O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oi! Desculpem a demora, não postei antes por motivos de Teen Wolf, agora que já acabei (Ai. Meu. Cu. Oq foi aquilo???) posso voltar a viver. Espero que gostem!



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"Sophie Neveu: Nós somos quem protegemos, eu acho. Aquilo que defendemos." - O Código da Vinci (filme)

Sinto uma forte dor quando as presas da cobra perfuram minha panturrilha. Ótimo, penso.Depois de todas as coisas que aconteceram, vou morrer por causa de uma picada de cobra.

Mereço.

Mas algo não estava certo. Sério, se eu ganhasse uma moeda cada vez que algo não funciona na minha vida, eu já estaria rica.

Depois de me picar e injetar seu veneno em mim, a cobra se afasta rapidamente, e começa a se contorcer. Seu corpo se debate e vai se desintegrando até virar pó.

Não tenho tempo de raciocinar o que aconteceu. Aliás, não tenho como raciocinar nada, porque a toxina da cobra já afetou meu sistema nervoso.

Meu ritmo cardíaco aumenta, e passo a respirar com muita dificuldade. Fico tonta e caio no chão, por cima de minha perna.Não preciso de um diagnóstico médico para saber que quebrei. Sinto uma forte dor abdominal.

Não consigo me conter, e quando percebo, meu vômito já está espalhado pelo chão da sala. Pessoas correm ao meu socorro e um guarda me carrega,um de seus braços embaixo de meus joelhos e outro em minhas costas, me dando apoio.

Enquanto eu atravesso o recinto no colo do guarda, vejo o mago que havia enfeitiçado a cobra sendo preso. Ele tenta resistir, o que resulta em belos socos na cara dele. Sua blusa rasga na manga, revelando um símbolo semelhante à um asterisco em seu braço. Não é como uma tatuagem, é mais como uma queimadura.

Os olhos dele encontram os meus, e o ódio contido neles é a última coisa que vejo antes de apagar.

(...)

Acordo com as têmporas latejando. É noite, e o quarto do hospital é iluminado apenas pela fraca luz da lua, que entra pela janela. O céu está estrelado de maneira que nunca vi antes. Talvez porque aqui não tenha tanta iluminação.

O silêncio da noite é cortado por ocasionais chiados de animais, e o barulho do vento balançando os galhos das árvores ao redor do castelo é reconfortante.

Faço uma rápida análise em meu corpo. Aparentemente, estou bem. A não ser pela minha panturrilha, que está engessada.

Escuto passos leves vindo em minha direção. Congelo. Com o coração batendo forte no peito, tateio a mesinha ao lado da cama, procurando alguma coisa que eu possa usar para me defender. Acho um copo de vidro e agarro-o com força. Quando vejo a silhueta de uma pessoa, prendo a respiração e arremesso o corpo. O objeto voa e para no ar. A pessoa segura o copo e solta uma risadinha. Meu corpo se enche de alívio e relaxa ao identificar aquela voz. Felipe.

– Então é você e um copo contra o mundo? Se eu fosse seu inimigo, nem chegava perto. – Ele ironiza e eu rio. Felipe se aproxima de mim e fica parado ao lado da minha cama.

– Essa é a parte que você me beija e agradece a Deus e ao mundo por eu estar viva? – pergunto.

Ele não perde tempo, se inclina sobre mim e me beija. Um beijo urgente, cheio de paixão. Vai ficando cada vez mais intenso. Deslizo a mão por baixo de sua camisa, sentido seus músculos torneados. Felipe me puxa para perto, agarrando minha cintura com força como se tivesse medo que eu escapasse. Ele faz carinho em meu cabelo de modo gentil.

Vou um pouco para o lado para que ele possa deitar na cama comigo. Não ficamos muito tempo na cama, pois acabamos caindo no chão. Solto um gemido de dor, mas, felizmente, caí por cima de Felipe, e minha perna quebrada não machucou. Felipe, por sua vez, parece imune à queda e continua me beijando como se a vida dele dependesse disso.

Suas mãos deslizam por toda extensão de minha coluna, me trazendo arrepios. Desabotôo sua camisa, e ele me ajuda a se livrar da peça. Paro um pouco e analiso seu físico. Uau.

Mudamos de posição e eu acabo batendo minha perna no chão com força. Sinto uma forte pontada de dor e solto um grito abafado, e Felipe me encara, preocupado. Sento e acabo batendo a cabeça na mesinha de cabeceira.

