Ela olhou pela última vez o espelho.

Os cabelos castanhos curtos até os ombros, os olhos azuis brilhando como fogo, um ardor de ódio. Os dedos estendidos em direção ao espelho, tocando o levemente pela última vez.

Minha esperança está em chamas

Meus sonhos estão à venda

Eu danço em um fio

Eu não quero deixar ela

Afastou sua mão e olhou novamente para si. Como odiava aquele ser a sua frente. Ela era um fardo para todos. Quem queria ter um problema como ela?

Eu ando contra a corrente

Longe do que eu acredito

Eu corro para o final

Tentando não dar em

Com um murro, quebrou o vidro em cacos. Levou sua mão ensanguentada para seu rosto, acariciando sua bochecha. Olhou para os cacos espalhados pelo chão. Eles refletiam seus olhos, cheios de ódio. Era a última vez.

Nunca mais seria um fardo, para ninguém.

Nunca mais.

Ela está perdida na escuridão

Desaparecendo

Eu ainda estou por aqui

Gritando seu nome

Ela está assombrando meu mundo de sonhos

Tentando sobreviver

Meu coração está congelado

Eu estou perdendo minha mente

Desceu as escadas lentamente, segurando com força o corrimão. Parou no último degrau e encarou a sala levemente iluminada. Na poltrona, sua mãe repousava dormindo, como um anjo. Seu pai estava sentado na outra poltrona, com os olhos levemente fechados, apertando o jornal em suas mãos.

Ajuda-me, eu estou enterrado vivo

Enterrado vivo

Andou até a cozinha e retirou de lá uma faca. Observou a lâmina afiada e brilhante por um instante, encantada com sua beleza. Segurando com força o cabo, andou novamente para a sala. Parou em frente à poltrona onde jazia seu pai.

Eu ando contra a corrente

Longe do que eu acredito

Eu corro para o final

Tentando não dar em

Levantou a faca, olhando uma última vez o rosto adormecido de seu pai. Os olhos da garota agora emitiam um brilho diferente. Um brilho único, maledicente e belo. Um brilho insano.

Ela está perdida na escuridão

Desaparecendo

Eu ainda estou por aqui

Gritando seu nome

Ela está assombrando meu mundo de sonhos

Tentando sobreviver

Meu coração está congelado

Eu estou perdendo minha mente

A faca atravessou a garganta do homem silenciosamente, espirrando sangue para os lados. A mulher na outra poltrona se remexeu um pouco, mas continuou descansando. A garota olhou para a mulher com um ar frio e hostil. Andou até ela e passou a faca em sua bochecha.

Ajuda-me, eu estou enterrado vivo

Enterrado vivo

A mulher abriu os olhos lentamente, vendo uma mancha vermelha embaçada, Sua visão clareou e ela viu, com clareza, a garota sorrindo docemente, com uma faca na mão e com o vestido completamente ensanguentado. Na outra poltrona, viu o corpo do homem inerte e seus lábios formaram um grito silencioso.

Eu tentei reviver o que já se afogou

Eles acham que eu sou um tolo

Não consegue perceber

Esperança joga um jogo perverso com a mente

Porque eu pensei que o amor ligaria

Eu não posso reviver o que já se afogou

Ela não vai vir por aí

A faca atravessou a cabeça da mulher, cortante e rápida, respingando o sangue na parede. A garotas soltou a faca e saiu da casa, indo até um velho e abandonado armazém.

Ela está perdida na escuridão

Desaparecendo

Eu ainda estou por aqui

Gritando seu nome

Ela está assombrando meu mundo de sonhos

Tentando sobreviver

Meu coração está congelado

Eu estou perdendo minha mente

Pegou uma corda, velha mas bem resistente e foi até o lago. Molhou seus pés na água e um sorriso brotou em seus lábios. Amarrou a corda em um galho alto de uma árvore, se segurando em um galho fino e frágil. Subiu em cima de um pedra e colocou a corda em volta de seu pescoço. Olhou pro céu estrelado acima de sua cabeça, dando um último sorriso e pulou da pedra, fazendo a corda prender-se em seu pescoço.

Ajuda-me, eu estou enterrado vivo

Enterrado vivo

Nunca mais seria um fardo, para ninguém.

Nunca mais.