Kimi no Suki na Uta

Não havia conseguido impedi-lo depois de tudo, e pela primeira vez havia ganhado a maldita aposta que fizeram naquele mesmo banco em que estava. Levantou-se, não tinha tempo para ficar apenas sentada, a vila estava em perigo e se ela não trabalhasse, a morte dele teria sido em vão.

Com um suspiro, levantou-se e deu uma última olhada à direção que seu amigo havia saído.

- Amigo, é? – perguntou-se em voz alta. Sabia que no fundo as intenções dele sempre haviam sido outras, e depois que ele havia partido, ela mesma se permitira pensar nele de outra forma.

Olhou rapidamente para o céu, já estava escurecendo.

- Hora de voltar. – disse a si mesma, e fitando mais uma vez o horizonte, atreveu-se a dizer, engolindo as lágrimas que já estavam para sair. – Sayonara, Jiraiya.

Suki dayo to Kyou mo ienai mama
(Mesmo não sendo capaz de dizer “eu te amo”)
Miokutta Ima made issho ni ita no ni
(Depois desse tempo todo com você eu te disse adeus)

Andando pelas ruas vazias, começou a cantarolar, a mesma canção de quando eles ainda sorriam bêbados nos bares, a mesma canção que ele havia tentado usar de serenata para ela, no meio da noite nublada de seu aniversário, a mesma canção de quando ela o vira partir para sua estanha jornada em busca de seu discípulo.

Sorriu ao lembrar dessas coisas, há muito guardadas dentro de sua mente, e de seu coração. Dispondo-se da música, caminhava lentamente desejando desesperadamente vê-lo outra vez, chamando-o através da letra confusa e da melodia animada, uma nostalgia tomando conta de si a cada palavra entoada.

Olhou para o céu que já estava escuro, a lua e as estrelas dispostas ali conseguiam deixar tudo mais melancólico do que era para ser.

Aitakute Kimi no suki na uta wo kurikaeshi
(Quero te encontrar, por isso repito a música que você gosta)
Kuchizusanda Kaeri michi
(Murmurando ela no caminho de volta para casa)

Encostou-se num poste e sem interromper a canção, deixou lágrimas grossas contornarem sua face, desolada. Ele afinal era seu ombro amigo, o homem que todas as vezes havia ficado ao seu lado, o homem que estava sempre determinado a fazer as pessoas a sua volta felizes, mesmo se fosse através de suas gracinhas. Como ficaria sozinha? Como ficaria sem ele, quando tudo o que via a fazia chorar de saudade?

- Baka! Ele deve estar rindo de você... – arranjou forças e se bronqueou, depois de um longo tempo consumida pela tristeza.

Com um pouco mais de calma, voltou sua caminhada, recordando-se de sua última conversa com ele, sobre Naruto, Minato, Kushina, sobre a Raiz, sobre a aposta, e... “Rejeição faz o homem ficar mais forte.”

Corada, lembrou-se também de toda a pose que ele havia feito, o sorriso estampado em sua face, a preocupação que tinha com ela, dizendo para tomar cuidado, quando quem estava indo para uma missão suicida era ele mesmo. Blançou a cabeça, o mesmo turbilhão de sentimentos daquele dia a incomodando, misturando-se à dor da perda.

- Pode uma mulher da minha idade sentir tuo isso ainda? – inconformada, forçou-se a segurar mais lágrimas dispostas a cair.

Hanasu koe no TOON Shisen no saki Hoka no dare kato kawasu kotoba sae
(Seu tom de voz, quando você olha, até as palavras que você troca com outras)
Sasai na Kimi no shigusa ga Boku wo madowaseru
(Seus gestos mais simples me confundem)

- Esse baka! Ele nunca mudou mesmo... – conseguiu esboçar um sorriso triste. Jiraiya realmente havia sido uma presença muito forte em sua vida, seria difícil superar sua morte. “Me dói ver como as memórias dos seus amigos amados e perdidos estão guardado dentro de seus peitos grandes. E o número continuará a subir.”. – Será que... – vivia se perguntando se o shinobi já sabia o que aconteceria a si mesmo quando havia dito aquilo, e talvez soubesse mesmo.

