The Haunted escrita por Heartblood


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ;)



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“Talvez eu cheguei em um lugar onde eu não queria. Sem querer, sem perceber, cheguei no seu coração.”

— Mac Muller

Harry Stormblood

Quando voltamos, Sean e Alice estavam deitados, ainda mais pálidos. Ele dormia e ela olhava o nada, pensando em alguma coisa. Era final de tarde e Melody foi tentar descansar um pouco. Fiquei de pé, olhando em volta.

            -Você não cansa de ficar em pé? –a loira sussurra.

            -Não. Acho que não. -rio baixinho. -Por quê?

            -Você está sempre de pé, sempre mesmo.

            -Sei lá. Acostumei. Eu basicamente tenho que ficar de pé o tempo todo nos hospitais, então...

            -Mas você não está em nenhum dos hospitais agora. -ela ri baixinho.

            -Isso é você querendo que eu fique sentado? -rio e sento ao lado dela, a olhando nos olhos. -Feliz?

            -Uhum. -ela sorri. Ela faz careta e deita a cabeça no meu colo.- Eu devo estar parecendo uma morta agora. Me sinto assim. É como se não existisse mais força nenhuma. E nem vontade. Nem nada.

            -Nem tanto. Você ainda está falando. -rio baixinho e ficamos quietos.

            -Não gosto de silencio - ela sorri e me olha.

            -Eu também não. -começo a mexer no cabelo dela - Você está com sono?

            -Não muito, só estou tonta.

            -Então quer conversar sobre o que? Talvez melhore se você ficar distraída. Comigo adiantou.

            -Eu não sei sobre o que eu quero conversar... Talvez eu queira a sua resposta da minha pergunta de ontem.

            -Qual era mesmo? -sorrio.

            -Por que você ficou daquele jeito quando eu disse que o efeito tinha passado.

            -Ah sim... Eu ainda estou pensando na resposta. Eu juro que te falo ainda hoje. -rio e ela faz biquinho.

            -O.k... A Mel está bem?

            -Não sei... Acho que não muito. Ela me disse estar com muito sono e com dor. Mas ela se nega a me dizer o que está acontecendo. Acho que quando Oliver disse que impediu alguém de matar ela, era verdade. Mas ela disse que não. -suspiro

            -Ela sempre fala que não... Acha que esse Anthony vai poder ajudá-la de algum jeito?

            -Talvez... Depende se ela está com algum machucado ou não. Às vezes é apenas psicológico. Isso tudo deve estar sendo difícil para ela... Oliver voltou, você foi atacada, eu apareci na vida dela de novo sem querer... -suspiro - Mas isso vai passar.

            -Eu sei que Oliver a transformou... Mas o que mais ele fez?

            -Você só sabe dessa parte? -arregalo os olhos. -Ela vai me matar quando descobrir que eu falei o que vou te contar... Jura segredo? -ela concorda com a cabeça, meio preocupada. -Como eu já disse... Ele era meu melhor amigo. Nós estudávamos juntos desde pequenos. -suspiro, olhando para o céu - Um dia ele me disse que havia conhecido uma garota e depois disse que era a mulher dos sonhos dele. Quando finalmente me apresentou a ela, eu descobri que na verdade, eu já a conhecia. Nós dois éramos vizinhos e por isso, ficamos amigos. -paro de falar um pouco - Resumindo. Os dois começaram a namorar enquanto eu e ela ficamos mais amigos. Eu gostava dela, mas não podia dizer nada porque ele iria me matar se soubesse. Pesquisávamos sobre demônios... Os três juntos. E depois de um tempo, Oliver sumiu e quando voltou, três semanas depois, ele estava diferente, frio. -olho para a menina ao meu lado -Alguém havia o transformado. -mordo o lábio - Acho que já falei de mais.

            -E dai ele transformou vocês... -ela respira fundo.

