Corrida

Quando o casal voltou a casa, Merida já havia levantado os cabelos em um emaranhado ruivo sem pentear denunciado que ela não despertara a muito.

A garota foi em direção a geladeira, procurando por alguma fruta. Quando tirou sua cabeça de dentro tinha uma maça entre os dentes.

Rapunzel apenas riu e balançou a cabeça ao passar pela amiga.

– Então, que horas estaremos indo? - Merida perguntou, mastigando a maça com gosto.

– Daqui á alguns minutos, só estamos esperando Jack descer. - Astrid respondeu simpática. Não que Merida tenha notado isso. A ruiva bufou e resmungou algo inaudível. Rapunzel arregalou os olhos um pouco. Esse ciúme ia acabar denunciando os sentimentos que Merida mantinha ocultos.

Jack desceu correndo as escadas, uma bola debaixo de um dos braços.

– E ai, vamos? - Elsa e os outros assentiram, embora Rapunzel tenha cerrado as sobrancelhas ao ouvir a voz do garoto.

O grupo saiu, carregando suas cestas de piquenique e se dirigindo para os estábulos. As conversas se mantiveram normais ate chegarem às portas de madeira. Flynn passou longe do lugar onde Max estava. Se cavalos pudessem lançar olhares fulminantes, seria isso que o garanhão branco estaria fazendo.

Ele não desgrudou seus olhos castanhos do moreno nem mesmo por um segundo. Bem, ao menos ate que Rapunzel montasse e fizesse carinho em seu pescoço. Todos montaram, e começaram a descer o caminho ate o rio. Grama, verde esmeralda era esmagada aos pés dos animais e o sol batia forte contra as faces dos que iam a frente. Soluço se espreguiçou, esticando os braços. Aquele calor estava fazendo-o ficar sonolento. Seus olhos verdes se voltaram na direção de Merida. A cabeleira ruiva da garota parecia fogo ao misturar-se com os raios amarelos do sol.

Então ele percebeu o que estava fazendo e forçou-se a virar para frente. Ele tinha uma namorada. Por Thor, era Astrid! Sua paixonite desde que entrara no colégio, alguém que ele nunca imaginaria conseguir nem mesmo ir á um encontro. Ele gostava muito dela. Muito mesmo.

Mas uma vozinha irritante sussurrou, maldosa, em seu ouvido: Mas você não á ama, certo?

Antes que cometesse a besteira de concordar ele virou o rosto para o lado onde Astrid cavalgava como uma bela amazona. Talvez rápido demais. Uma dor se espalhou por seu pescoço, fazendo-o levar a mão ao local.

Não muito longe dele, Jack, andando ao lado de Punzie, tentava faze-la aceitar uma competição. Uma corrida ate o rio.

– Por favor, Punzie! - Ele desistiu, se entregando a suplicas. - Por favor, só uma vez!

Ele juntou às mãos a frente de si e fez um biquinho. Oh-oh. Rapunzel sabia que havia perdido antes mesmo que as palavras saíssem de seus lábios. Aquele biquinho a deixava vulnerável mais do que qualquer outra coisa.

Qualquer garoto poderia fazer biquinhos ainda mais fofos que o do albino ao seu lado, mas havia algo na maneira que Jack curvava o lábio inferior que fazia algo dentro dela enlouquecer.

– Esta bem. Ela finalmente falou, erguendo as mãos em derrota. Mas só uma corrida e se eu ganhar, você vai ter que me carregar todo o caminho ate em casa, ok?

A de olhos verdes sorriu ao ver a expressão alegre de Jack se transformar, em um piscar de olhos, em uma careta.

– Ok, mas sem trapaças loirinhas. - Ele sorriu maroto ao dizer isso e esporeou o cavalo.

Rapunzel riu e esporeou Maximus, adrenalina correndo por seu corpo. Eles passaram os outros e deixaram-nos para trás, sem nem mesmo ouvir as reclamações que Astrid e Elsa gritaram para eles.

O vento balançava seus cabelos, juntamente com as crinas sedosas dos cavalos, fazendo os olhos lacrimejarem. Jack aumentou a velocidade ao ver Punzie emparelhar com seu cavalo. Braços batiam com os arreios sem parar, e as risadas se perdiam no vento passando veloz entre os dois adolescentes.

