Dia 4
16:39

Aquelas coisas estão tentando entrar na casa ao lado. Não conseguiram me ver quando saí de lá.
Ontem procurei por algo que pudesse me colocar ao outro lado do muro e invadir a casa. Moravam ali um casal e seu filho. Pobre gente... Que azar.
Peguei minha escada, que não era alta, mas foi o suficiente para que conseguisse me levar ao outro lado. Dei uma olhada de cima da escada. Era uma casa grande. Aguardei um momento olhando atentamente esperando ver meus vizinhos como monstros, mas não tive nenhum sinal de que estivessem ali.
Fui até lá e tentei abrir a porta. Trancada. Vasculhei as janelas. Uma estava solta. Se forçasse um pouco talvez abrisse. Ato inútil. Eu estava muito fraco para fazer tal coisa. Quebrei o vidro da janela. Como sou idiota. Aquelas coisas ouviram e começaram a se agitar. Pulei pela vidraça despedaçada, mas cortei minha perna enquando passava para o lado de dentro. Aquilo doeu pra caralho. Eu andei o mais rápido que pude pela cozinha mancando e sangrando. Era uma cozinha grande, armários brancos me cercavam. Abri a geladeira, Não havia muita coisa, só alguns vegetais, ovos e algumas coisas podres que não pude identificar. Peguei o que ainda era aproveitável e fui para os armários, peguei mais algumas coisas, que na pressa, eu não vi nem o que estava carregando. A porta continha a chave na fechadura. Será que seus moradores estavam escondidos? Que se dane. Abri a porta e corri. Joguei os suprimentos para o outro lado e subi em algo que me parecia uma caixa, era grande e feita de madeira. Tive de fazer força para me puxar com os braços. Não conseguiria muitos resultados se forçasse minha perna machucada. Com um baque eu caí do outro lado, e consegui me machucar mais um pouco... Que ótimo.
Eu havia deixado a porta traseira aberta para poder entrar o mais rápido possível. Passei pela porta carregando aquele monte de coisas aleatórias que consegui carregar, mancando e gemendo de dor. O corte foi profundo e eu precisava encontrar algo para estancar o sangue. Eu sabia que tinha algumas bandagens em algum lugar. Subi as escadas e fui ao banheiro. Elas estavam no chão. Talvez eu já as tivesse usado, mas não lembro bem. Não importava. Eu precisava dar um jeito naquilo. Nunca entendi nada sobre cortes. Mas eu sabia que eu precisaria mais que um monte de panos apertando o ferimento. Mas era tudo que tinha. Sempre achei que esse tipo de coisas fosse inútil. Achava que nada do tipo aconteceria comigo. Pensamento tolo esse...
Enrolei com força as bandagens pela minha perna e fui até meu quarto, mancando, para buscar o diário. Agora estou aqui, jogado no canto da sala, sentado no chão enquanto escrevo e me lamento pela perda de minha filha. Estou sozinho no mundo. Espero que Deus esteja me protegendo e preciso que Ele me guie. Mas como Ele pôde tirar as únicas pessoas que me eram importantes? Ele tem um propósito para isso? Começo a me questionar se tudo isso pode mesmo ser real. Talvez seja como dizem: "Há males que vêm para bem"
Com minha perna nesse estado, não poderei sair. Mas tenho comida e água para um ou dois dias, se racionar bem. Espero que dê tudo certo até lá.