Memórias escrita por sayuri1468
– Quer um chá? – perguntou a legista se levantando do sofá.
– Com leite e açúcar, por favor! – respondeu o detetive, se levantando também e acompanhando a amiga até a cozinha.
Molly colocou a água para aquecer e Sherlock sentou-se em uma das cadeiras da bancada. Olhava a figura de Molly, tão calma e delicada, apesar de tudo, que ele sabia, que a garota havia passado. Ela era forte – pensou – e sua bondade era genuína.
– Você é incrível, Molly! – disse em voz alta para a garota.
Molly ficou levemente envergonhada pela forma tão direta como Sherlock havia dito isso.
– Você sempre foi muito mais forte do que James, Mycroft e até mesmo eu! – continuou em voz alta conforme seu raciocínio andava- Você sempre se envolveu, e mesmo passando por decepções, não teve medo de continuar se envolvendo! Sempre deu tudo de si!
– Está enganado, Sherlock! – corrigiu Molly – Eu nunca me envolvi! Eu só me envolvi verdadeiramente com duas pessoas em toda a minha vida, três, se você contar Barba Ruiva- complementou sorrindo.
Sherlock sorriu de volta para a moça.
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James atirava pequenas pedras na janela do quarto de Sherlock enquanto Molly olhava para os lados assustada. Depois da terceira pedra, o garoto abriu a janela e se surpreendeu ao ver os dois amigos ali.
– O que estão fazendo aqui a essa hora? – perguntou Sherlock.
– Preciso que você deixe Molly ficar ai com você! – falou James.
– Mas e você? – perguntou a menina preocupada com o irmão.
Mas James fingiu não ouvir e continuou encarando Sherlock.
Sherlock pode notar o sangue nas roupas de Molly e nas mãos de James. Observou também o rosto da amiga com uma marca avermelhada, em formato de mão. Uma mão grande, de adulto. Homem, pelo tamanho.
Deduziu em partes o que havia se passado.
– Vou abrir a porta! – disse o garoto saindo da janela.
James puxou Molly para a porta de entrada e chegaram ao mesmo tempo que Sherlock.
– Molly, vá entrando! – pediu James- Preciso falar com Sherlock!
Sherlock indicou o caminho para a garota, que logo em seguida entrou na casa, hesitante enquanto olhava para os dois amigos. Assim que ela desapareceu pelo corredor e deixou os dois a sós, James confessou seu crime.
– Eu esfaqueei meu pai! – falou em um tom de voz assustadoramente normal. – Acho que vão me prender!
– Não seja bobo, James, você só tem oito anos, quase nove! Não podem te prender! – informou o outro.
– Ele ia encostar em Molly, Sherlock! – e agora, um tom de raiva apareceu em sua voz, e Sherlock pode perceber que os olhos do amigo estavam sem o brilho usual – Ele bateu nela, e ele ia...ele ia...
James não conseguia terminar, mas o amigo percebeu que as mãos dele estavam cerradas e o corpo contraído.
– Não podia mais deixar ele viver! – concluiu quando se acalmou.
– Seu pai era um porco! – falou Sherlock – Não acredito que ninguém vá prender você pelo favor que fez a humanidade!
Só de pensar naquele homem encostando em Molly, Sherlock também sentiu seu estomago revirar de nojo e raiva. Não culpava James, se ele estivesse lá, sabia que teria feito à mesma coisa.
– O que eu devo fazer agora, Sherlock?! – os olhos dele agora estavam confusos e assustados.
– Acho que eu posso te ajudar garoto!
Os dois amigos olharam para trás e viram Tomás surgindo da sala. Sherlock entrou em pânico, não tinha percebido a presença do irmão. James observou Tomás se aproximando deles, e também entrou em pânico, será que ele contaria tudo para a polícia? Será que agora iriam prendê-lo?
– Fiquem calmos! – falou Tomás ao perceber a expressão dos dois garotos – Eu disse que vou ajudar, não vou dedurar ninguém!
Os dois então relaxaram, mas Sherlock ainda estava levemente desconfiado.
– Pelo que ouvi, seu pai realmente não valia nada! – começou o outro – Me leve até o lugar onde você o esfaqueou!
James assentiu, e quando Sherlock fez menção de segui-los, Tomás o impediu.
– Você fica em casa! Além do mais, a amiguinha de vocês está lá dentro, não está?!
Tomás estava certo – pensou o irmão – Mas alguma coisa o estava inquietando. Ele não confiava em Tomás, e sua intuição dizia que era perigoso deixar James sozinho com ele naquele estado.
Viu os dois desaparecerem pela noite, com um peso no coração.
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– Cuidado pra não queimar a boca! – falou Molly entregando uma xícara de chá quente para Sherlock.
Sherlock pegou a xícara e agradeceu.
– Vamos voltar para o sofá?! – sugeriu a garota enquanto se encaminhava para a sala, com Sherlock atrás dela.
