Don't Leave Me Here escrita por RafaelaSabino


Capítulo 5
Capítulo 4




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Hemsworth; West Yorkshire; West End High School; 7:58AM

O dia amanheceu levemente nublado, como se o sol quisesse aparecer, mas as nuvens tampavam todo seu brilho. O rapaz olhou a sua volta, procurando por alguém. Estava nervoso, suava frio e respirava desordenadamente. Começou a observar o corredor dos armários, pois sabia que uma hora ou outra ela apareceria. Tomou um susto quando sentir uma mão bater duas vezes em suas costas, olhou para trás e encarou o rosto conhecido.
– Está pronto? – perguntou ao perceber o nervosismo do amigo.
– Estou. – engoliu a seco.
– Ótimo. – deu um sorriso escárnio.

Lize caminhava estonteante até seu armário, um sorriso leve e singelo se expandia em seus lábios. Apesar da brisa fria ela foi vestida com a saia-short azul marinho que fazia parte do uniforme junto com a camisa polo branca onde no peito ao lado direito estava costurado o brasão da escola. Em seus pés, seu tênis verde. Os cabelos estavam soltos e caiam pelos ombros até a altura abaixo dos seios. Suas mãos seguravam os livros ao redor do busto. Nas costas sua mochila, onde dentro estava a jaqueta de Paul. Olhou para frente e seus olhos encontraram os de Louis que estava na frente do seu armário, como sempre, esperando-a. Ele sorriu espontaneamente ao vê-la. Era como se a luz tivesse aparecido na escuridão. Louis se perguntava como havia conseguido uma amiga assim, tão boa para com ele. Quando pequeno era muito julgado por amar cálculos e números. Suas notas sempre altas eram motivos para ludíbrio. Até Lize chegar. A garotinha de dez anos sempre sorridente, que falava de sonhos e esperanças, conquistou o garotinho inseguro de imediato. Ela mostrou á ele a felicidade, mostrou que mesmo sendo diferente de todos, ele era especial. Aprendeu com ela a como ver o mundo de outra forma em troca Louis esteve com ela em todos os momentos desde que se conheceram. Viu Lize perder a mãe num acidente de carro, viu a garota chorar por um pai sempre ausente, viu-a deixando de sorrir todos os dias, viu-a parando de sonhar e viu-a perdendo a fé. É seu histórico de felicidade ao lado dela não era muito grande, mas ele estaria sempre lá para dar seu ombro amigo. Sempre.
– Bom dia Beth. – disse sorrindo assim que a garota se aproximou.
– Bom dia Nerdy. – sorriu simpática. Ele a olhou dos pés á cabeça e vendo o que ela vestia se sobressaltou.
– Não está com frio?
– Não, por incrível que pareça. – riu baixo – Sabe, estou me sentindo diferente hoje. – ele franziu o cenho observando a garota abrir o armário e pegar seus livros.
– Diferente? Como assim? – perguntou.
– Não sei, é como se tivesse algo dentro de mim me mantendo aquecida. Como se tivesse feito minha pele impermeável ao vento. É difícil explicar, mas me sinto diferente, me sinto... Feliz. – o garoto arregalou os olhos de surpresa. A que se devia toda essa felicidade? Será que tinha comido muito açúcar? Tinha se entendido com seu pai? Ou... Tinha conhecido alguém? Louis balançou os ombros com a ideia. O sinal tocou e Lize fechou seu armário com uma das mãos enquanto na outra segurava seu livro. – Bom, de qualquer forma nos vemos mais tarde Nerdy. – sorriu e seguiu seu caminho para a sala de aula, deixando o garoto totalmente indistinto.

Vagava pelo corredor sozinho, – estava em aula vaga, aparentemente a professora havia pegado alguma virose. – em uma das mãos segurava um livro aberto na altura do peito, a outra mantinha dentro do bolso da calça social. Cabelos levemente bagunçados, barba rala, olhos fixos nas páginas do livro. Estava somente com a camisa polo que compunha o uniforme da escola, não se importava com o vento. Por mais que seus olhos estivessem na direção do livro não estava prestando atenção no mesmo. Apenas pensava em como Lize dançava inauditamente na noite passada. Ora, por mais que tivesse presenciado apenas um pouco, tinha certeza que ela tinha talento e um talento daquele não devia estar oculto. Encostou-se a uma pilastra que dava de frente para o campo. Lá estavam alguns alunos de outra turma, eles conversavam e riam. Todos, menos uma garota de cabelos ruivos que estava escorada numa árvore com um caderno no colo e um lápis na mão. Comprimiu os olhos, deixando o livro de lado e reparando na garota que lhe parecia familiar. Então como um flash a imagem da garota veio em sua mente e ele a reconheceu. Levantou-se pegando o livro e caminhou até ela rapidamente. Quando estava bem próximo, a garota o percebeu, levantou a cabeça e o fitou confusa.
– Oi. – deu um sorriso torto.
– Oi. – disse olhando para os lados, procurando por mais alguém, pensava ser algum tipo de zoação, afinal ninguém além de Lize e Louis falavam com ela.
– Você – pigarreou. - é amiga da Elizabeth, certo? – olhou-a nos olhos.
– Sim, e você é?
– Eu sou um... – parou, pensou e não sabia o que dizer. Talvez amigos fosse uma palavra muito forte. – Conhecido. – franziu o cenho, nem ele acreditava nisso.
–Não foi isso que perguntei. – ela arqueou sua coluna, se ajeitando no tronco da árvore. Encarava-o com certa inquirição. – Perguntei quem é você. – ele suspirou, idiota.
– Meu nome é Paul. – disse que quase num sussurro.
– Prazer Paul, sou Anna. – esticou a mão num gesto educado, Paul elevou sua mão até a dela e apertou-a gentilmente.
– O prazer é todo meu. – sorriu seco.
– Então como você conhece Lize? – perguntou fechando seu caderno.
– Para ser sincero não vim aqui para falar com você sobre isso. – se sentou defronte para ela encarando-a sério.
– Bom, pode falar, aconteceu alguma coisa com ela? – se sobressaltou.
– Não, não. – balançou os ombros. – Eu queria perguntar... Por algum acaso ela se inscreveu na peça de teatro da Sra. Helena? Fiquei sabendo que as inscrições terminam nessa sexta e poucos dançarinos se inscreveram. – a garota franziu o cenho.
– Calma como assim dançarina? Acho que estamos falando da Elizabeth errada. – o garoto sorriu com malicia. Estava certo, este era o grande segredo de Lize.
– Confie em mim, estamos falando da mesma pessoa. – Anna sentiu algo diferente naquele momento, estava confusa, não sabia se confiava nele ou não. Até que ele disse tudo o que havia visto e ela teve certeza, Lize escondera isso dela. – Precisamos achar um jeito de convencê-la a se inscrever antes que seja tarde demais. – fitou-o pensativa.
– Porque quer fazer isso com ela? – perguntou olhando no fundo de seus olhos, eram escuros e sombrios.
– Por que... – pensou por um momento, fitando a grama verde. – Eu acho que quando fazemos aquilo que amamos somos mais felizes. Quero que ela seja feliz, e ontem, vendo o jeito que ela dançava, não tive duvida de que naquele momento ela estivesse feliz, só não entendo porque ela esconde isso. – disse olhando-a nos olhos e Anna teve certeza de mais uma coisa naquele momento. Ele estava apaixonado por ela. Sorriu ao imaginar os dois juntos.
– Tudo bem Paul, é só me dizer o que, que eu farei. Lize se tornou alguém muito especial pra mim em tão pouco tempo. Desejo demais a felicidade da minha amiga. Vou te ajudar no que precisar. – Paul sorriu, sentiu o coração pulsar alegremente dentro do peito. Então começou a contar tudo o que tinha em mente para Anna, que dava suas opiniões e sugestões da forma mais doce que ele já havia visto. Anna era gentil e meiga, ficou feliz em saber que Lize tinha uma amiga assim. Depois de terem bolado todo um plano o sinal tocou, se levantaram ambos com um sorriso pomposo nos lábios.
– Não se esqueça, no auditório. – repetiu Anna, Paul consentiu. Despediram-se e foram para suas salas. Só faltava mais uma aula até o intervalo.

