A Bruxa de Ferro escrita por Miranda Uchiha


Capítulo 6
O Elfo da Floresta




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A Bruxa de Ferro

Por Miranda Uchiha

O Elfo da Floresta

OoO

Scrap-Scrap-Clique-Clique.

O ruído arrancou Miranda do transe. Ela agarrou o braço de Harry e o empurrou de volta para a porta.

– Saia.

– Miranda...

– Saia! - ela gritou.

Miranda moveu-se lentamente na direção da criatura - o elfo - caminhando com as pernas trêmulas, tentando parecer mais corajosa do que realmente se sentia. Ela também tentava ignorar a súbita e intensa dor nos pulsos.

Imagens de pesadelo habitavam a periferia de seus pensamentos, e ela se esforçava para bloqueá-las, preferindo não lembrar. O cheiro de terra molhada invadia seus sentidos na medida em que ela se aproximava, fazendo tudo parecer mais real.

– Fique onde está - ela ordenou em voz baixa, mas com uma inconfundível nota de ameaça. Sentia o olhar penetrante de Harry, e pelo canto do olho ela registrou a surpresa no rosto do amigo. Droga, ele ainda estava no banheiro. E tentava protegê-la.

– O que está fazendo aqui? - Miranda perguntou à criatura. - Onde está o Criador?

Não esperava realmente uma resposta. Não uma que pudesse entender, pelo menos.

Uma expressão manhosa surgiu no rosto do elfo - uma expressão tão humana que chegava a ser perturbadora. Os pés dele agarravam a beirada do vaso sanitário de cerâmica como raízes retorcidas.

E de repente a criatura se lançou sobre eles sem nenhum ruído ou aviso, arremessando-se para frente e usando as pernas surpreendentemente fortes como alavancas. Os dedos magros como galhos finos se enterraram nos ombros de Harry e seu peso o jogou sobre a pia do banheiro. Todo ar foi expulso dos pulmões de Harry com um ruído audível, e ele deixou escapar um grito sufocado quando as costas se chocaram contra a beirada da pia de cerâmica.

Desequilibrada, Miranda se esforçou para não cair. Em pé, ela olhou em volta procurando desesperada por alguma coisa que pudesse servir de arma. Os olhos se depararam com um desentupidor de pia, e ela foi pegá-lo. Harry tentava remover as mãos deformadas do elfo de sua jaqueta, mas a coisa era mais forte, e permanecia agarrada enquanto fazia aquele barulho como um clique metálico no fundo da garganta. A boca aberta deixava ver dentes amarelos e pontiagudos como agulhas. Ele tentava cravá-los no rosto apavorado de Harry.

Com um grito furioso, Miranda começou a bater com o cabo de madeira do desentupidor na parte de trás da cabeça do elfo.

– Solte-o!

A coisa chiou e se virou para ela, mantendo uma das mãos em Harry. Ele tentava pegar a arma improvisada, arrancá-la de suas mãos trêmulas, mas Miranda a segurava com força descomunal. De repente ela teve uma ideia e virou o desentupidor, brandindo a parte de sucção para o elfo. É claro, pensava, como se isso fosse dar certo.

Harry, que continuava tentando remover as garras do elfo de sua jaqueta e chutava várias vezes suas pernas finas por medida de precaução, de repente parecia ter tido uma ideia, também; Miranda viu o brilho em seus olhos castanhos e soube que ele tramava alguma coisa. Com um movimento dos ombros e um impulso violento, ele despiu a jaqueta e se afastou da criatura.

Agora estava livre, enquanto o elfo segurava apenas sua jaqueta de motoqueiro. Com uma expressão quase humana de desgosto no rosto enrugado, a criatura jogou a jaqueta no chão. Miranda tirou proveito desse momento de surpresa e, sentindo-se só um pouco ridícula, empurrou o desentupidor com a parte de sucção voltada para seu rosto, sorrindo ao ouvir o som satisfatório da pressão. Ela empregava toda força que tinha, ignorando a dor cada vez mais forte nas mãos, e girou a criatura mantendo seu rosto bem preso no desentupidor. Os braços do elfo se moviam como se ele tentasse agarrar alguma coisa, mas nada podiam fazer enquanto Miranda - quase intoxicada com tanta adrenalina - o empurrava na direção da banheira.