O albino estava com a vantagem, mas comentou o erro de olhar para trás. Rapunzel estava cavalgando a toda velocidade, os cabelos como uma cortina dourada agitada pelo vento, deixava seu rosto livre das mechas que escondiam suas bochechas. E o garoto se perdeu nas feições coradas e risonhas dela.

Sem se dar conta do que acontecia, Rapunzel nem percebeu a velocidade do cavalo de Jack estabilizar e passou por ele. Quando o albino despertou, a garota já havia passado do ponto que serviria de linha de chegada e acenava satisfeita até ele, gargalhando da careta incrédula em seu rosto.

– Oh, cara, que mer... - Jack se deteve ao ver a expressão reprovadora no rosto dela. Digo, não é justo!

– Ora, a culpa não é minha se você se distraiu. - Punzie disse inocentemente. Mal sabia ela que era sim sua culpa.

Frost optou por não dizer nada. Não poderia, de qualquer jeito, dizer que se distraíra por olhar seu rosto. Desceu do cavalo ofegante e foi para o lado da antiga amiga para esperar os outros.

Enquanto isso, ainda um pouco longe do lugar onde iriam fazer o piquenique, Elsa, Merida e Flynn conversavam sobre o festival que haveria na cidade dali á alguns dias.

– Eu não vou. - A ruiva disse categoricamente, antes que Elsa começasse a implorar. Flynn passou uma das mãos por entre seus fios cor de chocolate antes soltar um longo suspiro. Aqui vamos nós, ele pensou.

– Ora Merida, é sempre a mesma coisa. Você tem que sair mais, socializar. - Elsa deu ênfase na ultima palavra, fazendo aspas com os dedos.

– E por que razão? - A garota cruzou os braços desafiadores em frente do peito. - Pra que ir á um lugar cheio de pessoas falando alto e fazendo coisas estupidas?

– Com coisas estupidas, você quer dizer, declarações românticas e dançar? - Flynn alfinetou recebendo um olhar de aviso da namorada. Ela começou a falar, usando o tom que usava quando queria convence-lo a fazer alguma coisa.

Com certeza ele ia adorar ver aquilo funcionar em outra pessoa que não fosse ele próprio.

Mas não funcionou. Merida permaneceu irredutível e, depois que desmontou do cavalo, ela fez questão de manter distancia do casal. Alias, dos casais.

Todos amarraram seus cavalos nas arvores que circundavam a área sombreada onde iriam comer. As garotas arrumaram a comida sobre a toalha quadriculada, azul e branca e os garotos se sentaram, buscando a posição mais confortável.

Soluço ficou entre Astrid e Merida. A ruiva fez menção de mudar de lugar quando viu onde estava sentada, mas Flynn, que se sentou de seu outro lado, esbarrou com ela "sem querer" e a fez cair de volta no lugar. Bem, quase no lugar. Seu corpo caiu sobre o colo de Soluço, que parecia prestes a entrar em combustão, tão vermelho seu rosto estava. Astrid percebeu e não gostou nada da reação do moreno.

Depois de uma serie de pedidos de desculpa e problemas para se por de pé, Merida sentou-se de volta na toalha, evitando contato visual com todos. Jack por sua vez, riu ate que a respiração faltasse. Ou, mais especificamente, ate que se engasgasse com seu pedaço de bolo.

Rapunzel bateu nas costas dele, tentando não rir muito. Enquanto comiam, aproveitavam a paisagem ensolarada e barulhenta. Pássaros cantando, distantes nas copas das arvores. A tranquilidade que o ar puro espalhava fazia todas as preocupações desaparecerem por alguns minutos.

Elsa deitou-se contra o peito de Flynn e inspirou o ar da tarde. Algumas folhas flutuaram espalhadas pelo vento em frente a seus olhos dando um ar magico ao momento.

Jack, sorrateiro se aproximou de Punzie e colocou uma de suas mãos, "acidentalmente", sobre a dela. A garota levantou os ombros com o susto, mas não se afastou ou virou o rosto. O garoto simplesmente sorriu de canto.

Merida deitou-se contra a grama e fechou os olhos. Tanto para curtir o frescor do vento quanto para bloquear a visão de Astrid e Soluço juntos.

