PDV Bella

Quando os meninos chegaram com o almoço, todos nós sentamos na sala e comemos.

Percebi que o Carl me olhava o tempo inteiro, ele estava tramando alguma coisa. Assim que acabamos eu peguei os pratos e fui pra cozinha lavar e Edward veio me ajudar. Eu lavava e ele secava.

— Você está bem?

— Porque todos vocês estão me olhando e me tratando como se eu fosse uma bomba relógio que está prestes a explodir? — perguntei parando com os pratos e o encarando.

— Bella, eu te conheço. Sei o que você quer fazer com o Aro. E tenha certeza, todos nós queremos o mesmo que você. Mas esse não é o melhor jeito de lidar com as coisas. — ele falou me encarando com aquela intensidade que só ele conseguia.

— Não sei do que está falando. — murmurei voltando minha atenção aos pratos.

— Bella — ele falou tomando o prato da minha mão, desligando a torneira e me virando para ele, me obrigando a encara-lo — Me escuta, eu já passei pelo que você está passando. O desejo de ir em busca da vingança te consome por inteiro. É um fogo que arde dentro de você, que te impele a só parar quando matar essa sede. Mas vai por mim, eu sei o quão fundo você pode chegar e o quão difícil é voltar. E eu te asseguro que não vou deixar você chegar ao fundo. Mesmo que eu tenha que lutar contra você mesma.

Ele diz isso com tanta confiança que eu tremo sob seus braços, porque eu sei que ele fará exatamente o que disse.

Carlisle entra na cozinha e pigarreia. Edwarde me solta, e eu limpo uma sujeira invisível em meu jeans.

— É, a Rose ta precisando de sua ajuda, Edward. Eu ainda não posso carregar peso e Emmett sozinho não dá conta.

— Claro, claro. — Edward fala, me olha uma última vez e vai em direção da sala.

Suspiro e volto meu olhar para Carlisle que está me encarando.

— Você ta bem?

— Meu Deus. Vocês tem que parar com isso. — falo irritada e volto aos pratos.

— Bella, estamos preocupados. Teu pai faleceu, Aro atirou em você e ainda está vivo. E você não esboçou nenhuma emoção.

Porque Carlisle tinha que falar isso comigo? Ele não sabe que ele é como um pai pra mim e tudo que ele fala me emociona?

— Desculpe Bells.

Levanto meus olhos marejados em sua direção.

— Pensei alto?

— É, pensou sim. — ele se aproxima de mim e acaricia meu rosto. — Eu to preocupado. Porque não conversa comigo?

Funguei e suspirei.

— Sabe Carl, eu não poderia estar mais errada. Eu achei que conseguiria sorrir e seguir em frente, fingir que estava tudo bem. Mas não é não fácil, porque as coisas ruins, elas ficam com você. Elas seguem você, não da pra escapar, por mais que você queira. E agora eu to aqui, sem saber direito o que fazer. Só caminhando.

Olho pra Carlisle que está me encarando com o cenho franzido.

— Vem cá. — ele me puxa para seus braços e apoia seu queixo em minha cabeça — Talvez você esteja buscando nos galhos o que só encontramos nas raízes. Mas eu to aqui, sempre vou estar pra te ajudar nisso.

Depois de um tempo ele se afasta, me olha nos olhos e diz:

— Agora termina isso enquanto vou lá ver se eles precisam de ajuda.

— Certo.

Enxugo minhas lágrimas enquanto ele vai até a sala.

Assim que acabo, vou até a sala e ouço eles sussurrando.

— ... leva ela até lá, Edward.

— Me levar onde? — pergunto com a testa franzida.

— Pro apartamento dele, pra se arrumar. Queremos chegar cedo ao aeroporto pra não perdermos o vôo.

Eu aceno com a cabeça, mas sentindo que eles estavam falando de outra coisa

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— Porque não fomos todos no mesmo carro? — pergunto a Edward enquanto estamos indo para o aeroporto.

