Impulsive. escrita por Juh


Capítulo 7
Mordendo a isca.


Notas iniciais do capítulo

OLÁ.
Tá bom. Eu sei que eu demorei demais. Mais do que todas as outras vezes. Demais, muito, bastante... –enfim. Eu até poderia tentar explicar aqui, mas ia ficar uma nota enorme no começo do capítulo, então, quem quiser saber, leia as notas finais e.e
Mas pois é. Esse capítulo foi um pouco difícil de escrever, porque é mais ou menos onde a história começa pra valer, então espero realmente que gostem.



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– Capítulo VII –

– Mordendo a isca –

Não lembro exatamente em que parte da partida parei de prestar atenção.

Mas, ao mesmo tempo em que pego minhas botas em meu armário, vejo, por cima do ombro, Ashley, apesar de cansada, com uma expressão satisfeita no rosto. Suponho que nosso time tenha se saído muito bem. Fico feliz, mas, ao mesmo tempo, não consigo realmente prestar atenção na comemoração das outras garotas.

O fato de Johnny saber quem eu sou já é ruim o suficiente. O fato dele não parecer nem um pouco abalado por isso, é pior ainda. Não sei ao certo se ele está genuinamente tão despreocupado, ou se tudo não passa de um fingimento. Mas de qualquer modo, ambas as situações não são nada boas.

– Ashley? – chamo – Você não se importa se eu te devolver seu uniforme segunda-feira, não é? Eu sei que não joguei, mas eu ia preferir te devolver ele limpo.

Ashley sorri abertamente antes de responder:

– Tudo bem. Eu tenho mais três.

Uau. E eu mal sei em que parte do meu guarda-roupa o meu está. Bem, ela é capitã do time, afinal, Deve ter um senso de responsabilidade em relação a ele bem maior que o meu. Ou sou eu que sou desorganizada mesmo.

Termino de calçar minhas botas, e vou rapidamente até um dos boxes para trocar a camiseta do uniforme pela minha regata vermelha larga.

– Eu vou indo. Vejo vocês semana que vem. – falo, passando uma das alças da mochila pelo ombro.

– Mas você não está de detenção? – Ashley ri. – Olha, tome cuidado com essas detenções, hein. Ou vai ser obrigada a sair do time.

Grunho.

– Nem me lembre. – digo, jogando a cabeça para trás.

Aceno um adeus para as outras garotas, que retribuem, e ando até a saída do vestiário. E, não tão surpreendentemente, encontro treinadora Kate prestes a entrar. Não é nenhuma novidade. Ela sempre vem verificar se nenhuma das garotas se machucou durante a partida e resolver esconder, ou dar parabéns pelo esforço, mesmo que o time não tenha vencido.

– Ah, oi treinadora. – sorrio.

– Oi Mei. – ela responde, abrindo um sorriso também. – Já está de saída? – pergunta.

Coço a nuca, sem graça.

– Bem, sim. Tenho detenção.

Ela ergue uma sobrancelha.

– De novo? – fala – Mei, você precisa...

– Tomar cuidado com as detenções. É, eu sei. Estou tentando. – tento explicar – Mas o motivo dessa vez... bem, não vou dizer “ele começou” porque sei o quão infantil isso soa. Mas tente entender, ou eu revidava ou ele acabava comigo ali mesmo.

É mentira, é claro. Blake e Evan poderiam tentar o quanto quisessem, e nunca conseguiriam nem mesmo fazer um arranhão em mim se eu estivesse lutando para valer. Para ser sincera, tenho realmente tentando evitar brigas. Recuperar alguns dos princípios que tinha anos atrás. É só que está sendo um processo bem lento.

Treinadora Kate suspira.

