Kids escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 6
Capítulo 05 - Amém




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/509469/chapter/6

A casa do prefeito de Vermont era enorme. Uma grande mansão branca nos limites da cidade. Ele, Robert Wave, dormia com sua esposa em uma grande cama, mergulhados num silêncio profundo. Seu filho de sete anos dormia no quarto ao fim do corredor.

Um som estridente de aço batendo no chão o acordou. Saiu do quarto e desceu as escadas. Pensava que poderia ser seu filho novamente. Benjamin Wave era sonâmbulo.

A luz da cozinha não estava acesa, mas havia uma pequena luz que vinha do cômodo. Era a geladeira.

Caminhou mais um pouco e viu que era seu filho, revirando as coisas da geladeira. Mas não era só ele. Havia alguém ao seu lado, sentado no balcão da cozinha. Parecia um homem adulto.

– Oh meu deus, Ben! – Ele exclamou, procurando o interruptor.

Quando finalmente o encontrou, acendeu a luz e percebeu que não havia ninguém além do garoto.

– Ben? – Ele se aproximou e percebeu que o menino estava muito bem acordado, mas seu rosto estava diferente. Ele parecia estar com raiva – O que está fazendo aqui?

– Vamos para o seu quarto – Ele segurou o braço do garoto e percebeu a sujeira que ele havia feito no chão. Havia leite, suco, frutas e várias outros alimentos espalhados pelo chão.

Ben soltou-se das mãos do pai e o arranhou com suas unhas.

– O que você está fazendo? – Robert ficou perplexo com a atitude do filho. Ele nunca havia feito aquilo.

– Ele vai devorar a sua alma!!! – Ben gritou e correu.

– O que você disse?! – O pai gritou, enquanto o garoto subia as escadas correndo – Benjamin, volte aqui!

Robert viu a sujeira no chão e resolveu limpar. Recolheu o que era sólido e colocou em cima da pia, depois pegou alguns panos e limpou o líquido. Enquanto fazia isso, pensava no que diabos havia acabado de acontecer. Benjamin nunca havia agido dessa maneira.

– Não posso deixar esse comportamento sem punição – Ele falou para si mesmo.

Quando terminou de limpar a bagunça, desligou a luz da cozinha e subiu as escadas.

Andou até o quarto do filho e percebeu que ele não estava lá.

– Benjamin?!

Caminhou até o seu quarto. Sua esposa continuava dormindo, totalmente coberta por lençóis manchados de alguma coisa. Sua mão descoberta, coberta por um líquido que ele não conseguia reconhecer.

Era sangue. Aproximou-se e percebeu que a mão dela estava suja de sangue, e as manchas nos lençóis também eram isso.

– Oh meu deus, Evelyn – Ele, com medo, descobriu o lençol, encontrando o cadáver de sua esposa.

Ele se afastou da cama e levou a mão à boca, horrorizado com a cena. Ela estava com os olhos arregalados, paralisada em uma expressão de desespero. Sua boca estava totalmente ensanguentada e havia pedaços de carne em sua face. Provavelmente sua língua. O pescoço também estava cortado profundamente.

No canto do quarto, sem esboçar nenhuma reação de tristeza, estava Benjamin, segurando uma faca ensanguentada.

– Oh meu deus, Benjamin – Naquele momento ele percebeu que aquilo não era seu filho. Seu filho Ben nunca seria capaz de fazer uma coisa daquelas.

O garoto levantou-se, sorrindo e depois correu em direção ao pai, berrando alto.

Robert correu para o corredor e fechou a porta do quarto, mas parecia que o garoto havia ficado mais forte, pois puxava a porta com tanta força que o prefeito achava que não iria aguentar por muito tempo.

Depois de alguns segundos segurando a porta, ele não aguentou e correu, descendo as escadas rapidamente.

Só deu tempo de pegar a chave do carro que estava em cima da mesa da sala de jantar e correr para fora da casa.

O garoto corria atrás.

Robert correu pelo jardim enorme até seu Buick LeSabre e rapidamente entrou no automóvel. O garoto bateu na lataria e arranhou com a faca, enquanto seu pai dava a partida.

O carro ligou e o prefeito acelerou. Benjamin segurou no para-choques traseiro e foi arrastado por alguns metros até soltar. Ainda estava vivo.

***

India estava sozinha na cama. Vincent ainda estava confuso, preferiu tomar banho sozinho.

Ela não pensava em mais nada que não fosse a transa incrível que tivera minutos antes. Bem, na verdade, ainda pensava na garotinha perigosa que estava à solta, mas esse pensamento era sufocado pelo sentimento de êxtase que ela tinha naquele momento.

Vincent saiu do banheiro, com uma toalha enrolada em volta da cintura e India levantou-se da cama.

