When the sun goes down. escrita por IsaChan


Capítulo 1
Meu pequeno eu.


Notas iniciais do capítulo

Bem, está aí mais uma de minhas criações o/Estava eu, num dia tranquilo, quando resolvi escrever e saiu isso ;u; . Espero que esteja bom e que gostem, pois na minha cabeça, a trama vai ficar legal ♥; Enjoy '3'



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Se tem algo que eu aprendi conforme os anos foram passando é: todos temos problemas.

Sejam eles financeiros, amorosos, familiares, saúde, não importa, ninguém jamais escapa dessa.

No início, eu não pensava assim. Achava que pelo fato de eu ter meu próprio problema, ninguém jamais teria um pior que o meu e, pensava que todos ao meu redor deviam ter pena de mim, tendo que me dar tudo que eu desejasse. Para mim, tudo era bobagem. Eu era uma esfera, e todos teriam de girar ao meu redor, dançando a minha melodia.

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Estou há alguns minutos observando a luz alaranjada que reflete na porta de meu quarto. O cardaço amarelado de meu tênis surrado está preso na perna da cadeira, e eu o puxo para soltá-lo. Inclino-me e rapidamente calço meus sapatos. Dou umas batidas em minha calça jeans para retirar a poeira da noite passada. Levanto-me, e antes de chegar até a porta, pego em mãos minha agenda. O Sol já se pôs, e a noite para mim é curta.

Desço as escadas, e posso ver meu pai sentado, com os cotovelos caídos sobre a mesa. Ele observa um quadro velho que ganhou de minha avó. Sua maleta está no chão, encostada em sua canela. Aproximo-me e dou três leves tapinhas em seu ombro. Ele pula.

–Que susto, menino! - Diz ele, com as sobrancelhas erguidas.

–Se eu fosse uma cobra, você já estaria apagado, pai.

–Ora ora, que coisa, hein! Não assuste seu pai dessa forma, velho do jeito que é, pode capotar de vez. -Diz uma terceira voz. Minha mãe. Ela segura uma travessa de vidro. Logo o cheiro da comida que carrega cobre todo o espaço da cozinha, e em seguida minha família se alimenta feliz. Com um lindo e grande sorriso em lábios.

Bem, aí que tudo começa. Eu tenho uma linda família feliz. O problema está em mim. Não é nenhum "drama queen",está longe disso. Mas é que, eu nasci com uma doença rara. Uma doença que foi diagnosticada em apenas 6 pessoas em todo o mundo. E seria ainda mais raro que minha própria doença encontrar alguém como eu. Bem, é simples. Nada muito complicado porque, eu ainda tenho minhas pernas, e posso pensar. Com o tempo eu fui me acostumando. Mas, quando se trata de Sol, eu não posso me envolver.

Logo após meu nascimento, quando minha mãe finalmente pôde me levar para casa, como todos os pais, ela quis sentir seu filho, o levando para passear num parque, ou amamentando-o num banco de praça qualquer. Minha mãe, como todas as mães, também sentiu a vontade de fazer isso. Ela me levou até uma praça, onde continha diversas mães com seus lindos bebês. Quando ela retirou a toalha que me cobria, e o Sol bateu em meu rosto, foi que descobrimos que ele para mim é um vilão. Num processo rápido, algumas manchas foram surgindo em minha pele. Ela queimava como fogo, e é como se até hoje a dor ainda habitasse em mim.

Desesperada, minha mãe me levou até um hospital, e lá descobriram que eu sou completamente intolerante às luzes solares. Para alguns, sou um vampiro, para outros, um demônio. Para mim, sou eu mesmo, e é isso afinal que me importa. Em absolutamente nenhuma hipótese, eu posso receber luz solar direta. Eu não sei se posso morrer. Nunca fui louco o suficiente para tentar. Mas, segundo especialistas e, por própria experiência, o meu organismo, dependendo do tempo, acelera em três anos o meu processo de vida. É o seguinte: se eu, com 17 anos, ficar por 20 minutos sob a luz solar, inexplicavelmente minha idade aumenta para 20 anos. Se duas horas, fico com 40 anos e, se um dia inteiro, logo estou num caixão. É simples assim.