O desentupidor se soltou com um pop muito alto, e o elfo voou para dentro da banheira, chocando-se contra a lateral e caindo com um grito que não era humano. Imediatamente, fumaça começou a se desprender de seu corpo de terra, e ele continuou gritando enquanto tentava escalar as laterais profundas da banheira.

O banheiro era rapidamente dominado por um forte cheiro de queimado, como fumaça de madeira. Miranda empurrou Harry para a porta.

– Venha, vamos sair daqui. Depressa!

Harry parecia estar paralisado, olhando de Miranda para a banheira com uma expressão chocada, mas ela não podia perder tempo se preocupando com isso agora.

– Por favor, Harry, reaja! - Ela o empurrou outra vez.

– Espere - disse ele. - Minha jaqueta.

– Esqueça a jaqueta! Corra!

Harry se desviou dela e pegou a jaqueta no chão. – Agora podemos ir.

Enquanto isso, a criatura ferida havia conseguido se arrastar para fora da banheira e parecia indecisa, sem saber se devia tentar atacar as presas novamente, ou se fugia enquanto podia. A fumaça dominava o ambiente, apesar da janela parcialmente aberta. Recuando em direção à porta, Miranda arremessou o desentupidor para a criatura que já se virava com aquele som pavoroso e sibilante, observando-os de cabeça baixa, dividida entre o ataque e a defesa.

– Harry, vamos!

Eles correram para fora do banheiro. Ao abrir a porta, Miranda ainda viu o atacante pela última vez, quando ele já saltava para a janela.

– Ele vai escapar - disse. - Talvez possamos pegá-lo do outro lado. - Harry a agarrou pelo braço.

– Como assim, "talvez possamos pegá-lo"? Você ficou maluca? Aquela coisa tentou me morder. Não vou dar a ela outra chance para arrancar um pedaço do meu rosto.

Miranda sentia no peito o impacto das sucessivas descargas de adrenalina. Era difícil respirar.

– Tem razão, desculpe. Eu me empolguei.

O rosto de Harry empalidecera visivelmente, e suas pupilas estavam dilatadas, tornando os olhos castanhos quase inteiramente negros.

– Você acha? - A voz dele tremia.

Respirando fundo, Miranda tentou ter pensamentos mais calmos.

– Você está bem, Harry? - Sabia que a perguntava era ridícula, e teve certeza disso ao ouvir as palavras saindo de sua boca.

Harry ainda parecia estar em estado de choque.

– O que era aquele... Monstro?

Alguma coisa se desfez dentro de Miranda. O que devia dizer ao amigo? Como poderia voltar a encarar Harry? Depois de tudo que haviam enfrentado juntos nos últimos anos - a morte da mãe dele, que havia sido terrível, sua expulsão da escola, que também não havia sido fácil - agora tinha de lidar com a dura tarefa de contar a verdade ao amigo. Seus piores temores se concretizavam, e não havia nada que pudesse fazer para modificar essa situação.

Não havia botão de retrocesso na vida real, por mais que ela desejasse poder voltar no tempo. O que estavam vivendo agora não era nada parecido com as cenas dos inúmeros filmes que viram juntos, acomodados no quarto de Harry ou no dela, alheios ao mundo real e perdidos na fantasia.

Ela respirou fundo.

– Aquilo era um elfo da floresta... Ou um elfo das trevas. Esse é o nome usado com mais frequência hoje em dia. Fica mais fácil para a Ordem justificar a decisão de caçá-los.

– O que é a Ordem? E... Miranda está falando sério quando diz que aquilo era um elfo?

Ela assentiu séria.

– Sim. Tia Mary diz...

– Sua tia? Que diabos está acontecendo, Miranda?

Ela se deixou cair contra a parede, respirando o ar empoeirado do corredor estreito e passando a mão enluvada pelo rosto, tentando dominar o cansaço.

– Escute, sei que tudo isso é difícil de entender. Mas você já sabia que havia coisas estranhas em minha vida. Em mim. Quero dizer, sei que nunca conversei com você sobre essas coisas, mas... Harry, você não é burro. Você mesmo disse que me seguiu até aqui por causa de todos os supostos segredos que tenho escondido de você. - Ela se recusou a dar crédito à ideia de que talvez ele só a houvesse seguido por sentir ciúmes de Xan. Isso era mais do que podia processar nesse momento.

