Quem salvará a desenhista? escrita por Beatriz Quatorzevoltas


Capítulo 1
Manias, fantasias e perdição


Notas iniciais do capítulo

A arte é complexamente simples. O que é arte? É um artista consagrado fazendo uma nova intervenção, claro. Porém, também é aquela menininha ruiva desenhando em seu próprio pé, encolhidinha na parede.



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Cheia de manias, foi a garota que sempre fazia tudo pra agradar todo mundo.

Bagunçava a franja clara que irritava por atrapalhar a visão, parava tudo o que estava fazendo para dar conselhos para seus amigos necessitados de algum consolo.

Fazia bico feito uma criança sempre que lia algo de seu interesse, entrava em seu próprio mundo observando seus amigos conversarem entre si.

Desenhava bonequinhos no bloco de anotações enquanto conversava ao telefone, deixava seu queixo cair quando conhecia alguém que gostasse dos mesmos livros que lia.

Deixava sua voz tão alto feito uma sirene de ambulância quando ficava feliz, e sempre ficava feliz pelos feitos dos mais chegados.

Alinhava todos os materiais na mesa da sala de aula, sempre tentava passar cola aos colegas que pediam, mesmo não gostando disso.

Fazia playlist de músicas francesas enquanto observava às pessoas ao redor, acalmava as amigas que brigavam com seus namorados.

Enchia seus cadernos com desenhos e letras asiáticas, dizia coisas bonitas à sua amada morena.

Gostava de escrever textos e poemas românticos, sofria com a distância que impedia seu amor.

Brincava com a língua dentro da boca enquanto seu irmão mais novo dizia algo que a deixava irritada, se preocupava com os sentimentos da sua melhor mãe do mundo.

Fazia amigos longe, mesmo sabendo que isso a deixaria triste por não poder abraçá-los sempre, e sempre comprava em dobro para dividir com irmão que tanto a irritava.

Se desligava de si mesma quando tocavam num assunto perturbador, escutava atentamente as velhas que tanto falavam consigo no ponto de ônibus.

Adorava fazer suas coisas de noite, se sentia mal pela vida ser como ela é.

Dizia que tocava piano sabendo bem que apenas sabia algumas notas de uma única música, nunca desistia do seu amor...

Tal menina estranha, certinha, com todas as manias possíveis existentes, exagerada como um oceano... cansou de ser como era.

Tinha mania de se menosprezar, enquanto lavava seu rosto de madrugada, se preparando para dormir.

Tal menina, menina-mulher, com seu alter ego que aparecia apenas para viver uma vida um tiquinho melhor, feita pela mesma garota que desenhava a si mesma, nos outros.

Em tal desenho, uma vez, sem perceber... se apagou. Se apagou, se esqueceu, se matou.

Matou-se por dentro, esfaqueando sua própria alma no branco do papel.

Vermelho do sangue no úmido banheiro, brincava a menina de desenhar no chão.

Desenhava sua amada, sua morena que à alegrava... E mais uma vez, tão longe do seu frio querido, colocava a mania que mais odiava em prática.

Dramatizava doloridamente, fantasiada no mundo real.

Fantasiava-se com covinhas que herdou de sua avó, enquanto se apagava, se esquecia e se matava de novo, de novo e de novo...


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Notas finais do capítulo

Uma solitária história de uma garota tristonha, porém muito forte.
Façam a pequena feliz, comentem! Nem dói. ^^



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