Quando eu recebi o Sol pela primeira vez, não tive tanto prejuízo. Por minha sorte, eu ainda era um bebê e, minha idade foi acelerada apenas em 5 meses. Hoje como sou quase um adulto, tenho medo do que possa acontecer se por algum deslize eu receber contato solar. Minhas mãos crescem, minhas pernas esticam e meus fios ficam grisalhos. É isso o que pode acontecer. Isso que eu vejo em meus sonhos. É esse o meu único temor.

–Math. Filho? Você está remexendo a comida há minutos, querido. Está tudo bem? -Pergunta minha mãe. Ela parece preocupada.

–Ahn, sim. Claro. Apenas estou sem fome. -Digo em resposta.

–Ah, no meu tempo...As coisas não eram assim não. Nós tínhamos que plantar batata para comer e-

–E você pegava o caminhão todos os dias para ir até a roça. -Minha mãe e eu interrompemos meu pai em uníssono.

Ele nos observa por alguns segundos. E logo solta:

–É isso aí! - Com um pedaço de frango em mãos.

Olho para o relógio que marca 20 horas. Logo ele me avisa que estou atrasado para minha vida. Arrasto a cadeira e fico em pé.

–Mãe, pai, a comida estava ótima. Eu estou indo agora. Meu celular está em meu bolso.

Minha mãe dá-me um beijo na bochecha, e meu pai acena com sua grande mão.

–Não se esqueça do horário em que o Sol nasce. - Diz minha mãe quando estou saindo pela porta.

–Tá, mãe.

A rua sempre é tão tranquila. Alguns casais andam de mãos cruzadas, ou abraçados. Eu nunca me permiti gostar de alguém. Nunca tive ao menos oportunidade. Apenas em minhas ficções, onde abro minha mente para os mais lindos contos de romance que jamais irão um dia virar realidade. É por isso que eu escrevo. Pois em meus papéis, posso viver o que eu quiser, sem ter medo de minha cruel realidade.

Com uns dez minutos de caminhada, chego em meu destino: um parque natural apenas meu. Bem, pelo menos à noite, ele serve apenas para mim. Meus pais conseguiram uma ação da prefeitura para que eu obtivesse as chaves do parque, para poder ficar seguro de noite num lugar tranquilo. Como o dono do parque é amigo de meu pai, não houve nenhum problema. Foi tão fácil como respirar.

Procuro as chaves num dos bolsos de minha calça e as encontro. Pego meu celular para poder iluminar a fechadura, e com mínima dificuldade abro os portões barulhentos do local. Todas as noites são assim. Eu descanso de dia, e de noite venho até aqui, para meu abrigo. Nunca tive nenhum problema. Nunca ninguém tentou entrar aqui, ou me interromper. E almejo que isso jamais aconteça.

Entro na secretária e de dentro dum armário retiro um lençol junto de uma lamparina. Caminho até o local em que sempre fico, e estendo o tecido verde. Ele se mescla com a grama macia. Deposito a lamparina ao meu lado direito, e sento-me. Deixo minha agenda ao lado. É uma sensação deliciosa. Ter meus pais tão perto de mim, me ajudando. Ter a Lua e esse parque apenas para mim. Poder observar essas árvores esguias conversarem, e os pequenos animais trocando segredos. Poder ver tão de perto, o lindo romance da Lua com o mar.

Deito-me e observo as estrelas. Lembro que Samanta hoje não veio me visitar, e sinto-me na necessidade de ligar para ela. Afinal, é a única amiga que eu tenho. A única pessoa fora meus pais, a quem eu posso realmente confiar e ter a certeza da importância que se tem comigo. Pego meu celular e digito seu número. Após três chamadas, uma voz suave atende.

