre esse seu coração.

Hugo fez como ela disse, afastando-se alguns centímetros de sua ouvinte.

– Bem, eu e o Hector fomos criados juntos e ele cuidava de mim. Cuidávamos um do outro, lutávamos nossas lutas juntos e tal.

– Ownty, que fofinhos. – Ela comentou.

– Nós vivíamos no Novo México, então eram mais normais do que condutores, logo, nós quase sempre tínhamos que abrir caminho com socos pela multidão. – Ele fez uma pausa.

– Nossa, que profundo.

– Um certo dia, uma caravana de Rebeldes passou por lá procurando por recrutas e nós nos oferecemos e fomos para Nova York com eles e, uns meses mais tarde, o Hector foi chamado para uma missão, me deixando lá sozinho. Foi quando eu conheci o Lee e ficamos amigos e daí, melhores amigos. Foi bem rápido, dois meninos com quase a mesma idade e sem ninguém para lhes dar atenção.

Ela não fez nenhum comentário e ele prosseguiu.

– Depois de um mês, Hector voltou trazendo uma criança a tiracolo, uma menina um pouco mais nova que eu. – Olhou para a garota. – Era a Yasmine. – Ele limpou a garganta. – “Ela não tem ninguém, Hugo, então preciso que você cuide dela.” Ele falou pra mim. “Feito?”

– E é lógico que você aceitou, não é sempre que nós arranjamos uma irmãzinha assim, né?

– Isso mesmo, a partir daí, éramos inseparáveis, nós três, entretanto, um dia o Hector foi transferido para a Filadélfia, aparentemente, eles precisavam de um prodígio como ele lá. Eu, o Lee e a Yas ficamos sozinhos, e isso fez com que ficássemos cada vez mais próximos e fechados em nosso círculo, mas pra mim, estava bom daquele jeito. – Suspirou. – Pelo menos, eu e a Yas.

– Você totalmente ama essa garota. – Angela disse com ar divertido.

– Ela é minha irmã, ela e o Lee.

Angela reparou que ele se esquivara de sua insinuação. – E então?

O condutor sorriu. – Sempre juntinhos e tal, íamos até participar de um mata-mata juntos, no final do mês passado. – Riu contidamente. – Mas essa missão melou tudo, eles vão querer arrancar minha cabeça quando eu voltar.

Angela riu com ele, a companhia dela era muito agradável. Olhou para o sol que subia.

– Agora, acho que é minha vez de fazer as perguntas. – Ele disse, sorrindo.

– Seria um prazer. – Ela retribuiu o sorriso.

Ele pensou um pouco. – Por que você veio comigo?

O sorriso dela morreu. - Queria um tempo longe daquela gente toda. – Olhou para longe de Hugo. – E um tempo com você.

Ele perdeu um pouco da concentração. – E por quê?

– Por duas razões. – Deixou o indicador em riste. – Primeira: Porque eu e a Silver somos as duas únicas mulheres lá, tirando as Infames capturadas e, como a Silver não atrai muitos olhares, eu acabo ficando com toda atenção. – Fechou os olhos e suspirou como se tentasse controlar seu ritmo cardíaco. – E condutores não conhecem o conceito de “preliminares”, acreditam que tudo é deles na hora em que eles quiserem. – Balançou a cabeça. – Isso estava me deixando enojada, então decidi vir com você.

– E – Prosseguiu, erguendo o médio e fazendo um dois. – Segunda: Porque você é diferente. – Disse cheia de significados ocultos. – Não parece ser um desses condutores com um ego do tamanho do Edifício Chrysler e cheios de hormônios que só pensam em matar e foder.

Ele riu de forma nervosa. – Bom que pensa assim.

Ela voltou a olhá-lo. – Penso mesmo. – Ficou em silêncio por um minuto como se pensasse. – Reparou uma coisa?

– Algumas. – Admitiu. – Mas não sei se é o que você está pensando.

– Bem. – Ela sorriu de forma provocante. – Somos dois condutores jovens e bonitos desfrutando da presença um do outro e de mais ninguém.

– Sim... – Lambeu os beiços secos, um pouco tenso.

– Sem falar que não têm ninguém para encher nosso saco.

Ele ficou quieto, pensando aonde aquilo iria levar.

– Entendeu o que estou tentando dizer? – Olhou ansiosa para ele.

– Imagino que sim. – Bela resposta, idiota.

Ela revirou os olhos, divertida, e passou a perna por cima de Hugo, montando nele e mordendo seu pescoço. – Você é bem lerdinho para um condutor. – Riu.