Abraçou-se numa tentativa frustrada de consolo, sentia-se culpada por tudo aquilo. Naruto estava certo, se Jiraiya estivesse em seu lugar talvez os dois ainda estivessem vivos. Perdera a pessoa que lhe era mais importante, e a culpa era dela mesma.

- Jiraiya... – estava perdida novamente, mas a dor era tanta que ela sabia que fugir, jogar ou beber ainda mais não a ajudaria em nada, nem mesmo a distrair-se dessa realidade que insistia em lhe atormentar.

O que faria a seguir? O que Jiraiya diria que fizesse? Tudo ao que ela podia se agarrar eram os desejos dele, seus ideias inocentes que tanto defendiam a paz e a felicidade de todos, um tanto utópico, mas lindo, assim como o coração destemido ele lhe mostrara...

Kimi no kimochi ga Onaji you ni Kotae ga koko de arimasu you ni
(Espero que seus sentimentos continuem os mesmos, e que encontremos as respostas aqui)
Kitto zutto Matta Kiseki yo Okoru nara ima koko de
(O milagre tão esperado, se você for vir, venha para mim agora)

Desestabilizada, abraçou-se mais forte, dessa vez rendendo-se aos prantos, era muito mais fácil pensar nos sonhos dele do que fazer tudo o que ele havia feito, seria muito mais fácil se ele estivesse ao seu lado.

Mas no final, sua solidão era culpa de sua própria ignorância. Se tivesse o impedido, se tivesse o forçado a assumir o posto de Hokage, ou até mesmo se simplesmente tivesse admitido o que sentia, qualquer uma dessas coisas a deixaria mais tranquila naquela hora.

- Quanto egoísmo... – repreendeu-se.

Olhou para o céu novamente, tinha certeza de que qualquer coisa que tivesse saído diferente não teria dado a Jiraiya a morte que ele havia previsto a ela, e seria ele quem não estaria tranquilo ou feliz do outro lado.

“Acho que eu não posso nadar na solidão, meu dever é ser modelo para a próxima geração, e ajudá-los. Para isso eu apostarei a minha vida sorrindo.” Era esse o tipo de homem que ele era, sempre com frases legais e pose de “Jiraiya-sama”, um homem que não desistiria de seus ideias para ficar sentado atrás de uma mesa de escritório.

- É... Não poderia ter sido diferente. – concluiu, decidindo prosseguir de uma vez.

Suki dayo to Kyou mo ienai mama
(Mesmo não sendo capaz de dizer “eu te amo”)
Miokutta Ima made issho ni ita no ni
(Depois desse tempo todo com você eu te disse adeus)

Recuperou-se e limpou o rosto, tinha coisas a fazer e eram inadiáveis. Decidiu-se: faria seu papel de modo explendoroso também, dedicaria sua vida por Konoha, o legado de seu avô, de seu sensei, de todas as pessoas que havia amado e perdido. E depois, depois que tudo tivesse acabado, quem sabe poderia encontrá-lo novamente sem medo de encará-lo e de dizer tudo o que sentia, assim esperava.

Boku no naka de kimi omou koto ga Ashita no ikiru chikara ni kawatteku
(Lembranças suas dentro de mim se tornam a força para viver amanhã.)
Moshi uki aeta nara Onaji hohaba de shinji aeru michi wo Aruite ikou
(Se nós pudermos nos encontrar, vamos andar na mesma calçada onde poderemos andar no mesmo ritmo)

Faria o esforço dele ter valido a pena, iria usar tudo o que ele havia deixado para proteger o que lhe era importante, era para isso que havia assumido seu posto, era para isso que estava viva, e não poderia encará-lo se nada fizesse pelas pessoas de Konoha, a tão amada Konohagakure.

- Afinal, você deu a vida por nós... – soltou.

Konna ni mo kimi wo omou dakete
(Só de pensar em você assim)
Kurushikute Itoshisa tsunoru Kimochi
(Sinto tanta dor, meu coração se enche de afeição)

Já podia sorrir novamente, Jiraiya seria sua meta a seguir, seu motivo para viver, e assim voltaria ao trabalho, cantando a mesma música insistentemente, a música que ele tanto gostava.

Aitakute Kimi no suki na uta wo kurikaeshi
(Quero te encontrar, por isso repito a música que você gosta)
Kuchizusanda Kaeri michi
(Murmurando ela no caminho de volta para casa)