Hemsworth; West Yorkshire; West End High School; 9:40AM

Vinte minutos, apenas vinte minutos até o sinal bater para o intervalo. Lize estava nervosa. Borboletas brincavam em seu estômago. Só não estava com as mãos tremulas porque estava respondendo as questões que o professor de espanhol havia passado na lousa, mas mesmo assim todo o interior de seu corpo se manifestava em entusiasmo. Puxou o celular sorrateiramente do bolso da saia, 9:43AM. Droga. Ok, agora já estava ficando ridículo, estava contando os minutos para ver um garoto que mal conhecia? Pensou que talvez esse termo já estava bastante cafona, afinal eles estavam se conhecendo. Pouco a pouco se conhecerão melhor e quem sabe num futuro se tornarão grandes amigos, ou talvez até namorados. Namorado. Em todos seus dezoito anos Lize nunca teve um namorado, nunca se apaixonou, nem mesmo por Louis que sempre esteve ao seu lado, desde os dez anos. Via-o como um amigo, o qual sempre amaria incondicionalmente, mas com Paul era diferente. Queria ser muito mais que uma amiga. Sentia o desejo de ficar cada vez mais perto dele, de tocá-lo, beijá-lo. Imaginava como seria o gosto de seu beijo. Mal conseguia pensar na cena, ontem, ele tão próximo dela quase tocando seus lábios antes de Gulty os interromper com sua ligação. Mas também, porque ele faria isso? Porque a beijaria, quando ele podia ter muito mais além de um beijo com Ingrid? Seu nervosismo agora se tornara insegurança. O que Lize podia oferecer á Paul quando ele tinha Ingrid em suas mãos? Ingrid com toda a sua popularidade, curvas, silhueta esbelta, chefe das lideres de torcida e muito mais enquanto Lize, sem popularidade, sem curvas, magra, com olheiras e pele branca. Qualquer um em sã consciência escolheria a primeira opção. Cortou seus pensamentos ao ouvir o som do sinal do intervalo. Agora a insegurança a deixara e o nervosismo voltara a tomar conta. Juntou seu material e caminhou rapidamente para fora da sala. Passou entre as pessoas que formavam um grande formigueiro no corredor, até chegar ao seu armário. Deixou seu material e pegou a blusa de Paul. Foi em direção ao refeitório, tinha que avisar Louis e Anna que não almoçaria com eles hoje, ao se aproximar da mesa em que sempre ficavam Lize observou que Louis estava sozinho.
– Cadê a Anna? – perguntou ao chegar à mesa.
– Não sei, ela sumiu. – disse seco. – De quem é essa jaqueta? – Lize olhou em suas mãos a jaqueta e pensou em alguma resposta.
– O Sr. Carlos deixou na sala de aula, vou devolver á ele. Nos vemos mais tarde, quando Anna chegar diga á ela que fui devolver a jaqueta. – quando se virou para seguir seu caminho Louis a segurou pela mão.
– Espera. Eu quero te apresentar alguém antes. – o que? Louis querendo apresentar alguém a Lize? Quem era ele e o que fez com o Louis que Lize conhecia? Louis deu sinal e um garoto se aproximou. Ele tinha o cabelo castanho, olhos verdes como esmeraldas, usava um óculos quase igual ao de Louis, seu porte era forte, quase que gordo. – Lize, esse é Michael, um amigo meu. – amigo? Louis nunca tinha falado que tinha outros amigos além de Lize.
– Muito prazer Michael. – deu um sorriso seco.
– O... O prazer é... É todo meu. – gaguejou o garoto ajeitando os óculos.
– Ele é do meu grupo de ciências. – Louis parecia alegre com a ideia de apresentar seu amigo a Lize.
– Puxa, que legal. – disse simpaticamente. – Mas agora eu tenho que devolver essa jaqueta antes que o sinal toque. Nos vemos mais tarde, foi... – o garoto a interrompeu.
– Podemos ir com você?
– Não! – respondeu de imediato, os dois garotos se assustaram. – Quer dizer... Er... Nos vemos depois meninos. – antes que eles dissessem algo Lize se virou e seguiu até o ultimo corredor. Os garotos se entreolharam desconfiados, sentaram-se a mesa e continuaram a conversar. Quando estava quase chegando ao lugar onde marcara de encontrar Paul Lize parou e encostou-se à parede, pensativa. Por uma semana esperou por ele, mas ele nunca estava lá e se dessa vez acontecesse a mesma coisa? Não ficou esperando a resposta chegar á tona em sua mente, se virou e fitou o horizonte e lá estava ele. Seguiu seus olhos até os pés dele e foi subindo o olhar, enquanto caminhava em sua direção. Um pé apoiado ao chão e outro na parede, o tronco escorado na parede, as mãos nos bolsos, a camisa polo levemente apertada ao redor dos braços, na gola os botões estavam abertos impedindo que a camisa o sufocasse. Seus cabelos estavam bagunçados, mas isso o deixava atraente, quando Paul percebeu que Lize se aproximara a olhou nos olhos, seus olhos. Faziam as pernas de Lize tremerem, o coração pular desordenadamente dentro do peito só de encararem os seus. Paul se aproximou devagar até estar frente á frente de Lize.
– Oi. – sussurrou sorrindo.
– Você veio. – suspirou Lize.
– Eu disse que viria. – sorriu.
– Aqui está sua jaqueta. – entregou á ele.
– Tem certeza que quer me devolver agora? Quer dizer... Está ventando tão forte e você está de saia... – observou as pernas descobertas da menina.
– Pra ser sincera, – Lize não estava com frio, muito pelo contrário, estava queimando por dentro. Ficar perto de Paul enchia o corpo de Lize de calor, mas ao se lembrar de ter dormido ontem agarrada na jaqueta sentindo seu cheiro, ali, pertinho dela, teve que mentir. – estou com frio mesmo. Pensei que fosse fazer sol, mas me enganei. – engoliu a seco.
– Então neste caso. – ele pegou a jaqueta de suas mãos e a envolveu ao redor dos braços de Lize que tremeu ao sentir seus dedos roçarem em sua pele. – Pronto. – sorriu.
– Porque você coloca seu nome na jaqueta? – perguntou ao fitar a lateral de dentro. Lá estava escrito Paul Byron.
– Precaução. – disse encarando a garota. – Ah, quase me esqueci! – disse num súbito colocando a mão na testa. – Tenho uma surpresa para você.
– Uma surpresa pra mim? – franziu o cenho.
– Sim. – então pegou em sua mão, para ambos foi como se tivessem sentido um choque, como se ao simples toque uma corrente elétrica atravessasse seus corpos. – Me acompanha? – Lize consentiu, então caminhando rapidamente seguiram em silencio até o auditório. Lize estava confusa, mas feliz ao mesmo tempo, pois estava junto dele. Quando percebeu que ele pretendia adentrar ao local, Lize caminhou mais devagar.
– Não podermos entrar ai, não temos autorização. – alertou-o.
– Não? – perguntou, então tirou do bolso um papel e uma chave. No papel estava a autorização assinada pela Sra. Patrick – a secretária –.
– Como conseguiu isso? – perguntou.
– Tive que fazer uma troca literária. – riu ao se lembrar da cena. Caminharam até a porta, Paul soltou a mão de mão de Lize para destrancar a fechadura, abriu a porta e esperou Lize passar para então poder entrar e fechá-la. Pegou novamente em sua mão e a guiou até uma porta de dava para os bastidores, passaram por mais alguns corredores até que finalmente chegaram ao palco.
– Nossa. – Lize estava com os olhos arregalados. Soltou a mão de Paul e lentamente caminhou até o centro do palco, estava admirada com tudo aquilo. – Eu nunca estive aqui... Quer dizer, não no palco. Sempre observei as pessoas corajosas, sentada lá no fundo. – sua respiração estava forte, por mais que só estivesse ele e ela sentia certo nervosismo.
– É como um sonho, não é? – Lize se virou e fitou o garoto que a olhava admirado.
– É, é sim. – suspirou alto.
– Ontem, - começou a caminhar lentamente até a garota com as mãos nos bolsos. – eu te vi dançando na rua, você estava linda, deslumbrante. Mas, além disso, percebi o sorriso que seguia seus lábios... Este é o seu sonho, não é Lize? – a garota não sabia o que dizer, Lize foi completamente tomada de surpresa. Assim que estava terrivelmente próximo á ela, colocou suas mãos ao redor de sua cintura, puxou-a colando sua testa na dela e olhando no fundo dos seus olhos pediu. – Dança pra mim Lize? – a garota não sabia o que dizer, não sabia o que fazer. Desde que seu pai a tirou das aulas de ballet nunca mais dançou na frente de ninguém, por medo. Era tão insegura que não acreditava ser boa suficientemente para fazer tal loucura na frente de alguém. Paul estava com olhos pidões, Lize dava vários gemidos reticentes, então implorou:
– Por favor, Lize. – ela respirou fundo, estava prestes a cometer uma loucura sem tamanhos. Olhou no fundo dos olhos de Paul e o respondeu:
– Você tem música? – sussurrou contra seus lábios. Paul deu um sorriso maroto, soltou gentilmente a menina – que estava meio desnorteada – e foi até o canto do palco, lá havia uma caixa de som, apertou o um botão e a música transbordou como ondas no mar até o coração de Lize, que respirou fundo fechando os olhos.