            -Na verdade ele me transformou primeiro. E Melody o odiou por isso... Eles terminaram e ela cuidou de mim. Quando eu estava melhor, começamos a nos envolvermos mais... -franzo a testa - Não é muito confortável falar isso para você. -rio baixinho. -Mas enfim... Quando ele descobriu que estávamos namorando, ele tentou acabar com ela. Mas ele não conseguiu. Ele transformou-a e a deixou largada lá, para morrer.

            -Ele ficou puto do nada? Tipo... Ele sumiu e voltou querendo matar todo mundo?

            -Basicamente. Pelo que Melody disse, ele foi transformado de um dos modos mais cruéis e dolorosos possíveis. -suspiro - Chega desse assunto. -sorrio, voltando a mexer no cabelo dela. -Ah... Lembrei que você também me deve uma resposta. -rio baixinho. -O que achou daquilo?

            -Respondo depois de você. -ela ri baixinho.

            -Não. -rio - Você responde primeiro.

            -Ou o que, Jonathan?

            -Você não tem medo de mim? -sorrio maliciosamente - Sério mesmo? Você não vai me obrigar a te fazer responder, ou vai?

            -Eu não quero responder. Vai terminar de me matar? -ela faz biquinho.

            -Não... -sorrio, negando com a cabeça. Fico olhando fixamente para ela. -Não é desse tipo de coisa que você tem que ter medo. -mordo o lábio, a olhando nos olhos. -São de coisas piores.

            -Me dê um exemplo. -ela olha rapidamente para minha boca.

            -Não posso fazer isso aqui. -sorrio de canto e tento não rir depois de ela arregalar os olhos.

            -Lembra quando eu disse que você era inapropriado? Então... Não retiro isso. Nunca. Seu inapropriado nojento.

            -Exato. Ainda bem que você entendeu... - rio baixinho - Me desculpa. Eu preciso parar de falar essas coisas para você.

            -Precisar não precisa. Mas... Esquece. Eu não sei mais o que estou falando.

            -Você tem que me responder ainda, senhora Victoria. Medo? -sorrio.

            -Não tenho! Bem... Só não tenho uma resposta. É bem diferente. Vou responder. Não agora -ela faz careta -Prefiro adiar essa resposta.

            -Vai querer que eu responda antes? -rio baixinho.

            -Uhum. Fiz a pergunta antes, é justo...

            -Silencio. -Sean fala, parecendo um bêbado - Eu estou tentando dormir. Vão conversas pra lá.

            Ela revira os olhos, o olhando séria. Ele sorri, virando para o outro lado em seguida. A loira respira fundo e volta a deitar a cabeça no meu colo.    

            -Quer ir para lá? -sussurro o mais baixo que consigo - Acho que se a gente continuar a falar ele vai me dar um soco. -seguro a risada.

            -Que medo do Sean - ela sussurra de volta, sarcástica. -Se eu conseguir levantar, nós vamos.

            Rio, levantando em seguida e a ajudando a levantar. Ela sorri e vamos um pouco mais longe. Sento em uma pedra grande e ela senta do meu lado. Ficamos em silencio durante um tempinho. Ela me olha.

            -Medo de responder, Jonathan?

            -Não. Eu tenho medo da sua reação... -rio.

            -A pergunta que fiz não pode levar a uma resposta tão assustadora. -ela ri também.

            -Eu... -suspiro, olhando para frente. -Eu não sei como te responder. Vou usar as palavras da sua irmã, tudo bem?

            -Ah Jesus... O.k, fale.

            -Segundo Melody, eu fiquei estranho porque fiquei com medo. -sorrio - Acho que ela tem razão. Eu fiquei com medo de que, sem o meu sangue, você não ia querer continuar assim... Comigo? -franzo a testa, negando com a cabeça. -Ou seja, isso era eu com medo de você se afastar. -fico em silencio durante um tempinho, respirando fundo. -Que confusão... Mas o.k, eu respondi.

            -Qual o seu problema? Por que eu me afastaria? -ela me olha nos olhos. -Você que se afastou quando eu falei que o efeito havia passado.