Harry passou a mão pelo cabelo despenteado, um gesto que manifestava frustração, enquanto a outra mão segurava a jaqueta contra o peito num gesto quase de proteção.

– Sim, mas eu não esperava que fosse isso. Quero dizer, ter uma tia paranoica é uma coisa, mas... Elfos? Tenha dó, Miranda. Isso não é esquisito, isso é completamente maluco.

– Não podemos falar sobre isso agora; temos de sair daqui. - Harry prosseguiu como se ela não houvesse falado nada.

– E você lutou contra aquilo como se soubesse o que estava fazendo. O que foi aquilo?

Ela riu com amargura.

– Sim, é claro, eu sabia realmente o que estava fazendo. Garota Desentupidora de Pia.

– Bem, sabia muito mais do que eu. - Harry a encarou sério, com uma tensão desconhecida no rosto, e depois caminhou de volta para a oficina.

– Não fique zangado comigo, Harry. Por favor. Eu não suportaria.

Ele suspirou.

– Não estou zangado. Estou só... Assustado, eu acho.

Durante todo o tempo em que mantinham essa conversa difícil, Miranda olhava em volta com evidente receio, quase esperando ver o elfo ressurgir e atacá-los, apesar de saber que, provavelmente, ele já estava longe dali. Ela não conteve um tremor ao lembrar o som que ele produzia e seus olhos escuros. Talvez nunca mais pudesse esquecer a imagem dos dentes afiados tentando destroçar o rosto de Harry.

Miranda balançou a cabeça e tentou se concentrar no que o amigo estava dizendo.

– Quem é esse tal de Criador, aliás? - Ele vestia novamente a jaqueta, e Miranda constatou com alívio que parte da cor retornara a seu rosto. - Acha que aquela criatura tem alguma coisa a ver com o fato de ele não estar aqui?

– Não sei - Miranda odiava a sensação de insegurança, a incerteza.

Estava tentando pensar no que devia fazer agora. Contar a tia Mary?

Ou procurar Christopher de uma vez? Alguma coisa acontecera com o Criador, e sua primeira atitude deveria ser reportar o desaparecimento a Christopher White, o arquimestre da Ordem - seu "líder" desde que conseguia lembrar. E precisava relatar também o atual estado da oficina, e o fato de ter encontrado um elfo das trevas escondido no banheiro.

– Miranda, você está escondendo alguma coisa - Harry falou com tom frustrado. - Precisa me ajudar a entender tudo isso.

Ela suspirou.

– Eu conto mais em casa. - Ele a encarou determinado.

– Promete? Vai me contar tudo?

Miranda abriu e fechou as mãos, tentando decidir quanto Harry poderia realmente entender. "Tudo" seria demais até para uma pessoa de mente absolutamente aberta.

– Eu vou tentar, Harry. Isso é tudo que posso prometer.

E teria de ser suficiente por ora, por isso Miranda deu as costas ao amigo antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. O que faria agora? Tantos anos de segredo, e de repente a tampa da Caixa de Pandora havia sido arrancada. Harry não a deixaria fechá-la novamente tão cedo, e ela tremeu ao pensar em quais seriam as consequências, se começasse a revelar todos os segredos da Ordem.

Miranda não estava nem pensando nas possíveis consequências para ela mesma; o que mais a preocupava era o que tudo isso podia significar para Harry. Ele era um inocente. (Chris o chamaria de "plebeu", um termo arcaico que ela odiava.) Mas como Harry Thompson poderia ser considerado realmente inocente depois de ter estado frente a frente com aquele elfo das trevas?

Nem mesmo os alquimistas conseguiam apagar a memória de alguém. Pelo menos, ela acreditava que não.

Enquanto se afastava do edifício, Miranda ia respirando o ar frio com imensa gratidão. O que importava era que Harry estava seguro. De costas para ela, o amigo pegava a bicicleta que deixara ao lado da porta, apoiada à parede. Miranda sentia vontade de chorar, mas sabia que isso não a ajudaria em nada. Seu dever era com a Ordem - com a tia. E isso tinha de estar acima de tudo.

A porta da oficina - que eles tiveram o cuidado de fechar - se abriu de repente com um estrondo. Harry quase foi esmagado por ela, e o coração de Miranda disparou, batendo tão depressa que ela sentiu uma súbita vertigem.