[ N/A: Se quiser colocar Feeling Good, cantada por Michael Bublé fique a vontade. A partir do momento 0:47 ficará melhor. Leia devagar, atentamente, siga... Sinta a música, o momento..]
O começo calmo movimentava a cintura da garota, que batia um dos pés contra o chão. Ainda de olhos fechados jogou levemente os cabelos de um lado para o outro. Abriu os olhos e fixou-os nos de Paul, agachou-se lentamente seguindo a música, agora com as mãos erguendo os cabelos, jogando a cintura de um lado para o outro, apoiou os joelhos no chão e então as mãos também, engatinhou até Paul, que se sentou escorado na caixa, somente observando-a, ao ficar bem próxima dele apoiou as coxas em cima das pernas e jogou sua jaqueta á ele, que riu. Levantou devagar, com movimentos leves, deixando a musica guiá-la. Seus lábios sussurravam a letra, tentando fazer sentido. Seus pés, totalmente sincronizados com a melodia das trombetas, seu coração pulsava forte dentro do peito. Caminhou de costas até o centro do palco, mantendo seus olhos fixos nos de Paul. Sua mente estava vaga de qualquer coisa que a deixasse triste, jogava a cabeça para trás e balançava os cabelos, olhos sedutores, as mãos iam até a boca que estava meio aberta com um sorriso. Ah, sim, o sorriso nos lábios de Lize, tão puros, tão singelos, tão... Felizes. Movimentos repletos de opulência, suas saia balançava bruscamente, a camisa polo estava levemente erguida deixando um espaço da cintura de Lize á mostra. Os olhos de Paul seguiam cada movimento que ela fazia, pensava em como estava linda, como estava resplandecente, como estava feliz, como estava extática, como estava... Livre. Só de pensar na felicidade dela, ali, não conseguia reagir sem emoção. Sentiu o peito arder, queria ir até ela e agarrá-la ali mesmo, queria beijar seus lábios, tão sedutores, tão atraentes. Os cabelos de Lize voavam livres, as mãos graciosas e delicadas seguiam as notas. A cintura ia de um lado para o outro, rebolava com o tom da voz do cantor. Os sons dos instrumentos intensificavam os movimentos de Lize, que ficavam mais precisos, mais ágeis, mais sexys a cada momento da música. Em sua mente a letra da música a tocava, como se Paul tivesse mostrando a Lize algo. Um novo dia, uma nova vida. Sim, seria uma nova vida para Lize e ela se sentia bem, se sentia radiante. O coração pulando no peito, o sentimento de prazer estava forte dentro dela. Parou por um momento e correu até Paul, pegou-o pela mão, erguendo-o e fazendo-o dançar com ela, ele riu com a ideia, mas Lize insistiu puxando-o até o centro do palco. Sendo vencido, cortejou-a, pegou-a pela cintura, davam passos longos, ela segurava sua nuca, levantou-a e girou-a no ar. Lize arqueou sua cabeça para trás, como se estivesse cheia de êxtase. Colocou-a no chão e ela deu um sorriso maroto.
It’s a new day, it’s life for me. And I’m feeling good. – sussurrou, estavam próximos, muito próximos. Ambos se fitavam. Procuravam no olhar do outro uma resposta para qualquer pergunta sobre o que estavam sentindo naquele momento. O silencio inundou o auditório, até que som de palmas vindo do fim do corredor das cadeiras fizeram os dois se sobressaltarem.
– Bravo! Bravo! – gritou a Sra. Helena que caminhava até o palco ainda batendo palmas. Lize arregalou os olhos. Suas bochechas se ruborizaram no mesmo instante, afastou levemente o corpo de Paul e juntou as mãos na frente do corpo. Com certeza seria expulsa, não somente ela, mas ele também. – Que linda apresentação! – disse eufórica, Liza estava confusa, encarou Paul e ele sorria.
– Surpresa! – gesticulou os braços com alegria, Lize ficou boca aberta, encarou a Sra. Helena que estava sorridente subindo até o palco e então não acreditou, Anna estava atrás dela. O que? Anna e Paul? Juntos? Armando contra ela? Não podia ser, não conseguia acreditar.
– Elizabeth, - começou a Sra. Helena assim que se aproximou o suficiente. – porque diabos não me contou que era dançarina? Eu aqui precisando de alguém como você e você ai se escondendo de mim! – Lize não sabia o que fazer, Anna e Paul sorriam o que deixava Lize mais confusa ainda.
– Eu... Eu... – sem palavras para dizer qualquer coisa, começou a sentir seus olhos marejarem, então se virou e saiu correndo para fora do palco. Paul e Anna se entreolharam e correram atrás dela, assim que Lize saiu do auditório Paul a alcançou e pegou-a pelo braço.
– Lize! – gritou, assim que a garota se virou viu-a derramar uma lágrima, naquele momento seu coração se partiu ao meio, deslizou sua mão do braço até sua mão, segurando-a firme. – O que foi?
– O que foi Paul é que você não podiam ter me humilhado de outra maneira. – sua cabeça estava baixa, sua voz fraca.
– Humilhado? – perguntou Anna. – Lize isso nem passou pelas nossas cabeças! – exclamou.
– Isso é tudo culpa sua! – Lize apontou o dedo para Paul, soltando suas mãos e dando de ombros para o que Anna havia acabado de dizer.
– Lize... – Paul respirou fundo. – Porque está tão cega? – a garota franziu o cenho.
– Cega?
– Sim, cega! Você é uma excelente dançarina, como não consegue ver isso?!
– Não, eu não sou! Eu nem sei por que eu aceitei fazer aquilo pra você! – Lize ajoelhou no chão, abraçando seus joelhos e derramando suas lágrimas. Os dois amigos se ajoelharam ao seu lado, Anna colocou a mão nas costas da amiga, depositando ali um carinho.
– Lize... – levantou o rosto da garota com a outra mão, fazendo-a olhar em seus olhos. – Eu nunca vi alguém dançar tão bem quanto você. Você tem um dom amiga e não pode esconder isso do mundo. – limpou suas lágrimas.
– Eu não sei o que te fez ter toda essa insegurança. Se por acaso você caiu do palco, ou alguém riu de você, sei lá. Mas agora é o momento de você dar a volta por cima Lize. A vida está te dando uma nova chance, não hesite em agarrá-la. Nós acreditamos em você Lize, mas se você não acredita em você mesma não podemos fazer nada contra isso. – os olhos de Paul nunca mostraram tanta sinceridade á Lize. Sentia que ele dizia a verdade, mas mesmo assim continuava insegura. O que seu pai diria? Mas também, como descobriria? Ele estava muito ocupado para se preocupar com Lize. Este era seu sonho e só bastava um sim dela para que ele se tornasse realidade, então o que seria?

