O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

OI! ;)



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Eu nunca estive tão ansiosa para uma refeição na minha vida. Cada passo que eu dou em direção à sala de jantar é acompanhado de um saltito do meu coração. Finalmente chego e ele já está sentado à mesa. Lindo como sempre, diga-se de passagem. Cumprimento todas as pessoas presentes com um abraço e demoro mais um pouquinho na vez dele, só para que ele possa sentir meu perfume.
Sento no lugar de costume e meu estômago ronca ao ver os deliciosos pãezinhos da entrada. Minha vontade é de comer tudo, mas não quero parecer uma morta de fome (apesar de eu ser uma). Ao contrário das outras refeições que já tive, tento me relacionar com as pessoas e conversar, sempre com um sorriso estampado no rosto. Por muitas vezes dialogo com Felipe, conversamos sobre coisas impessoais. Tento parecer calma mesmo com o turbilhão de emoções que sinto dentro de mim, cada vez que ele sorri tenho a sensação de ter um iglu dentro da barriga. Em uma das vezes que conversamos, respiro fundo e pergunto casualmente se ele poderia me acompanhar à biblioteca para que eu possa esclarecer alguma coisa sobre magia, ele responde que vai estar ocupado por esses dias, eu deveria perguntar a Steven. Tento não demonstrar minha decepção.
É óbvio que ele não gosta de mim! Isso é tudo minhoca da minha cabeça! Eu sou uma idiota, tola, burra!
Mal toco no prato principal, perdi totalmente a fome assim como o meu humor. As pessoas tentam puxar assunto, porém minha falta de animação é tão evidente que elas acabam parando de tentar. Por mim eu passaria o resto do almoço assim, mas Lucy aparece para servir a sobremesa e diz que é para eu colocar um sorriso no meu rosto, senão vai ficar na cara que eu gosto de Felipe já que só porque ele disse que não teria tempo para mim, eu já fiquei toda tristinha. Na mesma hora, ponho um sorriso digno de comercial de pasta de dente no rosto. Volto a conversar, porém desta vez não troco uma palavra sequer com Felipe. Converso animadamente com Eduardo, apesar de estar xingando ele de tudo quanto é nome na mente. Olho de soslaio para Felipe e percebo sua cara de ciúmes, isso só aumenta ainda mais o meu sorriso. Porém, assim que o almoço termina e saio do alcance visual das pessoas, meu humor evapora. Dobro o corredor segurando o choro, fiz papel de idiota perguntando a ele se ele poderia me ajudar em magia. Desacelero o passo ao ver Lucy correndo em minha direção.
“Tá na cara que ele está caidinho por você!”
“Então por que ele recusou vir à biblioteca comigo?”
Argumento.
“Ele deve ter seus motivos, ora! Talvez realmente esteja com falta de tempo! Deixa de besteira! A forma como ele olhava para você deixava na cara que ele tá na sua. Agora eu tenho que voltar a trabalhar, tchau!”
Ela me dá um beijinho na bochecha e saí. Em vez de ir para o quarto, pego o caminho oposto e vou para a sala de música. Com um suspiro, pego um violão e começo a tocar uma música que tem tudo a ver comigo nesse momento.


Para mim jurei gostar de mais ninguém
Bem que eu tentei
Sem entender direito, aconteceu
Mas seu destino é tão longe do meu
Não chegue perto assim
Como eu vou te dizer?
Já sei que lá no fim
Vou ter que te esquecer
Pode ser tão ruim
Não devo me envolver
Baby, baby o que fazer?*