Os dois sentaram-se, e assopraram um pouco a xícara para esfriar o chá. Molly bebeu um pequeno gole e depositou a xícara na mesa de centro. Sherlock imitou a amiga.
– Sherlock, acho que aceito sua proposta de você dormir comigo essa noite! – ela falou após ficar um tempo encarando o chão.
Sherlock sorriu da fragilidade da legista.
– Você sempre cuidou bem de mim, não é?! Por isso que Jim pedia para que você ficasse comigo!
– Nem sempre foi assim, Molly! Você sabe!
Molly concordou, mas logo voltou a se aninhar nos braços do detetive.
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Alguns anos se passaram depois do desaparecimento do pai de James. Sherlock nunca soubera o que o amigo e o irmão fizeram com o corpo, mas ele nunca foi encontrado. Os quatro mantiveram esse segredo por anos e jamais revelaram a ninguém o que havia acontecido. A mãe de Molly assumiu a guarda de James, e por um tempo, todos viveram em paz.
Sherlock e James já tinham quinze anos, e Molly em breve os alcançaria. Os três ainda eram muito unidos, mas algo estava mudando no relacionamento deles. Sherlock já havia começado a trabalhar com Mycroft e prestava pequenos serviços para a policia local. Molly ajudava sua mãe em casa e no hospital, onde sua mãe trabalhava como enfermeira. Já James trabalhava com Tomás, irmão de Sherlock, consertando motos e carros.
Mas aém disso, o aniversário de quinze anos de Molly se aproximava, e isso estava gerando um certo agitamento entre os três.
– Falta uma semana! – informou a garota animada enquanto eles voltavam da escola – Nem acredito que vou fazer quinze anos!
– Não sei o que tem demais! Eu já fiz quinze anos e não me sinto diferente! – disse Sherlock com um humor áspero.
– Minha mãe disse que quando uma moça faz quinze anos, ela deixa de ser criança e vira uma moça crescida! – e olhou envergonhada para Sherlock.
– Bobagem! – disse James como se não ligasse realmente para o assunto em pauta – Eu vou virar aqui! Vejo vocês depois!
E dizendo isso, adentrou na rua e sumiu de vista. Sherlock e Molly continuaram andando.
– Você vai pra policia hoje? – perguntou a garota levemente sem graça.
– Como todos os dias!- afirmou o menino de forma seca.
– Sherlock...eu queria perguntar....- começou hesitante e com o rosto corado.
Sherlock parou para olhá-la. Ela estava nervosa, concluiu, provavelmente iria falar com ele algo que era muito importante pra ela.
– Fale sem medo, Molly! – falou o garoto – Até parece que eu não sou seu melhor amigo!
– Minha mãe disse que, na minha festa, eu preciso escolher alguém pra dançar comigo, como se fosse um príncipe sabe! – disse a palavra “príncipe” como se achasse ridículo, mas Sherlock percebeu que era importante pra ela. A amiga continuou – Eu queria saber se você...se você poderia...se você queria..
– Ser seu príncipe? – completou o garoto.
O rosto de Molly parecia que ia queimar, e ela confirmou com a cabeça.
– Não vejo por que não! É só dançar, não é?
Molly concordou novamente, sem dizer uma palavra.
– Você está estranha, Molly! – observou o menino analisando a amiga – O que tem de errado?
– Nada! – negou imediatamente – Eu acho que vou passar na casa de uma amiga antes de ir pro hospital, ela me emprestou o caderno e eu preciso devolver! Depois a gente se fala!
E saiu correndo, deixando Sherlock confuso na rua.
– Cara, achei que ela não iria falar nunca! – James reapareceu na rua, aparentemente estava seguindo os dois amigos.
– James, você não ia trabalhar? – perguntou Sherlock cada vez mais confuso.
– Não, só menti por que sabia o que Molly queria falar com você em particular!
– Ela te contou?
– Não! – corrigiu o garoto – Mas ficou três horas no espelho ontem ensaiando!
E riu da lembrança.
– Ela podia ter me chamado, ao invés de você! – disse depois de rir – Eu pensei que você não fosse aceitar!
– Por que não aceitaria? Molly é minha amiga, não vejo nada demais em dançar com ela!
James pareceu um tanto surpreso pela ingenuidade do amigo.
– Você não percebeu, não é?!
Sherlock olhou confuso para o outro, que riu mais uma vez.
– Molly gosta de você! – confessou o garoto.
– Claro que gosta de mim, somos amigos!
– Não, seu tapado! Ela gosta gosta de você! Acho que está apaixonada!
– Apaixonada?
Foi como se uma bomba caísse no colo do garoto, e Sherlock ficou um tempo em choque.
– Você não sabia mesmo?! Pra um mestre das deduções, você anda bem fraquinho! – zombou o amigo.
– Não posso! – falou de repente
– Não pode o que?
– Me envolver! Não posso!
Sherlock assumiu uma expressão de pânico e saiu correndo, James olhou confuso enquanto o amigo sumia de vista.
– Cara, que virgem! – falou James para si mesmo.
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