– Que bom que voltaram. – disse a Sra. Helena ajeitando os óculos. – Elizabeth você nem me deixou te fazer a proposta. – Lize sorriu.
– Me desculpe, eu tive um surto.
– Claro. – sorriu. – Qualquer um pego de surpresa surtaria, mas vamos aos negócios. Elizabeth, eu gostaria muito que você fizesse parte da peça de teatro do livro Orgulho e Preconceito e... – continuou a falar assim que viu Lize abrir a boca para responder. – Gostaria que você fosse a minha Elizabeth. – os três adolescentes arregalaram os olhos.
– Está... Dando-me o papel principal?!
– Bom, só existe uma Elizabeth em toda a história, não é? – disse risonha. – Então, aceita? – olhou para Anna e ela assentiu com a cabeça, então olhou para Paul que fez o mesmo gesto, encarou a Sra. Helena e então disse alto e claro:
– Sim, eu aceito. – assim que pronunciou as palavras todos gritaram de alegria, Lize riu.
– Ótimo, vou avisar que o papel de Elizabeth já está vago! – então a Sra. Helena se virou para Paul. – E quanto á você Paul? – o garoto se sobressaltou.
– O que tem eu? – perguntou franzindo o cenho.
– Orgulho e Preconceito, não é Orgulho e Preconceito sem a Srta. Elizabeth e o Sr. Darcy, então o que me diz? – Paul arregalou os olhos, Lize o encarou com um sorriso enorme nos lábios.
– Bom... Eu... Acho que não sou um bom ator Sra. Helena. – pigarreou.
– Então neste caso acho que terei que achar outro aluno para te beijar Elizabeth... – suspirou a senhora. Paul não pensou duas vezes.
– Tudo bem eu aceito! – Lize fitou-o e ele a encarou com um sorriso torto.
– Ótimo! Vejo vocês semana que vem no ensaio e Paul te vejo na penúltima aula! – disse a senhora, então saiu apressadamente do auditório, deixando os três adolescentes completamente perplexos.
– Ainda não acredito que aprontaram pra mim. – Lize disse colocando as mãos na cintura. – Como se conhecem? – Paul e Anna se entreolharam, com um sorriso pomposo.
– É uma longa história Lize. – começou Anna colocando um braço ao redor dos ombros da garota. – Depois te contaremos tudo, mas agora temos que voltar, estamos atrasados. – caminhou arrastando Lize, que ficara curiosa. Foram rapidamente para suas aulas, cada um com um sentimento ardente dentro do peito. Anna não aguentava de animação, mal conseguia imaginar como s coisas seriam daqui pra frente, mas uma coisa ela conseguia imaginar muito bem: Paul e Lize, juntos. Lize estava completamente desnorteada, que loucura estava cometendo, o que será que seu pai faria quando soubesse? Isso sim era loucura. Paul pensava em arrependimento, pensava no beijo que podia ter dado, mas foi fraco demais pra conseguir. Não conseguia também tirar o sorriso de Lize da cabeça. Também não conseguia negar que estava louco por ela, mas o medo de lhe fazerem mal era grande. O que seria dele se algo acontecesse com Lize? Sentia que tinha, ou melhor, devia a partir de agora protegê-la de qualquer mal, mas como fazer isso se ele era o mal que a deixava em perigo? Sobressaltou-se ao perceber que a professora lhe encarava, estava na aula de literatura.
– Então Jane Austen disse: “Seus olhos erravam por aqui, por lá, por toda parte, maravilhados. Ela viera para ser feliz e já se sentia feliz.”– sorriu ao ouvir as palavras que a Sra. Helena pronunciara, ela o encarou observando-o sorrir e sorriu junto, pois ambos sabiam de qual garota se sentia feliz naquele momento e isso os deixava felizes.

