Relembranças escrita por Salazar


Capítulo 1
Adeus, irmão.


Notas iniciais do capítulo

Parece um monólogo, mas é um diálogo. Apesar do ouvinte estar oculto, ele existe, e o narrador-personagem está falando tudo em voz alta. Não defini um cenário para a história, porque é irrelevante, mas um bom lugar seria a Floresta Negra.



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É verdade aquilo que dizem sobre a vida passar por nossos olhos na hora que estamos deixando este mundo. Sim, eu estou morto. No entanto, estou vivo.

Ou quase vivo.

Todo o meu corpo estremeceu quando a morte se aproximou de mim. Eu não sabia, mas sentia. E, antes de tudo acontecer, com o tempo desacelerado, eu vi todos os anos de minha vida passearem por minha mente, inundando-me com um turbilhão de pensamentos e lembranças.

Revivi todos os momentos desde o meu nascimento, alguns destes o tempo já até havia se encarregado de esconder em minhas profundas memórias.

Vi todos os meus familiares, amigos, e, ah, claro, todos os meus amores. Senti mais uma vez os abraços, os aromas, os toques... Senti tudo e me permiti sentir ao máximo porque seria a última vez.

O tempo passava em minha volta, mas, em minha mente, não havia tempo. Acontecimentos vieram à tona sem seguir uma ordem cronológica e tampouco seguiram uma ordem de importância.

Relembrei nossa infância, nossa adolescência e, finalmente, nossos poucos anos da vida adulta. Revi as cenas em que nos divertimos, vi os momentos em que ficamos tristes – estes sendo os mais raros – e todos os outros acontecimentos que me tornaram quem sou – ou o quem fui enquanto vivia. Estávamos sempre juntos. Em todos os momentos.

Meu coração se entristeceu. Não só porque eu estava diante da morte iminente, mas porque eu teria que me separar de você para sempre. Fiquei triste pela mamãe, pelo papai e pelos nossos outros irmãos, mas nada se compara ao que eu senti quando seu rosto se fixou em minha mente.

Foi como se mil agulhas penetrassem o meu coração.

Diversas vezes.

Você estava próximo a mim naquele momento, mas não havia algo que você pudesse fazer. Não mais. Não houve piadas, nem brincadeiras ou sorrisos. Eu enfrentaria a morte e você sabia disso. Nossos olhares se cruzaram e eu vi o pânico em sua expressão facial. Eu disse “eu te amo, irmão”, apenas movimentando os lábios.

E então aconteceu.

A guerra em minha volta desacelerou mais ainda e fui atingido pelos destroços do corredor. Eu ouvi seus gritos, e lágrimas lavaram minha face. Antes que eu fechasse os olhos, porém, relembrei seu rosto que tanto conheço, já que também compartilhamos isso.

Mesmo depois de morto, tenho estado com você. Não posso imaginar como deve ser doloroso você se olhar no espelho, meu irmão. Eu cheguei a pensar que envelheceríamos juntos, acreditei que teríamos nossas próprias famílias, eu com meus filhos e você com os seus, mas, ainda assim, seríamos unidos como sempre fomos. Mas os planos da vida para mim eram outros: a morte.

Que irônico.

Ah, sim, quase esqueci! Envelhecemos juntos uma vez, quando bebemos uma poção para burlar as regras do torneio e ultrapassar a barreira em forma de linha etária que protegia o Cálice. Não foi algo natural, mas anime-se: você sabe que será um velho bonitão!

Não sei como você achou essa pedra. Eu sei que deve ser difícil aceitar a minha partida, mas peço que não me mantenha aqui. Eu já morri, não quero ficar preso a uma vida que não tenho mais. Veja! Olhe para mim! Eu nem sou de carne e osso, pareço mais um fantasma – e eu recusei a alternativa de ser um fantasma!

Jogue a pedra no Lago Negro, deixe-a lá, onde ninguém a encontrará de novo. Não chore, por favor, estou feliz em ver você. Mas não faça isso consigo mesmo, não se prenda a algo que deixou de ser. Eu conheço você, sempre conheci, sei que você pode e deve seguir em frente. Você pode expandir o negócio que começamos juntos, pode se casar com aquela garota que sabemos que está em seu coração, você pode ter filho e sua própria família. E, se precisa tanto manter uma parte de mim, dê meu nome ao seu filho. Será uma honra. Serei o padrinho dele não-oficial, que tal?

Eu estava esperando essa risada!

Ah, como senti sua falta, meu irmão... Mas é hora de me deixar ir. Eu te abraçaria se pudesse, mas não acredito que nessa forma posso tocar em algo.

Espere.

Feche os olhos, vou te envolver com os meus braços e você pode imaginar estar me abraçando.

Pronto.

Agora deixe-me ir.

Eu estarei olhando por você o tempo todo.

Sempre.

Meu irmão, nunca esqueça: eu te amo e sempre amarei. O tempo vai passar, você mudará, mas o meu amor por ti sempre permanecerá o mesmo. Tenho um último pedido: não conte a ninguém sobre hoje. Nem para a mamãe, nem para o papai, nem para os nossos irmãos e irmã.

Fique firme.

Permaneça forte.

Adeus, George.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Foi só uma ~amostra~ do que está por vir! hahaha' Se tiver alguma sugestão, crítica ou elogio, deixe nos comentários. Abraço. :D



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