E foi exatamente à meia noite, quando todos jantavam, que eu fui para a sacada do apartamento de Takanori. Para a festa de natal ele havia convidado apenas o Gazette e, por motivos óbvios, Miyavi.

       Aquele era o primeiro natal que eu não passava com a minha família, e sim com amigos. E o pior era eu estar daquela forma, tão depressivo. Não por causa disso, afinal nunca fui muito ligado aos meus pais, nem à ninguém, então o Gazette era a minha família. O motivo de minha depressão era outra coisa... Alguém na verdade: Shiroyama Yuu. Não que tivéssemos brigado ou algo do tipo, muito pelo contrário. O problema é que eu estava em duvida à respeito de meus sentimentos para com o moreno.

       Claro que nós sempre tínhamos nossas transas quando estávamos muito bêbados, ou durante uma turnê em que dividíamos o mesmo quarto. Mas eu sabia que Yuu não nutria nenhum sentimento, maior que um amor fraternal, por mim. Por mais que ele fosse carinhoso, eu sabia que era por conveniência. Coisa do momento.

       Levei a taça de vinho tinto − que já estava pela metade − aos lábios, tomando um pequeno gole do liquido.

       − Ta tudo bem, Kou?

       Eu estava distraído, debruçado no parapeito do local, e quando ouvi a voz de Ruki me virei afoito, quase derrubando o cristal.

       − T-Ta... Ta tudo bem. Por que não estaria?

       − Não sei... Você parece um pouco aéreo. Por que não entra?

       Suspirei.

       − Claro... Eu já entro, só queria tomar um ar.

       Ele balançou a cabeça positivamente e retrucou um “ta”, passando pela porta de vidro e voltando para a sala. Pouco mais de um minuto e meio se passou, e Yuu veio até mim.

       − O que houve?

       Ele parou ao meu lado, também debruçando no parapeito, sem nunca me encarar. Olhei-o quase indignado com aquela frieza.

       − Não foi nada, Yuu.

       Ele riu descrente e se virou para mim, tomando a taça de minha mão e bebendo o resto do vinho que ainda tinha ali. Deixou então o cristal repousado ao lado do braço dobrado que o apoiava no parapeito.

       − E você quer que eu acredite nisso?

       Corei levemente, desviando o olhar dele sem dizer nada.

       − Ei, Kou... fala. Você sabe que eu não gosto de te ver assim.

       Suspirei fechando os olhos momentaneamente, abrindo-os em poucos segundos novamente.

       − Eu só não estou me sentindo muito bem.

       Ele sorriu-me terno.

       − Então vamos fazer um trato. Eu te dou seu presente de natal um pouco antes do de todo mundo e você me da, em troca, um sorriso, ta bom?

       Olhei-o apreensivo.

       − Por favor, Kou... − pediu com voz manhosa. − Eu garanto que você vai gostar e vai até se sentir melhor.

       − Tudo bem... − falei num sussurro.

       Ele sorriu mais abertamente.

       − Feche seus olhos. − pediu e eu o obedeci. Por um momento ainda pude vê-lo levar a mão ao bolso traseiro da calça.

       Senti sua mão tocar a minha esquerda e ergue-la levemente na altura de meu rosto, enquanto algo pequeno e fino escorregava por meu dedo anular. Obviamente estranhei aquilo.

       Mas o pior foi não ter parado por ai. Logo em seguida senti algo quente tocando-me, dessa vez nos lábios. Delicado. Carinhoso. Hesitante. Quase com medo de que eu fugisse. Não, eu não o faria. Mas não pude evitar me assustar e abrir os olhos, me afastando impulsivamente. Tentei focar o que estava à minha frente, me assustando uma segunda vez ao ver o rosto de Yuu tão próximo ao meu. Os orbes ônix e penetrantes me fitando.

       Desviei minha atenção para minha mão ainda erguida e vi la, no mesmo dedo que eu havia sentido o tal metal estranho, um pequeno anel de prata, como alianças de casamento.

       − Y-Yuu... Mas o que-...

       − Eu te amo, Kou. Eu te amo mais do que qualquer coisa que eu já tenha amado nessa minha vida. E eu quero ficar com você até o ultimo dia da minha vida.

       Eu só podia estar muito bêbado para estar fantasiando aquilo. Era real? Yuu soltou minha mão que ainda segurava, se afastando um pouco e esperando alguma reação. Seu rosto estava sério como eu nunca havia visto. Mas ele não parecia com raiva. Era como se estivesse com medo do que eu diria. Mas aquilo não podia ser real! Yuu não era hetero, mas até onde eu sabia ele nunca tinha tido nenhum compromisso sério com homens nem nada. Minha mão solta no ar foi em direção ao seu rosto, ele a acompanhava com os olhos, um que de duvida estampado em sua face. E com as pontas dos dedos toquei sua bochecha. Só então a ficha caiu: Yuu me amava! Por mais que ele não fosse completamente homo, ele-me-amava.

       E como se lesse meus pensamentos, ele sorriu, tocando minha mão e começando em um tom baixo:

       − Sabe, Kou... Tudo na vida tem uma exceção. E você foi a minha. Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, m-...

       Não deixei-o terminar o que falava, voando em seu pescoço e o abraçando. Meu rosto já estava completamente molhado pelas lágrimas. Lágrimas de alegria. Ele pareceu demorar um pouco para entender o que estava acontecendo, mas quando entendeu, correspondeu ao abraço de maneira firme. Senti-o sorrir contra meu pescoço.

       − Eu aceito... Eu aceito, Yuu. Oh meu Deus, eu te amo tanto.

       E então ficamos ali por mais um tempo, apenas abraçados, sentindo um o calor do outro naquela noite fria de inverno. E nesse mesmo dia, hoje completamos um ano juntos. As memórias do natal do ano passado nunca irão ser apagadas de minha mente.

       Aquele foi o melhor presente de natal que eu já havia ganhado em toda a minha vida...

Takashima Kouyou

24/12/2009

Fic completamente dedicada à corinne. "Minha" Takashima. *-*

Feliz natal, cu. Te amo. <3