Hemsworth; West Yorkshire; Comdominio Harlembate; 8:10PM

Lize chegou em sua casa depois de um dia maluco. Tanto na escola, quanto na sua aula de enfermagem. Hoje pela primeira vez ela conseguiu salvar alguém – um boneco, mas que servia como qualquer pessoa. – No final da aula Lize combinou com Anna que hoje ela dormiria na sua casa, em poucos minutos a garota chegaria. A Sra. Gulty fez questão de preparar algumas guloseimas para elas antes de ir embora. Lize subiu as escadarias e foi até seu quarto, deixou sua mochila – que continha dentro a jaqueta de Paul – num canto e os tênis. Foi até o banheiro, retirou toda a roupa e se jogou debaixo da água quente do chuveiro. Tentou se livrar dos pensamentos que a acompanharam ao longo do dia, mas eles não queriam ir embora. Lembrou-se de Paul sorrindo pra ela, lembrou-se de seu Pai a parabenizando quando salvou o boneco, lembrou-se de Anna zoando do fato de que Lize estava apaixonada, lembrou-se de Louis apresentando seu amigo e também se lembrou de que nem havia o acompanhado hoje até sua casa, depois ligaria para o amigo e pediria desculpas por não ter esperado por ele, havia se esquecido totalmente. Após se lavar e se sentir totalmente limpa desligou chuveiro, se enrolou na toalha e foi até seu quarto. Escolheu uma roupa qualquer, – lê-se shorts jeans e camiseta larga – colocou meias e uma pantufa. Desceu as escadas e se jogou no sofá ligando a TV, esperando por Anna. Estava assistindo o jornal da noite, por preguiça de procurar o controle remoto. Os repórteres diziam que uma grande virose estava se espalhando pela cidade, e que seria necessário as pessoas se precaverem. Lize se sobressaltou ao ouvir a campainha tocar, Anna havia chegado. Foi até a porta e girou a maçaneta. Anna estava do lado de fora com um grande sorriso nos lábios. Ela vestia um tênis com salto preto e dourado, uma meia calça também preta, uma longa regata dourada que ia até o quadril, uma jaqueta de coura preta e nas costas sua mochila. Estava charmosa e elegante.
– Nossa! – disse Lize apreciando o look da garota ruiva. – Você está linda! – Anna alargou o sorriso.
– Obrigada, aprecio seu bom gosto. – ironizou, elas gargalharam.
– Bom, bem vinda a minha casa. – deu espaço e esticou o braço gesticulando para sua amiga entrar. Anna caminhou para dentro da enorme mansão. Seus olhos estavam admirados com tamanha sofisticação. A sala – que era dividida entre a copa por uma bancada de mármore preto – era toda branca, com as mobílias e outros detalhes em preto. Na parede á direita da porta de entrada havia uma enorme vidraça que seguia praticamente por toda a parede, esta vidraça estava coberta por uma enorme cortina de linho branco. Na parede que se encontrava com a parede da vidraça estava um enorme rack preto com várias repartições e em cada uma delas uma caixa de som, onde no centro do rack estava o aparelho. Na mesma parede acima do rack havia uma TV, uma enorme TV de LED preta. A frente havia três sofás de camurça também pretos. No centro uma pequena mesa de centro com um vaso de flores, acima de um tapete branco. Acima desta mesa estava um enorme lustre, mais a frente desta mesma parede era onde Anna estava. Á sua direita havia uma grande escadaria que dava para o segundo andar. Á sua frente tinha um corredor que dava para a copa. Uma mesa com oito cadeiras de madeira preta estava revestida com uma toalha de renda branca, acima da mesma mais um lustre idêntico ao da sala. Ao lado esquerdo da mesa, no canto, um armário de madeira preta com somente duas portas de vidro compunha uma grande coleção de louças, talheres e taças. Todas customizadas elegantemente iguais. Um pouco mais á frente do armário havia uma porta que dava para a cozinha. Quadros abstratos – pretos e brancos – estavam por toda parte, alguns outros retratos também estavam nas paredes. Lize com seu pai, Lize pequena assoprando velinhas de quatro anos, um bebê nos braços de uma mulher linda. Seu rosto era todo moldado delicadamente, um sorriso simplório acompanhava seus lábios. Seus olhos, escuros e vidrados olhando para o bebê em seus braços, brilhavam. Seus cabelos eram compridos e bem organizados. Ela estava vestida como uma mulher elegante e sofisticada. Ao reparar que a amiga observava o retrato Lize sorriu.
– Sou eu e minha mãe. – a garota a encarou, Lize também observava o retrato com um sorriso no rosto. Anna pegou em sua mão.
– O que houve com ela? – perguntou fitando a amiga, não sabia nada sobre sua mãe, só sabia que a garota vivia com o pai. Lize encarou o chão.
– Um motorista bêbado a atropelou quando eu tinha 10 anos. Ela estava indo assistir minha primeira apresentação de ballet quando o carro a pegou. – a menina engoliu as lágrimas. – Ela era o tipo de mulher esforçada, trabalhava viajando. Ela conhecia praticamente o mundo todo. Eu quase não a via, mas sabia que se precisasse dela ela atravessaria o oceano por mim. Ela me apoiava em tudo, mas como estava longe era sempre meu pai que tomava as melhores decisões por mim. Meu pai nunca foi a favor de que eu dançasse, então eu fazia escondido. Somente minha babá sabia disso. Quando eu estava me arrumando para minha primeira apresentação minha mãe entrou no meu quarto e me viu com tutu e colam. – riu pigarreando, já estava aos prantos. – Contei tudo pra ela, contei que aquele era meu sonho e que ela precisava guardar segredo do meu pai. Ela somente sorriu e me ajudou a arrumar meu cabelo, quando estava quase na hora ela se agachou e me olhou nos olhos, ainda me lembro como se fosse ontem ela dizendo: “- Não importa qual seja seu sonho minha filha, corra atrás dele, lute por ele e lembre-se eu te amo e sempre te apoiarei.” Aquilo me deu forças para dançar aquele dia. Então quando estávamos indo para a apresentação o celular dela tocou e ela teve que ir até o seu escritório, mas não havia problema, pois eu era a terceira a se apresentar. Quando ela estava voltando o carro deu problema, mas já estava na esquina do estúdio de ballet. Estava atravessando a rua quando o carro bateu de frente com ela. Assim que ficou sabendo meu pai correu até lá, vendo minha mãe morta ele não pensou duas vezes, me culpou por aquilo. Imagina a cena, um pai gritando para uma criança de dez anos que a culpa de sua mãe estar morta era dela. Desde então a minha convivência com meu pai nunca mais foi a mesma. Eu queria morrer, não via mais razão para viver. Todos na escola me chamavam de orfãzinha, alguns ainda me chamam hoje. Minha vida era uma droga, até Louis aparecer. Ele me acolheu, apesar de termos a mesma idade ele sempre foi mais maduro. Ele via o mundo como eu, uma droga. Nós nos tornamos grandes amigos desde então, só nós dois... Até você chegar. Agora somos nós três. – sorriu, Anna a abraçou, também chorava.
– Eu sinto muito amiga. – sussurrou em seu ouvido.
– Estou muito melhor agora. Graças á vocês! Vocês abriram meus olhos hoje Anna. – agora olhava a amiga nos olhos. – Se você e Paul não tivessem feito aquilo eu estaria ainda escondendo a minha única felicidade dentro de mim. Sinto que agora é hora de recomeçar. – ambas sorriram uma para a outra.
– Falando em Paul... – disse Anna limpando as lagrimas com a manga da jaqueta, já Lize limpava com a barra da camisa. – O que foi aquele quase beijo Elizabeth?! – perguntou entusiasmada.
– Oh, meu Deus! – Lize riu. – Eu não sei Anna, simplesmente não sei. Tem certeza que quase nos beijamos? – caminhou até o sofá e se sentou, Anna deixou sua mochila no chão e foi se sentar ao seu lado.
– Amiga, eu tenho certeza que ele ia te beijar... Lize, - levantou a cabeça da amiga fazendo olhar nos seus olhos. – ele gosta de você. – disse convicta.
– Como pode ter tanta certeza? – perguntou.
– Enquanto conversávamos eu pude notar. O jeito em que ele falava de você, seu jeito meio preocupado com a sua felicidade. Seus olhos brilhavam enquanto ele falava de você Lize. – então se levantou e começou a falar mais alto, com autoridade, percebendo que a garota balançava os ombros com negação. – ALÉM DO MAIS SUAS BOCAS ESTAVAM A CENTIMETROS UMA DA OUTRA! Meu Deus, bem que ele disse que você estava cega! – colocou as mãos na cintura.
– Você é louca. – disse Lize, então começou a rir e atacou uma almofada na cara da amiga. Que começou a rir também, assim que pegou a almofada para atacar de volta Lize deu um sinal para que ela parasse. – Calma, vamos ligar o som! – então caminhou até o rack e apertou um botão. O som ligou e a música começou a tocar.

