13º Desafio Sherlolly - Luto escrita por GabrielaGQ


Capítulo 1
Se você diz


Notas iniciais do capítulo

Automaticamente pensei nessa ideia ao saber que o tema da semana era Luto.
Espero que não tenha ficado muito triste!



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Já se passava mais de uma semana e eu não tinha notícias dela. Eu nunca fui de me preocupar, mas uma semana era demais, até pra mim.

Todas as vezes durante esses dias em que fui ao St. Barts, ela não estava lá. A todos que eu perguntava apenas diziam que Molly tinha tirado “uma semana para resolver assuntos pessoais”. Aposto que eles estavam mais perdidos do que eu.

E realmente eu estava perdido. Essa semana longe da Molly me fez perceber algo diferente. Eu sentia falta dela. Sentia uma enorme saudade. E tenho certeza que essa saudade não tem nada a ver com o fato de John não estar aqui.

Depois do casamento, ele e Mary foram direto para a lua de mel e pelo jeito não eles tem planos de voltarem tão cedo. Eu também sentia falta deles, afinal, eram meus amigos. Mas nada se comparava a saudade que eu tinha de Molly.

Sentir tanta saudade de alguém assim é normal? Eu não entendo muito de sentimentos, mas sei quando alguma coisa está errada. Toda essa minha situação vai contra tudo a que um dia eu acreditei. Eu sabia que toda essa coisa de sentimentos era confusa e a prova disso, é o quanto eu estou perdido agora.

Eu sempre tive toda a certeza que não sentia nada pela Molly. Ela pelo contrário sempre gostou de mim e confesso que no fundo gostava de receber esse amor da parte dela. Era como se eu sempre pudesse contar com ela. Isso até eu ter conhecido o noivo dela, Tom. Assim que o vi, imediatamente o odiei. Eu sei que essa é uma palavra forte, mas eu não ligo para o que as pessoas pensam, então eu o odeio. Definitivamente. Ele tirou toda a atenção que Molly dirigia a mim e aposto que essa “semana para resolver assuntos pessoais” tem alguma coisa a ver com ele. Molly não era de faltar ao trabalho e muito menos era de deixar de responder as minhas mensagens. Pelas minhas contas, já eram 37 que ela não respondia.

Talvez eu esteja mesmo preocupado com ela.

Talvez eu me importe com ela.

Talvez eu não queira que Tom a tire de mim.

Talvez eu não vou deixar isso acontecer.

Só então percebo que estou parado na porta do apartamento de Molly. Sinto um frio na barriga e sinto que não devo fazer isso, mas abro a porta e subo as escadas.

Eu preciso ter notícias dela. Eu preciso saber como ela está. Eu preciso dela.

Assim que bato levemente na porta, vejo a sombra dela por debaixo da porta. Ótimo, ela está em casa.

Mas a figura que vejo abrir a porta, não é a Molly. Pelo menos, não é a Molly que eu conheço.

Seus olhos estão escondidos atrás de enormes e fortes olheiras, completamente inchados e vermelhos. Ela está vestindo uma larga camiseta, uma larga calça de moletom e está coberta com um enorme edredom.

Talvez seja um gripe, uma forte gripe.

Sorrio enquanto olho pra ela.

- Você não respondeu minhas mensagens.

- O que você quer Sherlock?

Fico surpreso com aquela resposta e por quase não conseguir ouvi-la. A voz dela sai quase como um sussurro, curta e direta.

- Precisava ter notícias suas Molly. Não te vejo há mais de uma semana. Está tudo bem?

Ainda estou assustado com o estado de Molly, o seu olhar apresenta uma frieza que nunca vi na minha vida.

Ela força um sorriso enquanto abre mais a porta pra eu entrar. Entro rapidamente e me acomodo no sofá ao lado de Toby. O gato apenas levanta a cabeça para se certificar quem é e volta a dormir de novo.

♫♪

Vejo Molly se acomodar na poltrona a minha frente e respirar bem fundo como se o que quer que ela tenha para me dizer, irá exigir muito dela ou é muito terrível para ser dito em voz alta.

- Tom não est... ele...

Ela tenta começar a dizer, mas as lágrimas a impedem de continuar. Sinto meu coração acelerar e ficar apertado ao mesmo tempo.

Nunca vi Molly chorando e vê-la nesse estado, fragilizada, me deixa arrasado.

- Onde Tom está? Ele deveria estar aqui com você Molly, cuidando da sua gr...

- Tom morreu Sherlock.

Ela me encara enquanto mais lágrimas escorrem pelo seu rosto.