– Mei... Olha, eu já fui como você. – “não, não foi”, penso, mas deixo ela continuar mesmo assim – Costumava arrumar muita briga na escola. Quase fui expulsa. Na época, foram justamente os esportes que impediram que isso acontecesse comigo. Percebi que se quisesse continuar fazendo o que gosto, teria que começar a ser mais responsável. Não quero soar rude, mas estou me perguntando quando é que isso vai acontecer com você.

Já aconteceu, penso. Reprimo um suspiro. Não tenho nenhum direito de responder minha professora de forma rude quando ela está apenas tentando me ajudar. Mas, ao mesmo tempo, gostaria de poder dizer que ela não faz idéia do que está dizendo.

– Sim senhora. – falo – Vou mês esforçar mais, prometo.

Ela sorri, parecendo confiar em mim.

– Eu acredito em você, hein. Não me decepcione. – brinca, acertando um pequeno soco amigável em meu ombro e partindo para falar com as outras jogadoras.

É, penso, suspirando, não decepcionar ninguém é o que tenho tentado fazer. Não parece estar dando muito certo.

Então, também faço meu caminho para fora do vestiário. Apenas para encontrar Ryou esperando, sentado em uma das arquibancadas, mexendo no celular.

– Tá fazendo o que aqui? – indago, erguendo uma sobrancelha.

– Kenny me mandou vir aqui para ter certeza que você não tentaria fugir da detenção. – ele ri, descendo da arquibancada.

– Ela acha mesmo que eu tentaria?

– Não. Mas te irritar é divertido. Agora vamos, baixinha.

Você é só vinte centímetros mais alto do que eu! grunho, rolando os olhos, e o seguindo para fora do ginásio.

__

Assim que deixo a sala onde estava de detenção, espreguiço-me, soltando um bocejo.

Gostaria muito de poder dormir quando chegar em casa, mas sei bem que tenho coisas mais importantes para fazer. Por isso, apenas apanho minha mochila e sigo pelos corredores, até achar meu armário e coloco a senha, depositando alguns dos meus livros que estavam na mochila e pegando outros que irei precisar para fazer o dever de casa.

– É tão estranho te ver sem aquela jaqueta.

Quase pulo de susto. Esqueci que havia diminuído a extensão dos meus sentidos antes do jogo, e por isso, não ouvi Sam aproximando-se. Sua voz, repentinamente ao meu lado, me pegou de surpresa.

– Caramba, Samantha. – deixo escapar – Que susto.

– Uau, eu consegui assustar você? – ela ri – Isso sim é uma surpresa. Mas enfim, o que faz aqui a essa hora?

– Estou guardando minhas coisas, gênio. – rolo os olhos.

– Ei, ei, alguém está estressadinha. O que houve? Seus irmãos te esqueceram aqui?

– Eu poderia te perguntar o mesmo. O que, Ashley foi embora sem você e você não sabe se virar sem ela?

– Na verdade, sou eu quem estou esperando ela sair de uma reunião, qual é a sua desculpa? – Sam sorri vitoriosa, colocando uma mão no quadril.

– Eu estava na detenção, feliz? – desvio o olhar – Se você também for me falar para tomar cuidado com elas, poupe sue fôlego.

– Caramba, Mei. Parece que você dormiu na detenção e bateu a cabeça quando foi acordar. Quer um docinho pra melhorar esse humor? – ela ergue as sobrancelhas, mas sei que está brincando. – Eu por acaso tenho cara de quem vai te dar sermão? Vamos lá, a essa hora Ashley já deve estar me esperando no estacionamento, tenho certeza que Tresh e Ryou estão lá também.

Concordo com a cabeça. Espero que Sam realmente saiba que eu não tive a intenção de ser rude. Apenas estou com sono e gostaria de estar em casa, dormindo. Andamos lado a lado pelo corredor principal, mas antes que possamos alcançar o estacionamento, encontramos Ashley e Ryou sentados sobre o gramado, abaixo da sombra de uma árvore, conversando. Sem, pressa andamos até eles.