[N/A: Se quiser coloque pra tocar 22, da Taylor Swift.]

It feels like a perfect night, to dress up like hipters, and make fun of our exes, ah ah, ah ah,– começaram a cantar juntas. – It feels like a perfect night for breakfast at midnight, to fall in Love with strangers, ah ah, ah ah – colocaram a mesa de centro no canto da parede, deixando o espaço onde a mesma se encontrava totalmente vago. – Yeah! we’re happy, free, confused and lonely at the same time, it’s miserable and magical oh yeah, tonight’s the night when we forget about the deadelines, it’s time – Lize subiu em cima do sofá e deu um pulo enquanto cantava, Anna pegou o controle remoto e fingiu ser um microfone. – Uh oh, I don’t know about you, but i’m feeling twenty-two. – dançavam como duas malucas, jogavam a cintura de um lado para o outro, os cabelos estavam esvoaçantes, em seus lábios que se mexiam conforme a letra um sorriso estava escondido em seus corações a alegria transbordava. – Everything will be alright if you keep me next to you, you don’t know about me, but I bet you want too, everything will be alright if we just keep dancing like we’re twenty-two. – Lize subiu novamente no sofá, mas acabou perdendo o equilíbrio e caiu em cima de Anna. Então, no chão, começaram a rir.
– Está com fome? – perguntou Lize se levantando.
– Hum… Um pouco sim. – Anna também se levantou.
– Vamos pedir pizza?! A Gulty fez umas coisas para nós comermos, mas ela só fez doces, quero algo salgado. – Lize juntou os lábios num bico.
– Okay. – disse se sentando no sofá. – Quem é Gulty? – perguntou observando Lize pegar o telefone e discar o número da pizzaria.
– Ela é uma faxineira, que também é paga para ser minha babá, mas a considero muito mais do que isso. Ela sempre esteve comigo, desde que nasci. Minha avó e ela eram amigas de infância. – Anna arqueou as sobrancelhas com surpresa. Ficou observando a sala enquanto Lize pedia a pizza. Era tudo tão charmoso, tão aconchegante, mas tão imenso para uma garota como Lize. Então desligou o telefone e se sentou ao lado da amiga.
– Você não se sente sozinha aqui? Quer dizer... – pigarreou. – Essa casa, ou melhor, essa mansão é enorme e seu pai está sempre trabalhando como você diz, você gosta disso? – fitou a amiga que estava inexpressiva.
– Ás vezes... A solidão pode ser sua única escolha. – sorriu fraco.
– Seu pai... Ele nunca se apaixonou de novo? – estava curiosa sobre a vida de Lize, ao seu ponto de vista parecia intrigante.
– Até uns dias atrás eu podia dizer que não, mas – soltou o ar – outro dia ele apareceu aqui com uma mulher que eu nunca vi na vida. Nem lembro mais o nome dela, nem fiz questão de prestar atenção no que ela dizia. Estava tão furiosa. – riu ironicamente.
– Ah! – disse Anna num sobressalto. – Eu tenho uma surpresa na minha mochila. – falou e caminhou até o corredor onde estava a mochila, pegou-a e voltou a se sentar ao lado de Lize. Abriu, tirou um pequeno pote roxo e entregou á Lize.
– Mascara de lama? – perguntou Lize lendo o frasco. Anna riu.
– É muito bom pra pele do rosto, além do mais podemos assustar o entregador de pizza. – Lize gargalhou.
– Ótimo, vamos experimentar isso. – disse se levantando. Anna acompanhou-a, subiram as escadas e deram com um corredor. Anna observava cada detalhe da casa. Nas paredes do corredor mais quadros abstratos. Ao longo dele havia seis portas brancas que estavam fechadas. Ao perceber que a garota observava tudo Lize apontou para a primeira porta que ficava na direita.
– Quarto de hóspedes, – prosseguiu apontando conforme andava de porta em porta. - escritório do meu pai, - segunda porta á esquerda. – quarto do meu pai – terceira porta á direita. – escritório da minha mãe, é um lugar que eu e meu pai não costumamos visitar, mas gostamos de manter. – sorriu ao parar na quarta porta á esquerda, então continuou caminhando. – banheiro social – quinta porta á direita. – e finalmente, o meu quarto. – a ultima porta do longo corredor. Assim que Lize abriu a porta Anna arregalou os olhos mais uma vez. Era lindo. As paredes eram brancas, mas ao topo numa linha fina que seguia todo o quarto era pintado de vermelho. No lado direito havia uma porta aberta que dava para o banheiro, ao lado havia a porta do closet, uma escrivaninha com um abajur e livros – muitos deles – acima uma pequena prateleira com alguns objetos. No canto do quarto estava a cama, uma grande cama de casal forrada com um lençol florido com flores vermelhas, também havia uma escrivaninha com telefone e outro abajur. Ao lado, outra cama com um forro branco, esta provavelmente seria de Anna. Na parede ao lado da cama havia diversos papeis de revistas coladas desde o topo até o chão seguiam até o final da parede, no meio dessa colagem estava recortado – também com folhas de revistas – a palavra “DREAM”. Na parede da esquerda havia uma janela coberta por uma persiana branca, abaixo da janela mais uma mesinha com fotografias e objetos de decoração.
– Nossa, que quarto lindo Lize. – disse Anna admirada.
– Obrigada. – Lize sorriu. – Gulty trouxe a cama do quarto de hóspedes, ela é bem macia. Acho que vai gostar. – disse se sentando na beira da cama.
– Está ótimo. - sorriu. – Então, vamos passar a mascara? – Lize gargalhou com o olhar pomposo de Anna.

