Santa Maridy escrita por AConant


Capítulo 1
Cap.1 Dia de sempre


Notas iniciais do capítulo

Peço que se houver erros ortográficos, por favor, comunicar.



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O dia na biblioteca em que trabalho estava corrido. Todos pareciam querer livros. Em sua grande totalidade eram para a faculdade próxima daqui, a Denson. O fim do semestre terminava e esse alvoroço todo era quase que comum, os alunos querendo notas, fazendo qualquer coisa para que conseguissem férias sem recuperações. A Srta.Glenda me ajudava, era a minha parceira desde que entrei neste emprego, me ajudou muito ensinando-me os regulamentos da biblioteca e qualquer outro detalhezinho que fosse. Fazia três meses desde que consegui o meu primeiro emprego aqui na biblioteca Lennox. Me simpatizei com o lugar, as prateleiras todas imensas e longas, assim como os corredores que pareciam não ter fim. O cheiro de livros velhos com os novos misturado no ar, e o chá que Glenda fazia todas as tardes, cada dia um sabor diferente, ontem, por exemplo, foi chá de limão, o melhor que já tomei em toda minha vida. Eu sempre gostei de ambientes assim, estilo antigo/novo, é incrível. Tlim. Tlim. Tlim. O som fininho da campainha em cima do balcão se transformou em melodia de tanto que já o tinha ouvido, mas nada que me impedisse de fazer o que devia: cadastro de livros, pessoas, recolocar livros nas prateleiras, ligar aos atrasadinhos que nunca devolvem o livro na data certa e etc. Muita coisa para pouco tempo já que eu só trabalho seis horas por dia. Faltava apenas três horas para esse terror todo acabar. A chuva entrara em ação, estava ali, na ativa, desde que eu tinha chegado ao serviço, talvez fosse um daqueles dias em que não se para mais de cair água dos céus cinzento. Particularmente falando, prefiro assim, sem o azulado do céu normal, isso torna as coisas mais interessantes para mim.
Assim que a onda de cadastro de livros acabou, peguei o curto tempo que tive e fui levar os livros deixados para as prateleiras. Como eram muitos não consegui carregar todos ao mesmo tempo, então talvez em duas viagens eu conseguisse levar todos. Não tinha muito equilíbrio, aquela pilha toda balançava e me fazia de malabares, mas sem jogar nada para cima. Eu não via por onde andava, então comecei a pedir licença mesmo sem saber se havia alguém em meu caminho. Imagina só eu derrubar tudo aquilo? Seria horrível ter que pegar todo aquele amontoado de livro de novo. Cheguei ao corredor Fantasia na seção T. Na biblioteca Lennox o sistema de organização era esse(Um corredor, um gênero, áreas para cada letra), assim facilitava a todos, não só aos funcionários, como aos clientes também. Coloquei todos os livros daquela seção, precisei até de uma longa escada para colocar um livro na última prateleira, bem lá em cima. Depois que desci, tive que fazer o mesmo ritual de antes: me preparar para carregar mais livros. Não sou muito forte, então foi um pouco complicado fazer aquilo de novo, meus braços estavam doendo de fazer tantos esforços num dia só. Entrei no corredor Romance, seção V, era um dos poucos visitados e os motivos continuavam a ser desconhecidos. Glenda me disse que talvez fosse pelos boatos que já tivemos no jornal da cidade, sobre um assassinato em massa de trinta anos atrás, de um grupo de bruxas apaixonadas por um mesmo homem, falou que tentaram prende-lo e usa-lo como ritual, segundo ela teve até fogueira, bem nesse local, ainda não existia a Lennox, mas eu não creio que isso tenha acontecido, Santa Maridy, não é uma cidade violenta ou que tem histórico de bruxaria no passado. Vivo nela desde os meus quatro anos idade e nunca vi sequer uma situação que poderia comprometer alguém. Continuei a organizar os livros daquela seção com muita facilidade, já tinha me acostumado ao ritmo corrido. O incrível de Santa Maridy é que a biblioteca é um local muito escolhido para passa tempo de sábados e domingos das pessoas, o que é meio difícil de acontecer. Na cidade em que nasci, mamãe disse que não é assim, que lá as pessoas preferem shoppings centers, parques, bicicletas e etc. Assim que terminei de colocar todos os livros daquele corredor, apareceu um grupo de garotas escandalosas. Elas riam feito animais. Fiquei-as observando, e só parei de fazer isso quando todas perceberam do barulho que faziam e por respeito, se calaram. Sorte delas que quem estava ali era eu e não Glenda, caso contrário, já estariam de orelhas vermelhas de tanto ouvir as regras que foram postas em frente a porta de entrada, para que todos pudessem ver e não questionassem quando recebessem bronca. Ouvi uma dizer algo a meu respeito.
– Ei, Cisa, esse não é o Lollie do colégio?
– Shhhh! Ele não pode ouvir, sua besta - falou tão baixo que quase que não consigo escutar( isso é uma ironia).