– Ah, ei Mei, oi Sam. – Ryou diz, erguendo o rosto para nos encarar e usando uma mão para protegê-lo da luz do sol que o acerte em cheio.

Ashley acena com a cabeça.

– Cadê a Kenny e o Tresh? – pergunto.

Ryou estica os braços, espreguiçando-se.

– Kenny está na sala da direção, resolvendo alguma coisa, e Tresh está falando com o treinador.

Conversamos por mais alguns minutos, e percebo quando o sol começa a se por. Desse jeito, não vou mesmo ter tempo para dormir. Não demora muito para Tresh chegar, sentando-se ao lado de Sam, e Kenny aparece logo depois, com uma pasta repleta de papeis nas mãos, sem mencionar sua mochila, que parece bem mais cheia do que antes.

Conhecendo Kenny como conheço, ela provavelmente se voluntariou para ajudar a bibliotecária mais uma vez. Despedimos-nos de Ashley e Sam, que seguem para o carro da mais velha, e andamos até o nosso, onde Kenny cuidadosamente coloca a pasta no banco de trás, entre mim e Ryou.

Em pouco tempo, chegamos em casa. Tomo um banho e troco a regata e jeans skinny apertados por uma calça larga e uma camiseta ainda mais. Quando desço até a cozinha, Tresh já preparou algo para lancharmos, mas não temos muito tempo para comer calmamente, antes de Kenny resolver trazer o assunto a tona.

– Mei. – ela chama – Ele já disse alguma coisa?

Suspiro. Dou um gole no suco de laranja em meu copo e ergo o olhar para encará-la.

– É, quanto a isso... – começo – Ele já disse muitas coisas. A maioria delas sobre como me odeia e vai dar um jeito de me atirar de volta do Palácio de Gelo. Fora isso, nada de relevante.

– Ele não disse como veio parar aqui?

Nego com a cabeça.

– Isso é estranho... – Matt diz – Ele pode ser muito forte, mas não é um mago, nem um feiticeiro. Não tem como ter aberto um portal sozinho. Ele deve ter tido ajuda.

– Ah, é. – Ryou ri – Quem ajudaria alguém como ele?
Matt ergue uma sobrancelha.

– Alguém com o mesmo objetivo que ele. – fala.

De repente, sinto todos os olhares voltados para mim.

– Hm, grande surpresa, né? – rio, sem humor. Dou uma mordida em meu sanduíche, que de repente parece ter gosto de papelão. – Eu não acho que tenha dedos suficientes para contar quantas feiticeiras daquele lugar me querem morta.

Ninguém responde nada, esperando para que eu continue. É o que faço.

– Mas, todos sabemos que não muitas delas teriam coragem. Se me capturarem mais uma vez, e eu escapar, tenho certeza que vai ser vergonha demais para elas. – digo – Então, elas mandaram alguém. Alguém cujo nome não está relacionado à elas. Alguém que tem seus próprios motivos para me querer morta. Assim, se ele falhasse, não seria culpa delas. Ninguém nunca saberia que foram elas quem perderam de novo.

Silêncio.

– Mas ainda assim, ainda é um plano arriscado. A partir do momento que alguém o soltou, é responsável por ele. Nenhuma delas é tão louca assim. Pelo menos nenhuma que já tenha me deixado escapar alguma vez. Por isso, tenho certeza que a feiticeira que o soltou nunca me enfrentou antes. E esse é exatamente o objetivo dela. Está o usando como isca, me levar até ela e me enfrentar.

– Está dizendo que a feiticeira responsável por isso é uma novata? – Tresh pergunta.

– Não exatamente. Digo, é uma possibilidade. Mas também pode ser simplesmente alguma que nunca teve a chance de me enfrentar. Ele foi, e ainda é, forte o suficiente para me dar trabalho. Seria uma isca perfeita. Com certeza eu iria atrás da pessoa que soltou o cara que me deu tanto trabalho para prender.