— Por causa das malas, e eu queria dirigir aqui uma última vez.

Logo o silêncio se apossa do carro e me pego olhando pela janela, lembrando de tudo que já vivi nessa cidade.

— Edward ... sobre mais cedo...

— Shii, tudo bem. Vamos conversar sobre isso. Pode ficar tranquila.

Suspiro e percebo que ele está fazendo o caminho contrário ao do aeroporto.

— Para onde você está indo?

— Você vai ver.

— Edward, vamos perder o vôo.

— Não vamos não. Você vai gostar. Prometo.

Depois de um tempo, percebo para onde ele está indo. Assim que ele sobe a montanha, estaciona o carro eu pergunto.

— Porque você me trouxe ao Mirante?

— Não é o Mirante, é um pouco mais acima.

Sorrio lembrando de quando eu falei mais ou menos a mesma coisa a ele um tempo atrás.

— Vem comigo.

Era final da tarde, logo o crepúsculo aconteceria, o vento estava fraco, mas ainda assim fazia frio.

Adentramos um pouco a floresta e assim que chegamos ao meu cantinho, tomo um susto ao ver Rosalie, Emmett e Carlisle parados ali.

— O que vocês estão fazendo aqui? Foi sobre isso que vocês estavam falando mais cedo não é? — pergunto confusa.

Edward aperta a minha mão e Carlisle dá um passo a frente.

— Sim, foi sobre isso. Bells, lembra o que eu falei sobre procurar nos galhos o que só tem nas raízes?

Balanço a cabeça concordando.

— E eu disse que sempre estaria aqui para você. E esse é o caso no momento. Nós estamos preocupados com você. Você está instável emocionalmente por conta das perdas que sofreu. Então trouxemos isso. — ele suspende a mão e mostra a lanterna japonesa. Vejo que todos eles estão com isso. — Você precisa se despedir dos que já foram pra poder conseguir seguir frente. As lanternas japonesas são símbolos para se desprender do passado. — ele estende uma para mim. — Quer acender?

Sinto algo dentro de mim quando ele diz sobre se despedir dos que já foram. Não, não posso.

— Como se acender uma vela fizesse tudo ficar bem ou fazer uma oração. — eu digo com a voz carregada de indignação.

— Bella ... — Edward começa a falar mas eu o corto.

— Isso vai fazer vocês ficarem bem? Mas por quanto tempo? Um minuto? Um dia? Que diferença isso faz? Porque no final, quando você perde alguém, — minha voz oscila, pois acabo me lembrando de todos quem eu já perdi — quando perdemos alguém, cada vela, cada oração não compensa o fato de que a única coisa que sobra... — sinto as lágrimas caindo por meu rosto — é um buraco na sua vida onde aquela pessoa que você gostava costumava ficar.

Olha duramente para todos que estão ali.

— E uma pedra ... Com a data de nascimento gravada. — sussurro completando.

— Isabella, — olho instantaneamente para Rose, ela nunca me chama assim — é duro ouvir isso, mas eles que se foram. Nós ainda estamos aqui. Você ainda está aqui. Não pode se esquecer de viver.

— Rosalie, você não entende? Não posso me despedir deles. Se eu fizer isso os perco para sempre.

— Bells, você não vai perde-los. Só precisa deixar tudo para trás, deixar tudo aqui em Forks. Não é esquece-los. É aceitar que eles partiram. — Emmett sussurra e me surpreendo.

Fico balançada, não quero fazer isso. Mas lembro-me do que Edward falou mais cedo sobre não me deixar afundar.

— Que tal? — Carlisle estende novamente as lanternas para mim. Eu exito mas finalmente aceito.

Edward também pega uma, e todos nós acendemos as velas e soltamos.

Ficamos vendo elas subirem indo em direção ao céu sobre Forks, indo embora e eles tem razão.

A medida que a lanterna se afasta, sinto como se eu aceitasse nem que por um pouco que eles realmente se foram e eu precisava aceitar aquilo.