O termo Lollie é utilizado no colégio para me definir. Todos me conhecem por esse nome ridículo, tudo por causa de duas coisas fúteis : sexualidade e meu gosto por lolitas e suas roupinhas fofinhas. Faz dois anos desde que entrei na Politan, o colégio onde estudo. Não demorou muito para que os elogios começassem, acho que em média de três meses. Sim, sempre fui interessado por garotos e eu nunca vi problemas nisso, quer dizer, não é para ser algo normal? Li em alguns livros que nos tempos antigos esse comportamento era considerado totalmente comum, mas parece que as pessoas se esqueceram do passado.
As olhei com o olhar que sempre dou á esse tipo de situação: aquele malévolo, de lado, como se estivesse incinerando-as com os olhos. Ao meu ver perceberam que eu tinha ouço seus comentário, o que fez todas aquelas infelizes pararem com as risadinhas de hiena que deram de novo e os comentários grosseiros. Sai dali o mais rápido que pude, peguei o pouco dos livros que tinham restado e sem hesitar, virei com toda a raiva que carregava no peito o corredor e... POFT. Tudo desabou, livros, dignidade, o garoto-parede que me fizera ficar como um bobo sem reação no chão, também meus óculos que estavam próximos á mim. A timidez me engoliu, mas mesmo sem jeito me levantei e peguei todas as coisas que haviam caído, nem olhei para em quem eu havia trombado, apenas sai com um "desculpe-me" envergonhado.
No último corredor que eu deveria passar, o Literatura Nacional na seção L, comecei a fazer como fiz nos outros: organiza-los. Fiquei lá até tudo estar arrumado, então voltei para o balcão que no momento estava com no mínimo de três a quatro pessoas esperando para serem atendidas, minha sorte é que Glenda estava cobrindo o que eu deveria estar fazendo.
Cheguei de mansinho, igual cachorrinho pedindo carinho. Glenda me olhou de relance e sorriu docemente como de costume. Ela resolveu ficar no meu lugar o dia todo, enquanto isso eu estava lá, etiquetando os novos livros que tinham chego. As pessoas foram diminuindo com o decorrer do tempo até sobrar apenas Glenda, eu e um menino que para que eu pudesse enxergá-lo tive quase de trocar as lentes de meus óculos de tão distante que ele estava de todos, bem nas mesas de fundo, junto com a parte mais escura da biblioteca lá era onde havia a luminária com defeito, a que de iluminação era quase á zero.
– Ei, Sra.Glenda, tem um garoto lá no fundo e já estamos no horário de fechar.
– Você sabe muito bem o que tem que fazer, não sabe, Taeil?
– Mas e se ele me xin... -nem mesmo terminei a frase
– Tudo acontece, quando se deixa acontecer, basta você saber se vai ou não permitir, entendeu, meu jovem? Sei que sofre muitas ofensas no seu colégio, mas acho que deve tomar alguma atitude quanto á isso. Agora deixe o medo de lado e vá.
– É, claro... - devo ter parecido rude, por que o meu tom não foi dos mais animadores.
Sai de traz do balcão e fui seguindo por aquelas fileiras intermináveis de mesas e cadeiras rústicas. Á cada passo que eu dava, uma parte do piso de madeira fazia um ruído. Cruzei os dedos na ideia de que ele podia se tocar e decidir ir embora por vontade própria, eu não tenho o costume e jeito para chegar em alguém e dizer algo como Com licença, será que você pode ir embora agora? É que iremos fechar a biblioteca, e mesmo ela sendo publica, você tem que sair, ok? Até mais!.
Na metade do caminho, ele se mexeu, movimentou a cabeça para a minha direção, e voltou-se para o livro que não demorou muito para ser fechado e entrar na mochila escura. Aquilo foi um alívio, ele sabia o que eu estava indo fazer. Parei de andar. Ele se levantou, pôs a mochila nas costas e veio em minha direção. Continuei o observando. O caminhar dele, feito o de um lobo alpha, firme e levemente sensual, combinava com o olhar distante, com um toque provocativo, como se pedisse briga, o cabelo devia significar muito á ele, era bem cuidado e muito longo, batia em seus ombros, a touca que usava cobria toda a sua testa, o corpo magro que deveria ter um metro e oitenta e nove. Não posso dizer que não fiquei interessado, mas resolvi virar o rosto, voltando para o balcão de novo.
Quando é que irão arrumar aquela luminária? a voz bruta ecoou pela biblioteca inteira.
Por um momento não reagi, fiquei sem saber o que dizer. Me senti desafiado.
Quando é que você irá embora? Precisamos fechar não hesitei em dizer, saiu feito disparo, rápido e perfurante.
Ele saiu sem responder-me. Quer dizer, não fez isso com palavras, mas com um sorriso de canto, daqueles que se usa para flertar, veio acompanhado com covinhas, era irônico, carregado de frases não ditas, um típico vilão.
Quando a porta bateu, era apenas eu e Glenda. Uffa. Pegamos todos nossos pertences e fechamos a biblioteca. Olhei o horário em meu celular, marcava oito horas da noite. Me despedi dela e fui direto para casa.

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Já em casa, decidi tomar um banho frio, pois as noites estavam quentes, não muito diferente das tardes. Seguidamente, fiquei em meu quarto enquanto escrevia em meu pequeno caderno surrado o que havia acontecido comigo o dia todo. Meu corpo pedia arrego, querendo a todo momento pregar os meus olhos para que eu o deixasse descansar, mas resisti á todo custo, continuei ali, segurando firmemente o lápis até terminar de colocar a última palavra.


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