O criador surgiu na soleira, piscando para vencer o primeiro impacto do sol radiante.

– Criador! - Miranda correu para ele. - Então está bem!

"Bem" era um exagero. O velho alquimista se apoiava em sua bengala e parecia frágil. O fato de não estar na cadeira de rodas era, normalmente, um bom sinal - significava que tinha força nas pernas nesse dia - mas não havia como não notar a palidez e as linhas profundas em seu rosto. E Miranda vira a cadeira de rodas jogada em um canto da oficina. A imagem a deixou com a boca repentinamente seca.

– O que faz aqui, criança? - A voz do Criador era rouca. Ele se dobrou ao meio acometido por um ataque de tosse.

Perturbada, Miranda não sabia o que fazer para ajudar. Não tinham um relacionamento de grandes demonstrações de afeto. Conhecia o Criador desde sempre e o via com frequência há dez anos, graças ao trabalho que ele fazia em seus braços e mãos, mas ele não era o tipo de pessoa que alguém pensa em abraçar. Por isso ela se limitou a tocá-lo no braço com uma certa hesitação.

Quando a mão encostou-se à flanela escura da camisa que ele usava para trabalhar, Miranda sentiu um calor intenso radiando de seu corpo. Um calor que atravessava as luvas. A dor no pulso voltou.

– Criador, creio que não está bem. Deixe-me ajudá-lo. - Ela olhou para Harry, esperando que ele entendesse a mensagem. Seu amigo se aproximava depois de ter saído com dificuldade de trás da porta, e parecia pretender segurar o outro braço do homem. Não era uma boa ideia.

Talvez o Criador estivesse apenas cansado, mas havia nele um tipo de tensão que Miranda não estava acostumada a ver. Podia sentir no ar um cheiro forte de azedo; era um odor parecido com o que fica na água de um vaso com flores velhas.

– Miranda, acalme-se. Eu estou bem. - O Criador removeu a mão de seu braço com um gesto firme. Porém, a fina camada de suor que cobria seu rosto e a ruga profunda entre as sobrancelhas diziam o contrário: nada estava bem. Ele respirou fundo, fazendo um grande esforço para manter-se em pé. - De verdade, estou muito bem.

Ela mordeu o lábio.

– É seguro entrar na oficina?

Ele assentiu.

– Sim, sim. Tudo já foi resolvido.

– Está dizendo que... - Miranda não terminou a frase, mas tentou imaginar o que o Criador havia feito para "resolver" as dificuldades criadas pelo elfo. Na última vez que o vira, ele tentava fugir pela janela do banheiro. E o alquimista não estava por perto naquele momento; tinha certeza disso.

– A criatura foi neutralizada. Era só um desgarrado. - Os olhos azuis do Criador fixaram-se em Harry e ganharam um brilho mais intenso, sinal de atenção redobrada.

Miranda se preparou para enfrentar dificuldades. Como explicaria sua presença? Essa era uma violação da regra do sigilo, uma traição ao voto de confiança, algo que certamente não seria perdoado.

– Não vai me apresentar ao seu amigo, Miranda?

Harry deu um passo à frente e Miranda estendeu a mão para segurar a dele. Ela a afagou com delicadeza.

– Este é Harry Thompson. Harry, este é o Criador. Ele... Trabalha com minha tia. - Ela respirou fundo. - Criador, peço desculpas por Harry estar aqui. Não vai mais acontecer... Foi um erro.

A expressão do Criador suavizou-se.

– Acho que podemos chegar a algum tipo de acordo, não é?

– Acordo? - Miranda franziu a testa.

– Não quero que Mary fique preocupada com você e com o que aconteceu aqui. - Ele inclinou a cabeça na direção da oficina. - Normalmente, meus experimentos não fogem antes de serem concluídos.

Experimentos? O estômago de Miranda reagiu com uma repentina contração. Não estava gostando disso. Desde quando os alquimistas faziam experimentos com elfos desgarrados?

Antes que ela pudesse falar alguma coisa, o Criador continuou:

– Se levar seu amigo embora e prometer que ele nunca mais vai voltar - aqui ele fez uma pausa e olhou sério para Harry -, não falaremos com ninguém sobre o que aconteceu aqui. Sobre nada. Entendeu? Não quero discutir minhas descobertas com Simon sem antes ter certeza de alguma coisa.