Ele suspirou. Ela de repente, parecia muito mais bonita. O cabelo preso castanho e opaco com raias claras era como o chão de Central Park no outono depois de uma chuva. Seus olhos eram da cor da casca das árvores e seu cheiro, deus, seu cheiro era embriagante.

O aroma forte de folhas em decomposição e terra molhada. Hugo achou incômodo em um primeiro momento, mas aprendeu a gostar muito rapidamente.

– Você é tão quieto, taciturno, quase sem graça. – Ela se apoiou no peito dele. – Mas se lamber essa cobertura, tem um doce embaixo que... – Passou a língua em seu rosto... – Faz qualquer condutorazinha inocente ficar louca.

Hugo estava perdido de uma forma que não ficava desde que entrou em seu quarto e achou Yasmine saindo do banheiro sem roupa e procurando por uma toalha, não conseguiu segurar a risada.

– Hum, o que foi? – Ela estava tirando a própria camisa e se interrompeu.

– É que isso é muito surreal. – Segurou um pouco do riso. – Quer dizer, estávamos do lado de um cadáver hoje cedo e agora estamos aqui. – Quando disse isso, se arrependeu por achar que ela sairia de cima dele imediatamente com cara de nojo, mas ficou agradavelmente surpreso quando ela se aproximou e mordiscou sua orelha, sussurrando.

– Você sabe excitar uma garota, Hugo.

– Eu sei fazer muitas coisas... – Respondeu baixo.

Ela ergueu a sobrancelha. – Sabe como deixar uma mulher satisfeita?

– Ai você quebra minhas pernas. – Respondeu divertido.

– Tudo bem, sou paciente. – Pegou as mãos dele e as pousou em sua cintura. – Toque-a, faça ela se sentir querida. – Ele deslizou as mãos pelo corpo de Angela, ela suspirou e sorriu. – Assim mesmo, espertinho. – Aproximou-se, ficando a centímetros do rosto dele. – Estou com calor.

Ele entendeu e, rapidamente tirou-lhe a jaqueta e a camisa, revelando o corpo magro abdômen delineado da condutora. – Melhor?

– Na verdade, ainda estou com calor. – Ela começou a tirar o sutiã. – Olhe para o outro lado, senão fico com vergonha! – Ele desviou o olhar, concentrando-se na estrada de asfalto que esquentava ao sol.

– Posso olhar?

– Ainda não! – Respondeu.

Ele continuou olhando a estrada, procurando qualquer coisa que pudesse ser tão interessante quanto uma garota excitada e seminua e, contrariando todas as suas expectativas, encontrou.

Um borrão vermelho avançava veloz vindo do oeste pela Rota Seis. A anomalia desacelerou até tomar a forma de uma garota ruiva usando uma camisa regata preta, aparentemente alheia ao frio do inverno, suando. Hugo reparou que ela usava coisas na cara, piercings, um no nariz e três na orelha.

Até aí estava estranho, não conseguia se lembrar porque uma ruiva com um piercing no nariz e três na orelha seria importante, mas a resposta ficou clara quando a garota subiu na calçada e ajoelhou para amarrar os cadarços.

Um crânio de pássaro decorava-lhe as costas.

Uma lembrança súbita veio à sua memória. Yasmine segurando um gravador enquanto ele tentava dormir.

– Merda...

– Hum? – Angela estranhou. – O que foi?

– Aquela garota. – Apontou. – Infame.

Angela arregalou os olhos e, a contragosto, voltou a prender o sutiã. – E agora?

– Volte e veja se os outros estão bem, pode ser que eles estejam nos flanqueando. – Pediu. – Ok?

Ela levantou, suspirando e vestindo sua camisa. – Ok... – Olhou para ele. – Se cuide.

Ele ficou em pé. - Não se preocupe.

Angela tirou sua máscara e deu-lhe um beijo rápido. – Não morra, não é educado deixar uma garota esperando. – Vestiu a jaqueta e subiu o zíper.

Ele assentiu e subiu na beirada, lançando um último olhar para Angela, que mostrava as dentes de leve, provocando-o. A condutora se desfez em uma nuvem de papel, voando para o leste e o condutor saltou pela borda, deixando que os ventos o carregassem até o chão.

Seu relógio marcava 08h20min

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Marie viajava pelo som de duas formas, a rápida e desagradável e a lenta e econômica.