– Mas, mesmo assim... – Ryou murmura. – Não é arriscado? Ela poderia ter te irritado de verdade. E te chamando pra uma luta assim...

– É, ela poderia. – sorrio. Ryou tem razão. Algum tempo atrás, isso teria seriamente me tirado do sério. – Mas alguns anos presos foram o suficiente para deixá-lo bem mais fraco. Ela escolheu uma isca fraca. Provavelmente para zombar comigo. Mas como não foi tão difícil capturá-lo de novo, não vou me estressar por isso.

Meus irmãos trocam um olhar rápido antes de Kenny perguntar:

– Bem, e o que você pretende fazer agora?

Ergo as sobrancelhas, e explico, calmamente:

Morder a isca.

__

Estou correndo.

Como estou descalça, escorrego mais do que algumas vezes sobre a neve, sentindo as queimaduras em minha pele. Machuco meus pés toda vez que topo em alguma pedra no caminho, mas sei que não tenho para parar. Um galho de uma árvore próxima me acerta com força no rosto, mas apenas uso a costa da mão para limpar o sangue e continuo a correr.

Então, chego à uma encruzilhada. Seguir o caminho ou esconder-me na caverna? Tento me acalmar para pensar, mas o som de um grunhido feroz perto demais me faz agir por instinto e correr para a escuridão da caverna. Encosto-me na parede, arfando. Minha cabeça está girando por causa da falta de ar e o cansaço parece estar levando a melhor sobre o meu corpo.

Tento prender a respiração quando ouço passos pesados se aproximando. Fecho os olhos, sentindo meu coração martelar contra meu peito. Sei que meu estômago pode roncar a qualquer momento, já que não como a quase um dia inteiro, e o sangue pingando do meu nariz parece fazer mais barulho do que deveria. Provavelmente é apenas meu nervosismo.

Primeiro uma pata, depois a outra. Passos cuidadosos, como se estivesse observando o lugar. Garras longas e afiadas, e assustadoramente sujas de sangue. Seu pelo branco quase não me deixa ver a neve presa nele.

Um grunhido. Dessa vez, mais calmo. Meu coração parece parar e voltar com velocidade total quando vejo suas patas adentrando a caverna.

Mantenho meu olhar fixo o chão, e tento prender a respiração novamente. Consigo ouvir os passos ficando cada vez mais próximos, mas não tenho coragem de olhar. Tenho certeza que estou parada a anos no mesmo lugar, mesmo sabendo que provavelmente só se passaram alguns segundos.

Mesmo sabendo que provavelmente irei me arrepender disso depois, tomo a primeira decisão que aparece em minha mente: abaixo-me e corro em disparada para a sápida da caverna.

Volto a correr sobre a neve, com os galhos das arvores deixando cortes sobre minha pele. Corro o máximo que consigo, mesmo sem saber para onde estou indo. Nem sem mais se ainda estou sendo seguida, apenas sei que em algum momento deixei a tempestade de neve para trás, e agora meus pés já feridos correm sobre grama verde, e não há mais galhos ferindo-me. Apenas um grande vale, com árvores com folhas alaranjadas e marrons formando uma bela paisagem.

Incapaz de correr mais, caio de joelhos sobre a grama. Nem mesmo sei em quanto tempo serei capaz de levantar daqui. Apenas deixo o cansaço correr pelos meus músculos e enterro meu rosto nas mãos, segurando o choro.

Então, ouço o som de passos. Mas, por algum motivo, esses não me assustam. Apenas continuo ali, vulnerável e exausta.

Sou envolvida por dois braços que me abraçam firme, mas delicadamente. Uma mão carinhosa retira as folhas e a neve do meu cabelo e o afasta da frente do meu rosto, para que possa encarar sua dona.

Kenny.

