Midorima saía de uma lojinha de conveniência, tocando o bolso com a mão, tendo certeza que seu item da sorte estava ali.

Não se sentia bem em mantê-lo tão escondido, mas segundo Kuroko, ver “Kagami” pelas ruas com algo assim nas mãos seria estranho.

Mas ele tinha um mangá e uma revista no bolso, os dois! Era conflitante não saber se deveria usar o item da sorte de Câncer ou de Leão, mas obrigou Takao prometer que compraria ambos os itens e levasse com ele.

A ideia de ter seu corpo azarado pela falta de sorte era inconcebível. E por falar em corpo...

A visão de si mesmo parado na porta daquele cômodo, com o rosto rubro e um olhar... Exótico, estava conflitante. Ele conhecia o próprio semblante ao estar com Takao, os olhos e rosto lembrava excitação e sexo.

De alguma forma Midorima sempre foi muito inteligente e observador, e não, isso não passaria. Obvio que desconfiava de Kagami e tudo a sua volta, mas tinha uma pessoa que não mentia para ele. Takao com certeza vai falar se algo estiver acontecido.

Apertou novamente o bolso, sentindo a familiaridade da sua sorte por perto, talvez não gostaria de saber.

— Midorima-kun, pelo o horário acho que já podemos ir até a quadra próximo à casa de Kise-kun.

Midorima abriu o celular verde que insistiu em trocar com Kagami, e o outro mesmo relutante, aceitou.

Nenhuma mensagem ou telefonema, Takao não mantinha contato algum, e descobriu que isso o estava irritando, afinal, Kuroko era irritante, esse corpo era irritante, e o Oha-Asa não poderia ter errado tanto ao declarar uma posição boa para seu signo no dia de hoje.

— Vamos, espero que Kise tenha encontrado o seu fã, já que não achamos a bebida em lugar algum.

Em outro lugar bem longe dali, Kagami se via em uma situação bem estranha, ele em sua forma real nunca conseguiria lidar com aquilo, pior ainda estando na pele de Midorima.

De um lado tinha Takao e um humor ofensivo que Kagami mal sabia existir, e em seu oposto estava Akashi. Que parecia disposto a reestabelecer algo, ainda que o moreno estivesse em seu caminho.

Kagami normalmente era bem idiota para perceber as coisas, entretanto não precisava ser um expert para perceber pelo menos a parte óbvia.

Midorima era um metido bem insuportável, mas Taiga precisava tirar o chapéu. Independente das razões, ali estavam dois caras atraentes disputando o ás da Shutoku e ainda que não fosse do seu interesse, isso fazia algo muito parecido com inveja surgir.

— O que EU fiz com Shintarou? — Takao perguntou com ironia.

— E quem mais seria? — o ex-capitão da geração milagrosa virou-se para seu antigo companheiro. — Você não respondeu a mensagem que enviei!

Não era um tom de acusação, mas soava como ameaça.

— Eu... — o que Kagami responderia? Droga, na verdade, o que Midorima responderia?

— Shin-chan não têm que responder a nada, mesmo que seja você. Ele é livre.

— Livre, está certo do que esteja dizendo?

Takao relutou, Kagami não o culpava. Akashi possuía uma habilidade muito forte de manipulação, todos ali tinham sido alvos de sua aptidão.

— Eu quis dizer livre para ignorar a mensagem, você não é tão absoluto quanto imagina.

— Ah sério, e me surpreende deixar os outros falarem por você Shintarou... Shintarou?

“Ele percebeu”.

Takao sabia, era uma droga porque esse idiota conhecia Midorima, até mais do que ele mesmo.

E com certeza percebeu que Midorima nunca ficaria calado se estivessem falando dele, intuiu também que Midorima ao invés de estar xingando, parecia ao ponto de achar divertido.

— Vou perguntar mais uma vez, o que aconteceu com Shintarou?