– Droga. – sussurro. Felipe está rindo baixinho. Ele me pega com toda delicadeza do mundo e me coloca na cama (infelizmente, não no sentido erótico da coisa). Seu rosto se abre em um sorriso brincalhão.

– Acho que vamos ter que deixar isso para quando você estiver melhor.

(...)

Oscilo entre dormir e ficar com os olhos fechados, escutando a conversa ao meu redor, por mais ou menos dois dias. Eu já estou bem há um tempinho, mas a verdade é que eu não quero encarar o mundo fora do hospital. Está tudo tão confuso, e a cada passo que eu dou parece que eu me aproximo mais de um abismo. A linha entre a vida e a morte nunca me pareceu tão fina. O que realmente me afetou nesse ataque não foi nem o ataque da naja, foi perceber que, mesmo na minha própria "casa", não estou segura.

Qualquer pessoa, até mesmo a enfermeira simpática que está cuidando de mim, pode ser uma assassina infiltrada.

Se minha amiga, Natalie, me visse agora, diria que eu estava paranoica. E então, ela passaria o dia pesquisando para saber qual doença eu tenho.

Pensar nas minhas amigas faz meu coração se apertar. Amo Felipe, mas sinto muita falta da minha antiga vida. De acordar todo dia quase de madrugada, reclamando. Eu queria poder ter os dois.

O melhor dos dois mundos. Isso é uma música da Hanna Montana, certo?

Porém, isso não é um seriado da Disney. É vida real.

Mais ou menos.

Eu não consideraria o que aconteceu comigo muito real.

No terceiro dia, eu já estou bem melhor e recebo alta. Antes mesmo que eu saia do hospital, um guarda vem me avisar que Steven quer falar comigo. Pego minha muleta com a enfermeira e vou mancando até o quarto de Steven. Bato na porta e ele atende segundos depois. Abre um sorriso tenso ao me ver.

– Alteza, entre.

Obedeço. O quarto dele é simples e organizado. As paredes são brancas e o ambiente é claro. Há uma cama e um guarda roupa. A maior parte do cômodo é ocupado por uma grande escrivaninha. A peça está cheia de livros abertos, um por cima do outro.

– Pode sentar – ele fala.

Sento na cama com certa dificuldade. Essa vida de saci não é fácil.

Steven mantém os olhos fixos no chão, e logo percebo que lá vem bomba. Ele passa as mãos pelos cabelos grisalhos – um hábito de família, imagino.

– Bia, eu tenho que te explicar uma coisa. Muitas, na verdade. Primeiro, preciso te explicar por que aqueles feitiços não funcionaram em você. Quando você tinha dois anos, e os conservadores atacaram o castelo pela primeira vez, você quase morreu. Apesar de toda a proteção, conseguiram lançar um feitiço em você. – ele faz uma pausa – Percebi que não importava o tamanho do exército, você sempre estaria imune à magia. Por isso, passei meses a fio pesquisando. Até que encontrei um feitiço, antigo e muito poderoso, que te deixava imune a qualquer tipo de coisa a não ser que você quisesse que funcionasse.

Tento absorver todas as informações.

– Então, resumindo, você lançou um feitiço em mim e agora a magia só funciona comigo se eu quiser? – arrisco.

– Isso.

– Foi por isso que Felipe ficou se contorcendo no chão quando lançou um feitiço da morte em mim e a cobra que me picou se dissolveu?

– A cobra sim, mas Felipe... – ele finalmente me encara e um sorriso brinca em seus lábios. – Aí já é outra história. Não podemos lançar o feitiço da morte em pessoas que amamos. Vai doer mais na gente do que nelas.

Meu coração saltita. Então quer dizer que ele me ama!

– Por que você não disse isso antes? Teria nos poupado de muita coisa! – digo, apontando para minha perna engessada. Ele respira fundo antes de me responder.

– É que... Esse feitiço é proibido. É magia negra. Por isso, você não pode, em hipótese alguma, falar isso a ninguém. Nem mesmo Felipe.

Mesmo com meus conhecimentos na área da magia limitados, eu sei de uma coisa: magia negra, ruim. Magia branca, boa. Espera, vou reformular. Ficou meio racista,sabe? Magia do mal, ruim. Magia do bem, boa.

Não sei como reagir a uma informação dessas. O que eu deveria dizer? “Obrigada por me entupir de magia negra, digo, do mal e ter salvado minha vida?”

– Bia, posso te perguntar uma coisa?