            -Eu... Desculpa. Eu faço isso. Acho que eu tenho medo de que me machuquem e para isso não acontecer, afasto as pessoas e acaba que eu machuco os outros.

            -Harry... Mais da metade de tudo que aconteceu não foi culpa do seu sangue.

            -Não? -franzo a testa, mordendo o lábio.

            -Não... Era... Da minha cabeça mesmo. Eu sei me controlar, por mais que você ache que não. Todas as vezes que eu quase beijei você foi por vontade própria. Eu quero ficar com você. Meu corpo se recusa a isso por razões que eu não conheço, mas minha sanidade é toda sua. Minha mente é toda sua. Uma das coisas que eu mais quero é beijar você. Então para de ser estúpido e achar que tudo é culpa sua, porque não é. Porra, eu acho você lindo e quero muito, muito mesmo, poder te abraçar sem você ficar falando que é culpa do sangue. A maioria dos pensamentos que tive são meus. Na verdade, tudo era meu. A vontade, as palavras, o jeito. O único efeito que o sangue causa é deixar os sentimentos mais evidentes. Não muda ninguém, apenas mostra o que você não quer que vejam. O que não queremos nem que nós mesmos vejamos. Coisas puxadas para fora das profundezas das nossas mentes, vontades obscuras, tudo o possível envolvendo a pessoa que deu o sangue. Ou seja... Eu nunca fiz nada porque não quis. Apenas mostrei o que tinha vergonha e receio de mostrar.

            O.k. Agora eu realmente não sei o que falar... Ela não estava no efeito do meu sangue? Era isso o que realmente acontecia?

            -Fala alguma coisa!

            -Eu não sei o que falar... -suspiro. -Eu... É sua vez de responder.

            -Eu não sei. -ela olha para baixo.

            -Eu tive que responder então você também tem. -rio - É fácil. Só diz o que você pensou quando fiz aquilo.           

            -Eu não sei o que eu pensei Harry!

            -Injustiça... -reviro os olhos. -Eu respondi e você não.

            -Porque eu não tenho resposta, você tinha. -ela me olha e eu a olho nos olhos, suspirando. -Me desculpa...

            -Tudo bem... -sorrio de canto - Eu só... Estou pensando em uma coisa.

            -No que você tanto pensa? -ela me olha fixamente nos olhos.

            -Que se tudo aquilo não foi por causa do meu sangue... Talvez eu possa... -mordo o lábio.

            -Você pode...?

            -Acho que você sabe do que eu estava falando. -sussurro, colocando a mão no canto do rosto dela, fazendo-a olhar para minha boca.

            -Talvez eu saiba.

            Sorrio e me aproximo um pouco dela e ela sorri de canto, colocando uma mão e minha nuca, encostando nossas testas. Eu não iria deixar ninguém ou nada nos interromper. Meus lábios formigavam, desejando os dela. Meu coração batia forte e rapidamente. Novamente senti alguma coisa me puxando para longe, mas então a agarrei pela cintura e a puxei bem mais perto, colando meu corpo no dela. Então eu a beijei. Depois de tanto tempo ansiando por esse momento, eu pude sentir seus lábios doces nos meus.  

            Ela sorri sem separar nossos lábios e me puxa mais perto. Coloco as duas mãos na cintura dela, apertando a mesma tentando acabar com a distância ainda existente. Ela morde meu lábio e eu sorrio sem nos separar, mexendo no cabelo dela, fazendo-a se arrepiar.

            Paro o beijo, a olhando nos olhos. Alice sorri me olhando nos olhos também. Desço uma das mãos para a coxa dela, voltando a beijá-la. Ela morde meu lábio um pouco mais forte.

            -Eu... -sussurro, parando o beijo novamente e rindo baixinho - Calma... Acho que você não vai querer tomar meu sangue de novo.

            -Desculpa. -ela ri baixinho.