Simon? Simon Gaunt? O sócio de Christopher White. Os dois trabalhavam juntos há muito tempo, desde que Miranda conseguia lembrar, e Simon era o secretário da Ordem, além de braço direito de Christopher.

Para ser bem honesta, Simon Gaunt a incomodava a ponto de causar arrepios, e Miranda não gostava nada de pensar que existia segredos entre ele e o Criador.

Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas, pelo que acabara de ouvir, o Criador se dispunha a deixar passar em branco a visita de Harry à oficina, desde que ela não mencionasse a presença do elfo das trevas no mesmo local. Pelo menos por ora. Bem, esse era um acordo que se sentia capaz de cumprir.

Mas alguma coisa estava errada. De onde o Criador havia surgido?

Percorrera toda a oficina e o corredor dos fundos, e não encontrara nem sinal dele. Ele os vira chegar? Além disso, também era muito estranho que o Criador não estivesse zangado com a presença de Harry, considerando que segredos eram parte integrante da vida para os membros da Ordem. Por outro lado, a atitude razoável e compreensiva do Criador diante da visita inesperada podia ser uma daquelas bênçãos inesperadas. Talvez não devesse ir contra a sorte, afinal.

E, é claro, se ignorasse o pedido do Criador e contasse a tia Mary tudo que havia acontecido ali, corria o risco de ser mal interpretada. Não queria dar a impressão de que estivera bisbilhotando, ou pior, demonstrar que suspeitava de que algo terrível acontecia na oficina do Criador. Especialmente porque ele nunca havia dado motivos para ela pensar esse tipo de coisa antes. A ideia de dizer a tia Mary que Harry encontrara um elfo a deixava enjoada. Depois disso não haveria mais volta - nem para ela, nem para Harry.

Ela viu uma gota de suor escorrer lentamente pela lateral do rosto do Criador. Devia estar exausto depois de lidar sozinho com o elfo das trevas, apesar de sua habilidade com a magia. A alquimia - mágica de verdade - trata basicamente de transformação. É um tipo de poder muito diferente daquelas coisas ridículas que as pessoas costumam ver nos filmes. Não é só sacudir uma varinha e dizer algumas palavras; há muito trabalho envolvido. Preparativos e rituais minuciosos. O Criador sempre disse que "magia é tecnologia", e Miranda não havia entendido esse comentário até a primeira vez em que estivera em sua oficina.

Erguendo os ombros, ela sorriu tensa para o velho alquimista.

– Bem, vamos sair do seu caminho, então. Não se preocupe, não direi nada. E Harry também não vai contar nada a ninguém. - Ela o encarou com as sobrancelhas erguidas. - Ou vai?

Harry estivera acompanhando a conversa sem silêncio, apoiado à parede e com os braços cruzados. Estava se esforçando ao máximo para parecer inofensivo e totalmente confiável.

Miranda quase sorriu, apesar da tensão que pairava no ar. Ele era um péssimo ator.

– Oi? - Harry respondeu como se estivesse distraído.

– Acabei de garantir que você vai ficar de boca fechada sobre o que viu aqui. Estou certa?

– Certíssima - ele concordou, assentindo com tanto vigor que Miranda pensou que ele podia ter perdido o controle sobre os músculos do pescoço. - Não vou dizer nada, nem uma palavra. Nunca. Vou levar tudo isso para o túmulo e...

– Harry? - Miranda o interrompeu.

– O que é?

– Cala a boca.

– Calei. - Ele usou a mão para fingir que fechava um zíper sobre os lábios, depois fechava um cadeado e jogava a chave imaginária por cima do ombro.

Revirando os olhos, Miranda desejou poder fugir da terrível necessidade de contar a ele todas as coisas que fora obrigada a esconder por tanto tempo. A verdade era uma encosta escorregadia, e quando os fatos são expostos realmente ao mundo, é muito difícil não ganharem vida própria. Embora normalmente não acreditasse no poder da oração – desistira de tudo isso quando o pai havia morrido e a mãe adoecera - nesse momento estava disposta a tentar qualquer coisa, quase tudo.

Engolindo em seco para tentar desmanchar o nó na garganta, Miranda rezou para que revelar seus segredos não fosse o maior erro de sua vida.

E rezou para que Harry não lhe desse as costas depois de saber toda a verdade obscura e retorcida.


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