O dia estava completamente nublado e uma brisa gelada fazia os meus cabelos brancos se esvoaçarem. Aproveitei o prazer que esse vento me trazia para então lembrar que o meu cabelo estava fora do capuz púrpura, rapidamente o coloquei de volta e, de cabeça abaixada fui ao meu pesadelo pessoal: O colégio.

*

Já na sala de aula, sentada na última cadeira para não chamar atenção, fiquei desenhado no meu caderno. Comecei sem um projeto próprio mais depois veio a inspiração, desenhei um homem alto e forte de cabelos medianos, não tinha caneta colorida no estojo porém se tivesse pintaria seus olhos de prateado e seu cabelo de um ruivo escaldante.

-Ora o que temos aqui?

Uma garota loira oxigenada de voz aguda roubou o meu caderno, Mary, olhei a furiosa e contive o instinto de rosnar. Porque eu continuava fazendo isso?

-Devolve.

Eu ordenei, e ela me olhou com desdém e disse:

-Nossa... que meda. Então, vejamos o que temos aqui.

Ela folheou as paginas com certo nojo na cara, minha vontade era de enfiar as unhas naqueles olhos azuis. Ela chegou no desenho recente e riu, ou melhor gargalhou alto para chamar a atenção de toda a sala.

-Quem seria esse? O seu namo...

Ela não conseguiu terminar a frase, um garoto lindo segurou seus pulsos e falou no ouvido dela:

-Entregue o caderno de volta antes que eu resolva torcer de um jeito ou de outro.

Ele praticamente cuspiu as palavras e girou somente um pouco o pulso dela, ela gritou atraindo cada vez mais olhares, e me entregou de volta o caderno com uma mistura de ódio e medo. Mary voltou o mais rápido possível para o seu lugar enquanto a classe cochichava. Ele olhou a cadeira vazia a meu lado e depois olhou para mim e sorriu:

-Se importaria?

Eu não sabia o que responder e de repente a sala parecia mais abafada do que já era.

-C-Claro...

Balbuciei e ele se sentou de forma bem à vontade. Ele usava um jeans surrado e uma camiseta preta justa, muito justa a ponto de eu conseguir analisar seus músculos e sua barriga definida. Ele olhou para mim e sorriu meio encabulado ao perceber que eu o olhava, eu virei para frente na velocidade da luz para tentar esconder o meu rubor.

-Desculpa a demora, agora abram na pagina 156 e formem duplas. O trabalho vale nota.

O professor Carlos anunciou e a sala fez uma leve algazarra antes de se acalmar. Então Carlos olhou para o garoto ao meu lado e pareceu olhar para qualquer pessoa menos para mim, claro, ele não ia botar o novato com a estranha da turma. Ao ver que não havia outra alternativa ele disse meio contrariado:

-Senhor... - Ele olhou os papeis em cima da mesa- Daniel Redwood pode se juntar a...hum...Lisandra.

Daniel olhou meio perplexo pro professor quando ele falou o meu nome e apontou para mim. Ele se juntou relutante e perguntou após o professor se voltar a seu livro de biologia:

-Qual a pagina mesmo?

Eu respondi baixinho:

-156.

Ele franziu a testa e riu ao falar:

-Tsc tsc, cara aluna exemplar, ele disse 153.

Eu não entrei na brincadeira, da ultima vez que entrei fiz a Mary me odiar e não queria perder o meu "amigo":

-Se você sabia porque perguntou?!?

Aparentemente fui fria demais porque ele pareceu fechar a cara. Depois de um longo tempo de leitura em silêncio ele me perguntou perto da orelha, quase que em um sussurro:

-Qual o seu nome, mesmo?

Não entendi a pausa feita quando ele disse mesmo, e quando senti a sua respiração em meu ouvido ruborizei, eu tinha que parar de agir assim. Ele mordia o lábio tão forte que pude sentir o cheiro de ferrugem do corte feito. Porque ele estava tão apreensivo?

-Qual o seu nome?

Retruquei e ele se afastou e fez uma espécie de careta que tampava a sua decepção.

-Eu perguntei primeiro.

A voz dele era magnifica, mas eu era teimosa até demais:

-E eu perguntei segundo.

Eu já sabia o nome dele porém eu queria ouvir dele, ele levantou as mãos em claro sinal de rendição e disse:

-Eu me chamo Daniel, mas você já sabia disso. Agora sua vez.

Ele mexia com a minha cabeça pois eu não era burra para não entender o duplo sentindo em cada frase dele, o que ele queria de mim? Mesmo assim me concentrei, olhei nos olhos dele e vi algo como, como uma espécie de visão, e respondi sem pensar:

-Lisandra, mas você não esperava por essa resposta certo?

(indo estudar continuo a escrever já já...)