– Claro.

– Qual o nome da sua tia “adotiva”?

Surpreendo-me ao constatar que eu não lembro. Tento puxá-lo na memória, mas não consigo. Olho para Steven, apavorada. Como eu posso esquecer o nome da pessoa que cuidou de mim a minha vida inteira??

– Eu... eu não lembro.

Digo, com os olhos arregalados. Tentando, desesperadamente, lembrar.

– Droga! – Steven exclama. – Juliana, o nome dela é Juliana. Quando você foi para outra dimensão, aos poucos, você foi esquecendo-se dessa.

Ele não precisa completar. Se eu continuar aqui, esquecerei a outra dimensão. A minha outra vida. As pessoas que amo. Meus amigos, minha família. Meu primeiro beijo, a primeira festa que eu fui. A primeira vez que fiquei bêbada e minha amiga, Natalie (a mesma que diria que eu estou paranoica por achar que todo mundo quer me matar) teve que me arrastar para casa. Esquecerei todas as loucuras que fiz e micos que paguei. Como quando eu comecei a dançar esperando o elevador e ele se abriu com gente dentro. Dezesseis anos de lágrimas, sorrisos, corações acelerados, barriga com temperatura negativa. Dezesseis anos de amizades, amores e aventuras. Tudo vai evaporar da minha memória.

Isso é como um incentivo final. Não existe mais dúvida. Eu tenho que voltar para casa. Posso ter nascido aqui, mas não pertenço a esse lugar. Esse mundo com magia, matança, monarquia... não é o meu lar. Por mais doloroso que seja deixar Felipe, não sou dessas que abandona tudo por amor.

Não sei como acontece, só sei que quando caio em mim, estou agarrando Steven pelos braços e gritando que eu preciso voltar. Colocando para fora todo o desespero que se passa dentro de mim. A ideia de esquecer tudo é surreal, assustadora. Pensar que um dia eu posso acordar e não lembrar como são os olhos das pessoas que me criaram. Ou ao menos os nomes delas.

Steven tenta que fazer com que eu pare, mas ele é velho e eu estou dominada pelo desespero. Ele olha nos meus olhos e, usufruindo da magia que possui, manda que eu me acalme. Sei que se eu não quiser, o feitiço não funcionará em mim. Entretanto, eu quero. Permito que ele me encha de magia, intoxicando cada célula do meu corpo. Ao poucos, sinto minha pulsação voltar ao normal. Meus músculos relaxam e eu sento em uma cadeira da escrivaninha de Steven. Minha perna engessada pulsa de dor. Na hora não percebi, mas usei esse pé de apoio e agora está doendo. Esfrego minhas têmporas e fecho os olhos. Conto até dez. Não funciona. Vinte, trinta, quarenta... Só quando minha contagem alcança cem, paro e abro os olhos.

Do outro lado do cômodo, está Steven, seus olhos marcados por rugas me encaram. Exibem pesar e tristeza. Culpa e arrependimento.

– Desculpe-me – digo com um fio de voz. – É só que já me arrancaram da minha antiga vida. Eu não quero perder a única coisa que me resta dela.

– Eu que peço desculpas. Para começo de conversa, não deveria ter te mandado para outra dimensão. Agi de modo egoísta e precipitado. Eu me apeguei muito a você quando você era bebê. Sou muito amigo da sua mãe, praticamente um pai para ela. E você... você era como uma neta para mim. Você é como uma neta para mim, Bia. Pensei que a profecia estivesse errada e, pela primeira vez na vida, ela não fosse se realizar. Pensei que os Conservadores deixariam para lá. Porém, quando o primeiro ataque aconteceu, me desesperei. Senti uma necessidade incontrolável de te proteger. Era melhor que você estivesse longe e segura a ficar aqui e morrer. Tirei você da sua mãe, quer dizer, a verdadeira você. Tirei-a do seu povo, que merecia e precisava de você no poder. Privei-a de cumprir seu dever, ajudar a todos, salvar estas pessoas que estão assoladas na miséria. Agora vejo que estava errado. Você tem que cumprir a profecia, ajudar essas pessoas. Mudar essa dimensão.

Engulo em seco, é informação demais para digerir.

– Tudo que eu quero é voltar para casa – digo, seca. – Eu não estou disposta a abrir mão da minha antiga vida. Eu não quero ajudar essas pessoas. Eu não quero ser uma heroína. – Tento soar firme, apesar de não estar tão decidida assim. – Por isso, eu quero que você me diga qual feitiço usou para me mandar para a outra dimensão, assim eu poderei tentar repeti-lo e voltar para casa.