A forma rápida: Por ser condutora daquilo que era, o som e o espaço eram divididos por uma linha bem tênue, e trespassar essa linha era fácil. Imagine uma linha sonora, cheia de ondulações e imagine que os extremos dessa linha ondulada sejam unidos por uma linha reta. Ao esticar essa linha reta, as ondas sonoras cresciam em comprimento, mas diminuíam em altura; e ao encurtar a linha, o oposto acontecia, as ondas diminuíam em comprimento, mas cresciam em altura. Marie fazia o contrário, alongava as ondas em altura, fazendo com que a linha reta diminuísse em comprimento, a linha reta sendo, no caso, o espaço.

Era bem complicado e bem desagradável, como uma montanha-russa na velocidade do som, muito quente, muito aguda e muito imprecisa. Marie usava-a apenas se sua margem de erro fosse maior do que trinta metros.

A segunda forma, a forma “lenta” era bem mais cômoda e totalmente diferente, sendo muito mais simples. Marie precisava de um som alto, a sola de sua bota era de aço, bastava ela pisar forte; Quando a sola atingisse o chão, ela pegaria carona no som que se propagava como uma esfera crescente, igual uma explosão, e seria impulsionada até que o som morresse, daí, ela daria outro passo e repetir o processo até chegar aonde quisesse.

Simples e preciso, mas lento se comparado ao outro método.

Chegou ao município de Waukee usando o segundo método, o que consumira umas boas horas a mais que o primeiro, mas ela não ligava.

Segundo Croyd, o Rebeldes estavam cerca de quatro horas para o leste, em Des Moines, e não avançariam mais por estarem esperando notícias dos outros grupos que vagavam pelo país.

A movimentação dos Rebeldes estava dentro do plano que Marie ajudara a bolar. “Mexa umas tropas aqui, dê alguns passos para o leste e veja eles se agitarem como formigas.” Pensou com satisfação. “Afastando-se cada vez mais do formigueiro, deixando-o vulnerável...”.

O som do vento quebrou sua concentração, e ele aumentava.

Muito.

Quando começou a achar estranho, algo caiu no chão como uma bala, jogando seus cabelos para trás e revolvendo a poeira do chão, cegando-a temporariamente.

Quando conseguiu diferir as formas, viu que era uma pessoa, um homem, com os cabelos arrepiados e bagunçados.

“Condutor.” Constatou mentalmente enquanto ele encarava.

Ela o sondou rapidamente, até notar algo.

A águia azul e branca bordada no peito dele.

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Hugo foi mais rápido, atirou uma esfera de ar comprimido na Infame ruiva e se aproximou sacando a faca, aproveitando-se da distração, para finalizar a luta rapidamente, mas quando sua lâmina ia penetrar o crânio da garota, ela desapareceu.

Instintivamente, ele girou o corpo para a esquerda, com a faca na defensiva, e bloqueou um soco.

Ainda bem que ele tinha reflexos afiados, o soco iria mandá-lo para o chão caso acertasse seu queixo.

A ruiva lançou uma torrente de golpes que Hugo mal conseguia processar, bloqueando mais por reflexo do que por habilidade e recebendo uma pequena parcela deles. Quando pegou o ritmo, conseguiu segurar um soco que atingiria seu lado abaixo das costelas e com a outra mão, pegou outro que acertaria seu rosto, entretanto, a ruiva o atingiu com uma cabeçada que fez ele afrouxar a pegada.

Aproveitando a deixa, ela libertou as mãos, fechando a direita como se segurasse uma bola de tênis invisível.

Hugo viu o ar tremulando com energia na palma da garota e ouviu um ruído alto, ainda atordoado.

Ela desferiu o golpe no peito de Hugo com uma velocidade incalculável e o ar foi enchido por uma explosão sonora.

O condutor sentiu como se um trem colidisse com suas costelas e voou cerca de dez metros, caindo de costas e rolando para ficar em pé procurando a Infame.

Ela se aproximava de forma vertiginosa, desaparecendo e reaparecendo como uma imagem em um filme antigo.

Novamente, salvo por seu reflexo, bloqueou à direita e sentiu outro trem colidindo contra seu antebraço e ecoando pelo corpo. Deixou um gemido curto escapar e sentiu as lágrimas virem aos olhos. A ruiva trincava os dentes com tanta força que um fio de sangue escorria de sua boca, o golpe havia machucado-a com certeza.

Ambos ficaram congelados naquela posição por trinta segundos inteiros, o que já era umas seis vezes mais do que a duração da luta até aquele ponto.