Arg, ela não deveria estar gostando de um garoto comprometido. Ela nunca, nunca fazia isso. Mas Soluço não era qualquer garoto. Ele era seu melhor amigo em toda a vida. E talvez fosse por isso que doesse tanto vê-lo junto com outra.

– Ei, vamos nadar? - Rapunzel se colocou de pé de repente, soltando a mão de Jack no processo. Elsa recusou, pegando um livro dentro de uma das cestas. Os outros aceitaram, correndo em direção ao rio depois da parede de arvores frutíferas.

Mal haviam entrado na agua, Astrid gritou entusiasmada:

– Briga de galo!! - Montou nas costas de Soluço que disfarçou a muito custo uma careta de surpresa pelo súbito peso extra sobre de si. Jack estava indo em direção a Punzie, quando, leve como uma pena, ela saltou sobre o pescoço de Rider, gargalhando como uma criança.

– Ei, nem pensar cunhadinha. Eu não brinco disso. - Dizendo isso, ele cruzou os braços bronzeados. Mas Rapunzel puxou uma de suas orelhas com força e sussurrou:

– Você brinca sim, Rider, a não ser que queira levar uma surra de frigideira novamente. - O rosto do rapaz perdeu a cor e ele concordou, gaguejando com medo.

Ele sabia o quanto frigideiras podiam ser letais. Quando ele começara a namorar Elsa, uma noite, ele dormiu na casa dela, (no sofá, pessoinhas mal pensadas) mas eles não contaram nada para Rapunzel. Quando a garota chegou á casa da prima e ouviu barulhos de outra pessoa na casa, ela se armara com uma frigideira e, quando Flynn despontara, saindo do banheiro, ela batera nele com vontade.

Ate que Elsa corresse para fora do quarto e explicasse, o moreno já havia ganhado muito hematomas.

Por isso, ao ouvir a ameaça da garota, ele engoliu em seco e aceitou "brincar".

Merida subiu em Jack, que não parecia nada feliz com a mudança, mas comemorou quando Merida derrubou Punzie sem dificuldade. A garota escocesa tinha força.

A loira caiu na agua com um grande splash, levando Flynn consigo. Os dois saíram do rio rindo, bem, ao menos Rapunzel. Flynn não parecia tão alegre por ter sido derrubado, ainda mais por duas garotas.

Sentou-se ao lado de Elsa, que lhe deu um selinho. Ela chamou de seu premio de consolação.

Na agua, agora fria à medida que o sol descia no horizonte, Astrid e Merida ainda lutavam. Apesar da energia da loira, Soluço parecia não estar mais aguentando sustenta-la. Jack, por sua vez, gargalhava da cara de esforço que o de olhos verdes fazia.

Ao menos ate que Astrid deu uma joelhada em seu rosto, sem querer. Ele se desequilibrou e, sem ter onde se segurar caiu com estrondo na agua. Merida emergiu cuspindo agua, os cabelos encharcados cobrindo-lhe o rosto.

– Ok, eu acho que é hora de irmos para casa. - Elsa disse, imitando a adulta responsável. Todos ajudaram a arrumar e recolher o lixo antes de se colocarem a caminho da mansão.

Todos montaram no cavalo, menos duas pessoas.

– É hora de cumprir seu castigo Frost. - Rapunzel disse, rindo delicadamente. O garoto virou seus olhos azuis vibrantes até ela e suspirou alto.

– Esta bem, suba. - Ele disse, abaixando as costas o máximo que pode já que a garota era mais baixa que ele.

Um tanto receosa, a loirinha subiu e enlaçou suas pernas na cintura de Jack. Seus braços se enrolaram, um tanto tímidos, em seu pescoço.

Imediatamente o coração do garoto acelerou, e ele ficou com medo que ela pudesse ouvir as batidas descontroladas.

Merida lhes deu um olhar malicioso antes de começar a correr com seu cavalo. Soluço apenas sorriu. Jack sabia que o amigo não o deixaria em paz depois disso.

Ele tentou não pensar nisso. Colocou os braços debaixo das pernas de Rapunzel e segurou-a firme. O caminho ate em cima seria longo, mas ao menos ele poderia sentir o cheiro suave de flores que emanava da pele dela, mesmo depois do banho de rio.

Começaram a andar, enquanto o céu se tingia de azul arroxeado atrás de si e as batidas do coração de Rapunzel entravam em sincronia com as dele.

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