Ela está tão pequena. Oito anos, no máximo. Há um pequeno corte em sua testa, e seu cabelo está bem menor. Ela continua a limpar meu rosto e me consolar, e eu deixo as lágrimas correrem livremente pelo meu rosto. Ela sorri, ainda que um pouco tristemente, e diz:

– Vai ficar tudo, bem vai ficar tudo bem. – e então, depois de retirar uma farpa que nem percebi estar presa em meu pé, continua – Eu estou aqui, você vai ficar bem.

E eu acredito nela.

___

Bato minha cabeça levemente na parede quando acordo.

– Uau, o sono tava bom, hein. – Matt brinca.

Ele senta-se ao meu lado, me oferecendo uma lata de refrigerante.

– Não exatamente. – sorrio.

Ele encosta a cabeça na parede.

– Nenhum de nós tem os melhores sonhos, não é? – diz, sarcasticamente. Eu apenas concordo. – Mas acho que está na hora de você ir pra cama. Pode deixar que Tresh e eu assumimos daqui.

Concordo com a cabeça, aceitando a mão que Ryou me oferece para me ajudar a levantar, e abrindo a lata de refrigerante com a mão livre. Ryou com certeza está cansando também, mas me deixou dormir durante a vigia mesmo assim, dizendo que se algo acontecesse me acordaria.

– Quer comer alguma coisa? – ele pergunta – Podemos ir a uma lanchonete, ou algo assim. Só tem macarrão instantâneo aqui em casa.

– Mas eu pensei que tivéssemos feito as compras duas semanas atrás. – falo.

– Bem, e fizemos. Mas temos mais duas pessoas nessa casa agora. – ele ri.

Faço uma nota mental para lembrar Kenny de irmos ao supermercado amanhã.

– Mas e aí? Quer ou não? – ele insiste.

Lembro que minha última refeição foi um sanduíche de atum, à quatro horas atrás, e resolvo aceitar a oferta. Caminhamos até o quarto que divido com Kenny, onde ela se encontra organizando a pilha de papeis sobre sua escrivaninha.

– Hã, Kenny? Pode nos levar até uma lanchonete? Ryou e eu estamos com fome. – peço.

Ela ergue o olhar para me encarar.

– Tudo bem. Deixa só eu terminar isso aqui. Vão logo trocar de roupa. – diz.

Concordamos com a cabeça. Ryou vai até o quarto dele, e eu apenas ando até o armário, pego uma muda de roupas, e sigo para o banheiro. Após trocar meus pijamas por uma calça jeans preta rasgada, uma das minhas várias camisetas com estampas de filmes animados, e uma camisa quadriculada por cima, volto para o quarto, onde Kenny já se trocou e está colocando suas coisas em uma bolsa pequena.

Ela me diz para ir perguntar se Matt e Tresh querem alguma coisa enquanto tira o carro da garagem e eu sigo até onde eles estão de guarda, na frente do quarto de hospedes, para perguntar a eles.

– Quero um com pelo menos duas carnes de hambúrguer, e um refrigerante grande. Ah, e batatas fritas. – Matt diz, tomando um gole da lata de refrigerante em suas mãos.

– Eu quero só um Milk-shake. E uma barra de chocolate.

– Ok. – respondo – Nós não vamos demorar muito.

Encontro Ryou na sala de estar, vestido com uma bermuda e uma camiseta simples, e partimos para encontrar Kenny. A viagem até a lanchonete não é longa, e logo adentramos o estabelecimento. Ryou segue para uma das mesas enquanto Kenny se dirige para o caixa para fazer nossos pedidos, mas alguém em uma mesa mais afastada desvia minha atenção.

Reconheço o cabelo vermelho, longo e ondulado. Está sentada sozinha, rodeada de papeis, lápis, canetas e uma serie de outros objetos que suponho estar usando para desenhar. O hambúrguer em uma bandeja mais afastada parece quase intocado.

– Ei, Mel? – chamo, aproximando-me.

Ela ergue o olhar do seu desenho.

– Ah! Oi, Mei! – diz, sorrindo discretamente.