–Math?

–Oi, mocinha. O que lhe faz, por motivos que devem ter a necessidade de serem simbólicos, não vir me visitar hoje?

–Ah, Math, desculpe-me! Eu fiquei doente. Você nem imagina, nossa! Cof cof.

–Ah, claro... E eu te conheci ontem num barzinho de esquina.

Uma risada.

–Ah Math, o de sempre...Aquela escola está me matando. São tantos trabalhos, às vezes me culpo por ser assim, tão inteligente.

–Continue assim! Ou então quem vai me ensinar francês? Eu ainda vou conseguir ficar tão másculo a ponto de conseguir falar abajur sem fazer biquinho,tenha certeza disso! Mas fique viva para ver, hein!

Ela ri novamente.

Samanta é a melhor pessoa do mundo. Só encontram pessoas como ela quem nadam em sorte. Todos os dias após as aulas ela vem até minha casa me visitar. Como eu não frequento a escola, ela quem me ensina tudo o que eu sei. Foi por ela que aprendi inglês, japonês, alemão, espanhol e tudo o mais. Até mesmo escrever. Sou grato por tudo que ela já fez por mim. Mesmo estando numa escola que exige a alma dos alunos, ela faz questão, nem que seja caindo em pé, em ir todos os dias até minha casa me ensinar algo novo. Eu simplesmente a amo.

–Ah, e minha redação, você já terminou? Se tem uma coisa na qual eu não sou boa, é em redação! -Afirma ela em seu tom desesperado e alegre de sempre.

–Poxa, claro que você é boa. Eu guardo até hoje aquela sua redação do tomate! -Digo em meu tom sarcástico.

–Matheus! Eu to falando sério, homem!

–Está bem, está bem. Estou com a agenda aqui, logo começo sua redação. Mas só pra garantir, dessa vez é sobre ameixas, né? -Tiro mais um pouco com ela.

–Hunf!

Ouço um barulho estranho. Algumas folhas remexendo, e sinto meu coração disparar. Isso nunca aconteceu antes.

–Sammy, espere, acho que tem alguém aqui.

–Math, está tudo bem? -Pergunta ela, com um tom elevado na voz.

–Espere um pouco. -Respondo calmo e com firmeza.

Caminho com passos lentos. Fazendo de tudo para que eles se tornem inaudíveis. Mais uma vez, ouço o chacoalhar dos arbustos. Cruzo minhas pernas. Um passo atrás do outro. Minhas mãos estão úmidas, e eu as limpo na calça. Mordo meus lábios, e posso escutar Samanta perguntar se está tudo bem. Olho pelo vão das folhas e vejo que é apenas um esquilo inofensivo. Levo novamente o celular até meu ouvido. Respiro fundo.

–Era apenas um esquilo.

–Ufa! -Sammy também respira fundo.

Eu solto uma gargalhada.

–Pensei que fosse algum fan-

Uma mão gelada pousa sobre meus lábios. Sinto o corpo de um homem. Um homem forte me puxar. Ele tampa minha boca com uma das mãos, e com a outra aperta forte minha cintura. Deixo o celular cair.

–Math? Math? Você está aí? Me responda! -A voz de Samanta ecoa do celular, e o homem o chuta para longe.

–Você vai ficar em silêncio. Não quero nenhum grito, e nem quero ouvir sua voz. Ta me entendendo? -O homem pergunta. Ele tem a voz de um rapaz jovem. Se ele não frequenta aulas de luta livre, posso ser capaz de fugir.

Assinto. Um fio de suor desliza pelo meu rosto. Sinto vontade de correr, de gritar. Não quero morrer. Não posso morrer ainda. Não me vejo na necessidade de morrer agora.


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Notas finais do capítulo

Comentários o/ Opiniões sempre são bem aceitas.