Os dois estavam ofegantes. Aqueles foram, com certeza, os segundos mais exaustivos de suas vidas.

Como que em uma dança, recuaram ao mesmo tempo em passos rápidos, abrindo quinze metros de distância em uma fração de segundo.

Marie ficou satisfeita ao ver que encontrara um oponente e, com um movimento rápido, sacou sua arma. Um pedaço de ferro achatado de um metro preso em seu cinto, parecia um taco de críquete feito de metal, só que mais estreito. Nas mãos de um qualquer, parecia uma arma bruta, mas nas mãos de Marie, era uma arma perigosa.

Hugo assumiu uma posição defensiva, dobrando os joelhos para conseguir impulso se necessário, esperando a ruiva se movimentar.

A garota postava-se reta e tensa como a corda de um arco, a mão livre a frente do corpo e o pé de apoio levemente erguido, sua mente trabalhava rapidamente, calculando a trajetória e por fim, pisando forte.

O Rebelde piscou, o que se provou um grande erro. Quando abriu os olhos, Marie estava muito próxima, tão próxima quanto Angela estivera. O condutor poderia beijá-la caso se inclinasse mais para frente, mas beijos não tomavam lugar em sua mente, diferente do pânico, que fez ele se esquivar para trás o mais rápido que conseguia.

Entretanto, antes que seus músculos processassem a informação, a ruiva voltou a desaparecer bem diante de seus olhos e reaparecer a suas costas.

O que Hugo fez a seguir manteve sua cabeça presa em seus ombros.

Ele se desfez, truque que todo condutor sabia fazer, um milésimo de segundo antes que a arma da Infame zunisse pelo espaço que antes era seu pescoço com uma força que iria quebrá-lo facilmente, mas em seu estado incorpóreo, ele viu uma brecha nas defesas da condutora.

Ela cometera um erro que Yasmine cometia com frequência, lançou um golpe muito forte, imaginando que seria o último e abrindo muito a guarda. O Rebelde viu a deixa e não perdeu tempo.

Ficou substancial, segurou o braço da garota e o manteve esticado, pisou na parte de trás de seu joelho, fazendo com que ela se ajoelhasse e posicionando a kukri em seu pescoço, sentindo o sangue dela pulsar.

– Qual seu nome? – Perguntou a garota submetida.

Ela riu, tomando cuidado com a faca. – É falta de educação perguntar o nome de alguém de dizer o seu. – Hugo esticou mais o braço dela, fazendo-a trincar os dentes de dor. – Não ensinam isso aos Rebeldes? – Perguntou em desafio.

Ele aumentou um pouco a pressão da faca, mas achou o ponto da ruiva válido, então cedeu. – Hugo, meu nome é Hugo Caimán.

– Prazer, Hugo Caimán, eu sou Marie. – Ela respirou fundo e abriu a boca, emitindo um som agudo e incômodo, Hugo sentiu seu estômago revirar e a espinha vibrar. A ruiva se libertou e o Rebelde não ofereceu resistência, pois estava paralisado. Sentiu o suor escorrer frio por sua têmpora, mas não conseguiu fazer nada além de olhar para a ruiva com ódio.

Ela fechou a boca e o silêncio súbito fez o Rebelde cair de joelhos, obrigando seu café da manhã a descer de volta pelo esôfago enquanto ofegava.

A ruiva se curvou para ele com um sorriso presunçoso nos lábios e nos olhos azuis.

“Azuis como o cabelo da Yas quando ela está triste.” Hugo pensou.

Ela tossiu um pouco de sangue e disse rouca, quase um sussurro. – Marie Rowe.

Hugo arregalou os olhos e cerrou os dentes ao ouvir aquilo, como se a garota se revelasse o próprio Satã, e não estava muito longe disso, na verdade.

Tomado pela adrenalina, Hugo se lançou para trás com uma lufada de vento, voando para bem longe da garota que sorria.

“Acabou a brincadeira.” Pensou, colocando a máscara.

A garota olhou para ele com um vago interesse, esperando descobrir o que ele planejava. Via seus dedos se agitarem freneticamente e a concentração expressa em seu rosto. Ela sentiu o ar esfriar ao seu redor e viu-o torcer e fechar o punho.

O condutor sorriu ao ver sua rival ser engolida por uma explosão que estilhaçou os vidros das casas próximas e, não muito longe, ouviu uma criança chorar.

Respirou fundo, sentindo o cansaço pesar em seus ossos.