Steven umedece os lábios com a língua e dá um suspiro.

– Eu só te peço mais um favor, Bia. Acompanhe-me apenas por essa tarde. Deixe-me tentar fazer-te mudar de ideia.

Ele me olha, praticamente implorando. Meu erro é fitar seus olhos azuis, tão parecidos com o do neto. Tenho um fraco por olhos azuis, só pode! Essa é a única explicação para eu ter aceitado.

(...)

Steven está realmente disposto a me fazer mudar de ideia. Além de querer me levar para fazer um tour pelos vilarejos mais pobre do reino, chama Felipe para ir junto. Nossa primeira parada é no vilarejo onde Amélia mora. De pobreza, ele não tem nada. As casas são organizadas, grandes e coloridas. Há mercados, lojas de doces, lojas de roupa e uma feira está acontecendo no centro do vilarejo. Parece um interior desenvolvido da minha dimensão,só que sem as tecnologias e as músicas sertanejas horríveis.

Só entendo as reais intenções de Steven em vir aqui quando ele avisa que precisa resolver algumas coisas e que podemos passear pela feira enquanto isso.

Golpe baixo, penso, muito baixo.

Coloco um capuz azul marinho de veludo para não ser reconhecida e Felipe me ajuda a descer da carruagem, que parte logo que desembarcamos. Quando a carruagem some de vista, Felipe fala:

– Vamos passar uma tarde juntos, sozinhos, fora do castelo! Pensei que para isso acontecer, teríamos que fugir. – Ele sussurra ao pé do meu ouvido. Deixo que ele pegue minha mão e me guie pela feirinha.

Se Steven me levasse para ver a miséria da África elevada ao quadrado e me dissesse que eu pudesse mudar isso, talvez eu ainda escolhesse ir. Mas uma tarde sozinha com Felipe! Meu Deus, isso é covardia!

Ando tão distraída que levo um susto quando Felipe, abruptamente, me puxa para um beco sem saída e vazio. Ele me empurra contra a parede e me beija. Seus lábios são mornos e ele tem um gosto doce. Cada movimento seu é preciso, desesperado e ao mesmo tempo gentil. Seu beijo me faz perder o ar, o chão e o juízo. Nesse momento eu esqueço que tenho que voltar. Não importo em qual dimensão eu esteja porque aqui é onde eu quero estar. Nos braços de Felipe.

Felipe pressiona ainda mais seu corpo contra o meu e posso sentir seus músculos por baixo da camisa branca de algodão. Sua mão acaricia meu cabelo por baixo do capuz. Seus dedos deslizam para meu pescoço e fazem uma leve carícia no local. Estremeço e solto um leve risinho de cócegas por entre os beijos. Enlaço-o pelo pescoço com meu braço, como se pudesse prendê-lo para que ele nunca pare de me beijar. Só quando o cabo da espada de Felipe bate levemente em minha cintura, volto a mim.

Lembro onde estou e o que vim fazer aqui.

– Felipe... – começo, mas ele me interrompe com outro beijo. Repito seu nome, porém soa mais como um gemido. Droga.

Ele finalmente para, mas não diminui a proximidade de nossos corpos. Seus olhos se abrem e ele arqueia uma sobrancelha. Deus! Como ele fica sexy com uma sobrancelha arqueada!

– O que foi? – ele pergunta, meio grogue.

"O que você acha de ir para uma pousada aqui perto e terminar aquele strip de onde paramos?" Tenho vontade de perguntar.

– Felipe, pare.

Ele para por causa da maldição. Ele se afasta e parece cair em si. Seus lábios estão vermelhos e inchados, sua roupa amarrotada e os cabelos desengrenados. Imagino que não estou muito melhor.

Há uma marca vermelha em seu pescoço. Caralho, quando eu fiz isso?!

– Ainda bem que você está com essa maldição, senão eu não conseguiria parar! – falo rindo.

– Seria daqui para o quarto de pousada mais próximo. – Ele brinca. Ainda bem que não fui a única a pensar isso!

– Você realmente acha que daria tempo? – pergunto, meio brincando, meio falando sério. Resolvo ignorar todas as dúvidas na minha cabeça e aproveitar o momento com Felipe. Se essa era a intenção de Steven, então parabéns para ele.


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Notas finais do capítulo

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