            Fico a olhando, sorrindo igual um retardado e ela ri de mim. Mas mal sabia ela, que estava praticamente igual.

            Seguro a mão dela, rindo também.

            -Temos problemas mentais? -ela ri alto, tapando a boca.

            -Talvez um pouco. -tento não rir.

            -Talvez mais que isso.

            Nego com a cabeça, dando um selinho nela. Ela boceja e eu rio.

            -Quer dormir?

            -Uhum... -ela ri também em levantamos, voltando para o lugar onde estávamos antes. Sento encostado em uma pedra e ela deita do meu lado. -Boa noite, Jonathan.

            -Boa noite, Victoria. -sorrio e começo a fazer cafuné nela.

            Ela sorri e pouco depois já estava dormindo. Deito a cabeça na pedra e fecho os olhos. Eu precisava dormir, então foi isso que eu fiz. Quando acordei foi por causa do barulho de Sean caindo.

            Abro os olhos rapidamente. Sean estava deitado, parecendo morto e Alice estava ainda pior. Melody estava acordada, sentada em uma pedra, abraçada com a mochila.

            -Ele está vivo, né? -olho para Sean.

            -Sim... -ela fala, sem me olhar. -Ele estava conversando com a grama agora pouco. Perguntando se ela tinha comido os doces dele. -ela sorri de canto.

            -Está vivo, mas não está bem... Ahn... De boa? –respiro fundo e ela concorda com a cabeça, bocejando em seguida. -Dormiu alguns minutos? -arqueio uma sobrancelha.

            -Dormi alguns segundos. Foi só fechar os olhos e apareceu o rosto do Oliver, rindo... Como ele faz quando está certo e eu errada.-ela me olha. -Será que vai demorar para acharmos as pedras e depois o Anthony? Preciso ir para casa. Meu cabelo está criando vida própria.

            -Ele ri porque estava certo mesmo...-murmuro -E a caverna está a um ou dois quilômetros daqui, Anthony não deve estar longe.

            Ela fica me olhando durante um tempo e depois desvia o olha, mexendo no tecido da bolsa.

            -Aconteceu alguma coisa depois disso?

            -Não. -ela parecia falar a verdade - Só o Sean que ficou me empurrando, pedindo comida e me chamando de gatinha. -ela revira os olhos. -Não sei como ele consegue falar tanta merda enquanto dorme.

            -Ele não fala coisas tão ruins - rio alto.

            -Conheço alguém que fala mais... -ela me olha novamente, arqueando uma sobrancelha, - Mas as vezes acho que no meu caso é pior... Eu não falo, eu faço. Sem perceber, -ela suspira.

            Rio e tapo a boca. Chega de rir e sorrir por hoje.

            Ela fica olhando para o nada

            -O chão está mexendo? -Alice murmura tentando sentar.

            -Não... -falo virando para ela - Por quê? Está tonta?

            -Um pouquinho... Talvez muito... É, enfim. -ela cobre o rosto com uma das mãos.

            -Quer um pouco de sangue? -sento ao lado dela de novo. -Eu guardei algumas rosas na minha bolsa.

            -Se eu tomar melhora? -ela me olha.

            -Um pouco. Você está fraca. Estamos bem perto da caverna. Acho que você e Sean deviam beber um pouco de sangue e então a gente vai para a caverna. -sorrio, arrumando o cabelo dela. -E depois achar o Anthony,

            -Então tá. -ela sorri e faz careta.

            Abro minha bolsa, pegando duas rosas. Dou uma delas para a loira e vejo Melody acordando Sean. Ele senta, arrumando o cabelo rapidamente e fazendo sinal para eu mandar a rosa para ele. Mando a mesma e Alice esmaga a rosa, tomando o sangue. Os olhos dela ficam brancos e ela parece menos morta. Depois que eles terminam, juntamos as coisas. Melody ajuda Sean a levantar.