– Também é falta de educação explodir as pessoas. – Ela disse em seu ouvido.

Hugo condensou o oxigênio em sua mão e saltou com um giro, formando uma língua de fogo em sua mão que avançou em cima da Infame como uma cobra dando o bote. A ruiva desviou, chamuscando as pontas de seu cabelo e o Rebelde lançou mais um ataque, isolou o nitrogênio no ar e forçou suas moléculas a desacelerarem, lançando uma bruma congelante em Marie, que consegui se esquivar mais uma vez e estendeu sua arma, avançando para cima do rival em uma velocidade vertiginosa e desferindo um corte horizontal na altura de seu plexo solar.

Hugo ficou bastante surpreso ao ver sua camisa e sua pele serem rasgadas pela arma supostamente cega e, esse momento de distração foi o suficiente para a ruiva. Hugo ouviu o clap das solas dela e sentiu uma fisgada em seu braço esquerdo, outro clap e sua omoplata direita ardeu. Clap, um corte fundo foi aberto em sua testa; clap, seu bíceps doeu como se marcado a ferro. Clap, clap ,clap ,clap, clap, clap, clap, ele não conseguia defender, ou nem ao menos ver de onde os golpes vinham. Ele perdeu a conta, perdeu a noção de tudo menos de uma coisa.

Estava morrendo.

Será que Angela o encontraria ali, caído e retalhado e choraria em seu cadáver? Não, ela provavelmente não choraria. Será que a ruiva o usaria como uma isca para ceifar a condutora de papel também? Será que ele ao menos deixaria um corpo para servir de isca? Condutores só deixavam um cadáver quando morriam sem ter contato com nenhuma forma de energia, então ele provavelmente morreria e sumiria em uma onda de som. Imaginou como esse som seria; grave, agudo, doce, ou cheio de ódio?

Pensou em Angela que trazia o outono com sigo, em seu cheiro, em seus olhos e em seu cabelo; em Lee com sua de fumaça, sorrisos irônicos e com aqueles óculos que Hugo quebrara meia centena de vezes enquanto brincavam; e em Yasmine, a garota que fora um arco-íris em sua vida.

“Que coisa gay.” Lee diria, e ele sorriu ao pensar naquilo.

Por último, pensou em Hector, esforçando-se para lembrar-se de seu rosto depois de uma década sem vê-lo.

Subitamente, a melodia insana que o embalava cessou e Hugo decidiu abrir os olhos para certificar-se de que estava vivo.

Os olhos arderam com o sangue, mas mesmo assim, ele conseguiu ver a condutora a vinte metros de distância, se preparando para o golpe final e disparando com a lâmina em riste.

O mundo ficou mais lento e Hugo viu ela se aproximando como se andasse com pressa, era sua última chance, se fosse sobreviver, teria de ser naquele instante, onde tudo acabaria.

Onde tudo seria decidido.

Ele recorreu à razão, a garota era o som, algo devia derrotar o som. O fogo? O vento? O frio? Nada disso!

Ela estava a menos de dez metros.

“O som é o ar em movimento” Pensou. “Ar em movimento.”

Espalmou a mão, baixando sua última cartada.

Fechou os olhos, proferindo uma prece e esperou a morte.

Abriu os olhos depois de um minuto inteiro e o que viu não fazia sentido.

Marie estava a dez palmos de distância com a mão direita estendida, os dedos retorcidos em ângulos estranhos, quebrados e deslocados; e a incredulidade brilhava nos olhos azuis, um fio de sangue escorria de sua testa e seus lábios se moviam sem emitir som.

Pelo menos, era o que ele achava até ouvi-la proferir.

– não desmaie não desmaie não desmaie...

Hugo desfez a parede de vácuo entre eles e os olhos da ruiva reviraram, ela caiu para trás com um baque seco e os olhos entreabertos.

O som não se propaga no vácuo, o impacto deve ter feito a o cérebro dela quicar no crânio, causando uma concussão das bravas.

Hugo caiu sentado para trás, ofegando e sentindo todos os seus inúmeros cortes latejantes serem fechados pelo vento que uivava.

Olhou o relógio, o visor marcava 8h22min.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Olha, eu não tenho o costume de escrever nenhum conteúdo sexual, mesmo que bem levinho, e como não planejo mudar a censura da fic não esperem nenhum tipo de hentai aqui, just saying
até a próxima
Ah sim, ia me esquecendo, o próximo capítulo vai contar com a provável participação de Lee, Hunter e Yasmine



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