– Oi. – sorrio também – Está aqui sozinha?

– É, mais ou menos. Estou esperando uns amigos chegarem. E você?

– Estou aqui com meus irmãos. Você não conhece eles ainda, né? – pergunto.

Ela nega com a cabeça, e olha ao redor, parecendo tentar adivinhar quem são os meus irmãos. Solto uma risada baixinho.

– Kenny, Ryou, podem vir aqui rapidinho? – chamo.

Mel imediatamente levanta-se quando eles se aproximam. Ryou abre um sorriso simpático, e Kenny também, mas consigo ver pelo olhar dela que ela está analisando a garota o melhor que consegue.

– Ela é nova na minha turma de Química e é a minha colega de bancada agora. – explico.

– Me chamo Mel, muito prazer. – ela diz, sorrindo.

Ryou é o primeiro a agarrar sua mão.

– Ryou. – diz – Igualmente.

Kenny a segura em seguida.

– Kenny. – fala, ainda sorrindo – Seu cabelo é muito bonito.

– Obrigada. – Mel responde, balançando sua mão – Você é muito bonita.

Kenny sorri, parecendo achar o elogio divertido.

– Opa, nossos pedidos estão prontos. – Kenny diz, quando a funcionária grita o nome dela – Ryou, pode me ajudar a pegar?

Enquanto Kenny e Ryou vão buscar nossos pedidos, eu pergunto:

– Então, quer sentar com a gente enquanto espera seus amigos?

Mel sorri, mas recusa:

– Acho melhor não. É a primeira vez que estamos saindo juntos desde que voltei de viagem. Eles podem ficar magoados se me verem dando atenção à outras pessoas. – ri.

Concordo, lhe digo tchau, e ando até a mesa onde Kenny e Ryou estão. Dou uma mordida em meu hambúrguer, para experimentar, e mando uma mensagem para Tresh, avisando que já estaremos indo pra casa daqui a pouco.

E é nesse momento que quase engasgo com a minha comida.

A porta da lanchonete se abre, e, por ela, vejo Seth entrar.

Não demora muito para ele me perceber. Seu cabelo está totalmente bagunçado, como se tivesse acabado de acordar, e eu diria que suas roupas poderiam perfeitamente se passar por pijamas. Está vestindo uma calça de moletom e uma camiseta de mangas longas, com as mesmas dobradas até os cotovelos. Ele não se preocupe em esconder o olho roxo que ganhou de Matt. Ao contrário, apenas sorri, aproximando-se.

– Oi. – falo.

– Oi. – ele responde. – Hã, oi Ryou. – ele ergue uma mão para Ryou, que sorri e lhe retribuí com um high-five. – E, hã...

– Kenny. – ela diz.

– Eu sei. Só não sabia se poderia te chamar pelo primeiro nome. Mas aí ficaria confuso, porque vocês três tem o mesmo sobrenome. Mas eu chamo a Mei de Mei, então... Hã, vocês entenderam.

Kenny ri, e, quando ele volta sua atenção de volta para mim, move os lábios, sem emitir som “tem certeza que ele é irmão do Roayout?”.

Reprimo um sorriso.

– Então? Cadê o Johnny? – pergunto, sinceramente esperando que Seth tenha vindo sozinho.

– Ele foi estacionar o carro. – diz – Já deve estar voltando.

– Ah... – é tudo que consigo dizer por alguns segundos, até perceber que acabamos em um silêncio não muito confortável.

Mas Seth cuida disso:

– Seu time foi muito bem no jogo! – fala, entusiasmado – Mesmo que eu não tenho visto você jogar. Mas acho que fica pra próxima, né?

Antes que eu possa responder, Ryou me interrompe:

– Ah, Seth. Por falar em jogo, Tresh teve uma reunião com o treinador do time hoje. Acho que você tem grandes chances de jogar na próxima partida. – ele dá a noticia, um sorriso sincero em seu rosto.