Takao suspirou, certo, certo. Era inútil se resguardar, ainda que qualquer maneira que imaginasse explicar, soava fantasioso.

— Estamos indo encontrar Kise, se quiser saber o que aconteceu é só vir conosco.

xx

— E foi assim.

— Você tem noção de quão idiota isso foi, não é?

Akashi tentava digerir o que escutou, segundo Takao Kazunari, após beberem algo, Midorima e Kagami trocaram de corpo, mas isso era inacreditável além de parecer um enredo podre de filme com baixo orçamento.

— Basta olhar, sei que está vendo Midorima, mas se focalizar vai perceber a asneira pairando. Algo que Shin-chan não tem.

— O-OE!!!

— Você. O que me disse após recusar seu aperto de mão?

— O meu... O que eu disse?

Takao suspirou.

— Ele não sabe, é Kagami.

— Então, o que eu disse no intervalo do jogo contra Shutoku antes de te derrubar?

Kagami olhou para frente e franziu o cenho, essa besteira já estava enjoando para valer.

— Só quem podia olhar em seus olhos, eram os que te serviam...

Akashi encarou Takao por dez segundos inteiros antes de anuir.

— Não teria razão para Shintarou saber disso, agora acho que acredito em você.

— Foda-se... — o moreno murmurou bem baixo, mas Akashi ainda escutou.

Tinha chegado naquele instante na quadra e Kise jazia ali. Com o semblante murchou que se tornou alarmado ao ver Akashi entre os outros.

— Akashicchi!

O capitão da Rakuzan cruzou os braços e encarou o modelo.

— Ryouta, não me surpreende que essa confusão tenha partido de você. Então exijo que faça algo para trazer Shintarou de volta!

Takao arregalo os olhos em surpresa, como se não tivesse ouvido direito. Era quase como se a frase virasse: trazer "meu" Shintarou de volta.

— Akashi não tem que exigir nada sobre isso, mas eu realmente espero que tenha encontrado a bebida, Kise!

A voz era agitada, entretanto a locução formulada de forma aprimorada.

Kagami se aproximava da quadra com Kuroko ao seu encalço, mas Akashi sentia-se surpreso porque de certa forma PARECIA Midorima, e principalmente impressionado pelo fato dele parecer não ligar para sua preocupação. Mas ele sabia a razão e não se tratava de troca de corpos, o motivo dessa impassibilidade de seu antigo companheiro estava com olhar exasperado e aflito, era charmoso e claramente apaixonado.

Akashi realmente estava odiando Takao nesse momento.

— Midorimacchi não encontrei o meu fã, mas... — o modelo se apressou em agitar os braços, acalmando os nervos que ameaçavam ferver, para continuar sua frase. — Achei algo.

Todos aguardaram, o achar “algo” não era achar o fã ou solução, algo de Kise podia ser qualquer coisa.

— Fala logo Kise! — Kagami murmurou.

— Isso!

Abriu uma bolsa térmica onde continha várias bebidas, algumas com cores diferentes, nenhuma com o nome estranho, mas pareciam ser ambas da mesma marca.

— É essa a bebida? — Kuroko perguntou.

— A aparência não está igual e a minha tinha sabor limão, essa é de cola. — Midorima murmurou.

— Não, aquela tinha sabor laranja! — Kagami contrapôs.

Os dois caras se encararam, era como um aviso de alguma treta chegando.

— Não seja idiota, claro que era limão.

— Eu sei muito bem identificar um sabor e era laranja!

— Gente isso não é relevante, a proposta é, vocês vão querer arriscar beber essas daqui?

Ninguém tinha nada a perder, então só restou para os dois virar aquela lata sobre o olhar atribulado dos outros presentes.

Não tinha sido a mesma do fã de Kise, as chances disso dar certo eram mínimas. Mas Midorima se recusava estar em um corpo que não era o seu. E Kagami milagrosamente, pensava igual.