Hemsworth; West Yorkshire; Condominio Harlembate; 9: 46PM

– Gostaria de entrar? – perguntou desligando o motor do carro.
– Não sei, Elizabeth não gostou muito de mim... – murmurou.
– Com o tempo ela se acostuma. – disse abrindo a porta e saindo do carro.
– Você não se preocupa nem um pouco com ela? Afinal, isso pode ser tudo muito novo. – saiu do carro pegando nas mãos do homem alto.
– Ela se acostuma. – seu tom era iminente. Caminharam até a porta de entrada. Com sua mão livre ele virou a maçaneta, mas a porta estava trancada. – Droga, deixei a chave no escritório. – murmurou. Então se virou e tocou a campainha.

– Puxa, dessa vez foi rápido! – disse um sobressalto. Estava com o pincel na mão, todo cheio de lama.
– Está pronta para assustar o entregador? – riu.
– Vamos nessa. – Lize deu um sorriso suntuoso. Colocaram os pinceis em cima da pia do banheiro e desceram as escadas correndo. Assim que chegaram à porta contaram silenciosamente até três antes de abrir. Ao terminar a contagem Lize girou a maçaneta, mas o feitiço virou contra o feiticeiro naquele momento.
– Mãe?!

Hemsworth; West Yorkshire; Condominio Paradise; 9:55PM

– Olha, não é minha culpa se ela tinha outros planos. – sentiu uma cólera se formar em sua garganta, mas a conteve pressionando seus dedos contra a parede.
– A questão é que aquelazinha está atrapalhando os planos.
– Não acho que seja ela. Tenho motivos para desconfiar de qualquer outro, menos ela. – suspirou pensando em qualquer outra razão para a indiferença da garota.
– Acha que ele pode estar...
– Não! De modo algum. – seu tom era convicto.
– De qualquer maneira, é bom ficarmos de olho nele.
– Já disse que ele não é um problema. Temos que nos concentrar em outra coisa. – apertou as mãos que seguravam o telefone.
– Porque toda essa oposição a favor dele?
– Não estou a favor dele, mas ele nunca mais apareceu. – estava em pé, próximo a janela, fitando o horizonte negro da noite.
– Você não tem certeza disso, e se ele estiver agindo ocultamente?
– Se ele estiver eu vou descobrir. – desligou o telefone e caminhou até sua escrivaninha. Sentou-se e começou a mexer nos papeis que estavam ali em cima. Pegou um saquinho onde dentro continha alguns fios de cabelo, observou-os atentamente, então se levantou jogando o saquinho em cima da mesa novamente. Pegou uma tesoura e foi até o seu armário. Lá havia um pequeno espelho, passou as mãos pelos cabelos e pegou uma madeixa. Sem pensar duas cortou-a. Observou novamente e prosseguiu fazendo o mesmo com todo o cabelo. Após acabar, juntou todos os cabelos do chão e colocou num saco plástico. Voltou até a mesa e pegou o outro saquinho. Colocou os dois em uma bolsa e a vestiu nos ombros, então caminhou porta a fora de seu quarto. Desceu as escadas e sem que ninguém percebesse saiu de casa, na calada da noite. O vento soprava frio, a noite estava escura e não havia ninguém na rua. Pôs as mãos dentro dos bolsos da jaqueta se encolhendo com a brisa fria. Seus pensamentos estavam vagos. Somente observava o lugar por onde andava. Atravessa ruas escuras e sombrias. Passava por lugares sombrosos. Lugares que se não fossem precisamente estar ali, não estaria. Chegou a uma rua sem saída. Havia várias mulheres com roupas seduzentes e homens com bebidas, cigarros e outras coisas. Entrou em um beco que dava direto até uma porta. Bateu três vezes e a porta abriu. Um homem alto e forte estava parado frente a porta. Assim que o reconheceu deu um sorriso escárnio.
– Achei que não fosse conseguir.
– Eu preciso desse resultado o mais rápido possivel. – seu tom soava aflito.
– Amanhã ele estará pronto, se a quantia estipulada for recebida imediatamente. – cruzou os braços largos e fortes contra o peito.
– Metade agora e metade amanhã. – falou abrindo a bolsa, o outro deu uma risada irônica.
– Sou eu quem dá as ordens aqui nerdizinho. Você não tem autoridade nenhuma sobre mim. – empurrou-o contra a parede e segurou seus ombros. Então de dentro da bolsa tirou uma espécie de injeção e mirou em seu estomago.
– Você sabe que eu posso acabar com você agora mesmo. Então não me dê motivos pra isso Jason. – encostou a ponta da agulha em sua bochecha. Jason tremeu ao sentir o metal gelado queimar sua pele.
– Tu...Tudo bem. Como quiser. – gaguejou soltando seus ombros.
– Assim está melhor. – jogou a injeção dentro da bolsa e pegou um bolo de notas de 100£, entregou-o junto com os saquinhos que continham os fios de cabelo.
– Passe aqui amanhã á tarde e terei o resultado. – consentiu e se virou, saindo dali o mais depressa que pode.