            -Eu acho que consigo levantar sozinha... -Alice murmura e tenta. Fico a olhando. -Não. Não consigo. -ela faz biquinho e me olha. Rio, ajudando-a a levantar. Coloco um braço em volta da cintura dela. Ela sorri de canto e me olha. -Oi, Jonathan.

            -Oi, Victoria. -sorrio - Acho melhor você não gastar muito sua energia, se não chegamos lá só amanhã. -rio baixinho - Pode deixar que eu te ajudo.

            -O.k. -ela ri - Não estou afim de ficar pior que isso... -sorrio de canto, a ajudando a andar. -Dormiu bem?

            -Sim, e você? -rio baixinho - Não gastar sua energia quer dizer não ficar falando, fazendo esforço e etc. Desculpa, mas se você continuar você vai desmaiar daqui a pouco. -sorrio.

            -O.k. Vou tentar ficar quieta. -ela ri baixinho.

            Olho para Melody e Sean. Eles estavam andando abraçados. Olho para Alice novamente, dando um selinho nela. Ela sorri e me olha nos olhos, arqueando uma sobrancelha.

            Continuamos a andar por um tempo até a caverna aparecer mais na frente. Sean cai e a menina se apoia em mim, quase desmaiando. Eles estavam brancos como papel e os lábios estavam vermelhos e rachados. Os olhos deles estavam escuros de mais.

            -Já estou odiando essa caverna - ela murmura, com a cabeça em meu peito.

            -Calma... -olho nos olhos dela- Já passa o.k?

            Ela faz que sim e Melody ajuda Sean a levantar. Ele estava um pouco melhor que Alice, por já ter passado por isso. Com certeza, se pudesse sairia correndo dali. Eu e Melody estávamos mais fracos também.

            -Não tem como ficarmos fora da caverna, né? -Sean sussurra

            -Não... Infelizmente. Você sabe como funciona, Sean. -suspiro- Vamos rápido e daqui a pouco vamos embora.

            Mais alguns minutos e estávamos na frente da caverna. Sean estava quase caindo novamente e eu praticamente carregava Alice no colo. Ela estava quase vomitando e praticamente não conseguia mais andar.

            -Como vamos achar a pedra? Nós vamos morrer? -ela sussurra, irritada.

            -Calma, Ali. Vocês não vão morrer. Quase, mas não vão. -mordo o lábio.

            -Bom saber que vai ficar pior.

            Reviro os olhos, ajudando-a a andar para dentro da caverna.

            Era um lugar muito escuro e comprido, porém estreito o bastante para a passagem de apenas duas pessoas por vez. Havia estalagmites e estalactites por todo o lugar, como se não bastasse o chão escorregadio. Quando me apoiei em uma pedra, minha mão se sujou de sangue. Era mais escuro que o sangue humano.

            O lugar tinha sangue de demônio escorrendo pelas paredes.

            Passamos por alguns cadáveres, quase caímos em alguns buracos que com certeza nos matariam, ouvimos barulhos anormais. Sean e Alice eram o que mais me preocupavam agora. Andavam como se fossem fantoches, os olhos estavam escurecendo, as garras apareciam. Estavam sujos de sangue por andarem meio se arrastando nas paredes. Um pouco do sangue era realmente deles, dos cortes que haviam feito nas pedras. Pareciam cadáveres andando. Quando Sean olhou para trás, para Alice, vi seus olhos. Pareciam buracos vazios e profundos. Mas não estavam negros. Estavam cor de sangue. Suas veias estavam saltadas e escuras, como se seu sangue tivesse engrossado. A voz dele parecia pedra raspando em aço quando ele falou para Alice, que estava com a mesma aparência.

            -Direita...

            Ela concorda com a cabeça, indo para o lado dele. Eles nos guiavam agora, e visto de trás era agonizante. Podia ouvir o som do coração deles batalhando para continuar batendo, as respirações falhas e o silêncio com que andavam. Ela andava com a mão na parede, deixando um rastro de sangue longo, como se ela quisesse marcar o caminho. Algumas coisas se mexiam nas sombras além de nós. Soube que não iriam nos atacar por causa dos dois. Por isso eles estavam indo na frente.

