The Crooked Man escrita por Senhor Silêncio


Capítulo 6
Capítulo 6 - Sorrindo.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo que "ele" aparece. Foi só pra uma pequena aparição mesmo, as perseguições e os mistérios ainda estão por vir. Mas foi o que consegui, vlw ;)



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Reino Unido - Inglaterra/1842

Depois de pegar o lampião, saí às pressas atrás de Hugo. Ora, não havia motivos para algo deixa-lo agitado, nem mesmo havia predadores perigosos por aqui. De qualquer forma eu não poderia deixar meu amigo sozinho, e se ele caísse em algum poço de barro ou se ferisse nas minas de ferro? Corri com a vontade de não cogitar essas possibilidades.

O vento noturno era forte, sorte minha não ter pego o chapéu. Meu casaco balançava e eu parecia estar correndo como nunca antes. Conforme eu avançava, a distância entre mim e o espantalho ia diminuindo. Parecia que meu gato tinha entrado nas plantações, pois eu já não o via mais.

Parei quando cheguei perto dos campos de cereais e do sinistro objeto feito para espantar pássaros. Olhando de perto, ele tinha a capacidade de espantar bem mais que pássaros. O pano que cobria sua cabeça estava costurado e deformado; suas roupas eram simples, no entanto, antigas; cheirava muito mal e sua presença era desagradável.

Levantei minha fonte de luz para ele e o observei mais atentamente. Alguma coisa ali me chamava a atenção...

E foi naquele instante que a realidade disparou. O vento, como se fosse um sinal de aviso, começou a murmurar. Olhei para trás, as plantações estavam balançando muito fortemente e estava em direção constante para cá. Alguém estava se aproximando e rápido. Por instinto, procurei algum lugar para me esconder.

Me aproximei das partes de trás do mato e me agachei perto de balcões podres e velhos que estavam jogados por lá. Arrumei uma brecha por entre a madeira para que eu pudesse ver e respirar, já que estava abafado e escuro. Apaguei o lampião e observei de acordo com o luar. Eu estava apenas a quatro ou cinco de metros de antes, todavia, bem escondido.

As plantações pararam de balançar e de lá saiu um vulto negro. Estava escuro, por isso não consegui ver seu rosto e suas roupas. Ele saiu lentamente e olhou em volta. O vento não parecia incomoda-lo, porque simplesmente seguiu em direção ao espantalho sem nem levantar os braços para proteger o rosto.

No momento seguinte, tive que tampar a boca para não gritar. O vulto começou a rodear e cheira-lo, como se fosse divertido. O que estaria fazendo uma pessoa para ter que suportar esse aroma horrendo? Pelo que pareceu, ele parou e voltou para frente. A lua estava num ponto proporcional ao buraco que eu espiava e pude vê-lo por um instante.

Tenho total certeza que aquela imagem horrorosa nunca vai sair da minha mente. Um rosto cinzento e deformado, com longos cabelos repicados ao lado. Não prestei atenção nas suas vestimentas porque nesse meio tempo algo me surpreendeu mais: sua fisionomia. Ele tinha o pescoço pendido para o lado, como um sinal de dúvida, mas parecia ser fixo. Eu posso descreve-lo como um... homem torto.

Homem-torto...

Mas é claro! Seria disso que o cocheiro falou. Por isso as pessoas consideravam um tabu citar este nome. As coisas estavam começando a fazer sentindo. E a casa? E a cidade antiga de que Rodrick falou? As pessoas teriam visto essa coisa e ido embora? Certo, mais problemas estavam surgindo.

Parei de pensar quando ele, do nada, olhou na minha direção. Não parei só de pensar, parei de respirar. A tensão era alta, o vento cessou e o suor gelado começou a surgir. O vulto apenas olhava, não tenho certeza se era pra mim ou além de mim, porque era impossível ser visto nesta situação. Foi aí que me lembrei: "Droga, onde está Hugo?". Se esse cara o pegasse, que seria do gato?

E num passe de mágica, eis que o surge. Da plantação atrás da criatura saiu meu animal. Só que olhando agora, onde é que estava o homem?

O balcão acima de mim foi pressionado, tinha alguém ali. "Maldição, morrerei agora?" eram meus pensamentos extremamente reconfortantes. Ouvi sons pequenos e estranhos, ele estava cheirando a madeira. Talvez estivesse me procurando, mas eu não descobriria. Levantei subitamente, jogando tudo que estava por perto para os lados. Me inclinei correndo na direção do gato e o peguei, para logo ir em direção a minha casa novamente, não sem antes ouvir um rugido em protesto.

Eu estava como uma bala, quase perdendo os pulmões. Atravessei todo o mato e as plantações, até chegar perto da árvore torta do lago estranho. Olhei para trás, numa reza silenciosa.

Ainda estava lá...

Parando, me olhando...

Ele começou a voltar para trás, sem desviar o olhar de mim. O olhar de um ângulo torto e estranho. Seu corpo se perdeu na plantação, tendo como última aparição sua cabeça, que a luz de um raio fez o maldito favor de me mostrar naquela hora.

Sorrindo. Ele estava sorrindo pra mim.

10 Minutos depois.

Eu já havia chegado em casa e estava me recuperando da corrida e do medo que se apoderou de mim alguns instantes atrás. Hugo estava estranhamente calmo. Eu olhava de cara feia para ele, mas não acho que entenderia minha frustração. Sorte minha ter as velas que comprei em Biggin Hills, já que na pressa esqueci de pegar o lampião.

Amanhã eu iria voltar na cidade para comprar trancas e chaves. Durante a noite, só me sentia seguro no belo quarto.

– Por que saiu daqui desse jeito? Onde foi? - indaguei o gato, que como eu esperava, não deu resposta.

Em vez de continuar deitado, ele se levantou.

– Que vai fazer agora?

Hugo passou pela porta da cozinha e voltou alguns instantes depois com alguns papéis na boca. Parou na minha frente os jogos ao chão. Eu olhava aquilo de forma curiosa, mas logo recobrei os sentidos e peguei o que ele trouxe. Eram papéis espalhados na sala da lareira. Como sempre, não consegui ler.

– A escrita parece ser muito antiga, rapaz. De nada vai adiantar ficar me trazendo essas coisas!

Sem resposta. Ele voltou a se deitar e dormiu.

– Seria mais prudente se eu seguisse seu exemplo... - murmurei cansado, enquanto me levantava e ia para cima.

Chegando lá, apaguei a vela e olhei pela janela. O espantalho continuava lá, no entanto, nem sinal da coisa que estava à pouca distância de mim mais cedo. Cheirando, observando, sorrindo... será que queria algo de mim? Queria me machucar? Não parecia, pois não me seguiu, nem ligou para Hugo, e acho que já sabia que estou morando aqui. Amanhã eu teria muito o que procurar.


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Notas finais do capítulo

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