Hemsworth; West Yorkshire; Condominio Harlembate; 10:50PM

– Eu ainda não consigo acreditar que a senhora me escondeu isso. – seus olhos marejavam.
– Filha me desculpe... – falava tão baixo perto da filha, que Lize e seu pai não conseguiam escutar. Estavam na copa observando a cena. Lize estava de pé, na frente da bancada que dividia a copa da sala e segurava um copo de água. Seu pai estava ao seu lado também fitando a mulher e garota sentadas no sofá.
– Não acredito que está saindo com a mãe da minha melhor amiga. – disse Lize se virando de costas para as duas e se escorando na bancada. Bebeu um gole de água. Seu pai fez o mesmo movimento e respirou fundo.
– Você fala como se eu tivesse uma bola de cristal para adivinhar que a minha nova enfermeira é mãe de alguma amiga sua e vem cá, desde quando você tem uma amiga? Pensei que Louis fosse seu único amigo. – agora fitava a garota ao seu lado.
– Tem muita coisa que mudou e o senhor ainda não sabe pai. – deu mais um gole na água e então se virou de frente para seu pai. – Eu me inscrevi na peça teatral da escola. – naquele instante arregalou os olhos, não tinha palavras.
– Já disse pra você que isso é ridículo e uma total perda de tempo. – agora seu tom era sério.
– Mas é o que eu amo fazer e o senhor não pode tirar isso de mim!
– Elizabeth perdeu o juízo?! – gritou, assim que percebeu isso puxou Lize pelo braço até a cozinha. – Amanhã você vai voltar lá e tirar seu nome da lista. – sussurrou.
– NÃO! – gritou puxando seu braço com força. – Há tantas coisas que o senhor faz que eu não aceito! Como por exemplo trazer um mulher desconhecida pra dentro dessa casa e fingir que está tudo bem! Como o senhor acha que eu me sinto a respeito disso? Se o senhor pode se dar uma nova chance para amar eu posso me dar uma nova chance de fazer o que eu amo! Porque tudo tem que ser tão difícil para o senhor? Por quê? Porque a vida tem que ser difícil? Sofremos por culpa de nossas escolhas, não é? É, é claro que é. Antes de ver o mundo de outra forma eu era obrigada a seguir as escolhas que o senhor pensava ser o melhor para mim. Agora é minha vez de saber o que é o melhor para mim. São as minhas escolhas agora que irão definir o quão difícil a minha vida será. Eu não quero errar e acredito que ninguém queira, mas ninguém está livre desse defeito. Todo mundo erra. Todo mundo tem que errar para poder aprender o que é certo. A vida é assim, errando e aprendendo a todo o momento o senhor sabe disso. Eu quero errar agora. Eu quero viver agora. Quero cair e conseguir me levantar sozinha sem precisar que ninguém me segure. Quero usufruir da minha liberdade e da minha independência. Quero fazer o que eu amo. Quero aprender coisas novas e me inspirar nas coisas antigas. Quero acreditar naquilo que eu acho certo. Quero ter fé naquilo que eu acredito. Quero viver enquanto eu posso. Eu quero, eu consigo e eu posso, pois eu acredito em mim. Agora é a minha vez de ver o mundo como ele realmente é. Cansei de aceitar as escolhas dos outros por mim. Cansei de sofrer com as escolhas que o senhor fazia por mim. Eu vou usar minha voz agora. Sou eu quem vai saber o que é melhor para mim. Isso faz parte da vida, um dia o passarinho cria asas e voa para longe do ninho. Minhas asas cresceram, eis que a minha hora de voar chegou. Agora é a minha vez de buscar a felicidade pai. – o olhar de Lize era feroz, seu pai estava perplexo. Não sabia o que dizer, não sabia que a filha por dentro se encontrava tão aflita, tão perdida e sozinha. Percebendo a perplexidade do pai Lize respirou fundo e falou mais baixo. – Eu sei que o senhor quer o melhor pra mim, mas eu também quero o melhor pra mim. Dançar é o que eu amo fazer, porque não consegue entender isso? Olha pra mim pai, não sou mais uma garotinha de 10 anos. Eu tenho 17 anos e sei o que eu quero pra mim, mas se o senhor não pode me apoiar nem mesmo dessa vez eu não sei o que vai ser de mim. – sentiu seus olhos marejarem, fechou-os e colocou as mãos no rosto. De repente sentiu braços a envolverem num aperto. Espera... Seu pai estava abraçando-a?! Lize abriu os olhos e não acreditou. Sim seu pai estava a abraçando. Estava imóvel, há tempos que seu pai não a abraçava. Para ser sincera nem se lembra da ultima vez. Ele se afastou de vagar e segurou os ombros de Lize olhando no fundo de seus olhos.
– Você é igualzinha a sua mãe. Determinada e sonhadora. Foi por isso que me apaixonei por ela. O jeito sonhador, criativo e inspirador dela me deixavam maluco. Filha, eu não posso dizer que sou a favor dessa maluquice justamente por ser uma maluquice, mas eu acho que posso tentar dar uma chance. Ás vezes, temos que ser abertos a novas ideias, não é? – sorriu, Lize o encarava com ternura.
– Obrigada pai. – disse, então o abraçou, sentiu-se tão feliz com aquilo que sentia a necessidade de retribuir. Soltaram-se assim que Anna e sua mãe Emily apareceram na porta da cozinha. Ambas com olhos inchados e vermelhos de choro.
– Eu e Anna conversamos e... – encarou a filha que deu um sorriso singelo. – ela aceita, com tanto que Lize aceite. – então todos encararam Lize que segurava o choro. Pensou no que seu pai havia lhe dito, no que Gulty havia lhe dito e também no que sua mãe havia lhe dito sete anos atrás e não teve duvida na resposta.
– Eu já te considerava uma irmã mesmo. – e a felicidade foi unívoca naquele momento. Depois de abraços, beijos e pizza fria, – a pizza havia chegado no meio da discussão , deixaram-na de lado e só depois foram comê-la – Lize e Anna subiram para o quarto, trocaram de roupa, escovaram os dentes e se jogaram na cama, encarando o teto.
– Foi realmente um dia maluco. – disse Lize.
– Nem me fale. Quem diria que nossos pais estavam saindo e a gente nem fazia ideia. – riu.
– Meu pai aceitou que eu fizesse parte do grupo de teatro. – Anna encarou-a perplexa.
– Sério?! Oh, meu Deus! – sorriu. – Lize isso é maravilho! – falou pulando em cima de amiga, ou irmã.
– Eu nem consigo acreditar. – falou colocando as mãos no rosto escondendo um sorriso.
– Temos que contar para Paul. – Lize abaixou as mãos e encarou Anna confusa.
– Por quê? – perguntou.
– Porque quem teve a ideia de te colocar na peça, quem te viu dançar, quem sabia do seu segredo era ele. Isso tudo é graças á ele Lize. – seu tom iminente.
– Tem razão, amanhã vou agradecê-lo. – deu um sorriso pomposo. Então riram animadas e depois de alguns minutos pegaram no sono e adormeceram.


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Notas finais do capítulo

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