            A aparência deles estava mantendo as coisas longe. Como não tinham as pedras, eles se misturavam facilmente com os "rebelados", que é como chamamos aqueles que não seguem as regras, se negam a usar as pedras, comem carne humana e demoníaca, bebem o sangue um dos outros por prazer. Sempre foram um grande problema por matar grande número de nós.

            Além disso, tudo que sei é que eles trabalham para alguém. Não comem toda carne que caçam, ou, se comem, não é na hora. Aquele para quem eles trabalhavam fazia alguma coisa com os corpos antes. Prefiro não pensar no assunto.

            Depois de um tempo andando, as sombras se mexem novamente e Alice cai quase batendo a cabeça nas pedras. Estava com a mão na perna quebrada. Ela joga algo nas sombras, chiando para as mesmas de modo que sangue escorresse por suas bochechas. O chão perto dela fica rachado e o sangue apodrece, e ouvimos a pedra batendo em carne, um gemido de dor e os movimentos nas sombras param. Ela olha para as sombras, com um misto de dor e raiva. Mordo o lábio com força, me ajoelhando ao lado dela.

            -Está doendo muito? -sussurro, colocando a mão na perna dela - Por favor, levanta... Eles vão nos achar e, além do mais, quando mais demorarmos, mais você vai sofrer...

            -Eu não... não consigo -ela respira fundo e tenta levantar, fechando os olhos com força. Aquilo tinha arranhado a perna dela. Ela não ia mesmo conseguir andar.

            -Calma... -mordo o lábio e a pego no colo. Ela me olha nos olhos. -Vem cá... Melhor assim.

            -Para quem jurou que não ia me carregar...

            -Se não se importam... Esquerda. -Sean fala um pouco mais alto. Sorrio de canto, o seguindo.

            Mais um bom tempo depois, ele para e Alice tenta olhar mais na frente. Eu e Melody não íamos ver nada, por já termos a pedra.

            -Está ali na frente, não?- ela pergunta e ele concorda.           

            A coloco de pé no chão, com cuidado e ela se segura nas paredes, mancando até Sean. Eles sussurram alguma coisa um para o outro e depois olham em volta. A loira dá de ombros e vai mancando até uma das estalagmites. Ele a chuta e a pedra quebra, partindo-se em um monte de pedregulhos menores. Eles começam a vasculhar no monte, enquanto eu e Melody olhávamos em volta.

            -Foi mais fácil que vez passada. -Sean murmura, mostrando uma pedrinha azul. Não era maior que meu pingente e não tinha forma. Alice tinha uma igual, só que com um brilho prateado. Arqueio uma sobrancelha e ele ri, levantando e ajudando a menina a levantar. A pego no colo ao ver que ela não se aguentava em pé. -Não faz essa cara, Harry. Nem tudo é perfeito. Mas são essas.

            -Eu não disse nada, Sean... Vamos embora daqui? Não gosto desse lugar.

            Eles concordam e fazemos o caminho de volta um pouco mais rápido. O rosto dos dois estava normal, mas ela parecia a ponto de desmaiar. Estava com febre e não conseguia abrir muito os olhos. Era o arranhão. Veneno em excesso.

            Quando saímos dali, o vento parecia mais forte. Seguro seu corpo fraco mais perto de mim e voltamos a andar. Eles pareciam melhores agora, mas estavam cansados. Não apenas os dois, nós quatro estávamos.

            Algum tempo, não muito depois, decidimos finalmente parar. Era melhor eu ver o que tinham feito na perna de Alice antes que piorasse. Praticamente desabamos em um lugar com um pouco mais de árvores, algumas pedras e mato. Sentamos todos perto e só então percebi que Sean também tinha se machucado.

            -Eles tentaram arrancar meu pé fora ou... –a menor estava encostada em uma pedra. Seu cabelo estava meio ondulado e totalmente bagunçado, as roupas sujas de sangue assim como a pele, que estava bem pálida. O machucado estava simplesmente... horrível.