– É sua vez – Ele disse, sorrindo.

– Você parece feliz – Ela disse, pegando suas roupas do chão – Quer voltar lá dentro? Deste vez te faço companhia.

– O que fizemos foi errado, não vou errar denovo.

– Então tá, quem perde é você.

Ela entrou no banheiro e fechou a porta.

Vincent pegou uma cueca na sua gaveta e a vestiu. Só conseguia pensar no que havia acontecido naquela cama há 15 minutos. Aquilo foi errado. Em sua mente, se perguntava como seria capaz de seguir com o fardo de ser padre. Não podia. Simplesmente não podia mais exercer o cargo. Deveria jogar tudo para o ar e viver as aventuras que qualquer ser humano viveria ou deveria continuar seguindo pelo caminho divino, sendo padre pelo resto da vida?

Deveria desistir. A outra opção seria desonesta, estaria pecando mais uma vez.

Ouviu um som de pneu queimando o asfalto lá fora e ficou curioso. Era 1 da manhã e todos já deveria estar dormindo. Isso não poderia significar algo bom.

Ele terminou de vestir suas roupas e saiu de casa. Entrou na igreja e se sentiu mal pelo que havia feito. Sentia-se como um estranho entrando na casa de Deus.

Eu pequei, traí a confiança do senhor, ele pensava.

Quando saiu na rua. Viu o carro do prefeito parado em frente à delegacia. Desejou saber o que estava acontecendo, então foi até lá.

Ao chegar na delegacia da cidade, viu o prefeito Robert eufórico, falando com os policiais sobre um assassinato.

– O que houve? – O padre perguntou, chegando de surpresa.

– É o meu filho... – O prefeito estava chorando – Ele se tornou um deles!

– Como assim se tornou um deles?

– Ele assassinou minha mulher e depois tentou me matar!

– Oh meu deus, e onde ele está?

– Provavelmente na minha casa.

– Nós vamos até lá, padre – Um dos policiais disse.

– Eu vou com vocês.

***

India saiu do banheiro e desconfiou quando não avistou Vincent no quarto.

– Vincent? – Ela chamou por ele, sem obter resposta.

Procurou na sala, na cozinha, em todos os cômodos. Ele havia saído de casa.

***

O carro de polícia andava em alta velocidade. Vincent e os outros homens estavam indo em direção à casa do prefeito. Estava escuro e os faróis do carro iluminavam apenas um pouco da estrada.

– Estamos chegando – O motorista comentou.

Segundos depois, a floresta acabou, dando espaço para que a grande e bela casa fosse vista. Os faróis do carro eram desnecessários agora, pois o luar se encarregava de iluminar o local.

O policial que dirigia parou o carro em frente à varanda da casa e os homens desceram.

– É melhor você ficar aqui fora, Sr. prefeito – Um dos oficiais disse.

– Eu fico com ele, podem ir – Vincent concluiu. Robert ainda chorava, totalmente abalado.

O padre olhou ao redor da casa, no jardim cheio de árvores, na floresta depois da cerca. Não havia sinal de ninguém.

– Está tudo acabado – O prefeito choramingou.

– O que?

– Eu não tenho mais nada, minha mulher está morta e meu filho é um deles, assim como a filha dos Paulson e dos Jackson!

– A filha dos Jackson?

– Sim, a mais nova.

– O que houve?

– Ela começou a agir estranho, assim como o Benjamin, e ficar violenta, até o ponto em que atacou o próprio pai com uma faca de cozinha.

– Você sabia disso?

– Sim, eles pediram para eu não contar.

– Por quê?

– Porque a filha ainda está com eles, em casa.

– Como assim ainda está com eles?

– Eles não quiseram ir embora, amavam demais a criança!

– Mas ela se tornou uma assassina!

– Eles a acorrentaram no porão e passaram a criá-la normalmente.

– Oh meu deus.

– Eu disse que poderia ser perigoso, mas não me deram ouvidos.

– Isso foi há quanto tempo?

– Acho que uns cinco dias.

– E você tem mantido contato com eles desde então?

– Na verdade não.

– Oh cristo.

– O que? Acha que podem estar em perigo?

– Eu não sei – Vincent respondeu, entrando na casa para falar com os policiais.

Ao chegar na sala, deparou-se com um deles, parecia estar abalado.

– Qual a gravidade?

– A coisa foi feia, padre.

– Que terrível.

– Eu não sei como uma criança pode fazer uma coisa dessas.

– Não há explicações para tudo nessa vida.

– O que você acha que está acontecendo, padre? – O oficial desmanchou a pose de durão e abaixou a cabeça. Estava preocupado.

– Eu não sei, mas sei que Deus está conosco, ele vai resolver.

– Amém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kids" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.