Paro de tocar para enxugar as lágrimas, ponho o violão de lado e encosto na parece, escorrego lentamente até chegar ao chão. Enterro a cabeça entre as pernas e choro. Por que tem que ser tão difícil?!
“Não chora...”
Assusto-me ao escutar a voz da minha mãe, levanto a cabeça e enxugo as lágrimas.
“Há quanto tempo você tá aqui?!”
“Tempo suficiente para saber que você tem a voz mais doce que eu já ouvi e que tem alguém mexendo com o coraçãozinho da minha filha.”
Ela se senta ao meu lado e enxuga uma lágrima teimosa que insiste em cair. Ela me abraça de lado, aconchego-me em seu abraço e choro ainda mais.
“Não vou nem perguntar o que está acontecendo, sei qual é o nome e sobrenome da sua tristeza.”
“Mãe, eu tô com medo. Medo de quebrar a cara. Tento me afastar, mas é impossível, cada vez que ele me olha nos olhos, parece que o mundo para, meu corpo treme e borboletas dançam na minha barriga. Tudo o que eu quero é ficar com ele para sempre, mas eu não posso...”
“Você não é a única que teve que desistir de um amor por conta da responsabilidade.”
Meus olhos se enchem ainda mais com lágrimas, assim como os da minha mãe.
“O nome era Carlos.”
“O que aconteceu?”
“Bem, seu pai descobriu e...”
Ela não precisa completar. Aconteceu a mesma coisa que eu temo que aconteça com Felipe.
(...)
Passo o resto da tarde sem fazer nada, só jogada na cama até que eu adormeço e tenho um sonho muito bizarro. Estou cavalgando em um vilarejo pobre, chego a uma casa, desço do cavalo e o amarro em uma árvore. Entro em uma casa de taipa, assim que entro, a porta se fecha atrás de mim com um baque. Fico na completa escuridão, até que uma vela se acende em cima do chão a poucos passos de onde estou, vou até ela com o objetivo de pega-la e iluminar o resto do recinto, quando me aproximo, outra vela se acende ao lado desta e logo em seguida várias outras velas se acendem formando um caminho até uma porta ao final do corredor. Abro a porta um tanto receosa, provocando um alto rangido. Entro em um quarto com um forte cheiro de incenso, uma fumaça roxa começa a sair por todos os lados, dificultando minha respiração. A fumaça toca minha pele e queima, grito de dor e por ajuda. Uma voz serena, porém assustadora ecoa no cômodo. “Alteza, é um prazer recebe-la.” Pergunto quem está aí. “Eu sou só uma pobre vidente... Que tem as respostas que você precisa.” Meu coração saltita esperançoso, suplico-lhe para que me diga quais são. “Eu vou dizer, mas não em um sonho. Venha aqui e eu te direi. Só que você precisa vir sozinha.” Peço para que me dê uma prova de que isso não é apenas um sonho, ela fala que eu saberei assim que acordar. Assim que a voz se cala, a fumaça fica ainda mais densa. Toda minha pele arde em contato com ela e meus pulmões queimam por inala-la. Grito o mais alto que minha garganta permite, pedindo ajuda. Nada acontece. Tento achar a saída, em vão. Faço de tudo para acordar: belisco-me, fecho e abro os olhos, me jogo contra a parede, mas sem sucesso. De repente, tudo ao meu redor começa a desmoronar, só que os destroços não me atingem. É como se houvesse um escudo invisível me protegendo. Quando a casa termina de ruir, eu vou andando entre os destroços até chegar à rua. Encontro Felipe correndo até mim, ele vem e me abraça, enquanto agradece aos Céus por eu estar bem, eu o abraço de volta e percebo que lágrimas de pavor brotam dos meus olhos. “Vamos acordar, ok?” Ele fala e eu só assinto, apavorada, sem entender direito o que está acontecendo.
(...)
Acordo com o coração batendo a mil por hora. Abro os olhos e encontro praticamente todas as pessoas do castelo no meu quarto, ao redor da minha cama me olhando cheios de expectativa. Felipe está sentado na minha cama, inclinado sobre mim, com os olhos fechados e uma expressão concentrada no rosto. Não sei quem está mais suado, eu ou ele. Percebo que meu rosto também está molhando de lágrimas. Ele abre os olhos e quanto estes encontram os meus, ele respira aliviado. Envolve meu rosto com suas mãos, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo, por um momento, penso que ele vai me beijar.
“Graças a Deus! Eu pensei que fosse te perder!”
O rosto dele perde a cor e ele fica tonto. Tento ajuda-lo, mas também estou fraca. Uma enfermeira logo vem ao seu socorro, ela com a ajuda de um guarda o tiram do quarto e, provavelmente, o levam para o hospital. Uma médica se aproxima de mim e mede minha temperatura.
“Você está queimando em febre! Acho melhor você descansar. Saiam do quarto, todos! Vou mandar alguém preparar um chá, mais tarde venho ver se você está bem.”
Todos saem do quarto, inclusive a médica. Só quem fica é minha mãe. Ela vem até minha cama e me abraça, ficamos assim por um bom tempo. Percebo que seus olhos estão marejados.
“Mãe, o que aconteceu?”
“Filhinha foi horrível, eu fiquei com tanto medo de te perder...” ela solta um longo suspiro se controlando para não chorar “Você começou a gritar e todos vieram ver o que aconteceu. Pensei que o assassino tinha voltado e estava prestes a te matar, eu vim correndo. Cheguei aqui você estava suada, chorando, gritando e se contorcendo na cama. Tentamos de tudo para te acordar, mas você continuava dormindo. Aí Felipe chegou, não sei o que poderia ter acontecido caso ele não aparecesse! Você precisava ver! A cara dele era de dar pena! Ele estava pálido e atordoado, pude perceber que estava se controlando para não chorar.” Então ele se importa comigo! Imagina-lo desse jeito faz meu coração ficar do tamanho de uma castanha. “Não sei ao certo o que ele fez, ele entrou no seu sonho e manipulou-o, ou algo do tipo. Parece que exigiu muita força dele. Ele ficou por uns vinte minutos tentando, já tinha quase perdido as esperanças, até que você acordou.”
Ela para de falar e simplesmente me abraça, não consegue se controlar e deixa as lágrimas correrem soltas. Ficamos assim por um bom tempo, até que ela me manda descansar e sai do quarto.
Não descanso coisa nenhuma, muito pelo contrário. Eu estou elétrica. Fico repassando mentalmente todos os detalhes do sonho, ignorando toda dor e agonia que senti. Ela (seja lá quem for ela) disse que tem as respostas, eu preciso encontra-la. Só então eu percebo que não faço ideia de onde é essa casa. Droga! Eu devia ter perguntado. Mesmo assim, não deve haver tantas videntes no reino, certo? Se for preciso eu localizo cada uma e vou de casa em casa até acha-la. A possibilidade de voltar àquele local não é nada agradável, mas eu preciso encontrar respostas. Quero saber como eu vim parar aqui e principalmente como eu volto.
Minutos depois, uma criada entra no quarto trazendo um chá, sorrio quando vejo quem é.
“Lucy!”
Ela corre até mim e me abraça, deixando o chá no criado-mudo.
“Bia! Como você tá? Eu vi tudo, a forma como Felipe cuidou de você foi tão linda! Mas confesso que foi meio assustador ver você se contorcendo toda!”
Rio da careta que ela faz. Ela fala que estou pegando fogo e que tenho que tomar o chá.
“Ai, Bia! Desculpa! Sem querer eu coloquei a xícara em cima desse papel, molhou um pouquinho!”
Ela me entrega o papel. Desdobro-o e percebo que é um mapa. No centro do mapa há uma casinha circulada com tinta preta. Um círculo borrado e feito de forma apressada que indica exatamente onde encontrarei minhas respostas.


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Notas finais do capítulo

* Essa música é Baby Baby de Paula Pimenta
Algum palpite sobre quais respostas são essas? (Nicole vc ñ pode responder)