            -De 0 a 10... quanto é sua dor? -fico a olhando.

            -Ahn... Acho que sete.

            Melody cuidava dos machucados não muito feios de Sean. Pego minha mochila e de lá tiro gaze, uma rosa ainda bem vermelha pelo sangue que ali estava e mais algumas coisas para tentar fazer alguma coisa no arranhão. Quando coloquei um pouco de álcool que peguei na mochila de Sean ali, ela morde a mão com força. Não foi bom ter deixado aquilo aberto por muito tempo... Iria infeccionar.

            Comecei a fazer tudo o que podia ali. Limpei o máximo de veneno que consegui e enrolei a gaze com cuidado, dando-a a rosa em seguida. O sangue a ajudaria a se curar mais rápido. Então foi isso que ela fez. Esmagou a rosa de modo que o sangue escorresse para sua boca, sujando seu queixo e pescoço. Seus olhos estavam brancos. Mordo o lábio, apenas observando o sangue escorrer.

            -Obrigada... -ela murmura pouco depois, colocando a rosa branca ao lado.

            -Está um pouco melhor? -sorrio de canto - Ou ainda está doendo muito?

            -Está um pouquinho melhor. -ela sorri me olhando nos olhos rapidamente, desviando o olhar para a pedra branca em sua mão em seguida, mexendo na mesma. -Eles queriam me matar?

            -Acho que sim... Foi o que pareceu. -suspiro - Mas você não vai morrer, o.k? Eu não vou deixar.

            -Você leva mesmo a sério seu trabalho de segurança de loirinhas, Stormblood. -ela ri baixinho, lembrando-me do que havia falado praticamente uma semana antes.

            -Claro... -seguro a risada. -Eu tenho uma reputação. E eu sou pago para cuidar dessas loiras fraquinhas. -arqueio uma sobrancelha.

            -Fraquinhas?—ela arqueia uma sobrancelha também, segurando a risada. -Espera eu conseguir andar de novo.

            -Era para dar medo? -rio- Não precisa fingir que é forte.

            -Até porque eu dou muito medo. -ela ri alto, mostrando os "bíceps". -Os bebês morrem de medo de mim.

            -Sim... Quando você faz caretas do tipo... Assim... -fico vesgo, mostrando a língua, franzindo a testa, fazendo-a rir ainda mais alto, revirando os olhos em seguida.

            -Coitados de seus pacientes. Sinto muita pena deles.

            -Eu normalmente sou mais sério, você sabe. Mas, como não estou no trabalho agora... -sorrio de canto. Ela sorri e olha o nada, franzindo a testa.

            -Do que você tem medo?

            -Eu não sei... -mordo o lábio - Por quê?

            -Não sei... só... Não quero ficar em silencio novamente... -ela me olha fixamente e eu retribuo.

            -Eu quero voltar para casa logo...

            -Eu também quero... Mas acho que se não pensarmos tanto nisso, passa mais rápido. Bem... Funciona comigo.

            -Eu só... Não gosto de vir para cá. Mas tudo bem. -olho em volta. -Logo tudo acaba.

            Ela concorda, suspira e faz biquinho. Alice deita a cabeça em meu ombro, fechando um pouco os olhos, como se suas pálpebras pesassem. Sorrio de canto, pegando a mão dela e fazendo-a sorrir. Ficamos um pouco em silencio.

            -Gente... Achei o Anthony... -Sean sussurra, levantando com dificuldade. Levanto seguido por Melody, que arregala os olhos, e ajudo a loirinha, um pouco surpreso também.

            Pouco mais para frente, escondida nas sombras, havia um grande chalé com paredes pretas e rosas vermelhas no jardim. As luzes fracas nas janelas eram azuis brilhantes e o cheiro era inconfundível. Sangue, carne humana crua, prata e ouro.

            Era a casa de Anthony Owlnight.


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