– Sério? Caramba! Que legal! – Seth comemora.

Não consigo não sorrir ao ver Seth tão animado. Mas, mesmo assim, dou um chute na canela de Ryou por debaixo da mesa por ter me interrompido.

Abro a boca para parabenizar Seth, mas então, Johnny Roayout abre a porta da lanchonete. Ele ergue uma sobrancelha ao ver Seth sentado na mesa comigo, mas me lança um sorriso de canto do mesmo jeito. Kenny o encara, séria, mas ele apenas devolve o olhar, parecendo achar a cena engraçada.

– Ei, Seth, que bom encontrou sua namorada aqui, mas nós viemos falar com outra pessoa, lembra? – ele diz, seus olhos ainda fixos em mim.

Seth levanta-se, parando ao lado do irmão.

– Mas eu não sei quem é a garota, estava esperando você chegar.

Johnny apenas, sorri, meneando a cabeça.

– Tudo bem, tudo bem, vamos. – fala.

Ele acena com a mão e começa a andar em direção as mesas mais afastadas.

– Eu já tenho que ir, foi mal. – Seth diz. – Vejo vocês segunda. – ele acena rapidamente para Kenny e Ryou e dá um aperto leve em meu ombro antes de seguir o irmão.

Assisto, enquanto Johnny e Seth sentam-se à mesa com Mel. E, para minha surpresa, não demora muito para descobrir a que amigo ela se referia.

___

Por que demoraram tanto?

– Encontrei uns amigos na lanchonete. – respondo, dando de ombros, terminando de comer meu hambúrguer.

Kenny ergue uma sobrancelha para mim.

– Estou me referindo à Mel e Seth, obviamente. – explico.

– Seth? O que gosta de você? – Matt brinca, dando uma mordida em seu próprio hambúrguer.

Rolo os olhos.

Conversamos por mais alguns minutos. Pergunto-me se deveria contar a eles sobre o fato de Johnny saber que sou uma aprendiza. Mas, até onde sei, ele só sabe sobre mim. E, depois de ver a marca em seu braço, pretendo tirar minhas próprias conclusões conversando diretamente com ele.

– Eu já volto. – falo.

Subo as escadas até o segundo andar, mas, ao invés de entrar no meu quarto, sigo pelo corredor até o quarto de hospedes.

Assim como combinei com Kenny, quando me aproximo da porta, o feitiço se desfaz. Agradeço aos meus irmãos por confiarem tanto em mim. Porque sei que sou a única que consegue tirar alguma informação útil dele.

Abro a porta lentamente.

Quando entro no quarto, ele se vira para me encarar.

– Olha, vou dizer que você está bem melhor do que alguns dias atrás, hein. Melhor agradecer Kenny por ter vindo te alimentando tão bem. Agora só falta pegar um sol. – dou uma risada sarcástica, colocando uma mão no quadril.

Ele solta uma risada seca.

– Uau, até o seu humor melhorou? – ergo uma sobrancelha. – Isso sim é o que eu chamo de avanço.

– O que você quer, aprendiza? – ele pergunta.

– Bem, isso é fácil. – falo, sentando-me no pequeno sofá encostado em uma das paredes. – Quero conversar.

– Conversar sobre o que? – ele pergunta, parecendo confuso.

Sorrio, inclinando-me.

– Quero que me diga tudo o que sabe sobre a feiticeira que te mandou aqui, e que parece querer tanto me enfrentar.

Mordo a isca.


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Notas finais do capítulo

POIS É.
Olha, aqui vai a explicação: o capítulo demorou tanto pra sair, porque eu realmente percebi que a história não estava indo exatamente como eu queria, então eu tive que parar e pensar bastante no que iria escrever em seguida. Além disso, tenho estado sem quase nenhum tempo pra escrever e.e
Mas enfim, espero que tenham gostado do capítulo, e até o/



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