- Ele está morto e não-há-nada-que-eu-possa-fazer.

Aquelas palavras me chocam. Tom, morto? Mas ele estava no casamento de Mary e John. Isso não é possível!

Então vejo Molly começar a chorar mais intensamente e a soluçar enquanto leva as mãos ao rosto. Me levanto e sento no braço da poltrona perto dela.

Nunca estive tão próximo dela e no fundo não esperava que me aproximaria nessa situação, com Molly tão fragilizada. Calmamente, procuro alguma palavra para dizer de conforto, mas não encontro nenhuma, afinal nunca consolei alguém.

- O que aconteceu Molly?

Começo a acariciar a cabeça e os cabelos dela, enquanto a vejo tentando se acalmar e me explicar o que aconteceu. Depois de uns 5 minutos, Molly volta ao mesmo estado de quando me atendeu na porta.

- Foi na terça feira. Eu e ele estávamos aqui juntos, conversando e preparando alguns detalhes do casamento, quando não sei como, começamos a brigar. Ele dizia que eu não queria me casar, que ainda gostava de você e eu não lembro o que eu disse, mas me lembro de Tom pegar o casaco e o cachecol dele e descer as escadas enquanto batia a porta.

Ela fez uma pausa para lutar contra as lágrimas.

- Depois de uns 8 minutos, eu recebi uma ligação. Era da Emergência. Ele tinha sido pego por um táxi em alta velocidade, enquanto atravessava a Baker Street.

Ah, então foi ele o rapaz atropelado em frente ao 221B? Tinha ouvido alguns relatos, mas não vi nada do acidente. Tinha ficado o dia todo fora, investigando um caso com Mycroft.

- Mas por que você não avisou ninguém Molly?

Ela tentou sorrir.

- Eu avisei Sherlock. Liguei para a mãe de Tom, para Lestrade, avisei o motivo ao St. Barts e até conversei brevemente com Mary. Eu só...

Enquanto ela falava podia sentir meu coração ficar apertado.

- Você só não avisou a mim.

Molly não queria que eu soubesse.

- Não achei que você iria querer saber.

Ela realmente achava que eu não me importava com ela? Como ela pode pensar isso?

- Na verdade, acho que você ia saber de qualquer jeito. Pelo jeito, Tom estava indo falar com você e não sei... Agora não há nada que eu possa fazer.

Novamente os olhos dela se encheram de lágrimas e Molly se acomodou mais na poltrona.

Eu ainda tentava entender onde eu me encaixava na história. Foi minha culpa Tom ter morrido? E por que Molly não confiava em mim?

Senti vontade de chorar e sair correndo dali. Mas não podia.

Eu precisava ficar.

Eu precisava ficar e consolar Molly. Ela é tudo pra mim e precisa urgentemente de carinho e compreensão.

Imediatamente, entendo o que preciso fazer.

Lenta e delicadamente, ponho o braço nas costas de Molly enquanto passo o outro segurando as suas duas pernas. Em seguida, a levanto, a acomodando no meu peito, junto com seu edredom. Devagar, sem dizer nada, a levo até o seu quarto e a deito ali. Tiro os meus sapatos e me acomodo ao lado dela.

Magicamente as palavras vêm a minha mente.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu Molly. É horrível ter de passar por isso, eu entendo exatamente como é. Também já perdi alguém muito importante para mim e até hoje, não me sinto curado. É como se uma ferida estivesse no meu coração e não há nada que a possa curar. Como se nada pudesse ser feito e você continua ali, querendo fazer com que o passado volte para você fazer tudo diferente. Mas ele não volta Molly, é isso que dói. Temos de aprender a lidar com a dor, porque não há nada que possamos fazer. Sofrer faz parte da vida e a cada dia eu entendo mais isso. Por favor, não chora Molly, olha pra mim. Talvez toda sua história com Tom precisava acabar aqui. Talvez o seu futuro junto com ele Molly, simplesmente, não era pra ser.

Ela apenas me encara com seus olhos castanhos. O travesseiro branco está um pouco molhado pelas lágrimas derramadas.

Então a vejo sorrir e pela primeira vez, sinto que ela está realmente feliz.

- Se você diz Sherlock, eu acredito. Talvez, o meu futuro sempre será com outra pessoa.

Sinto ela tocar minha mão levemente e meu coração se aquecer.

Então sei que Molly guardou o amor dela por mim em algum lugar e que definitivamente, eu quero achá-lo.


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Notas finais do capítulo

Então? Nenhum choro né?