Io Ti Amo, Madre escrita por Lady


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Io Ti amo, Madre

“Ela me ensinou a tocar piano e me ensinou o significado de perder alguém.”

Inspirou profundamente enquanto os dedos enrolavam-se firmemente no volante do carro, estava cansado, física e psicologicamente, e seria um eufemismo afirmar que ninguém notara aquilo, por que Tsuna – seu melhor amigo e chefe – notara e o dispensara de uma missão de extrema importância e também lhe dera uma folga do trabalho, apenas para que pudesse esfriar a cabeça.

Curvou-se encostando a testa no volante do carro enquanto fechava os olhos. Os fios prateados escondiam sua face da mesma forma com que suas pálpebras escondiam o verde-esmeralda de seus olhos que, naquele momento, transmitiam tantos sentimentos quanto o necessário. Afinal, um mafioso não pode se dar ao luxo de expor emoções ou qualquer coisa do gênero.

Antes que se desse conta, as lágrimas vieram. Quentes e doloridas, seu peito doeu e um nó formou-se em sua garganta dolorida. A quanto tempo não permitia-se sentir tão solto? Mesmo com Tsunayoshi ele não se permitia sentir tanto, ele não poderia, afinal, preocuparia uma pessoa importante demais para si. E sua ultima pretensão em vida é ferir seu amado chefe – mesmo que tal ferimento não seja físico.

E subitamente suas emoções tortuosas foram encobertas por um natural ódio próprio. Não poderia dar-se ao luxo de expor emoções, não essas emoções, elas eram sua ruína, seu ponto fraco, a ancora que lhe puxava para o fundo de um mar de dores do passado, de mentiras.

Trincou o maxilar, secando – com uma raiva controlada – as lágrimas que haviam escorrido sem permissão. E quando fixou as orbes verdes no espelho retrovisor do carro a fim de contemplar o estrago que era a própria aparência agora, pode ver apenas um par de orbes esverdeadas – com anéis avermelhados circundando os olhos – olhando-o de volta numa tristeza semi-igual e numa raiva infundada por si mesmo.

Com mais força apertou o volante do carro, agradecendo por tê-lo estacionado a algumas horas atrás, senão a tal momento já teria sofrido um grave acidente de transito.

Inspirou e respirou. E repetiu o processo por mais algumas vezes buscando acalmar-se. Quando achou que, talvez, houvesse alcançado alguma calma, seu olhar voltou a repousar sobre o buque avermelhado sobre o banco do passageiro. Isso fora o suficiente para lhe dar algum tipo de coragem absurda.

Desprendendo o cinto de segurança do veiculo e tomando o volumoso buque em mãos, o albino retirou-se – em toda sua glória – de seu lugar sobre o banco do motorista. Bateu a porta do carro com uma força desnecessária e avançou pela calçada, logo alcançando os portões de entrada do cemitério antigo.

Tomou mais uma respiração profunda antes de seguir para dentro. O caminho era um tanto familiar para si, viera aqui algumas vezes quando não tinha uma adorável e incrível família como a Vongola, quando estava sozinho no mundo, perdido, sem destino, sem propósito.

Valsou em passos duros por entre as lápides, não tardando em alcançar a grande cruz abraçada por um frágil anjo de cabeça abaixada. Fitou a estátua marmórea por poucos segundos antes de tornar a fitar o nome dourado grafado no mármore polido.

E mais uma vez o nó formou-se em sua garganta e as lágrimas ansiavam por darem sua presença.

Com uma lentidão desumana o homem ajoelhou-se depositando, com uma delicadeza que não era de seu feitio, o buque delicado sobre a lapide já antiga.

- Tadaima, oka-san. – murmurou tão baixo quanto possível enquanto encarava a grama sob seus joelhos. – Me desculpe por demorar tanto a te visitar, eu só... – e nem ele mesmo sabia o por que de não mais ir ali. – Só... Me desculpe. – rogou, não contendo mais as lágrimas turbulentas e dolorosas.

Nunca, durante os seus vinte e seis anos, Gokudera Hayato se arrependera tanto de algo que não fosse com relação a seu amado patrão. Nunca! Mas lá estava ele, chorando desolado como o adolescente inconseqüente que um dia fora. Ele não queria estar ali, de forma alguma. Ele não queria visitar sua mãe em um maldito cemitério na Itália, não! Ele queria poder sair da mansão onde morava, junto a seu jovem patrão, e seguir num carro – ou mesmo num avião – para a casa da sua mãe, para que ele pudesse tocar piano para ela e Tsuna, para que pudessem sorrir e tomar chá, para que ele pudesse corar e chorar de vergonha por sua mãe mostrar a seu sorridente amigo suas fotos de quando ele era bebê.

Mas ele não passaria por isso. Ele não tinha uma mãe viva para lhe fazer passar por tais momento felizes e constrangedores, como Nana – por muitas vezes – fazia Tsunayoshi passar. Ele não tinha mais uma família de sangue com ele e para ele. Sem seu relacionamento com a Vongola, ele estava sozinho no mundo, vagando desconcertado e triste, como o vento após uma tempestade furiosa.

Fungando, o prateado secou – novamente – as lágrimas que escorriam, mas diferente da primeira vez, ele assim o fez numa calmaria digna de uma simples garoa.

Poucos foram os minutos que ele passara ali, e sempre seriam poucos os minutos que passaria frente ao tumulo de sua preciosa Mamma. Mas esses mesmos poucos minutos eram o suficiente para acalmar a tempestade que ocorria em seu interior. E mesmo sem ter aberto a boca para soltar quaisquer frustrações, a não ser um pedido informal de desculpas, o Guardião sorriu. Um sorriso afogado em triste e magoas, mas não na solidão, por que Hayato sabia que não estava sozinho, ele sabia que sua mãe olhava por si de onde quer que estivesse e sabia que não importando onde fosse, seu querido patrão sempre estaria em seu coração o fazendo companhia.

- Io ti amo, madre. – murmurou, num rouco italiano antes de dar as costas e partir de volta para o carro. Mas talvez, só talvez, se ele houvesse se virado em algum momento m sua caminhada, ele teria visto-a de pé onde há poucos instantes o prateado encontrava-se, era apenas um corpo translúcido, mas era o suficiente. Era uma mulher de estatura media e cabelos prateados longos trajando um vestido liso branco que dançava a brisa.

E ela sorriu.

- Io ti amo, mio caro figlio. – o murmúrio ecoou baixo enquanto, o corpo da mulher desaparecia em flocos luminescentes.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Jya'ne.